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domingo, 17 de julho de 2016

O Início do Arianismo

O arianismo foi o crescimento natural das opiniões gnósticas, e Alexandria, o viveiro das questões metafísicas e distinções sutis, seu local de nascimento. Paulo de Samósata e Sabélio da Líbia, no terceiro século, ensinavam falsas doutrinas similares à de Ário no quarto século. As seitas gnósticas em suas diferentes variedades, e a maniqueísta, que era a religião persa com uma mistura de cristianismo, podem ser consideradas religiões rivais, mas como facções cristãs, no entanto, todas elas fizeram sua obra má entre os cristãos quanto à doutrina da Trindade. Quase todas essas heresias, como são comumente chamadas, tinham caído sob o descontentamento real, e seus seguidores eram sujeitos a regulamentos penais. Os montanistas, paulitas, novacianos, marcionitas e valentinianos estavam entre as seitas proscritas e perseguidas. Mas havia uma outra heresia, uma mais profunda e tenebrosa, e muito mais influente do que qualquer outra que já tinha aparecido, que estava para estourar a partir do próprio seio da assim chamada "santa igreja católica". A seguir temos um relato do que aconteceu.

Alexandre, o bispo de Alexandria, em uma reunião com seus presbíteros, parece ter se expressado livremente sobre o assunto da Trindade, quando Ário, um dos presbíteros, questionou a verdade das posições de Alexandre, alegando que estavam aliadas aos erros sabelianos, que tinham sido condenados pela igreja. Essa disputa levou Ário a declarar suas próprias visões sobre a Trindade, que eram, em essência, a negação da divindade do Salvador -- que Ele seria apenas o primeiro e mais nobre dos seres criados, formado a partir do nada por Deus Pai -- que, embora imensuravelmente superior em poder e em glória aos mais elevados seres criados, Ele seria inferior ao Pai. Ele também defendia que, embora inferior ao Pai em natureza e em dignidade, Ele é a imagem do Pai e o representante do poder divino pelo qual Ele criou os mundos. Quais eram suas visões sobre o Espírito Santo não são tão claramente expostas.*

{* A doutrina blasfema de Ário era um desdobramento do gnosticismo, talvez a menos ofensiva em aparência, mas direta e inevitavelmente destrutiva para a glória pessoal do Filho como Deus e, portanto, derrubava as bases da redenção. O unitarianismo moderno nega que o Senhor Jesus seja mais que um homem, negando até mesmo Seu nascimento sobrenatural da virgem Maria. No entanto, Socino afirmou que houve uma modificação singular em sua exaltação após Sua ressurreição, constituindo-O como um objeto adequado de adoração divina. Ário parecia se aproximar da verdade quanto a Sua preexistência antes de ter vindo ao mundo, e afirmava que Ele é o Filho de Deus, que criou o universo, mas manifestava que Ele próprio tinha sido criado, mesmo sendo a primeira e mais elevada das criaturas. Não era a mesma coisa que a negação sabeliana das personalidades distintas, mas a negação de que o Filho, e é claro também o Espírito, são a verdadeira, distintiva, essencial e eterna Divindade.}

O arianismo não apenas é inconsistente com o lugar dado ao Filho do começo ao fim das Escrituras, como também com a obra infinita de reconciliação e nova criação, e é distintamente refutada de antemão por muitas passagens das Sagradas Escrituras. Pode ser interessante citar algumas delas aqui. Aquele que, quando nascido de mulher, foi chamado Jesus, o Espírito de Deus declara (João 1:1-3) ser, no princípio, o Verbo que estava com Deus e era Deus. "Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez". É impossível conceber um testemunho mais poderoso de Sua subsistência não criada, de Sua personalidade distinta quando Ele estava com Deus antes da criação, e de Sua natureza divina. Ele é aqui mencionado como o Verbo, cujo correlato não é o Pai, mas Deus (e assim deixando espaço para o Espírito Santo); mas, para que Sua própria consubstancialidade fosse enfatizada, Ele é cuidadosa e definitivamente declarado Deus*. Voltando para além do tempo e da criatura, tão longe quanto alguém possa pensar, "no princípio era o Verbo". A linguagem é muito precisa: Ele estava no princípio com Deus, não no sentido de vir a ser ou chegar a ser, mas "Ele estava" em Seu próprio absoluto ser. Todas as coisas "vieram à existência" através dEle. Ele foi o Criador tão completamente que o apóstolo João acrescenta: "sem ele nada do que foi feito se fez". Por outro lado, quando a encarnação é afirmada no versículo 14, a linguagem é: "E o Verbo se fez carne", não no sentido de ser absoluto, mas no sentido de vir a ser. Além disso, quando Ele veio entre os homens, Ele é descrito como "o Filho unigênito, 'que está' [não apenas que estava ou esteve] no seio do Pai" (João 1:18) -- uma linguagem ininteligível e confusa a menos que se considere como demonstração de que Sua humanidade de modo algum diminui Sua divindade, e que a proximidade infinita do Filho com o Pai sempre subsiste.

