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domingo, 24 de julho de 2016

A História de Atanásio

Após um banimento de dois anos e quatro meses, Atanásio foi restaurado a sua diocese pelo jovem Constantino II, onde foi recebido com uma recepção alegre por seu rebanho. Mas a morte desse príncipe expôs Atanásio a uma segunda perseguição. Constâncio, que é descrito como um homem vaidoso, mas fraco, logo se tornou um cúmplice secreto dos eusebianos. No final de 340, ou início de 341, um concílio se reuniu na Antioquia para a dedicação de uma "igreja" esplêndida que tinha sido fundada pelo velho Constantino. Dizem que o número de bispos foi de cerca de 97, dos quais 40 eram eusebianos. Dentre o número de cânones que foram aprovados, foi decidido, e com certa aparência de equidade, que um bispo deposto por um sínodo não podia retomar suas funções episcopais até que ele tivesse sido absolvido pelo julgamento de um outro sínodo de igual autoridade. Esta lei foi evidentemente passada com uma referência especial ao caso de Atanásio, e o concílio pronunciou, ou melhor, confirmou, sua destituição. Gregório, um capadócio, um homem de caráter violento, foi nomeado para a Sé, e Filágrio, o prefeito do Egito, foi instruído a apoiar o novo primaz com os poderes civis e militares da província. Sendo Atanásio o favorito do povo, eles se recusaram a ter um bispo nomeado pelo imperador: cenas de desordem, indignação e profanação se seguiram. "A violência se achou necessária para apoiar a iniquidade", diz Milner, "e um príncipe ariano foi obrigado a trilhar os passos de seus antecessores pagãos para apoiar o que ele chamava de igreja".

Atanásio, oprimido pelos clérigos asiáticos, retirou-se de Alexandria e passou três anos em Roma. O pontífice romano, Júlio, com um sínodo de 50 bispos italianos, o proclamou inocente, e confirmou-lhe a comunhão da igreja. Não menos que cinco credos tinham sido elaborados pelos bispos orientais nas assembleias convocadas em Antioquia entre 341 e 345, com o fim de ocultar suas verdadeiras opiniões; mas nenhum deles admitia estar livre de um elemento ariano, embora as posições mais ofensivas do arianismo fossem professamente condenadas. Os dois imperadores, Constâncio e Constante, se tornaram então ansiosos para curar a brecha que existia entre as igrejas orientais e ocidentais, e de acordo eles convocaram um concílio a ser reunido em Sárdica, na Ilíria, em 347 d.C., para decidir os pontos disputados. Noventa e quatro bispos do Ocidente e vinte e dois do Oriente, estando reunidos e devidamente considerados os assuntos de ambos os lados, decidiram em favor de Atanásio: o partido ortodoxo restaurou o primaz perseguido de Alexandria e condenou a todos o que se opunham a ele como inimigos da verdade. No meio tempo, o intruso Gregório morreu, e Atanásio, em seu retorno a Alexandria, após um exílio de oito anos, foi recebido com júbilo universal. "A entrada do arcebispo em sua capital", disse alguém, "foi um cortejo triunfal: a ausência e a perseguição tinham tornado ele querido para os alexandrinos, e sua fama foi difundida da Etiópia até a Grã-Bretanha ao longo de toda a extensão do mundo cristão."

Após a morte de Constante, o amigo e protetor de Atanásio, em 350, o covarde Constâncio sentiu que era a hora de vingar suas feridas privadas contra Atanásio, que não tinha mais Constante para defendê-lo. Mas como ele iria cumprir seu objetivo era a dificuldade. Se ele decretasse a morte do mais eminente cidadão, a ordem cruel seria executada sem qualquer hesitação; mas a condenação e morte de um bispo popular devia ser causada com cautela, demora e alguma aparência de justiça. Os arianos começaram a trabalhar em um plano; eles renovaram suas maquinações, e mais concílios foram convocados.

Os Filhos de Constantino (de 337 a 361 d.C.)

