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domingo, 2 de julho de 2017

Gregório VII e sua Reforma

Por volta do fim do primeiro ano oficial de Gregório como papa (março de 1074), ele reuniu um numeroso concílio em Roma, com o propósito de declarar guerra contra os dois grandes vícios do clero europeu, e os dois grandes obstáculos para seu esquema teocrático -- o concubinato e a simonia, isto é: o casamento de sacerdotes e a venda de benefícios. Muitos que eram favoráveis à reforma achavam o decreto quanto ao celibato não apenas severo, como também injusto, porque se aplicava igualmente aos mais honráveis casamentos e aos de maior desprezo. Foi resolvido no concílio, sem oposição: primeiro, que os padres não deveriam se casar; segundo, que aqueles que estavam casados deveriam deixar suas esposas ou renunciar ao sacerdócio; terceiro, que no futuro ninguém que não professasse continência inviolável deveria ser admitido às ordens sagradas.

Muitos dos primeiros pais se esforçaram para estabelecer a conexão entre o celibato e a santidade, e a persuadir os homens que aqueles que se casaram com a igreja deveriam evitar a contaminação de uma união terrena. Muitos dos papas também defenderam o celibato; mas, a não ser sob a mais severa disciplina pessoal ou nas comunidades monásticas mais estritas, o celibato era pouco observado e provavelmente nunca tenha sido forçado além das fronteiras da Itália. Mas Gregório fez sua voz ser ouvida e temida quanto a esse assunto, desde o Vaticano até os limites mais longínquos da Cristandade latina. Ele escreveu cartas a todos os arcebispos e bispos, aos príncipes, potentados e oficiais leigos de todos os níveis, sob pena de incorrerem em severa punição ou perdição eterna, para que expulsassem e depusessem, sem misericórdia, todos os padres e diáconos casados, e a recusar seus contaminantes ministérios. Esses despachos estavam cheios de anátemas (maldições) contra todos os que resistissem aos seus decretos; e, assumindo o lugar de Deus, ele diz: "Como obterão perdão por seus pecados aqueles que desprezam aquele que abre e fecha as portas do céu a quem ele se agrada? Que todos se cuidem de não invocarem a ira divina sobre suas próprias cabeças,... como eles incorrem na maldição apostólica, em vez de ganharem essa graça e bênção tão abundantemente derramada sobre eles pelo bendito Pedro! Que fiquem bem certos que nem príncipe nem clérigo escapará da condenação do pecador em deixar de expelir, com rigor inexorável, todos os padres simoníacos e casados, e todos os que ouvirem ao chamado da simpatia ou afeição carnal, ou por qualquer motivo mundano reterem a espada de derramar sangue pela causa de Deus e de Sua igreja, ou permanecerão distantes enquanto essas heresias condenadoras estiverem roendo os sinais vitais da religião,... estes devem ser considerados indiscriminadamente como cúmplices dos hereges, como falsificações e fraudes."*

{* Greenwood, Cathedra Petri, vol. 4, p. 331.}

domingo, 20 de novembro de 2016

A Primeira Colocação dos Alicerces da Cruz na Britânia

À muito tempo, nos primeiros dias da simplicidade apostólica, a cruz de Cristo, cremos, foi plantada nessa ilha. Há evidência histórica para acreditar que "Cláudia", mencionada por Paulo em sua Segunda Epístola a Timóteo, foi a filha de um rei britânico, que se casou com um distinto romano chamado "Prudente". Esta circunstância não parecerá improvável se tivermos em mente que, durante todo o período do domínio romano nesse país, devem ter havido muitas oportunidades para a disseminação do cristianismo, as quais seriam prontamente abraçados por aqueles que amavam o Senhor Jesus e as almas dos homens. Além disso, era o costume da época para os reis e nobres britânicos enviar seus filhos para Roma para educação; e esta prática, conta-se, prevaleceu a tal ponto que uma mansão foi estabelecida expressamente para eles, e um imposto de um centavo era cobrado de cada casa na Inglaterra para apoiá-la.*

