Ulrico Zuínglio, o grande Reformador suíço e contemporâneo de Lutero, diferia inteiramente tanto do ensino de Roma quanto dos Reformadores saxões no tocante à presença real de Cristo na santa ceia. Os suíços, já de longa data, sustentavam opiniões contrárias tanto às de Roma quanto às da Saxônia. Desde os primeiros passos de sua jornada cristã, Zuínglio havia sido tocado pela simplicidade das Escrituras a respeito da Ceia do Senhor. Na Palavra de Deus, leu que Cristo deixara este mundo e subira para junto do Pai nos céus; e que tal verdade deveria ser objeto de fé e esperança especial para os seus discípulos. Vemos isso ensinado com clareza no livro dos Atos dos Apóstolos: “E, estando com os olhos fitos no céu, enquanto ele subia, eis que junto deles se puseram dois homens vestidos de branco. Os quais lhes disseram: Homens galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir”. Assim, vemos que o bendito Senhor ascendeu de forma pessoal, corporal, visível; e que retornará da mesma maneira, mas não antes do fim da presente dispensação, ou era, da Igreja. “O qual convém que o céu contenha até aos tempos da restauração de tudo” (Atos 1:10-11; 3:21).
As palavras de nosso bendito Senhor: “Isto é o Meu corpo” — “Isto é o Meu sangue”; Zuínglio sustentava serem de caráter figurado, implicando nada além de que o pão e o vinho sacramentais eram simplesmente símbolos ou emblemas do corpo de Cristo, e que a ordenança ou instituição era uma comemoração de Sua morte por nós. “Fazei isto em memória de Mim... Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que venha.” (1 Coríntios 11:22-28)
Durante vários anos, Zuínglio manteve em privado essas concepções acerca da Ceia do Senhor, mas, conhecendo o poder que a antiga doutrina da Igreja exercia sobre as mentes ignorantes e supersticiosas do povo, não as professava abertamente. No entanto, crendo que em breve chegaria o tempo da proclamação pública da verdade, e antevendo a oposição que haveria de enfrentar, procurou, com diligência — embora discretamente — espalhar a verdade e fortalecer sua posição. Cartas sobre o assunto foram enviadas a muitos homens eruditos da Europa, na esperança de influenciá-los a examinar a Palavra de Deus, ainda que não viessem a concordar com as concepções dos Reformadores suíços. Mas, enquanto Zuínglio aguardava silenciosamente o momento oportuno para falar com franqueza, outro, com mais zelo do que sabedoria, imprudentemente publicou um panfleto contra a doutrina de Lutero sobre a Ceia do Senhor, e assim desencadeou a tempestade da controvérsia, que rugiu com grande violência por quatro anos.
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