Constantino, o Grande, foi sucedido por seus três filhos, Constantino II, Constâncio e Constante. Eles foram educados na fé do evangelho, e tinham sido nomeado Césares por seu pai, e em sua morte eles dividiram o império entre eles. Constantino II ficou com a Gália, Espanha e Grã-Bretanha; Constâncio ficou com as províncias asiáticas e com a capital, Constantinopla; e Constante ficou com a Itália e a África. O início do novo reinado foi caracterizado -- como era habitual naqueles tempos -- pela morte dos parentes que podiam um dia se provarem rivais ao trono. Mas juntamente com os velhos e usuais ciúmes e hostilidades políticas, um novo elemento agora aparece -- a controvérsia religiosa.

O filho mais velho, Constantino, era favorável aos católicos, e sinalizou o começo de seu reinado chamando Atanásio de volta, e colocando-o novamente como bispo de Alexandria. Mas em 340 Constantino II foi morto em uma invasão da Itália, e Constante tomou posse dos domínios de seu irmão, se tornando, assim, o soberano de dois terços do império. Ele era favorável às decisões do concílio de Niceia, e aderiu com firmeza à causa de Atanásio. Constâncio, sua imperatriz e a corte eram parciais ao arianismo. E assim a guerra religiosa começou entre os dois irmãos -- entre o Oriente e o Ocidente --- e foi levada adiante sem justiça ou humanidade, o que não tinha nada a ver com o espírito pacífico do cristianismo. Constâncio, como seu pai, interferiu tanto nos assuntos da igreja, que pretendia ser um teólogo, e durante todo o seu reinado o império foi incessantemente agitado pela controvérsia religiosa. Os concílios se tornaram tão frequentes que estabelecimentos públicos eram constantemente empregados para abrigar os bispos em contínua viagem; de ambos os lados, concílios foram reunidos para se oporem a outros concílios. Mas como o principal evento do período, assim como a linha prateada da graça de Deus, está conectada a Atanásio, retornaremos a sua história.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Constantino

Capítulo 10: O Período de Pérgamo (313 - 606 d.C.)


O reinado de Constantino, o Grande, marca uma época muito importante na história da igreja. Tanto seu pai Constâncio quanto sua mãe Helena tinham inclinação à religiosidade e sempre foram favoráveis aos cristãos. Alguns anos da juventude de Constantino foram gastos na corte de Diocleciano e Galério na condição de refém. Ele testemunhou a publicação do decreto de perseguição na Nicomédia, em 303, e os horrores que se seguiram. Tendo conseguido fugir, ele seu uniu a seu pai na Grã-Bretanha. Em 306, Constâncio morreu na cidade de York. Ele tinha nomeado, como seu sucessor, seu filho Constantino, que foi, desse modo, saudado como Augusto pelo exército. Ele continuou e estendeu a tolerância que seu pai tinha outorgado aos cristãos.

Havia agora seis aspirantes à soberania do império - Galério, Licínio, Maximiano, Maxêncio, Maximino e Constantino. Seguiu-se uma cena de discórdia sem paralelo nos anais de Roma. Dentre esses rivais, Constantino possuía uma superioridade decidida no que diz respeito à prudência e capacidade, tanto militar quanto política. No ano 312, Constantino entrou em Roma vitorioso. Em 313, um novo decreto foi emitido, pelos quais os decreto de perseguição de Diocleciano foram revogados, os cristãos encorajados, seus mestres honrados, e os professantes do cristianismo avançaram a posições de confiança e influência no Estado. Esta grande mudança na história da igreja nos introduz ao período de Pérgamo (313 - 606 d.C.).

domingo, 22 de maio de 2016

O Primeiro Decreto

Por volta do dia 24 de fevereiro de 303, o primeiro decreto foi emitido. Ele ordenava que todos os que se recusassem a sacrificar aos ídolos deveriam perder seus cargos, suas propriedades, sua classe, e os privilégios civis; que os escravos que persistissem em professar o evangelho fossem excluídos da esperança da liberdade, que todos os cristãos de todas as classes deviam ser destruídos, que as reuniões religiosas deviam ser suprimidas, e que as Escrituras deviam ser queimadas. A tentativa de exterminar as Escrituras foi uma característica nova nessa perseguição e, sem dúvida, foi sugerida pelos filósofos que frequentavam o palácio. Eles estavam bem conscientes de que seus próprios escritos teriam pouca influência sobre a opinião pública se as Escrituras e outros livros sagrados estivessem em circulação. Imediatamente após essas medidas terem sido tomadas a igreja de Nicomédia foi atacada, os livros sagrados foram queimados, e os edifícios inteiramente demolidos em poucas horas. Por todo o império as "igrejas" dos cristãos deveriam ser derrubadas até o pó, e os livros sagrados deviam ser entregues aos oficiais do império. Muitos cristãos que recusaram entregar as Escrituras foram condenados à morte, enquanto aqueles que as entregaram para serem queimadas foram considerados pela igreja como traidores de Cristo, e mais tarde houve grandes problemas no exercício da disciplina para com tais pessoas. *

