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domingo, 13 de setembro de 2020

Reflexões sobre a História do Papado

Traçamos, embora brevemente, a origem, o progresso e a altura mais elevada que alcançou o sistema papal. Isso foi alcançado pelas grandes habilidades de Inocêncio III. Mas quão variada e repleta de contrariedades e contradições é essa história pitoresca e misteriosa! Façamos uma pausa por um momento para refletir sobre as hipocrisias e tiranias, a presumida piedade e a crueldade daquela mulher Jezabel. Foi ela quem enviou os mais devotos de seus filhos nos primeiros tempos para habitar nas solitárias cavernas das montanhas ou no claustro secreto, sob o pretexto de ali contemplarem pacificamente a glória de Deus e serem transformados à Sua imagem. Mas novamente a ouvimos com voz alterada reunindo as miríades de hostes da Europa para sair e resgatar a Terra Santa das garras infames dos filisteus incircuncisos, e defender a bandeira da cruz no santo sepulcro. Ela se torna então insensível aos sentimentos comuns da natureza, insensível às misérias da humanidade e manchada com o sangue de milhões. Durante duzentos anos, ela empregou todo o seu poder na promoção da destruição da vida humana pelas ruinosas expedições à Terra Santa. E como cada Cruzada sucessiva se mostrava mais desesperadora e desastrosa do que a anterior, ela redobrava seus esforços para renovar e perpetuar aquelas cenas de insensatez, sofrimento e derramamento de sangue inigualáveis.

Mas volte-se novamente e veja o duplo aspecto de seu caráter ao mesmo tempo. Quando os cruzados avistaram Jerusalém, eles desceram dos cavalos e descobriram os pés para que pudessem se aproximar das paredes sagradas como verdadeiros peregrinos. Gritos altos foram levantados: “Ó Jerusalém! Jerusalém!”, como se um temor sagrado movesse seus corações. Mas quando o governador se ofereceu para admiti-los como peregrinos pacíficos, eles recusaram. Não, eles estavam decididos a abrir o caminho com suas espadas e arrancar, por meio do ardor militar, a cidade sagrada das mãos dos incrédulos. Mal haviam escalado as paredes e se precipitaram para o massacre indiscriminado de muçulmanos e judeus, enchendo de sangue os lugares sagrados. E então, por um breve momento, a obra de carnificina e pilhagem foi suspensa, para que os peregrinos devotos pudessem realizar suas devoções; mas os lugares onde eles se ajoelhavam em adoração estavam cobertos de montes massacrados. Esta é uma verdadeira imagem do espírito e caráter de Jezabel, manifestado em todas as eras e países. Quando o próprio Domingos ficou com vergonha dos missionários ensanguentados de Inocêncio em Languedoque, tendo visto milhares de camponeses pacíficos assassinados a sangue frio, ele se retirou para uma igreja e orou pelo sucesso da boa causa, e assim as vitórias de Monforte e seus rufiões foram atribuídas às orações do espanhol de “mente santa”. Esta foi uma cruzada, não contra turcos e infiéis, mas contra os santos do Senhor porque eles ousaram falar de certos abusos na “santa mãe igreja”. E, para castigar com mais eficácia seus filhos, ela inventou a Inquisição, esse aparato de perseguição doméstica, tortura e morte.

E, por mais estranho que possa parecer hoje em dia, e cruel além de qualquer comparação, a destruição em massa da vida e da propriedade humana era a própria energia vital do papado. Ela enriqueceu apropriando-se das contribuições levantadas para o propósito das Cruzadas; e ela se fortaleceu enfraquecendo os monarcas da Europa, exaurindo seus tesouros e despovoando seus países. Assim foi o zelo papal inflamado a uma paixão ardente pelos cruzados e assim passou de Urbano II e do Concílio de Clermont até seus sucessores. Cada pensamento da mente papal, cada sentimento do coração papal, cada mandato emitido do Vaticano, tinha apenas um objetivo em vista: o enriquecimento e fortalecimento da Sé Romana. Não importa o quão subversiva de toda a paz, quão perniciosa para toda a sociedade, ela perseguia seus próprios interesses com uma obstinação inflexível e insensível. As excomunhões eram usadas para os mesmos fins de engrandecimento papal. "O herege perdia não apenas todas as dignidades, direitos, privilégios, imunidades, e até mesmo todas as propriedades, toda a proteção da lei; ele deveria ser perseguido, roubado e condenado à morte, seja pelo curso normal da justiça -- a autoridade secular era obrigada a executar, mesmo com sangue, a sentença do tribunal eclesiástico – ou, se ele se atrevesse a resistir por qualquer meio, por mais pacífico que fosse, era considerado um insurgente, contra quem toda a cristandade poderia, ou melhor, estava obrigada, à convocação do poder espiritual, para declarar guerra; suas propriedades, e mesmo seus domínios, se um soberano, não eram meramente passíveis de confisco, mas a igreja assumia o poder de conceder a outro os bens e propriedades como lhe parecesse melhor.