{* Para detalhes, veja Vida de Paulo, de Conybeare e Howson; e Monasticismo Inglês, de Travers Hill.}

Outra testemunha para o precoce estabelecimento do cristianismo nesse país é o testemunho dos "Pais". Justino Mártir, Irineu e Tertuliano, que escreveram no século II, afirmam que, em cada país conhecido aos romanos havia pessoas que professavam o cristianismo -- desde aqueles que andavam em carroças até os que não tinham nem um lar para viver, não havia raça de homens dentre os quais não houvessem orações oferecidas no nome de um Jesus crucificado. Temos também o testemunho dos últimos "Pais". A corrente histórica parece ser carregada pela menção de bispos britânicos tendo participado de vários dos concílios gerais no século IV; e sua ortodoxia no decorrer da controvérsia ariana foi atestava pelo peso das evidências de Atanásio e Hilário. É também digno de nota que Constantino -- que tinha passado algum tempo com seu pai na Britânia -- ao escrever às igrejas do império sobre a disputa concernente à Páscoa, citou a igreja britânica como um exemplo de ortodoxia. A heresia pelagiana, conta-se, foi introduzida na Britânia por alguém chamado Agrícola no ano 429, onde encontrou muita aceitação; mas em uma conferência em Saint Albans os mestres hereges foram derrotados pelo clero ortodoxo.*

{* J. C. Robertson, vol. 1, p. 450.}

domingo, 11 de setembro de 2016

Os Modernos Pedobatistas

A igreja de Roma e todos os que seguem os "pais" confessam que a origem de sua prática é a tradição. Mas há muitos outros em nossos dias, como tem sido desde a Reforma*, que detêm o batismo infantil com base nos escritos do Novo Testamento. As seguintes são as principais passagens as quais eles se referem: "Deixai vir os meninos a mim, e não os impeçais; porque dos tais é o reino de Deus"... "De outra sorte os vossos filhos seriam imundos; mas agora são santos"... "Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos"... "Criai-os na doutrina e admoestação do Senhor". E muitos apoiam seus argumentos principalmente no batismo de famílias, e alguns também com base na aliança abraâmica. Veja Marcos 10:14; 1 Coríntios 7:14; Atos 2:39; Efésios 6:4; Atos 16:33; Gênesis 17.

{* Pelos reformadores, e mais tarde pelos puritanos, foram feitos esforços para encontrar nas Escrituras o que a igreja de Roma tinha mantido como tradição; os protestantes recorriam à Bíblia para tudo, e os católicos para os "pais".}

Os anti-pedobatistas, ou "os batistas", como chamam a si mesmos, simplesmente afirmam que, em todas as alusões ao batismo nos escritos dos apóstolos, ele é uniformemente associado à fé no evangelho, e que tais expressões como "sepultados com Ele pelo batismo"  e "plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte" (Romanos 6:4,5), etc., devem significar que a pessoa assim batizada tem parte com Cristo pela fé. E, além disso, defendem que, como o batismo é uma ordenança de Cristo, deve necessariamente ser celebrada exatamente como Ele designou. Eles afirmam que nada além das Escrituras diretas devem ser o fundamento de nossa fé e prática nas coisas divinas. E sendo o batismo algo cuja ministração é necessária, e de maneira prescrita, sem a qual seria apenas uma noção na mente humana, essas coisas, portanto, são tão necessárias como o próprio batismo. E, portanto, segue que os verdadeiros candidatos devem ser apenas crentes professos, e o verdadeiro modo, que é apenas a imersão, são coisas necessárias para o verdadeiro batismo cristão*.

{* Reflexões sobre a História de Wall, de Gale, vol. 3, p. 84}

domingo, 6 de março de 2016

Os Seguidores Imediatos dos Apóstolos

Aqui surge uma importante pergunta, e uma que é frequentemente feita: "Em que momento, e por quais meios, o clericalismo - todo o sistema do clero - firmou-se com tanto afinco na igreja professa?" Para responder a essa pergunta plenamente, seria necessário escrever em detalhes a história interna da igreja. Sua constituição e caráter foram totalmente modificados pela introdução do sistema clerical. Mas seu crescimento e organização foi gradual. Argumentos foram construídos a partir do Antigo Testamento e, em um curto período de tempo, o cristianismo foi reformulado para os moldes do judaísmo. A distinção entre bispos e presbíteros, entre uma ordem sacerdotal e o comum sacerdócio de todos os crentes, e a multiplicação de cargos eclesiásticos, rapidamente se seguiram como consequência. Mas, por mais difícil que seja traçar as incursões do clericalismo, a sinagoga era seu modelo.