{* Pode ser do interesse do leitor saber que nenhum dos manuscritos do Novo Testamento existentes datam de antes da metade do quarto século. Um fato responsável por isso, em grande medida, é a destruição dos escritos cristãos, especialmente as Escrituras, no reinado de Diocleciano durante a primeira parte daquele século. Sob Constantino sabe-se que esforços especiais foram empreendidos para criar cópias fidedignas, das quais o famoso crítico Tischendorf acredita que os manuscritos do Sinai sejam uma.}

Mal este cruel decreto tinha sido afixado no local costumeiro e um cristão de classe nobre o rasgou. Sua indignação com a injustiça o levou de modo tão flagrante a um ato de zelo imprudente - a uma violação daquele preceito do evangelho que ordena o respeito para com todos em posição de autoridade. Foi uma ocasião adequada para sentenciar um cristão de classe alta à morte. Ele foi queimado vivo em fogo baixo, e suportou seus sofrimentos com uma serenidade tão digna que surpreendeu e humilhou seus carrascos. A perseguição tinha agora começado. O primeiro passo contra os cristãos tinha sido tomado, e o segundo não demorou.

Não muito tempo após a publicação do decreto houve um incêndio no palácio de Nicomédia que se espalhou quase até a câmara do imperador. A origem do fogo parece ser desconhecida, mas obviamente a culpa foi jogada sobre os cristãos. Diocleciano acreditou nisto. Ele ficou alarmado e indignado. Multidões foram lançadas na prisão, sem discriminação daqueles que eram ou não suspeitos, e as mais cruéis torturas foram empregadas para que houvesse uma confissão; mas foi em vão. Muitos foram queimados até a morte, decapitados e afogados. Cerca de quatorze dias depois, um segundo incêndio irrompeu no palácio. Tinha se tornado então evidente que era obra de um incendiário. Os pagãos novamente acusaram os cristãos, e em alta voz clamaram por vingança, mas como não havia provas que pudessem ser encontradas de que os cristãos tivessem algo a ver com esses incêndios fatais, uma forte e, cremos, verdadeira suspeita, repousava sobre o próprio imperador Galério. Seu grande objetivo desde o início era incriminar os cristãos e alarmar Diocleciano por meio de suas próprias medidas violentas. Estando plenamente consciente da consequência desses eventos na mente sombria, tímida e supersticiosa do velho imperador, ele imediatamente deixou Nicomédia, alegando que não se considerava seguro na cidade.

Mas o objetivo foi alcançado, superando a extensão que até mesmo Galério e sua mãe pagã podiam ter desejado. Diocleciano, agora completamente incitado, irou-se ferozmente contra toda sorte de homens e mulheres que levavam o nome de cristão. Ele obrigou sua esposa Prisca e sua filha Valéria a oferecer sacrifício. Oficiais do palácio, da mais alta classe e nobreza, e todos os habitantes do palácio, foram expostos às mais cruéis torturas, pela ordem, e até mesmo na presença, do próprio Diocleciano. Os nomes de alguns de seus ministros de estado foram proferidos por preferirem as riquezas de Cristo à grandeza de seu palácio. Um dos eunucos foi trazido perante o imperador e foi torturado com grande severidade por rejeitar o sacrifício aos ídolos. Procurando fazer dele um exemplo para os outros, uma mistura de sal e vinagre foi derramada em suas feridas abertas, mas foi tudo em vão. Ele confessou sua fé em Cristo como seu único Salvador, e que não possuía nenhum outro Deus. Ele foi então gradualmente queimado até a morte. Doroteus, Gorgônio e Andrea, eunucos que serviam no palácio, também foram condenados à morte. Antimo, o bispo de Nicomédia, foi decapitado. Muitos foram executados, muitos foram queimado vivos, mas se tornou tedioso destruir homens individualmente, e então grandes fogueiras eram acesas para queimar muitos de uma só vez, e outros foram levados para o meio de um lado e lançados à água com pedras presas em seus pescoços.

