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quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

O Período de Transição do Papado

Retornemos agora a Roma. Sua importância e influência como um centro reivindica nossa maior atenção por mais um pouco. Os domínios espirituais do papa então se estendiam por toda a parte. De todas as partes do império bispos, príncipes e povos olhavam para Roma como o pai de sua fé e a mais elevada autoridade na Cristandade. Mas, embora assim exaltada à mais alta soberania espiritual, o supremo pontífice e sua relação com o império oriental ainda era um assunto delicado. Isto era insuportável para o orgulho e ambição de Roma. A poderosa batalha pela vida e poder político agora começava, e durou por todo século VII e VIII. Este foi o período de transição de um estado de subordinação ao poder civil ao estado de auto-existência política. Como isto poderia ser alcançado era então o grande problema que o Vaticano tinha que resolver. Mas o domínio espiritual não podia ser mantido sem o poder secular.

Os lombardos -- os vizinhos mais próximos e temidos dos papas -- e o império grego eram os dois grandes obstáculos no caminho da soberania secular do papa. A queda do império ocidental e a ausência de qualquer governo nacional fez com que o povo romano olhasse para o bispo como seu chefe natural. Ele foi assim investido com uma influência política especial, distinta de seu caráter eclesiástico. As invasões dos lombardos, como já vimos, e a fraqueza dos gregos, contribuíram para o aumento do poder político nas mãos dos pontífices. Mas isto foi apenas acidental, ou uma necessidade diante das emergências imprevistas. Os Estados romanos ainda eram governados por um oficial do império oriental, e o próprio papa, se ofendesse o imperador, era suscetível de ser preso e lançado na prisão, como foi, de fato, o caso do papa São Martinho no ano 653, que morreu no exílio no ano seguinte.

domingo, 4 de dezembro de 2016

A Antiga Igreja Britânica

Embora a igreja britânica tivesse adquirido tal crédito pela ortodoxia, temos muito pouca informação confiável quanto à sua ascensão e progresso, ou quanto aos meios pelos quais isto foi efetuado. Há muitas tradições, mas elas mal são dignas de serem repetidas, e são impróprias para uma breve história. Há ampla evidência, no entanto, de que na primeira parte do século IV, e pelo menos por duzentos anos antes da chegada dos monges italianos, a igreja britânica tinha uma organização completa, com seus próprios bispos e metropolitas.

De acordo com o testemunho tanto dos historiadores antigos quanto dos modernos, as doutrinas e rituais da igreja antiga da Britânia eram de caráter muito simples se comparadas com a grega e romana, embora ainda muito longe da simplicidade do Novo Tetamento. Eles ensinavam a unicidade da Divindade, a Trindade, a natureza divina e humana de Cristo, a redenção por Sua morte, e a eternidade de recompensas e punições futuras. Eles consideravam a ceia do Senhor como um símbolo, e não um milagre; eles tomavam o pão e o vinho como nosso Senhor comandou que fossem tomados -- em memória dEle -- e eles não recusavam o vinho aos leigos. Sua hierarquia consistia de bispos e sacerdotes, com outros ministros, e uma cerimônia especial era feita para a ordenação. O casamento era comum entre o clero. Havia também monastérios com monges vivendo neles, jurados à pobreza, castidade e obediência a seu abade. As "igrejas"* eram construídas em honra aos mártires, e cada "igreja" tinha muitos altares; as cerimônias eram realizadas na língua latina, em tom monocórdico pelos sacerdotes. Disputas eram finalmente resolvidas por sínodos provinciais, que ocorriam duas vezes ao ano; acima disso, em questão de disciplina, não havia apelação. Assim vemos que as doutrinas da igreja antiga da Britânia era caracterizada por uma verdadeira simplicidade apostólica, e como instituição ela era livre e sem restrições.**

{* Aqui no sentido de construção, ou templo cristão}

{* Ver Monasticismo Inglês, por Travers Hill, p. 141, as obras de Gildas; A História Eclesiástica da Nação Inglesa, por Beda; A História Eclesiástica da Grã-Bretanha, por Jeremy Collier, vol. 1.}

É motivo de sincera gratidão* que a história inicial da igreja na Inglaterra tenha deixado um nome tão íntegro comparado às superstições e corrupções do Oriente e do Ocidente. Mas, infelizmente, sua existência como um estabelecimento separado não durou muito. Ela mal pôde sobreviver à metade do século VII. Suas calamidades foram provocadas por três passos consecutivos, todos estes fora de sua própria jurisdição -- a retirada das tropas romanas da Britânia; a Conquista Saxônica; e a Missão Agostiniana. Vamos agora olhar brevemente para cada um desses passos e seus efeitos.