Aprendemos de todo o Novo Testamento que o judaísmo era o incansável e implacável inimigo do cristianismo em todos os pontos de vista. Ele trabalhou incessantemente, por um lado introduzindo seus ritos e cerimônias e pelo outro perseguindo até a morte todos os que eram fiéis a Cristo e aos verdadeiros princípios da igreja de Deus. Vemos isto especialmente em Atos e nas Epístolas. Mas quando os dons extraordinários na igreja cessaram, e quando os nobres defensores da fé, nas pessoas dos apóstolos inspirados, se foram, podemos facilmente imaginar como o judaísmo prevalecera. Além disso, as primeiras igrejas (assembleias) eram principalmente compostas de convertidos da sinagoga judaica, que por muito tempo retiveram seus preconceitos judaicos.

Portanto, acreditamos firmemente que o clericalismo brotou do judaísmo. Desde os dias dos apóstolo até hoje a raiz de toda a estrutura e domínio do clericalismo está lá. A filosofia e a heterodoxia, sem dúvida, fez muito para corromper a igreja e levá-la a dar as mãos com o mundo: mas a ordem do clero e tudo o que pertence a ela deve ter sido fundamentada na religião dos judeus. É mais que provável, no entanto, que muitos possam ter sido persuadidos, como muitos têm sido desde então, de que o cristianismo é uma continuação do judaísmo, em vez de serem perfeitamente contrastantes. Os mestres judaizantes ousadamente afirmavam que o cristianismo era meramente um enxerto sobre o judaísmo. Mas através das epístolas, em todo lugar aprendemos que uma é terrena e a outra é celestial; que uma pertence à antiga, e a outra à nova criação; que a lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo.

Vamos agora nos voltar aos seguidores imediatos dos apóstolos.

Os Pais Apostólicos, como são chamados, tais como Clemente, Policarpo, Inácio e Barnabé, foram os seguidores imediatos dos apóstolos inspirados. Eles tinham ouvido as instruções deles, trabalharam com eles no evangelho, e provavelmente tinham sido familiarmente conhecidos deles. Mas, não obstante os altos privilégios que eles gozavam como aprendizes dos apóstolos, eles logo se afastaram das doutrinas que lhes tinham sido confiadas, especialmente no que diz respeito ao governo da igreja. Eles parecem ter esquecido completamente - a julgar pelas Epístolas que citam seus nomes - a grande verdade do Novo Testamento sobre a presença do Espírito Santo na assembleia. Certamente tanto João quanto Paulo falam muito da presença, habitação, domínio soberano e autoridade do Espírito Santo na igreja. João 13-16, Atos 2:1, 1 Coríntios 12:14 e Efésios 1-4 dão claras direções e instruções sobre essa verdade fundamental da igreja de Deus. Se essa verdade tivesse sido mantida de acordo com a exortação do apóstolo - "procurando guardar" - não criar - "a unidade do Espírito" (Efésios 4:3) - o clericalismo nunca teria achado um lugar na Cristandade.