A partir da Nicomédia, o centro da perseguição, as ordens imperiais foram despachadas, requerendo a cooperação dos outros imperadores na restauração da dignidade da religião antiga, e a completa supressão do cristianismo. Assim a perseguição se ergueu por todo o mundo romano, com exceção da Gália. Ali governava o brando Constâncio, e, embora ele tenha demonstrado concordância com as medidas de seus colegas, pela demolição das "igrejas", ele se absteve de toda violência contra as pessoas cristãs. Embora ele próprio não fosse um cristão decidido, ele era naturalmente humano, e evidentemente amigável ao cristianismo e aos que o professavam. Ele presidia sobre o governo da Gália, Grã-Bretanha e Espanha. Mas o temperamento feroz de Maximiano e a crueldade selvagem de Galério apenas aguardavam o sinal para levar em efeito as ordens vindas da Nicomédia. E agora os três monstros se erguiam, na plena força do poder civil contra os seguidores indefesos e inocentes do manso e humilde Jesus, o Príncipe da Paz.
"A graça que começou terminará em glória;
Jesus, dEle é a vitória
Em Sua própria triunfante história
Está o registro da nossa própria história."

sábado, 21 de maio de 2016

Um Exame da Condição da Igreja (ano 303 d.C.)

Diocleciano ascendeu ao trono em 284. Em 286, ele se associou a Maximiano, como Augusto, e em 292 Galério e Constâncio foram adicionados ao número de príncipes com o título inferior de César. Assim, quando começou o quarto século, o império romano tinha quatro soberanos. Dois levavam o título de Augusto; e dois, o título de César. Diocleciano, embora supersticioso, não nutria nenhum ódio contra os cristãos. Constâncio, o pai de Constantino, o Grande, era amigável a eles. No início, os assuntos cristãos pareciam ser vistos de forma razoavelmente brilhante e feliz, mas os sacerdotes pagãos estavam raivosos, e conspiravam contra os cristãos. Eles viam sua ruína nos triunfos da grande disseminação do cristianismo. Por plenos cinquenta anos a igreja tinha sido muito pouco incomodada pelo poder secular. Durante esse período os cristãos tinham atingido um grau de prosperidade sem precedentes; mas era algo apenas exterior: eles tinham declinado profundamente da pureza e simplicidade do evangelho de Cristo.

Igrejas tinham surgido na maioria das cidades do império, e com uma certa demonstração de esplendor arquitetural. Vestimentas e utensílios sagrados de prata e ouro começaram a ser usados. Convertidos eram reunidos de todas as classes da sociedade; até mesmo a esposa do Imperador e sua filha Valéria, casada com Galério, aparentemente estiveram entre esses convertidos. Os cristãos ocupavam altos cargos no estado e na casa imperial. Eles ocupavam posições de distinção, e até de suprema autoridade, nas províncias e no exército. Mas, infelizmente, esse longo período de prosperidade exterior tinha produzido suas usuais consequências. A fé e o amor decaíram; o orgulho e ambição aumentaram. A dominação sacerdotal começou a exercer seus poderes usurpados, e o bispo a assumir a linguagem e a autoridade de vigário de Deus. Invejas e dissensões distraíam as comunidades pacíficas, e disputas às vezes prosseguiam até a violência aberta. A paz dos cinquenta anos tinha corrompido toda a atmosfera cristã: o relâmpago da ira de Diocleciano foi permitido por Deus para refiná-la e purificá-la.

Tal é a confissão melancólica dos próprios cristãos que, de acordo com o espírito dos tempos, analisavam os perigos e as aflições aos quais eram expostos sob a luz dos julgamentos divinos.*

{* Milman, vol. 2. 261.}

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