{* O autor vivia na Inglaterra. }

Vimos algo sobre o declínio e aproximação da queda do Império Romano. Em consequência das pesadas calamidades que caíram sobre a cidade e as províncias de Roma, as tropas foram gradualmente retiradas da ilha britânica para que protegessem o centro do domínio. E os romanos, vendo que não podiam mais dispensar as forças necessárias para um estabelecimento militar na Britânia, partiram finalmente da ilha por volta da metade do século V, cerca de 475 anos após Júlio César ter desembarcado, pela primeira vez, em suas margens. O governo então caiu nas mãos de um número de príncipes insignificantes que, é claro, brigaram entre si. Guerras civis, fraqueza nacional e desmoralização logo se seguiram, com seus habituais juízos.

A retirada das tropas romanas necessariamente expôs o país a invasores, especialmente os pictos e escotos. Os chefes britânicos, incapazes de resistir a esses audaciosos ladrões e saqueadores, apelaram, em sua angústia, a Roma. "Os bárbaros", eles diziam, "atravessaram nossas muralhas como lobos em um rebanho de ovelhas, vão embora com seus espólios e retornam todos os anos." Mas por mais que os romanos pudessem ter pena de seus velhos amigos, eles agora não podiam ajudá-los. Decepcionados com a ajuda de Roma, e desesperado por sua incapacidade de defenderem-se contra as desoladoras tribos do Norte, os britânicos se voltaram aos saxões por ajuda.*

{* Enciclopédia Britânica, vol. 5, p. 301.}

domingo, 2 de outubro de 2016

Arcádio e Honório (395 d.C.)

Teodósio, o Grande, deixou dois filhos, Arcádio, com idade de dezoito anos, e Honório, que tinha apenas onze. O mais velho ficou com a soberania do Oriente, e o mais novo a do Ocidente. Nada pode ser mais impressionante do que a condição do mundo romano nesse momento, ou mais adequado para despertar nossa compaixão: dois imperadores de tal fraqueza a ponto de serem incapazes de conduzir a administração dos assuntos públicos, e todo o império em um estado de perigo e alarme por causa dos invasores góticos. A mão do Senhor é manifesta aqui. Onde está agora o gênio, a glória e o poder de Roma? Expiraram junto com Teodósio. Em um momento em que o império precisava de prudência, de habilidade marcial e dos talentos de um Constantino, ele foi declaradamente governado por dois príncipes imbecis. Mas seus dias estavam contados na providência de Deus, e deveriam passar muito rápido.

A mais feroz tempestade que já tinha assolado o império estava então pronta a irromper em sua hora de fraqueza. O competente general Flávio Stilicho (ou Stilico), a última esperança de Roma, foi assassinado logo após a morte de Teodósio, e toda a Itália caiu nas mãos dos bárbaros. Os godos tinham se rendido aos exércitos e especialmente à política de Teodósio, mas bastou as notícias de sua morte para que eles se erguessem em revolta e vingança. O famoso Alarico, o astuto e competente líder dos godos, apenas esperou para uma oportunidade favorável para levar adiante um esquema de maior magnitude e ousadia do que qualquer outro que tenha passado na mente de qualquer dos inimigos de Roma desde os tempos de Aníbal. Ele foi, sem dúvida, um ministro dos justos juízos de Deus sobre um povo tão manchado com o sangue de Seus santos, além de terem crucificado o Senhor da glória e matado Seus apóstolos. Deixaremos os detalhes com os historiadores do declínio e queda de Roma: mas podemos dizer brevemente que Alarico era então seguido não apenas pelos godos, mas também pelas tribos de quase todo nome e raça. A fúria do deserto seria então derramada sobre a amante e corrupta do mundo. Ele conduziu suas forças para a Grécia sem oposição; ele devastou sua terra frutífera e saqueou Atenas, Corinto, Argos e Esparta; e aquela que era impiamente chamada de "a cidade eterna" foi sitiada e saqueada. Por seis dias ela foi entregue ao abate sem remorsos e a todo tipo de pilhagem. Assim caiu a culpada e devota cidade pelo juízo de Deus: nenhuma mão se estendeu para ajudá-la: ninguém para lamentar seu destino. Também as províncias mais ricas da Europa, como a Itália, a Gália e a Espanha, foram devastadas pelos sucessores imediatos de Alarico, especialmente Átila, e novos reinos foram instituídos pelos bárbaros. Assim a história do quarto grande império mundial termina por volta do ano 478 d.C., 1229 anos ano após a fundação de Roma.