"O exército que deveria executar o mandato do papa era o exército da igreja, e a bandeira desse exército era a cruz de Cristo. Então começaram as cruzadas, não nas fronteiras contestadas da Cristandade, não em terras muçulmanas ou pagãs na Palestina, nas margens do Nilo, entre as florestas da Livônia ou nas areias do Báltico, mas no próprio seio da Cristandade; não entre os partidários implacáveis ​​de um credo antagônico, mas no solo da França católica, entre aqueles que ainda chamavam a si mesmos pelo nome de cristãos."*

{* Milman, vol. 4, pág. 168; Waddington, vol. 2, pág. 270.}

Esse era, é e sempre será o espírito e o caráter da igreja de Roma. Quão tenebrosa imagem! Quão triste é a reflexão de que aquela que se autodenomina a verdadeira igreja de Deus, a santa mãe de Seus filhos e a representante de Cristo na terra, tenha sido transformada, por instrumentos satânicos, em um monstro das mais repugnantes hipocrisias, e "abomináveis idolatrias!" Ela se tornou a mãe adotiva da mais aberta e ilimitada adoração de imagens, santos, relíquias e pinturas, e da teoria da transubstanciação e da prática do confessionário. Exteriormente, sua ambição inescrupulosa de glória secular, sua intolerância em perseguir até o extermínio todos os que se aventurassem a contestar sua autoridade, sua sede insaciável por sangue humano não têm paralelo nas eras mais bárbaras do paganismo.

E é esta a igreja -- você pode muito bem exclamar em suas reflexões -- é esta a igreja a que tantos estão se juntando nos dias de hoje? Sim, infelizmente; e muitos das classes superiores e inteligentes! Certamente, essas conversões só podem ser fruto do poder ofuscante de Satanás, o deus deste mundo (2 Coríntios 4:3-4). Muitas jovens das melhores famílias da Inglaterra se submeteram, em devoção cega, a ser despojadas de sua cobertura natural e aprisionadas em um convento pelo resto da vida; e muitos da aristocracia, tanto leigos quanto clericais, aderiram à comunhão da igreja romana. Mas ela não mudou: a mudança é com aqueles cuja luz se tornou em trevas, de acordo com a palavra do profeta: “Dai glória ao Senhor vosso Deus, antes que venha a escuridão e antes que tropecem vossos pés nos montes tenebrosos; antes que, esperando vós luz, ele a mude em sombra de morte, e a reduza à escuridão” (Jeremias 13:16). Assim como ela era nos dias de Gregório VII, de Inocêncio III, do cardeal Pole e da Maria Sangrenta (Maria I da Inglaterra), assim é ela ainda hoje quanto ao seu espírito, faltando-lhe apenas o poder. Mas qual será a culpa dos convertidos atuais, tendo o Novo Testamento diante de si e vendo o contraste entre o bendito Senhor e Seus apóstolos, e o papa e seu clero; entre a graça e a misericórdia do evangelho e a intolerância e crueldade do papado! Em vez disso, que meu leitor se lembre da exortação: "Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas… porque todas as nações foram enganadas pelas tuas feitiçarias. E nela se achou o sangue dos profetas, e dos santos, e de todos os que foram mortos na terra” (Apocalipse 18:4,23,24).

domingo, 15 de outubro de 2017

Pedro, o Eremita

Os sentimentos dos cristãos europeus estavam naturalmente excitados pelos relatos sobre as crueldade e ultrajes aos quais seus irmãos no Oriente estavam sendo sujeitos pelos infiéis conquistadores da Terra Santa; e isto deu uma aparência de justiça à ideia de uma guerra religiosa.

