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domingo, 16 de outubro de 2022

Um Exemplar da Pregação de Tetzel

Tome os seguintes trechos como um espécime dos discursos blasfemos desse impostor ousado, e tudo sob a sanção do papa e do arcebispo do lugar. 

"As indulgências são o mais precioso e o mais nobre dos dons de Deus. Vinde, e vos darei cartas, todas devidamente seladas, pelas quais até os pecados que pretendestes cometer podem ser perdoados. Eu não trocaria meus privilégios pelos de São Pedro no céu, pois salvei mais almas com minhas indulgências do que o apóstolo com seus sermões. Não há pecado tão grande que uma indulgência não possa perdoar. Mas, mais do que isso, as indulgências valem não apenas para os vivos, mas também para os mortos. Sacerdote! nobre! comerciante! esposa! jovem! donzela! não ouves teus pais e teus outros amigos que estão mortos, e que choram do fundo do abismo? Sofremos horríveis tormentos! Podes dar, e não dareis! Oh, pessoas estúpidas e brutas, que não entendem a graça tão ricamente oferecida! Voa liberada para o céu. O Senhor nosso Deus não reina mais, Ele entregou todo o poder ao papa." 

Terminada o discurso selvagem do grosseiro monge berrante, a multidão aterrorizada e supersticiosa apressou-se a comprar o perdão de seus pecados e a libertação de seus amigos do fogo do purgatório. Da família real aos que viviam de esmolas, todos arranjaram de alguma forma dinheiro para comprar o perdão. O dinheiro entrou em abundância; o peito papal transbordou; mas ai! ai! Os efeitos morais eram temíveis. Os termos fáceis pelos quais os homens poderiam obter a licença do papa para todas as espécies de maldade, abriram o caminho para a mais grosseira imoralidade e insubmissão a toda autoridade. Até o próprio Tetzel foi condenado por adultério e conduta infame em Innsbruck, e sentenciado pelo imperador Maximiliano a ser colocado em um saco e jogado no rio; mas o Eleitor Frederico da Saxônia interferiu e obteve seu perdão. O imperturbável dominicano seguiu seu caminho como representante de Sua Santidade, o papa, como se nada tivesse acontecido.  

A Venda de Indulgências

O Papa Leão X subiu ao trono papal no ano de 1513. Ele era o terceiro filho de Lorenzo de' Medici, o Magnífico, e trouxe consigo para a corte pontifícia o estilo refinado, luxuoso e caro de sua família. Além disso, Michelangelo havia fornecido a ele o projeto finalizado da Basílica de São Pedro, que estava em andamento, o que aumentou muito suas despesas. A questão importante agora era: como conseguir dinheiro para completar a grande catedral e reabastecer o tesouro papal para os propósitos do pontificado de Leão? 

As cartas de Lutero a esse pontífice demonstram seu desconhecimento acerca do caráter de Leão. Embora Leão tenha a reputação de ser um dos homens mais polidos e cultos de sua época, ele estava longe de ser um homem moral. Sua corte era alegre, ele era dedicado ao prazer e totalmente descuidado com os deveres da religião. Comparado com seus predecessores imediatos – o dissoluto Alexandre VI, cujo nome é difícil mencionar sem repugnância – e o selvagem papa-guerreiro, Júlio II, cuja carreira tempestuosa encheu grande parte da Europa de sangue e massacres – comparado, digamos, a tais papas, a pessoa e a corte de Leão apresentam um contraste favorável; e Lutero, sem dúvida, dirigiu-se a ele com sua veneração supersticiosa pelo chefe da igreja, e por causa de sua fama de homem erudito. 

Para atender às várias e pesadas despesas do extravagante Leão, o clamor por dinheiro tornou-se cada vez mais alto. "Dinheiro, dinheiro!", era o clamor. "Foi o dinheiro", diz alguém, "não a caridade, que cobriu uma multidão de pecados". A necessidade sugeriu que o preço das indulgências deveria ser reduzido e que vendedores inteligentes deveriam ser empregados para impulsionar o comércio por toda a Europa. O plano foi adotado; mas Deus fez com que esse tráfico desavergonhado redundasse na posterior realização da Reforma e na derrubada do despotismo de Roma. Foi decidido que a Alemanha deveria ser o primeiro e especialmente favorecido lugar para a venda de indulgências, pois a posição geográfica do país poderia ter impedido muitos fiéis de colher as vantagens do Jubileu em Roma. 

