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domingo, 9 de abril de 2017

O Resumo de Mosheim

"No Oriente, desígnios sinistros, rancores, contendas e conflitos eram, em todos os lugares, predominantes. Em Constantinopla, ou Nova Roma, eram elevados à cadeira patriarcal aqueles que eram favoráveis à corte; e ao perderem esse favor, um decreto do imperador tirou-lhes de suas posições elevadas. No Ocidente, os bispos rodeavam as cortes dos príncipes, e se entregavam a toda espécie de voluptuosidade: enquanto o clero inferior e os monges eram sensuais e, pelos vícios mais grosseiros, corrompiam o povo a quem se destinavam a reformar. A ignorância do clero, em muitos lugares, era tão grande que poucos deles podiam ler ou escrever. Assim, sempre que uma carta devia ser escrita, or qualquer coisa de importância tivesse de ser firmada por escrito, recorria-se, geralmente, a algum indivíduo cuja fama lhe investia com uma certa destreza em tais assuntos...

"Os bispos e os chefes de monastérios detinham muitos bens imobiliários ou propriedade fundiária pela posse feudal; pelo que, quando uma guerra irrompia, eles eram convocados pessoalmente para o acampamento militar, atendidos por um número de soldados que eram obrigados a se apresentarem aos seus soberanos. Reis e príncipes, além de poderem recompensar seus servos e soldados por seus serviços, muitas vezes se apoderavam de propriedade consagrada, dando-as a seus dependentes; em consequência, os padres e monges, antes apoiados por eles, buscavam alívio para suas necessidades de cometer qualquer tipo de crimes e embustes inimagináveis.

"Poucos daqueles que foram elevados, nessa época, às mais altas posições na igreja, podem ser elogiados por sua sabedoria, erudição, virtude e outros dons adequados a um bispo. A maior parte deles, por seus numerosos vícios, e todos eles, por sua arrogância e cobiça de poder, ocasionaram desgraças às suas próprias memórias. Entre Leão IV, que morreu em 855 d.C., e Bento III, uma mulher que escondeu seu sexo e assumiu o nome de João, conta-se, abriu seu caminho ao trono pontifício por sua própria esperteza e engenhosidade, e governou a igreja por um tempo. Ela é comumente chamada de Papisa Joana. Durante os cinco séculos subsequentes as testemunhas desse evento extraordinário são inúmeras, mas nenhuma, antes da Reforma de Lutero, considerou isso como algo inacreditável ou vergonhoso para a igreja.

"Todos concordam que nesses dias sombrios o estado do cristianismo era, em todos os lugares, muito deplorável; não apenas pela incrível ignorância, a mãe da superstição e degradação moral, como também por outras causas... A ordem sagrada, tanto no Oriente quanto no Ocidente, era composta principalmente por homens analfabetos, estúpidos, ignorantes de tudo concernente à religião... O que os pontífices gregos eram é demonstrado pelo único exemplo de Teofilato que, como testificam historiadores confiáveis, fazia tráfico de tudo o que era sacro, e não ligava para nada que não fosse seus cachorros e cavalos. Mas, embora os patriarcas gregos fossem homens muito indignos, ainda assim possuíam mais dignidade e virtude do que os pontífices romanos. Um fato reconhecido por todos os melhores escritores, sem exceção até mesmo daqueles que advogam a autoridade papal, é que a história dos bispos romanos nesse século é uma história, não de homens, mas de monstros, uma história das mais atrozes vilanias e crimes.

"A essência da religião foi pensada, tanto pelos gregos como pelos latinos, de modo a consistir na adoração de imagens,  em honrar os santos que partiram, em buscar por e preservar relíquias e em enriquecer padres e monges. Dificilmente um indivíduo se aventurava a se aproximar de Deus antes do assunto de interesse ter sido devidamente buscado por meio de imagens e santos. Todo o mundo estava insanamente ocupado em juntar relíquias e procurá-las."*