No ano 1093, Pedro, um nativo de Amiens e um monge peregrino, visitou Jerusalém. Seu espírito ficou muito agitado pela visão das indignidades que os cristãos tinham que suportar. O sangue do franco tornou-se como fogo quando viu os sofrimentos e degradações de seus irmãos. Ele falou com Simeão, o patriarca de Jerusalém, sobre o assunto de sua libertação, mas o desesperado Simeão deplorou a desesperança de sua condição, uma vez que os gregos, os protetores naturais dos cristãos na Síria, estavam muito fracos para prestar-lhes ajuda. Pedro então prometeu-lhe a ajuda dos latinos. "Levantarei as nações marciais da Europa em sua causa", ele exclamou, e creu que seu voto tinha sido ratificado no céu. Quando prostrado no templo, ele ouviu 'a voz do Senhor Jesus', dizendo-lhe: "Levante, Pedro, e siga adiante para tornar conhecidas as tribulações do meu povo; a hora se aproxima para a libertação de meus servos, para a recuperação dos lugares sagrados". Era um hábito conveniente naqueles dias, para monges em solidão austera e com a imaginação excitada, acreditar no que quisessem acreditar, e então serem confirmados por meio de sonhos e revelações sobre o que quer que acreditassem.

Pedro agora acreditava em sua própria missão, e isso foi um grande meio para que os outros também cressem nisso. Ele apressou-se a Roma. O papa, Urbano II, ficou infectado por seu fervor, e deu total sanção à sua pregação sobre a libertação imediata de Jerusalém. O eremita, tendo então a sanção tanto 'do céu' quanto do papa, partiu em sua missão. Após atravessar a Itália, ele cruzou os Alpes e entrou na França. Ele é descrito como baixo em estatura, magro, de pele escura, mas com um olho de fogo. Ele andava em uma mula com um crucifixo em sua mão, sua cabeça era careca, e andava descalço; sua roupa era um manto longo com uma corda, e uma capa de eremita do mais grosseiro material. Ele pregava aos altos e baixos, em igrejas e em estradas, e nos mercados. Sua rude e brilhante eloquência era o que agitava o coração do povo, pois ele também vinha do povo. Ele apelava para cada paixão; à indignação e piedade, ao orgulho do guerreiro, à compaixão do cristão, ao amor dos irmãos, ao ódio dos infiéis; à suja profanação da terra que tinha sido "santificada" pelo nascimento e vida do Redentor. "Por que", ele exclamava veementemente, "os incrédulos deveriam ser permitidos por mais tempo a reter a custódia de tais territórios cristãos como o Monte das Oliveiras e o Jardim de Getsêmani? Por que deveríamos permitir que os seguidores não batizados de Maomé, aqueles filhos da perdição, poluam com pés hostis o solo sagrado que foi testemunha de tantos milagres, e ainda forneceu tantas relíquias que manifestaram poder sobre-humano? Ossos de mártires, vestes de santos, lascas da cruz, espinhos da coroa, estavam todos prontos para serem recolhidos pelo sacerdócio fiel que lideraria a expedição. Que o solo de Sião seja purificado com o sangue dos infiéis que abateremos."*

{* Eighteen Christian Centuries, de White, p. 246.}

Quando as palavras e o fôlego lhe falhavam, ele chorava, gemia, batia nos peitos e levantava um crucifixo, como se o Próprio Cristo estivesse implorando-lhes a unirem-se ao 'exército de Deus'. Os delírios de seu frenesi tiveram um efeito prodigioso sobre todas as classes em todas as terras. Homens, mulheres, e crianças aglomeravam-se para tocar em suas vestes; até mesmo os cabelos que caíam de sua mula eram recolhidos e guardados como relíquias. Em um curto período de tempo, ele retornou ao papa, assegurando-lhe que em todo lugar seus apelos tinham sido recebidos com entusiasmo, de modo que ele dificilmente poderia impedir seus ouvintes de tomar armas e segui-lo até a Terra Santa. Nada mais era necessário além de um plano, de líderes e organização, e assim o papa ousadamente resolveu realizar esse grande empreendimento.