Os novos mestres da igreja parecem também ter esquecido a bela simplicidade da ordem divina na igreja. Deveria haver apenas duas ordens de ofícios - anciãos e diáconos. Estes eram nomeados para atender às necessidades temporais, e aqueles para as necessidades espirituais da assembleia dos santos. Ancião, ou bispo, significa simplesmente supervisor, alguém que exerce uma supervisão espiritual. Ele pode ser "apto para ensinar" ou não: ele não é um mestre ordenado, mas um supervisor ordenado. E quanto aos sacramentos estabelecidos por mandato divino, apenas encontramos, no Novo Testamento, o Batismo e a Ceia do Senhor. Nada poderia ser mais simples, mais claro, ou mais facilmente compreendido, como todas as direções dadas para a fé e prática, mas não havia espaço de sobra para a exaltação e glória do homem na igreja de Deus. O Espírito Santo tinha descido para tomar a liderança na assembleia, de acordo com a palavra do Senhor e a promessa do Pai; e nenhum cristão, por mais dotado que pudesse ser, crendo nisto, podia tomar o lugar de líder, e assim praticamente despedir o Espírito Santo. Mas, a partir do momento em que essa verdade foi perdida de vista, os homens começaram a contender por lugar e poder, e assim, é claro, o Espírito Santo não tinha mais Seu lugar de direito na assembleia.

Mal a voz da inspiração tinha ficado em silêncio na igreja, e logo ouvimos a voz dos novos mestres gritando e exigindo as mais elevadas honrarias de ser pago como bispo, e de ter um lugar supremo dado a eles. Nenhuma palavra sobre o lugar do Espírito como governante soberano na igreja de Deus. Isto é evidente pelas epístolas de Inácio, que dizem ter sido escritas em 107 d.C. Muitos grandes nomes, como sabemos, têm questionado a autenticidade delas; e muitos grandes nomes defendem que elas foram satisfatoriamente provadas serem genuínas. As provas de cada lado estão fora do nosso escopo. A Igreja da Inglaterra tem, por muito tempo, as aceitado como genuínas, e as considera como a base, e como a vindicação triunfante, da antiguidade do episcopado. A seguir estão algumas amostras de suas advertências às igrejas.

Inácio, no curso de sua viagem de Antioquia a Roma*, escreveu sete epístolas. Uma aos efésios, aos magnésios, aos trálios, aos romanos, aos filadélfios, aos esmirnenses, e uma ao seu amigo Policarpo. Tendo sido escritas na véspera de seu martírio, e com grande seriedade e veemência, e tendo sido discípulo e amigo do apóstolo João, sendo na época um bispo de Antioquia, provavelmente o mais famoso da Cristandade, suas epístolas devem ter produzido uma grande impressão nas igrejas; além do fato de que o caminho do ofício, autoridade e poder terem sido sempre um grande encanto para a vã natureza humana.

{* Ver Viagem e Martírio de Inácio}

Ao escrever à igreja em Éfeso ele diz: "Tomemos cuidado, irmãos, para não nos colocarmos contra o bispo, a fim de que estejamos sujeitos a Deus..., pois é evidente que temos de respeitar o bispo da mesma maneira como respeitamos o próprio Senhor". Em sua epístola aos magnésios ele diz: "Eu vos exorto a cuidadosamente fazer todas as coisas em divina harmonia: seus bispos presidindo como se estivessem no lugar de Deus; seus presbíteros como se estivessem no lugar do conselho de apóstolos; e seus diáconos, a posição mais estimada para mim, estando encarregados do ministério de Jesus Cristo". Encontramos o mesmo tom em sua carta aos trálios: "Enquanto estiverem sujeitos ao bispo de vocês da mesma forma que ao Senhor, me parece que estarão vivendo, não à maneira dos homens, mas de acordo com Jesus Cristo, que morreu por vocês... Guardem-se de tais pessoas; e isso vocês farão se não estiverem ensoberbecidos, mas continuem inseparáveis de Jesus Cristo nosso Deus, do bispo de vocês, e dos mandamentos dos apóstolos". Passando por cima de várias de suas cartas às igrejas, vamos apenas dar mais uma amostra de sua epístola aos filadélfios: "Eu clamei enquanto estava no meio de vocês, falei em alta voz: ‘Obedeçam ao bispo, ao presbitério e aos diáconos’. Agora alguns supõem que disse isso prevendo a divisão que aconteceria. Mas Ele é minha testemunha, por amor do qual estou em correntes, que eu nada sabia vindo da parte dos homens, mas o Espírito falou...: 'Nada façam sem o bispo; mantenham seus corpos como templos de Deus, amem a unidade, fujam das divisões, sejam seguidores de Cristo, como Ele é do Pai'"*