{* História, de Mosheim, vol. 2, p. 184 & 272.}

Nada mais, pensamos, precisa ser dito, no momento, quanto à natureza -- raiz e ramos -- do sistema papal. Pela boca de pelo menos três testemunhas competentes, tudo o que foi dito de Roma, desde o início do período de Tiatira, foi confirmado. E não foi dito nem metade, especialmente sobre o assunto da imoralidade. Não poderíamos transferir para nossas páginas a devassidão dos padres e monges. Alguns pensam que o papado caiu no ponto mais profundo de degradação nos séculos IX e X. Por muitos anos a mitra papal foi usada livremente pela infame Teodora e suas duas filhas, Marózia e Teodora. Tal era seu poder e sua influência maligna, por meio de suas vidas licenciosas, que colocavam na cadeira de São Pedro quem elas queriam -- homens ímpios como elas próprias. Nossas páginas seriam contaminadas por um relato de suas abertas e descaradas imoralidades. Tal foi a sucessão papal. Certamente Jezabel foi realmente representada por essas mulheres, e na influência que obtiveram sobre os papas e sobre a cidade de Roma. Mas, infelizmente, Jezabel, com todas as suas associações, corrupções, tiranias, idolatrias e usos da espada civil, foi muito fielmente representada pelo papado desde sua própria fundação.

domingo, 3 de julho de 2016

O Testemunho da História

Até mesmo pela história podemos provar que foi melhor para o cristianismo quando os cristãos estavam sofrendo na fogueira por Cristo do que quando foram festejados nos palácios dos reis e cobertos pelos favores reais. Para ilustrar nossa questão, daremos ao leitor uma página da história da grande perseguição sob Diocleciano, e uma dos mais brilhantes dias de Constantino. Citaremos ambos dos escritos de Milman, mais tarde conhecido como Decano de St. Paul, e que, portanto, não pode ser suspeito de injustiça para com o clero. Falaremos apenas dos fiéis. É bem sabido que nas últimas perseguições, quando as assembleias dos cristãos tinham aumentado bastante, muitos provaram a infidelidade no dia da prova, embora estes eram comparativamente poucos, e muitos deles mais tarde se arrependeram.

"A perseguição tinha já durado seis ou sete anos (309), mas em nenhuma parte do mundo o cristianismo demonstrava qualquer sinal de decadência. Estava tão profundamente enraizado nas mentes dos homens, amplamente promulgado e vigorosamente organizado para ser incapaz de suportar esse violento, porém inútil, choque. Se sua adoração pública era suspensa, os crentes se reuniam em secreto, ou cultivavam na inexpugnável privacidade do coração os inalienáveis direitos da consciência. Mas, é claro, a perseguição caiu com maior peso sobre os mais eminentes do corpo. Aqueles que resistiam à morte eram animados pela presença das multidões que, se não se atreviam a aplaudir, mal podiam esconder sua admiração. Mulheres se aglomeravam para beijar as bordas das vestes dos mártires, e suas cinzas espalhadas, ou os ossos insepultos, eram roubados pelo zelo devoto de seus rebanhos."

Sob o decreto emitido do leito de morte de Galério, a perseguição cessou, e aos cristãos foi permitido o livre e público exercício de sua religião. Este tempo de respirar durou apenas alguns meses. Mas que grandiosa a vista do que se seguiu, e que testemunho da verdade e do poder do cristianismo! O Decano continua dizendo:

"A cessação da perseguição acabou por mostrar sua extensão. As portas da prisão foram abertas, as minas devolveram seus trabalhadores condenados, em todo lugar fileiras de cristãos eram vistas se apressando até as ruínas de suas "igrejas" e visitando os lugares santificados por sua antiga devoção. As vias públicas, as ruas e os locais de mercado das cidades ficaram cheias de longas procissões cantando salmos de louvores por sua libertação. Aqueles que tinham mantido sua fé sob essas severas provas receberam as carinhosas congratulações de seus irmãos; aqueles que tinham falhado na hora da aflição se apressaram a confessar seu fracasso e a buscar por readmissão no então alegre rebanho."

Vamos agora nos voltar para o estado alterado das coisas sob Constantino, cerca de vinte anos depois da morte de Galério. Observe a grande mudança na posição do clero.