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

As Cruzadas

Capítulo 20: As Cruzadas (1093 d.C. - 1213 d.C.) 


O inimigo {* N. do T.: o diabo} agora muda de tática. O papa ganhou pouco ou nada por meio de suas longas guerras contra o império, e o senso comum da humanidade tinha sido insultado por sua insolência sem igual. Meios mais plausíveis, mais enganadores e mais piedosos deveriam ser inventados. Como poderia o poder espiritual ganhar ascendência completa sobre o secular era ainda uma questão a ser resolvida pelo inimigo.

O gênio maligno de Roma que presidia em seus concílios sugere uma guerra santa com o propósito de resgatar o sepulcro de Cristo das mãos dos turcos incrédulos. O papa Urbano imediatamente abraça a sugestão e torna-se o líder do empreendimento. O Vaticano inteiro concordou. Era perfeitamente evidente que, por essas longas expedições à Palestina, o sangue da Europa deveria ser drenado, sua força exaurida, e seus tesouros desperdiçados. Não se pensava em tentar converter os incrédulos para a fé de Cristo -- a verdadeira missão do cristianismo -- mas em enfraquecer o poder dos monarcas seculares, para que os pontífices pudessem reinar sobre eles. O papado é, em essência, infiel. "Venerado seja entre todos o matrimônio" (Hebreus 13:4) -- entre todos, diz a Palavra de Deus. Não, diz Gregório, é concubinato no sacerdócio -- um pecado condenatório. Mas a Palavra de Deus permanece inalterada e inalterável. O casamento é venerável entre todos -- não apenas entre alguns, mas entre todo. Foi instituído pelo Próprio Deus que "formou uma mulher, e trouxe-a a Adão (o homem)" (Gênesis 2:22), foi sancionado por Cristo, e proclamado "venerável entre todos" pelo Espírito Santo. "Pregai o evangelho a toda criatura" é a comissão do Salvador a todos os que O tem como Salvador e Senhor. 'Não', diz Urbano, 'matem os incrédulos sem misericórdia. Esta é a obra que Deus exige em sua mão. Que o joio seja arrancado pela raiz, e lançado no fogo para que sejam queimados. Mas isso não é tudo. O poder das nações deve ser reduzido para que o pontífice possa triunfar sobre eles'. Os resultados logo mostrarão que tais eram os conselhos do gênio maligno do papado.

domingo, 24 de julho de 2016

Os Filhos de Constantino (de 337 a 361 d.C.)

Constantino, o Grande, foi sucedido por seus três filhos, Constantino II, Constâncio e Constante. Eles foram educados na fé do evangelho, e tinham sido nomeado Césares por seu pai, e em sua morte eles dividiram o império entre eles. Constantino II ficou com a Gália, Espanha e Grã-Bretanha; Constâncio ficou com as províncias asiáticas e com a capital, Constantinopla; e Constante ficou com a Itália e a África. O início do novo reinado foi caracterizado -- como era habitual naqueles tempos -- pela morte dos parentes que podiam um dia se provarem rivais ao trono. Mas juntamente com os velhos e usuais ciúmes e hostilidades políticas, um novo elemento agora aparece -- a controvérsia religiosa.

O filho mais velho, Constantino, era favorável aos católicos, e sinalizou o começo de seu reinado chamando Atanásio de volta, e colocando-o novamente como bispo de Alexandria. Mas em 340 Constantino II foi morto em uma invasão da Itália, e Constante tomou posse dos domínios de seu irmão, se tornando, assim, o soberano de dois terços do império. Ele era favorável às decisões do concílio de Niceia, e aderiu com firmeza à causa de Atanásio. Constâncio, sua imperatriz e a corte eram parciais ao arianismo. E assim a guerra religiosa começou entre os dois irmãos -- entre o Oriente e o Ocidente --- e foi levada adiante sem justiça ou humanidade, o que não tinha nada a ver com o espírito pacífico do cristianismo. Constâncio, como seu pai, interferiu tanto nos assuntos da igreja, que pretendia ser um teólogo, e durante todo o seu reinado o império foi incessantemente agitado pela controvérsia religiosa. Os concílios se tornaram tão frequentes que estabelecimentos públicos eram constantemente empregados para abrigar os bispos em contínua viagem; de ambos os lados, concílios foram reunidos para se oporem a outros concílios. Mas como o principal evento do período, assim como a linha prateada da graça de Deus, está conectada a Atanásio, retornaremos a sua história.

domingo, 19 de junho de 2016

O Decreto de Constantino e Licínio (313 d.C.)