{* Os extratos acima foram retirados da Tradução de Wake. Veja também "Uma Completa e Fiel Análise dos Escritos de Inácio, Clemente, Policarpo e Hermas". O Pesquisador, volume 2.}


Na última citação é bastante evidente que o venerável "pai" desejava adicionar a suas teorias o peso da inspiração. Mas, por mais extravagante e irresponsável que essa ideia possa ser, devemos dar-lhe crédito por acreditar no que dizia. Não temos dúvida de que ele era um cristão devoto, e cheio de zelo religioso, mas não pode haver menos dúvida de que ele enganou-se muito neste e em outros assuntos. A principal ideia em todas as suas cartas é a perfeita submissão do povo aos seus superiores, ou seja, a submissão dos leigos ao seu clero. Ele estava, sem dúvida, ansioso pelo bem-estar da igreja, e temeroso do efeito das "divisões" às quais se refere; assim ele provavelmente deve ter pensado que um governo forte, nas mãos dos bispos, seria o melhor meio de preservá-la das incursões do erro. "Sejam diligentes", disse, "em estabelecer a doutrina de nosso Senhor e dos apóstolos, junto com o mais digno bispo entre vocês, os mais espirituais presbíteros e os mais piedosos diáconos. Sejam sujeitos ao bispo e uns aos outros, como Jesus Cristo era ao Pai, quando na carne; e como os apóstolos a Cristo, e ao Pai e ao Espírito; e assim poderá haver união entre vocês, tanto no corpo quanto no espírito". Assim, a mitra foi colocada na cabeça do mais alto dignatário, e daí em diante se tornou objeto de ambição eclesiástica, e não raro da mais indecorosa contenda, com todas as suas consequências desmoralizantes.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Os Escritos dos Pais e as Escrituras Sagradas

Mas, embora Inácio possa ser digno de honra como um homem santo de Deus, e como um nobre mártir de Cristo, devemos nos lembrar que suas cartas não são a Palavra de Deus. Elas podem nos interessar e nos instruir, mas não podem comandar nossa fé. Esta pode apenas se firmar no sólido fundamento da Palavra de Deus, e nunca no frágil solo da tradição. "As Escrituras permanecem à parte", disse alguém, "em majestoso isolamento, preeminente em instrução, e separado por uma excelência inigualável de tudo o que foi escrito pelos pais apostólicos: de modo que esses que seguiram de perto os apóstolos nos deixaram escritos que são mais para nossa advertência do que para nossa edificação". Ao mesmo tempo, esses primeiros escritores cristãos têm todo direito ao respeito e veneração com os quais a antiguidade os investiu. Eles eram contemporâneos dos apóstolos, eles desfrutaram do privilégio de ouvir seus ensinos, compartilhavam com eles os labores do evangelho, e conversaram livremente com eles no dia a dia. Paulo fala de um Clemente - um que é conhecido como pai apostólico - como um de seus "cooperadores, cujos nomes estão no livro da vida", e o que ele diz de Timóteo pode ter sido pelo menos em parte verdade para muitos outros: "Tu, porém, tens seguido a minha doutrina, modo de viver, intenção, fé, longanimidade, amor, paciência, perseguições e aflições." (Filipenses 4:3, 2 Timóteo 3:10,11)