"Os bispos apareciam como participantes regulares da corte, e as dissensões internas do cristianismo se tornaram assuntos de Estado. O prelado governava, agora nem tanto por sua admitida superioridade na virtude cristã, mas pela inalienável autoridade de seu ofício. Ele abria ou fechava a porta da "igreja", que era equivalente a uma admissão ou exclusão da felicidade eterna. Ele pronunciava as sentenças de excomunhão, que lançava para fora o trêmulo delinquente no meio dos perdidos e moribundos pagãos. Ele tinha seu trono na parte mais distinta do templo cristão, e embora ainda atuasse na presença e em nome de seu colégio de presbíteros, ainda assim era reconhecido como a cabeça de uma grande comunidade, sobre cujo destino eterno ele mantinha um vago, mas não por isso menos imponente e terrível, domínio."*

{* História do Cristianismo, vol. 2, pp. 283-308. Neander, vol. 3, p. 41. Vida de Constantino, por Eusébio.}


Questões intelectuais e filosóficas tomaram o lugar da verdade do evangelho, e a mera religião exterior no lugar da fé, do amor, e da mente voltada para as coisas celestiais. Um Salvador crucificado, a verdadeira conversão, a justificação somente pela fé, a separação do mundo, são assuntos nunca conhecidos por Constantino, e provavelmente nunca introduzidos em sua presença. "A conexão entre o mundo físico e moral tinha se tornado um tópico geral e, pela primeira vez, tinha se tornado uma verdade primária de uma religião popular, e naturalmente, não podia se isentar da mescla com as paixões populares. A humanidade, mesmo dentro da esfera do cristianismo, retornou à condição judia mais inflexível e, em seu espírito, assim como em sua linguagem, o Antigo Testamento começou a dominar sobre o evangelho de Cristo."

domingo, 27 de abril de 2014

Os Erros dos Historiadores em Geral

Alguns historiadores, infelizmente, não levaram em consideração esta triste mistura dos vasos bons e ruins - dos verdadeiros e falsos cristãos. Eles mesmos não eram homens com mentes espirituais. Portanto fizeram, e ainda fazem, de seu objetivo principal, registrar os vários caminhos anticristãos e perversos dos meros professos. Eles se delongam minuciosamente nas heresias que perturbaram a igreja, nos abusos que a desgraçaram, e nas controvérsias que a distraíram. Nós, pelo contrário, nos esforçaremos para perscrutar pelas longas páginas escuras da história em busca da linha prateada da graça de Deus nos verdadeiros cristãos, embora muitas vezes a liga seja tão predominante que o minério puro é quase imperceptível.

Deus nunca deixou a Si mesmo sem um testemunho. Ele sempre manteve Seus amados e queridos, mesmo que ocultos, em todas as eras e em todos os lugares. Nenhum olho a não ser o dEle poderia enxergar os sete mil em Israel que não tinham se curvado à imagem de Baal, nos dias de Acabe e Jezabel. E não há dúvida que dezenas de milhares, mesmo nas épocas mais sombrias do Cristianismo, serão encontrados, afinal, na "gloriosa igreja", que Cristo apresentará a Si mesmo, no tão esperado dia de Sua alegria nupcial. Muitas pedras preciosas encontradas em meio ao lixo da "idade média" refletirão Sua graça e glória naquele dia sem par.

Que bendito pensamento! Mesmo agora enche a alma de júbilo e deleite. Senhor, apresse aquele dia tão feliz por amor de Teu próprio nome!

Diferente de muitos falsos, os verdadeiros crentes são humildes por instinto. Eles são geralmente reservados, e a maioria são pouco conhecidos. Não há humilhação tão profunda e real como aquela que o conhecimento da graça produz. Tais pessoas modestas e ocultas encontram pouco espaço nas páginas históricas. Mas o convincente e zeloso herege, e o barulhento e visionário fanático, são barulhentos demais para escapar à vista. Por isso, também, que os historiadores vêm recordando tão cuidadosamente os tolos e insensatos princípios e as más práticas de tais homens.

Vamos agora mudar um pouco de assunto, e tomar uma visão geral da primeira parte de nosso assunto: as sete cartas às igrejas da Ásia.

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