O vitorioso imperador fez uma rápida visita a Roma. Dentre outras coisas que ele fez ali, ele ordenou que fosse erguida, no fórum, uma estátua sua segurando em sua mão direita o estandarte em forma de uma cruz, com a seguinte inscrição: "Por este sinal salutar, o verdadeiro símbolo de coragem, eu liberto tua cidade do jugo do tirano." Maxêncio foi encontrado no rio Tibre na manhã após a batalha. O imperador evidentemente sentiu que estava em débito para com o Deus dos cristãos e para com o símbolo sagrado da cruz por suas vitórias. E isto, ousamos dizer, foi o ponto máximo de seu cristianismo naquele tempo. Como um homem, ele não tinha sentido necessidade de um Salvador, se é que alguma vez sentiu. Mas como guerreiro, ele abraçou a religião cristã com seriedade. Mais tarde, como um homem do Estado, ele reconheceu e valorizou o cristianismo, mas só Deus sabe se alguma vez, como um pecador perdido, ele aceitou o Salvador. É difícil para príncipes serem cristãos.

Constantino procede, então, em direção ao Ilírico para se encontrar com Licínio, com quem tinha formado uma aliança secreta antes de ir ao confronto contra Maxêncio. Os dois imperadores se encontraram em Milão, onde a aliança deles foi ratificada pelo casamento de Licínio com a filha de Constantino. Foi durante esse momento de paz que Constantino persuadiu Licínio para que consentisse em repelir os decretos de perseguição de Diocleciano, e a emissão de um novo decreto de completa tolerância. Tendo nisto concordado, um decreto público, assinados por ambos Constantino e Licínio, foi emitido em Milão, em 313 d.C., em favor dos cristãos, o que pode ser considerado como a maior garantia oficial da liberdade deles. Completa e ilimitada tolerância lhes foi concedida; suas "igrejas" e propriedades foram restauradas sem compensação; e, assim, exteriormente, o cristianismo florescia.

Mas a paz entre os imperadores, que parecia ter sido estabelecida sobre um fundamento firme, foi logo interrompida. Inveja, amor ao poder e a ambição pela soberania no império Romano não permitiriam que ficassem por muito tempo em paz. Uma guerra irrompeu no ano 314, mas Licínio foi derrotado com grandes perdas, tanto de homens quanto de território. Uma nova época de paz novamente começou, que durou cerca de nove ano. Uma nova guerra tornou-se inevitável, e mais uma vez assumiu a forma de embate religioso entre os imperadores rivais. Licínio aderiu à causa dos sacerdotes pagãos e perseguiu os cristãos. Ele condenou à morte muitos dos bispos que ele sabia que eram muito especiais e favoritos na corte de seu rival. Ambos os partidos faziam agora preparativos para um confronto que deveria resolver definitivamente a questão. Licínio, antes de sair para a guerra, sacrificou aos deuses e os louvou em discurso público. Constantino, por outro lado, confiou no Deus cujo símbolo acompanhava seu exército. Os dois exércitos hostis se encontraram. A batalha foi feroz, obstinada e sanguinária. Licínio não era um adversário qualquer, mas o gênio dominante, a atividade e a coragem de Constantino prevaleceu. A vitória estava completa. Licínio sobreviveu a sua derrota por cerca de apenas um ano. Ele morreu, ou talvez tenha sido assassinado em privado, em 326. Constanino tinha agora alcançado o auge de sua ambição. Ele se tornou o único soberano do Império Romano, e continuou assim até sua morte em 337. Para uma descrição da carreira política e militar desse grande príncipe devemos indicar ao leitor a história civil; vamos agora brevemente tomar nota de sua carreira religiosa.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Os Triunfos do Evangelho em Samaria