Desses que tinham tão alto privilégio deveríamos naturalmente esperar a sã doutrina apostólica - uma fiel repetição das verdades e instruções que foram entregues a eles pelos apóstolos inspirados. Mas, infelizmente, este não é o caso! Inácio foi um dos primeiros pais apostólicos. Ele se tornou um bispo de Antioquia, a metrópole da Síria, por volta do ano 70. Ele era um discípulo do apóstolo João, e morreu apenas cerca de 7 anos após a morte de João. Certamente de alguém assim poderíamos esperar uma estreita semelhança com os ensinos do apóstolo, mas isso não acontece. As afirmações definitivas e absolutas das Escrituras, vindas diretamente de Deus para a alma, são muito diferentes dos escritos de Inácio e de todos os Pais. Nosso único guia seguro e certo é a Palavra de Deus. Quão conveniente, então, é a palavra na Primeira Epístola de João: "Portanto, o que desde o princípio ouvistes permaneça em vós. Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, também permanecereis no Filho e no Pai." (1 João 2:24). Esta passagem evidentemente se refere mais especialmente à pessoa de Cristo, e consequentemente às Escrituras do Novo Testamento, nas quais temos a revelação do Pai no Filho, feito conhecido a nós pelo Espírito Santo. Nas Epístolas de Paulo, temos mais plenamente revelados os conselhos de Deus relacionados à igreja, a Israel e aos gentios, de modo que podemos ir mais longe do que "os Pais" para encontrar o verdadeiro fundamento da fé; devemos voltar àquilo que existia desde "O Princípio". Nada tem autoridade divina direta para o crente além daquilo que era "desde o princípio". Isto por si só assegura que continuemos "no Filho e no Pai".

As epístolas de Inácio têm sido muito estimadas pelos episcopais como a principal autoridade no sistema da igreja inglesa {*N. do T.: e certamente para muitas outras seitas cristãs}, e essa é a nossa desculpa para se referir tanto a este "pai" {*N. do T.: O escritor deste livro vivia na Inglaterra no século XIX}. Quase todos os fundamentos do anglicanismo em favor do episcopado vêm de suas cartas. Ele bate tanto a tecla na submissão à autoridade episcopal, e tanto a exalta, que muitos têm sido induzidos a questionar completamente sua autenticidade, e outros têm suposto que essas cartas devem ter sido bastante alteradas para servir aos interesses do clero. Mas quanto a essas controvérsias não temos nada a tratar em nosso livro.*

{* Veja As Genuínas Epístolas de Clemente, Policarpo, Inácio e Barnabé, por Ab. Wake, 6ª ed. Bagster.}

Vamos agora continuar nossa história a partir da morte de Trajano no ano 117, e olhar brevemente para a condição da igreja durante os reinados de Adriano e dos Antoninos.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Capítulo 4: Os Primeiros Missionários da Cruz

Em vez de passar por cima dos capítulos restantes de Atos, achamos que pode ser mais interessante e igualmente instrutivo para nossos leitores considerá-los em conexão com a história dos apóstolos, especialmente com a história dos dois grandes apóstolos. O livro de Atos é quase inteiramente ocupado com os atos de Pedro e de Paulo, embora, é claro, sob a direção do Espírito Santo: o primeiro como o grande apóstolo dos judeus, e o segundo como o grande apóstolo dos gentios. Mas seria também de interesse abraçar a presente oportunidade para observar brevemente os primeiros companheiros e missionários pessoalmente escolhidos por nosso bendito Senhor - os doze apóstolos.

Mas, antes de tentarmos um esboço dessas interessantes vidas, parece bem declarar qual objetivo temos em vista ao fazê-lo. Estamos saindo um pouco do curso que estávamos seguindo. Em nenhuma das publicações sobre a história da igreja que conhecemos a vida dos apóstolos é apresentada de forma ordenada, e é estranho que os grandes fundadores da igreja não achem seus lugares em sua história. 

Ao mesmo tempo, no que diz respeito aos apóstolos, temos que ter em mente que, além da narrativa sagrada, há bem pouco material sobre o qual possamos nos apoiar. O tradicional e o bíblico, o certo e o incerto, são quase desamparadamente misturados nos escritos dos Pais da Igreja. Cada raio de luz histórico distinto é de grande valor, mas são somente as Escrituras que podemos tomar por totalmente corretas. Ainda assim, as poucas notas que temos ali espalhadas, de alguns dos apóstolos, quando reunidas, podem dar ao leitor uma ideia da pessoa e individualidade de cada um. Outros, também notamos, além dos apóstolos, aparecerão em conexão com eles, especialmente com Paulo. Assim nossos leitores terão, de maneira conveniente, um breve resumo de quase todos os nobres pregadores, professores, confessores e mártires do Senhor Jesus que são mencionados no Novo Testamento.

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