{* A ausência do artigo aqui é necessariamente devido ao fato de que meos é o predicado de o Aoyos, que de modo nenhum poderia dar um sentido inferior de Sua Divindade, o que contradiria o próprio contexto. De fato, se o artigo tivesse sido inserido, seria uma heterodoxia muito grosseira, pois seus efeitos seriam a negação de que o Pai e o Espírito são Deus ao excluir a todos menos o Verbo da Divindade.}

Novamente, Romanos 9:5 é uma rica e precisa expressão da imutável e suprema Divindade de Cristo igualmente com o Pai e o Espírito. Cristo veio, "o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente. Amém". Os esforços dos críticos heterodoxos dão testemunho de toda a importância da verdade que eles em vão procuram abalar por esforços artificiais que somente fazem transparecer a insatisfação de seus autores. Não há mais enfática afirmação da suprema divindade em toda a Bíblia; porque a humilhação do Filho na encarnação e na morte de cruz a torna a mais cabal prova da divina supremacia que pode ser usada a favor dEle.

Em seguida, o apóstolo diz de Cristo: "O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele." (Colossenses 1:15-17). Os devaneios dos gnósticos são aqui antecipadamente cortados fora, pois demonstra que Cristo foi o chefe de toda a criação porque Ele foi o Criador, tanto dos seres invisíveis mais elevados quanto dos visíveis: todas as coisas são ditas terem sido criadas para Ele assim como por Ele; e como Ele é antes de tudo, assim tudo subsiste juntamente em virtude dEle.

A única outra passagem que preciso agora referenciar é Hebreus 1, onde o apóstolo ilustra a plenitude da Pessoa de Cristo entre outras escrituras do Antigo Testamento como o Salmo 45 e 102. No primeiro Ele é tratado como Deus e ungido como homem; no outro Ele é reconhecido como Jeová, o Criador, após Ele ser ouvido derramando Sua aflição como o rejeitado Messias.

É impossível, então, aceitar a Bíblia sem rejeitar o arianismo como um libelo hediondo contra Cristo e a verdade, pois não existe maior certeza de que Ele tenha se tornado um homem do que Ele ser Deus antes da criação, sendo Ele Próprio o Criador, o Filho e Jeová.

Alexandre, indignado com as objeções de Ário contra ele, e por causa de suas opiniões, o acusou de blasfêmia. "O ímpio Ário", exclamou, "o precursor do Anticristo se atreveu a proferir suas blasfêmias contra o divino Redentor". Ele foi julgado por dois concílios reunidos em Alexandria, e expulso da igreja. Ele se retirou para a Palestina, mas de modo nenhum desencorajado por sua desgraça. Muitos simpatizavam com ele, dentre eles dois clérigos chamados de Eusébio: um da Cesareia, o historiador eclesiástico, e outro, bispo da Nicomédia, um homem de imensa influência. Ário manteve uma correspondência animada com seus amigos, ocultando suas opiniões mais ofensivas, e Alexandre emitiu avisos contra ele, e recusou todas as intercessões de seus amigos que o queriam restaurado. Mas Ário era um antagonista astuto. Ele é descrito na história como uma pessoa alta e graciosa, calmo, pálido e de aparência branda; de discurso popular, mas com argumentação afiada; de vida rigorosa e irrepreensível, e de modos agradáveis; mas assim, sob um exterior humilde e mortificado,  ele ocultou os mais fortes sentimentos de vaidade e ambição. O adversário tinha habilmente selecionado seu instrumento. A aparente posse de tantas virtudes o tornou adequado para o propósito do inimigo. Sem essas aparências de justo ele não teria poder algum para enganar.