Filipe, o diácono, evidentemente próximo a Estêvão em zelo e energia, desce à Samaria. O Espírito Santo opera por meio dele. Na sabedoria dos caminhos do Senhor, a desprezada Samaria é o primeiro lugar, fora da Judeia, onde o Evangelho foi pregado por Suas testemunhas escolhidas. "E, descendo Filipe à cidade de Samaria lhes pregava a Cristo. E as multidões unanimemente prestavam atenção ao que Filipe dizia, porque ouviam e viam os sinais que ele fazia. E havia grande alegria naquela cidade." (Atos 8:5-6,8). Muitos creram e foram batizados, tanto homens quanto mulheres. Até mesmo Simão Mago, o feiticeiro, experimentou a presença de um poder muito acima do seu próprio, e se curvou à força e corrente da obra do Espírito nos outros, embora a verdade não houvesse penetrado em seu próprio coração e consciência. Mas, como agora já viajamos a essa outra parte do país, este pode ser o momento apropriado para dizermos algumas palavras sobre sua história.

A Terra Santa, uma nação interessante, que se destaca entre as outras nações da Terra, tanto moral quanto historicamente, é em tamanho muito pequena. "É como um pedaço de um país, de tamanho próximo ao do País de Gales, com menos de 225 quilômetros de comprimento, e quase 64 quilômetros, em média, de largura"*. A parte norte é a Galileia; o centro, Samaria; o sul, a Judeia. Mas embora fisicamente tão pequena, ela foi o teatro dos acontecimentos mais importantes na história do mundo. Lá, o Salvador nasceu, viveu e foi crucificado - e lá Ele foi sepultado e ressuscitado. E lá, também, Seus apóstolos e mártires viveram, testificaram e sofreram. E lá o evangelho foi pregado pela primeira vez, e lá a primeira igreja foi plantada.

{*Dicionário Bíblico de Smith}

A terra ocupada por Israel se encontra entre os antigos impérios da Assíria e do Egito. Daí a frequente referência no Antigo Testamento ao "rei do Norte" e ao "rei do Sul". Devido a essa posição, Israel foi muitas vezes o campo de batalha desses dois poderosos impérios, e sabemos que ainda será o cenário de seu último e mortal conflito (Daniel 11). Os homens têm sido tão supersticiosos sobre a Terra Santa que ela tem sido objeto de ambição nacional, e quase sempre motivo de guerras religiosas desde os dias dos apóstolos. Quem poderia estimar quanto sangue foi derramado, e o tesouro que foi desperdiçado por essas planícies sagradas? - e tudo, podemos acrescentar, sob o nome do zelo religioso, ou melhor, sob as bandeiras da cruz e da lua crescente. Para ali os peregrinos de todas as eras têm viajado para que pudessem adorar no "santo sepulcro" e cumprir seus votos. Também tem sido a grande atração para viajantes de todo tipo e de todas as nações, e o grande empório de "relíquias milagrosas". O cristão, o historiador e o antiquário têm procurado diligentemente e feito conhecidas suas descobertas. Desde os dias de Abraão, esse tem sido o lugar mais interessante e atraente da face da Terra. E para o estudante da profecia, sua história futura é ainda mais interessante que seu passado. Ele sabe que o dia se aproxima, quando toda aquela terra será povoada pelas doze tribos de Israel, e cheia da glória e majestade de seu Messias. Então eles serão conhecidos como o povo metropolitano da Terra. Retornemos, agora, a Samaria, com sua nova vida e alegria.

Os samaritanos, por meio da bênção de Deus, prontamente creram no Evangelho pregado por Filipe. O efeito da verdade, recebida com simplicidade, foi imediato e do mais bendito caráter. "Havia grande alegria naquela cidade", e muitos foram batizados. Tais devem ser sempre os efeitos do Evangelho, quando crido, a menos que haja algum obstáculo com relação a nós mesmos. Onde há genuína simplicidade de fé, deve haver paz e alegria genuínas, e uma feliz obediência. O poder do Evangelho sobre um povo que tinha, durante séculos, resistido às reivindicações do judaísmo, foi então demonstrado. O que a lei não podia fazer a este respeito, o Evangelho realizou. "Samaria foi uma 'conquista'", disse alguém, "que toda a energia do judaísmo não tinha sido capaz de fazer. Foi um novo e esplêndido triunfo do Evangelho. O domínio espiritual do mundo pertencia à igreja."

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