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domingo, 14 de janeiro de 2018

Reflexões sobre as Cruzadas

Muitas e variadas são as opiniões dos historiadores quanto à origem, caráter e efeitos das cruzadas. Mas que elas tiveram uma imensa influência no curso dos assuntos humanos, especialmente na Europa e na Ásia, isto todos concordam. Elas foram os meios, sob a providência de Deus, pelos quais foi modificada toda a estrutura da sociedade neste* e em outros países. Do servo ao soberano, todos experimentaram uma grande mudança. A condição social do servo e do vassalo aumentou, o número e poder dos senhores feudais diminuiu, e a força dos soberanos aumentou. Pelos mesmos meios o comércio melhorou muito, e os barões não foram nem um pouco empobrecidos. Muitos deles hipotecaram suas propriedades para cidadão ricos, o que, com o tempo, levou ao estabelecimento do terceiro estamento** no reino -- os comuns. As liberdades da Europa, tanto civis quanto religiosas, tiveram sua ascensão nessa classe social.

{* N. do T.: o autor vivia na Inglaterra. }

{** N. do T.: estamento é uma forma de estratificação social com camadas mais fechadas do que as classes sociais, e mais abertas do que as castas, ou seja, possui maior mobilidade social que no sistema de castas, e menor mobilidade social do que no sistema de classes sociais. Os estamentos caracterizaram a sociedade feudal durante a Idade Média. Fonte: Wikipédia. }

Mas o papado foi o principal beneficiado pelas cruzadas. Um vasto aumento de poder, influência e riqueza para o papa, o clero e as instituições monásticas, foi o resultado imediato. Tudo isto era o único grande objetivo da política papal. Aquilo pelo que Hildebrando lutava e via no horizonte, Urbano agarrou e usou com grande astúcia e poder. E essa supremacia ele obteve por meios aparentemente bons e santos, mas verdadeiramente muito sutis e satânicos. A teoria era esta: "o cruzado era o soldado da igreja, e a esta devia submissão acima de tudo, tendo o libertado de todas as outras submissões". Nunca houve uma teoria mais ampla, niveladora e injusta proposta à humanidade. Mas, em sua aparente piedade, encontra sua profunda sutileza.

Quando Urbano colocou-se à frente dos exércitos da fé em 1095, ele assumiu ser o diretor de seus movimentos, o dispenseiro de suas bênçãos, e seu infalível conselheiro e legislador. Ele pregou que esta não era uma guerra nacional da Itália, França ou Alemanha, contra o império do Egito, mas uma guerra santa de cristãos contra muçulmanos. Nenhum cristão deveria guerrear contra outro cristão, mas todos deveriam se unir em uma aliança santa contra um inimigo em comum -- os infiéis. Os privilégios prometidos a todos os soldados de Cristo eram grandes e muitos, como pode ser visto pelo discurso de Urbano. Eles foram assegurados da imediata remissão de todos os seus pecados, do paraíso de Deus, se caíssem na batalha, ou se morressem no caminho até a Terra Santa; e ainda, quanto a esta vida, o papa declarou que todas as obrigações temporais, civis e sociais seriam dissolvidas aos que tomassem a cruz. Assim, cada fio que ligava a sociedade foi quebrado, um novo princípio de obediência foi estabelecido, e o papa tornou-se o senhor feudal da humanidade.*

{* Milman, Latin Christianity, vol. 3, p. 242.}

sábado, 24 de dezembro de 2016

O Prenúncio do Homem do Pecado

Nada pode nos dar uma ideia mais expressiva da terrível apostasia da igreja de Roma que essa carta. O único direito para a vida eterna é a obediência ao papa; o mais elevado dever do homem é a proteção e ampliação da santa Sé. Mas onde está Cristo? Onde estão Suas reivindicações? Onde está o cristianismo? Em vez de buscar converter os bárbaros e ganhar suas almas para Cristo, o santíssimo nome do Senhor e o nome do apóstolo são prostituídos para os mais baixos propósitos. O soldado que luta mais duro pela Sé Romana, embora destituído de qualquer qualificação moral e religiosa, é assegurado de grandes vantagens temporais na vida presente, e na vida vindoura o mais elevado assento no céu. Certamente temos aqui o mistério da iniquidade, e o prenúncio daquele homem de pecado, o filho da perdição, que se opõe e exalta a si mesmo sobre tudo o que é chamado Deus, ou que é adorado, de modo que ele como Deus se assenta no templo e Deus, mostrando-se como se fosse Deus -- dele mesmo, cuja vinda é segundo a obra de Satanás, com todo o poder e sinais e prodígios de mentira. (2 Tessalonicenses 2:3-12)

Pepino logo tinha seus francos em ordem de marcha. As ameaças e promessas da "carta de São Pedro" tiveram o efeito desejado. Eles novamente invadiram a Itália. Astolfo cedeu imediatamente às exigências de Pepino. O território contestado foi abandonado. Embaixadores do Oriente estavam presentes na conclusão do tratado, e exigiram a restituição de Ravena e seu território ao seu mestre, o imperador; mas Pepino declarou que seu único objetivo na guerra era demonstrar sua veneração por São Pedro; e ele concedeu, pelo direito de conquista, tudo a  seus sucessores. Os representantes do papa agora passavam pela terra, recebendo a homenagem das autoridades e as chaves das cidades. Mas o território que ele aceitou de um potentado estrangeiro na forma de uma doação pertencia ao seu mestre reconhecido, o imperador oriental. Ele [o papa] havia contratado, por uma grande soma, que teve o cuidado de tornar pagável no céu, um poderoso estrangeiro para roubar sua soberania de direito para sua própria vantagem, e sem vergonha ou hesitação ele aceitou a fraude. O rei francês pôde ser destronado e humilhado por seu servo, e o império grego pôde ser roubado e desafiado por seu sacerdote, se a igreja fosse assim engrandecida. Tal sempre foi a política de Roma.

Mas a generosa doação de Pepino -- que morreu no ano 768 -- esperou pela confirmação de seu filho, Carlos Magno. No ano 774, quando os lombardos mais uma vez ameaçaram os territórios romanos, a ajuda da França foi implorada. Carlos Magno prosseguiu à sua ajuda. Ele chegou em Roma na véspera da Páscoa. Os romanos, segundo nos contam, receberam o rei com ilimitada demonstração de alegria. Trinta mil cidadãos saíram-lhe ao encontro; todo o corpo do clero com cruzes e bandeiras, e as crianças das escolas, que levavam ramos de palmeira e oliveira, o saudaram com hinos de boas vindas. Ele desmontou, e prosseguiu a pé em direção à igreja de São Pedro, onde o papa e todo o clero estavam à espera. O rei devotamente beijou cada degrau das escadas e, ao chegar ao patamar beijou o papa, e entrou no edifício segurando sua mão direita. Ele passou a véspera da Páscoa em devotos exercícios e rezas. Mas quando o coração do rei estava quente e terno, o papa Adriano trouxe ao assunto uma nova escritura de doação à santa Sé. Carlos Magno, então, aumentou em grande medida a doação que Pepino tinha feito à igreja, confirmou-a com um juramento, e solenemente depositou a escritura da doação sobre a tumba do apóstolo. Após a conclusão das solenidades da Páscoa, despediu-se do pontífice e voltou ao seu exército. Seus braços foram vitoriosos em toda a parte, e ele não fez uma pausa sequer até que tivesse inteira e finalmente subvertido o império dos lombardos, e proclamou-se a si mesmo rei da Itália.

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