sábado, 2 de abril de 2016

A Origem do Bispo Metropolitano

Igrejas assim constituídas e reguladas rapidamente se espalharam por todo o império. No gerenciamento de seus assuntos internos cada igreja era essencialmente distinta da outra, embora andassem em comunhão espiritual com todas as outras e as considerassem parte da única igreja de Deus. Mas, com o aumento do número de crentes e a extensão das igrejas, variações na doutrina e na disciplina surgiram, o que nem sempre podia ser resolvido nas assembleias individuais. Isto deu origem aos concílios, ou sínodos. Estes eram compostos principalmente por aqueles que tomavam parte no ministério. Mas quando os representantes das igrejas eram assim reunidos, logo se descobria que o controle de um presidente era necessário. A menos que haja respeito e submissão pela ação soberana do Espírito Santo na igreja, haverá anarquia sem um presidente. O bispo da capital da província era geralmente apontado para presidir, sob o elevado título de bispo metropolitano. Em seu retorno para casa era difícil deixar de lado essas ocasionais honrarias, então ele logo reivindicava para si o título pessoal e permanente de bispo metropolitano.

Os bispos e presbíteros, até por volta desse tempo, eram geralmente vistos como iguais, ou a mesma coisa, sendo os termos usados como sinônimos. Mas agora os bispos se consideravam investidos com poder supremo na direção da igreja, e estavam determinados a se manterem nessa autoridade. Os presbíteros se recusavam a lhes conceder essa nova e auto-assumida dignidade, e buscavam manter sua própria independência. Assim se ergueu a grande controvérsia entre os sistemas presbiterianos e episcopais, que continuam até hoje, e da qual poderemos tratar com mais detalhes mais adiante. Foi dito o suficiente para mostrar ao leitor o início de muitas coisas que ainda vivem diante de nós na igreja professa. Na consagrada ordem do clero será encontrada a semente da qual surgiu todo o sacerdócio medieval, o pecado da simonia {*N. do T.: simonia é a venda de "favores divinos"}, as leis do celibato, e a terrível corrupção da idade das trevas. *

{* Para mais detalhes, veja Neander, vol.1, p. 259; Mosheim, vol. 1, p. 91; Bingham, vol. 1.}

Tendo visto o que estava acontecendo dentro da igreja desde o início, e especialmente entre seus líderes, vamos agora continuar a história geral a partir da morte de Marco Aurélio.

O Que Era um Bispo Nos Primeiros Tempos?

O mais humilde camponês está familiarizado com a grandeza mundana de um bispo, mas ele pode não saber como um ministro de Cristo, e um sucessor de um humilde pescador da Galileia, chegou a tal dignidade. Nos dias dos apóstolos, e por mais de cem anos depois, o ofício de um bispo era uma obra laboriosa, mas uma "boa obra". Ele era encarregado de uma única igreja, que podia estar normalmente reunida em uma casa particular. Ele não estava lá como um "senhor sobre a herança de Deus" (1 Pedro 5:3), mas na realidade como um ministro e servo, instruindo o povo, e cuidando dos doentes e pobres pessoalmente. Os presbíteros, sem dúvida, ajudavam na gestão dos assuntos gerais da igreja, e também os diáconos; mas o bispo tinha a parte principal do serviço. Ele não tinha autoridade, no entanto, de decretar ou sancionar qualquer coisa sem a aprovação do presbitério e do povo. Não havia, então, o pensamento de "clero inferior" sob ele. E nesse tempo as igrejas não tinham renda, com exceção de contribuições voluntárias do povo que, moderados como sem dúvidas eram, deixavam uma pequena quantia para o bispo para ajudar os pobres e necessitados.

