Mostrando postagens com marcador Henrique de Lausana. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Henrique de Lausana. Mostrar todas as postagens

domingo, 24 de novembro de 2019

Os Henricianos

3. O fogo que queimou Pedro de Bruys nunca desencorajou nem silenciou seus seguidores. Um deles, chamado Henrique, um monge de Cluny, que também era diácono, tornou-se um pregador mais ousado e mais poderoso do que Pedro. Ao retirar-se do monastério, dedicou-se ao estudo do Novo Testamento, e, tendo ganhado um conhecimento do cristianismo direto da Palavra de Deus pura, desejava ir ao mundo proclamar a verdade aos seus semelhantes. Sua aparência pessoal e sua educação se combinavam para tornar sua pregação ainda mais poderosa e despertadora. A rápida mudança em seu semblante é comparada a um mar tempestuoso; sua estatura era elevada, seus olhos estavam revirados e inquietos; sua poderosa voz, seus pés descalços e aparência negligenciada atraíam a atenção, e eram marcadas pela fama de sua erudição e santidade.

Durante anos ele era apenas um jovem, mas seus tons profundos, sua eloquência maravilhosa, com sua aparência notável, horrorizavam o clero e encantavam o povo. Em um espírito similar ao de João Batista, ele chamava o povo ao arrependimento para que se convertessem ao Senhor, e não poucas vezes atacava os vícios já impopulares do clero.

Mas a oposição do clero que Henrique enfrentava apenas atraía mais o povo para si. Multidões, tanto das classes mais pobres quanto das mais ricas, o recebiam como guia espiritual em todas as coisas. A primeira vez que se ouviu falar dele, historicamente, foi em Lausana, mas atravessou o sul da França desde Lausana até Bordéus; e, como observa Neander, "ele atraía o povo para si, e os enchia de desprezo e ódio contra o alto clero -- dizendo que não deveriam ter nada a ver com eles. Eles deixavam de participar do serviço religioso, e o clero se achou exposto a insultos por parte da população, tendo que solicitar a proteção ao poder civil". O prudente bispo de Le Mans, vendo a influência que ele tinha conquistado sobre o povo, contentou-se em simplesmente direcionar Henrique a outro campo de trabalho. O zeloso monge retirou-se silenciosamente e apareceu em Provença, onde Pedro de Bruys tinha trabalhado antes dele. Ali ele desenvolveu ainda mais claramente sua oposição aos erros da igreja de Roma, e atraiu para si a mais amarga hostilidade da hierarquia clerical.

Henrique foi preso pelo arcebispo de Arles, sendo condenado como herege pelo Concílio de Pisa, que ocorreu em 1134, e sentenciado ao confinamento em uma cela. Em pouco tempo, ele escapou e retornou a Languedoque. Conta-se que deserções de igrejas e um total desprezo para com o clero seguiam o eloquente heresiarca por onde passava. Um legado chamado Alberico foi enviado pelo papa Eugênio III para subjugar a revolta, mas não foi proveitoso. "Henrique é um antagonista", disse ele, "que só pode ser derrubado pelo conquistador de Abelardo e de Arnaldo de Bréscia."

O poderoso abade de Claraval escreveu ao príncipe de Provença para que se preparasse para sua chegada, já adiantando o objetivo de sua vinda. "As igrejas", ele escreveu, "estão sem povo; o povo sem padres; os padres sem honra; e os cristãos sem Cristo. As igrejas não são mais tidas como santas, nem os sacramentos, nem as festas são celebradas. Os homens morrem em seus pecados -- almas são levadas às pressas ao terrível tribunal -- sem penitência ou comunhão; o batismo é recusado aos bebês, que são assim impedidos da salvação." O abade fez milagres, como se acreditava; o povo se maravilhava e se admirava; Henrique fugiu; Bernardo o perseguiu, purificando os lugares infectados pela pestilência da heresia. Por fim, o herege foi preso e levado acorrentado ao bispo de Toulouse, que o condenou à prisão, onde logo depois morreu repentinamente. Ele foi, então, libertado de todos os seus perseguidores no ano de 1148 e entrou em seu descanso.

Postagens populares