Teodorico, rei dos ostrogodos, um príncipe de igual excelência nas artes da guerra e no governo, restaurou uma era de paz e prosperidade, varreu todos os vestígios do governo imperial, e fez da Itália um reino.*

{* Enciclopédia Britânica, vol. 19, p. 420. Dezoito Séculos Cristãos, de White, p. 94.}

domingo, 28 de agosto de 2016

Os Invasores Bárbaros

A maioria de nossos leitores, até mesmo os mais jovens, já devem ter ouvido sobre "O Declínio e Queda do Império Romano" -- o quarto grande império mundial de que falou o profeta Daniel e João no Apocalipse. Ele tinha estado em declínio já por algum tempo, e estava rapidamente se aproximando de sua queda, quando Teodósio foi chamado ao trono. As fronteiras eram ameaçadas por todos os lados pelos bárbaros, que habitavam em terras vizinhas ao mundo romano. "Nas costas de cada um dos grandes rios que limitavam o império", diz o decano Milman, "apareceu uma hoste de invasores ameaçadores. Os persas, os armênios e os ibéricos estavam preparados para passar o Eufrates ou a fronteira oriental; o Danúbio já tinha proporcionado uma passagem para os godos; atrás deles vinham os hunos, em enxames ainda mais formidáveis a se multiplicarem; os francos e o resto das nações germânicas se aglomeravam junto ao Reno". Esta assustadora formação militar de invasão bárbara mostrará ao leitor, de relance, a então posição do quatro império, e o quão fácil é para Deus quebrar em pedaços o ferro, assim como ele quebrou o cobre, a prata e o ouro.*

{*N. do T.: para mais detalhes sobre a profecia de Daniel aqui mencionada, leia Breve História da Humanidade, de W. W. Fereday. Link: http://manjarcelestial.blogspot.com.br/2013/05/breve-historia-da-humanidade.html}

Dentro dos limites da terra romana a idolatria ainda existia, e sua adoração continuava imperturbável. Seus milhares de templos, em toda sua antiga grandeza, e suas cerimônias imponentes, cobriam a terra. Dificilmente um cristão poderia se voltar para qualquer lugar sem que visse um templo e inalasse um incenso oferecido aos ídolos. O cristianismo tinham apenas se erguido ao nível da tolerância em relação aos pagãos. O arianismo e o semiarianismo, em suas muitas formas, prevaleciam. Em Constantinopla e no Oriente eles eram supremos. Outras heresias abundavam. Tal era o estado das coisas, tanto dentro quanto fora do império, durante a ascensão de Teodósio. No entanto, para os detalhes sobre sua história civil, devemos sugerir aos leitores os autores já citados. Apenas gostaríamos de acrescentar que ele foi usado por Deus para deter, por um tempo, o progresso da invasão; para demolir as imagens e alguns dos templos de adoração pagã; para abolir a idolatria; para suprimir a superstição; para fazer com que as decisões do concílio de Niceia prevalecessem em todos os lugares; e para dar triunfo e predominância à profissão do cristianismo.

sábado, 12 de dezembro de 2015

O Escravo Foragido, Onésimo

De todos os convertidos que o Senhor deu ao apóstolo estando preso, nenhum deles parece ter ganho tão inteiramente seu coração como o pobre escravo fugitivo, Onésimo. Uma bela imagem de força, humildade e ternura do divino amor no coração que trabalha pelo Espírito, e docemente brilha em todos os detalhes da vida individual! O sucesso do apóstolo no palácio imperial não enfraquece seu interesse em um jovem discípulo da mais baixa condição da sociedade. Nenhuma porção da comunidade era mais depravada do que os escravos. Mas quem se associaria a um escravo fugitivo naquela devassa cidade? Mesmo assim, a partir destas profundezas, Onésimo é tirado pelas mãos invisíveis do amor eterno. Ele cruza o caminho do apóstolo, ouve-o pregar o evangelho, é convertido, dedica-se de uma vez por todas ao Senhor e a Seu serviço, e encontra em Paulo um amigo e irmão, assim como um líder e mestre. E agora resplandecem as virtudes e o valor do cristianismo, e as mais doces aplicações da graça de Deus para com um escravo pobre, sem amigos, destituído e foragido.

"O que é o cristianismo?", podemos perguntar, e qual sua origem, em vista de tais novidades em Roma. O que é o cristianismo no mundo? Será que foi aos pés de Gamaliel que Paulo aprendeu a amar assim? Não, querido leitor. Foi aos pés de Jesus. Que bom seria se o eloquente historiador de "O Declínio e a Queda do Império Romano" tivesse entrado nesta cena e aprendido o valor do cristianismo divino, em vez de ter se delongado em ridicularizá-lo com desdém! Se pensarmos por um momento nos trabalhos do apóstolo nesse tempo - sua idade - suas fraquezas - suas circunstâncias (para não falar dos assuntos elevados, e das imensas verdades fundamentais que então ocupavam sua mente) - podemos muito bem admirar a graça que podia entrar em cada detalhe do relacionamento de mestre e escravo, e isto com tal delicada consideração por cada pedido. A carta que ele enviou, com Onésimo, ao seu injuriado mestre Filemom, é claramente a mais tocante já escrita. Lendo-a por alto, perderemos o calor e seriedade de suas afeições, a delicadeza e equidade de seus pensamentos, ou a sublime dignidade que permeia por toda a epístola.

Vamos agora ponderar por um momento sobre as epístolas escritas durante sua prisão.

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