Mas naqueles primeiros tempos os oficiais da igreja continuavam, muito provavelmente, em seus antigos ofícios e ocupações, para sustento de si mesmos e de suas famílias, do mesmo modo que antes. "Um bispo", diz Paulo, "deve ser dado à hospitalidade" (Tito 1:8). E isso ele não poderia ser se sua renda dependesse das ofertas dos pobres. Não foi até por volta do ano 245 que o clero passou a receber salário, e foram proibidos de seguir com seus empregos do mundo; mas próximo ao fim do segundo século surgiram circunstâncias na história da igreja que afetaram grandemente a humildade e simplicidade original de seus supervisores, e que tenderam à corrupção da ordem sacerdotal. "Essa mudança começou", diz Waddington, "perto do início do segundo século; e é certo de que nesse período encontramos as primeiras denúncias de corrupção incipiente  do clero." A partir do momento em que os interesses dos ministros se tornaram totalmente distintos dos interesses do cristianismo, pode-se considerar que muitas e grandes mudanças para pior tinham começado. Vamos tomar nota de algumas circunstâncias, e em primeiro lugar, a origem das dioceses.

sábado, 26 de março de 2016

A Origem da Distinção entre Clérigos e Leigos

O cristianismo, no início, não tinha qualquer ordem sacerdotal. Seus primeiros convertidos iam por toda a parte anunciando o Senhor Jesus. Eles foram os primeiros a disseminar em outros países as boas novas da salvação, antes mesmo dos próprios apóstolos terem deixado Jerusalém (Atos 8:4). No decorrer do tempo, quando eram encontrados convertidos o suficiente em algum lugar para formar uma assembleia, eles se reuniam ao nome do Senhor no primeiro dia da semana para partir o pão e edificarem uns aos outros em amor (Atos 20:7). Quando surgia a oportunidade de visita de um apóstolo a tais reuniões, ele escolhia anciãos para assumir a supervisão do pequeno rebanho; diáconos eram escolhidos pela assembleia. Assim era toda constituição das primeiras igrejas. Se o Senhor levantasse um evangelista, e almas fossem convertidas, elas eram batizadas em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Isto acontecia, é claro, fora da assembleia, e não era um ato eclesiástico. Após devido exame espiritual quanto à genuinidade dos resultados da obra do evangelista, estando a assembleia satisfeita, os novos crentes eram recebidos à comunhão.

Percebe-se, a partir desse breve esboço da ordem divina nas igrejas, que não havia distinções tais como "o clero" e "o leigo". Todos estavam no mesmo patamar quanto ao sacerdócio, adoração e proximidade de Deus. Como os apóstolos Pedro e João dizem: "Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo." (1 Pedro 2:5). E assim a assembleia inteira podia cantar: "Àquele que nos amou, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados, e nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai; a ele glória e poder para todo o sempre. Amém." (Apocalipse 1:5,6). O único sacerdócio, então, na igreja de Deus, é o comum sacerdócio de todos os crentes. O mais humilde servo no palácio de um arcebispo, se lavado no sangue de Cristo, é mais branco que a neve, e pronto para entrar no lugar santíssimo e adorar além do véu.

Não há mais adoração no pátio exterior. A separação de uma classe privilegiada - uma ordem sacerdotal - é desconhecida no Novo Testamento. A distinção entre clero e leigo era sugerida pelo judaísmo, e a invenção humana logo a tornou algo grandioso; mas foi a ordenação episcopal que estabeleceu a distinção e ampliou a separação. O bispo gradualmente assumiu o título de pontífice. Os presbíteros, e até mesmo os diáconos, se tornaram, assim como os bispos, uma ordem sagrada. O lugar de mediação e de grande proximidade de Deus foi assumida pela casta sacerdotal, e também de autoridade sobre os leigos. No lugar de Deus falando diretamente ao coração e consciência por Sua própria Palavra, e sendo o coração e a consciência trazidos diretamente à presença de Deus, apareceu o sacerdócio se colocando entre eles. Assim a Palavra de Deus foi perdida de vista, e a fé ficou à mercê das opiniões dos homens. O bendito Senhor Jesus, como o Grande Sumo Sacerdote de Seu povo, e como o Mediador entre Deus e os homens, foi então praticamente deslocado e deixado de lado. *

{* Uma das maiores autoridades sobre a ordem episcopal é da opinião de que a distinção entre clero e leigo é derivada do Antigo Testamento: que assim como o sumo sacerdote tinha seu ofício atribuído a ele, e os sacerdotes também tinham suas atribuições próprias, e os levitas seus serviços peculiares; assim também os leigos estavam da mesma maneira sob as obrigações próprias aos leigos. Ele também afirma que o comum sacerdócio de todos os crentes é ensinado no Novo Testamento, mas que os Pais desde os tempos mais antigos formaram a igreja no sistema judaico. - Gingham on the Antiquity of the Christian Church, vol. 1, p. 42.}

Assim, infelizmente, vemos na igreja o que tem sido verdade para o homem desde Adão. Tudo o que foi confiado ao homem falhou. Desde o tempo em que a responsabilidade de manter a igreja como a coluna e firmeza da verdade caiu nas mãos humanas, não houve nada além de falha. A Palavra de Deus, no entanto, permanece a mesma, e sua autoridade nunca pode falhar, bendito seja o Seu nome. Um dos principais objetivos deste livro é chamar a atenção do leitor aos princípios e à ordem da igreja, como ensinada no Novo Testamento. "Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade." (João 4:24). Isto é, devemos adorá-Lo e servi-Lo de acordo com a verdade, e sob a direção e unção do Espírito Santo, se for para glorificar Seu nome, e adorá-Lo e servi-Lo de maneira aceitável.

Quase todos os escritores eclesiásticos afirmam que nem o Próprio Senhor nem Seus apóstolos forneceram quaisquer preceitos quanto à ordem e governo da igreja - que tais coisas foram deixadas para a sabedoria e prudência de seus líderes, e ao caráter das épocas. Por essas suposições muita coisa foi entregue à vontade humana. Sabemos as consequências. O homem procurou a sua própria glória. A simplicidade do Novo Testamento, o caminho humilde do Senhor e de Seus apóstolos, o zelo e abnegação de Paulo, tudo isso foi ignorado, e as grandezas mundanas logo se tornaram o objeto e ambição do clero. Um breve resumo do ofício de um bispo irá deixar claro essas coisas e, sem dúvida, será de grande interesse aos leitores.


terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

O Martírio de Inácio

Não há nenhum fato do início da história da igreja mais sagradamente preservado {* N. do T.: com exceção das próprias Escrituras} que o martírio de Inácio, o bispo* da Antioquia. E não há narrativa mais celebrada que sua viagem, como prisioneiro em correntes, da Antioquia para Roma.

{* N. do T.: bispo significa "supervisor" ou "ancião" de uma assembleia (igreja) local. Na Palavra de Deus, o bispo ou ancião nunca aparece como um cargo eclesiástico assalariado (como inventaram os homens no decorrer dos séculos), mas sim como simplesmente um ofício (ou papel) exercido em uma assembleia. Para saber mais leia: Anciaos, Presbiteros [Bispos] e Guias, Existem anciaos hoje?
}

De acordo com a opinião geral dos historiadores, o imperador Trajano, em seu caminho para a guerra da Pártia no ano 107, visitou Antioquia. Por que causa é difícil dizer, mas aparentemente os cristãos foram ameaçados de perseguição por suas ordens. Inácio, portanto, preocupado pela igreja em Antioquia, desejou ser introduzido à presença de Trajano. Seu grande objetivo era prevenir, se possível, a perseguição ameaçada. Com este objetivo em vista, ele apresentou ao imperador o verdadeiro caráter e condição dos cristãos, e se ofereceu a si mesmo para sofrer no lugar deles.

Os detalhes da marcante entrevista são dados em muitas relatos sobre a história da igreja, mas existe um certo ar de suspeita sobre eles que nos absteremos de inserir aqui. De qualquer modo, a história acabou na condenação de Inácio. Ele foi sentenciado pelo imperador a ser levado a Roma, e lançado às feras selvagens para o entretenimento do povo. Ele recebeu a cruel sentença sem reclamar, e de bom grado submeteu-se às cadeias, crendo ser assim por sua fé em Cristo e como um sacrifício pelos santos.

Inácio estava agora sob custódia de dez soldados, que parecem ter ignorado sua idade, tratando-o com grande dureza. Ele tinha sido um bispo da Antioquia por quase quarenta anos, e portanto devia ser um homem idoso. Mas eles o levaram grosseiramente por uma longa viagem, tanto por mar quanto por terra, de modo a chegar a Roma antes dos jogos terminarem. Ele chegou no último dia do festival, e foi logo levado ao anfiteatro, onde sofreu, de acordo com sua sentença, à vista dos espectadores reunidos. E então, o cansado peregrino encontrou o descanso das fadigas de sua longa viagem no bendito repouso do paraíso de Deus.

Alguns têm perguntado o porquê de Inácio ter sido levado pelo longo caminho da Antioquia até Roma para sofrer o martírio. A resposta só pode ser conjectura. Pode ter sido com a intenção de infundir medo aos outros cristãos, pelo espetáculo de alguém tão eminente e tão conhecido ser levado em correntes a uma morte terrível e degradante. Mas se esta foi a expectativa do Imperador, ele deve ter ficado inteiramente desapontado. O martírio de Inácio teve justamente o efeito oposto. Notícias sobre sua sentença e sobre sua rota se disseminaram amplamente, e representantes das igrejas das proximidades foram enviados para encontrá-lo em pontos convenientes durante a viagem. Ele foi, então, saudado e encorajado com calorosas felicitações de seus irmãos; e eles, em troca, se alegraram em ver o venerável bispo e em receber sua bênção de despedida. Muitos dos santos se sentiriam encorajados a enfrentar, e até mesmo a desejar, uma morte de mártir e uma coroa de mártir. Dentre os que o encontraram pelo caminho estavam Policarpo, bispo de Esmirna que, assim como Inácio, tinha sido um discípulo do apóstolo João, e estava também destinado a ser um mártir pelo evangelho. Mas além desses encontros pessoais, dizem que ele escreveu sete cartas durante essa viagem, que foram preservadas pela providência divina e chegaram até nós. Sempre houve grande interesse, e ainda há, nessas cartas.

domingo, 20 de dezembro de 2015

Os Lugares Visitados por Paulo Durante sua Liberdade

Tendo conhecido essas diferentes teorias para examinação própria por parte do leitor, vamos tomar nota dos lugares visitados por Paulo mencionados nas Epístolas.

1. Algum tempo depois de ter deixado Roma, Paulo e seus companheiros devem ter visitado a Ásia Menor e a Grécia. "Como te roguei, quando parti para a macedônia, que ficasses em Éfeso, para advertires a alguns, que não ensinem outra doutrina." (1 Timóteo 1:3). Sentindo-se, talvez, um pouco ansioso por seu filho Timóteo e pelo peso das responsabilidades de sua posição em Éfeso, ele envia uma carta de encorajamento, conforto e autoridade, enquanto estava ainda na Macedônia - A Primeira Epístola a Timóteo.

2. Algum tempo depois, Paulo visitou a ilha de Creta em companhia de Tito, e o deixou lá. Ele também, algum tempo depois, envia a ele uma carta de instrução e autoridade, a Epístola a Tito. Timóteo e Tito podem ser considerados como delegados ou representantes do apóstolo. "Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam, e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros, como já te mandei." (Tito 1:5)

3. Paulo pretendia passar o inverno em um lugar chamado Nicópolis: "Quando te enviar Ártemas, ou Tíquico, procura vir ter comigo a Nicópolis; porque deliberei invernar ali." (Tito 3:12)

4. Ele visitou Trôade, Corinto e Mileto. "Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos... Erasto ficou em Corinto, e deixei Trófimo doente em Mileto." (2 Timóteo 4:13,20)

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