A ideia original das indulgências parece ter sido nada mais do que uma redução da penitência externa imposta aos penitentes por meio do pagamento de uma multa, como temos constantemente decretado em nossos tribunais -- por exemplo: "Multado em cinquenta libras ou seis meses de prisão”. Se o dinheiro for pago, é colocado a crédito do criminoso, e ele é liberado e recebe sua quitação. Da mesma maneira, o pobre católico iludido supõe que a indulgência que ele compra é creditada a seu favor no livro de estatutos do céu, que faz pesar a balança contra ele por suas mentiras, calúnias, roubos, assassinatos e maldade de todos os tipos; ou, como alguns compararam, a uma carta de crédito a ser apresentada no céu, assinada pelo papa, em consideração ao valor recebido. Claro, se os pecados do delinquente são grandes e muitos, ele deve pagar caro por suas indulgências. 

Esse sistema de perdão se expandiu e foi tão trabalhado pelo sacerdócio que se tornou um meio de enorme riqueza para o papado. Obras dignas de arrependimento eram exigidas do pecador – e todos eram pecadores – obras como jejum, castigo, peregrinações e, depois da morte, tantos anos no purgatório. Mas o pecador foi lembrado de que o fardo dessas obras poderia ser removido, e os anos do fogo do purgatório encurtados, através do poder delegado por Cristo ao bem-aventurado Pedro e seus sucessores, sob certas condições. A mais fácil dessas condições para o penitente, e a mais conveniente para o papa, era: "Dinheiro! Dinheiro!"  

domingo, 9 de julho de 2017

O Surgimento e o Progresso da Simonia

Enquanto a igreja era pobre, perseguida e desprezada pelo mundo, não havia compradores de benefícios. Quando um homem perdia seu status mundano ao se tornar um cristão, e expunha-se à prisão e morte, qualquer tráfico de preferências eclesiásticas era desconhecido. Mas após a união da igreja com o Estado, e quando a riqueza do mundo começou a fluir para os cofres da igreja, houve uma grande tentação para entrar na ordem sagrada pelos privilégios e imunidades que isto assegurava. A simonia tornou-se, então, a inevitável consequência do rico dote das maiores Sés.

Nos primeiros dias do episcopado o bispo era eleito pelo clero e pelo povo de sua diocese, mas no decorrer do tempo as eleições episcopais tornaram-se tão importantes que os senhores leigos, e até mesmo os soberanos, eram tentados a interferir, e a finalmente estabelecer e reivindicar o privilégio da nomeação. O próprio Carlos Magno deu o exemplo ao empurrar seus filhos naturais às mais elevadas dignidades eclesiásticas. O privilégio assim usurpado era logo abusado. Os mais importantes cargos e ofícios, ou eram concedidos aos favoritos, ou publicamente vendidos ao melhor postor, sem consideração pelos interesses da religião, santidade de caráter, ou mesmo qualificações literárias.

A prática universal do feudalismo de dar presentes ao soberano, ou ao senhor vassalo, em todo ato de promoção, era seguida pelos eclesiásticos. Quando um bispo ou abade morria, era comum, em primeiro lugar, comunicar a vacância à corte, e então o anel ou o báculo do prelado ou abade falecido era colocado nas mãos de um superior temporário. O próximo bispo ou abade indicado era obrigado pelo costume geral a apresentar um presente ou reconhecimento; isso necessariamente levava a uma transação que assumia o caráter de uma barganha e venda. O presente ou oferta, que no início era aceito como honorário e voluntário, foi com o tempo exigido como um preço com ganância sem escrúpulos. A isso estava conectada a famosa questão da investidura. O anel, o símbolo de seu casamento com sua diocese; o báculo, o cetro de seu domínio espiritual. Esta investidura transmitia o direito às posses ou dotes seculares do benefício. Isso não presumia consagrar, mas permitia à pessoa consagrada executar seu ofício em uma certa esfera determinada, e sob a proteção e garantia do poder civil.

Muitas das Sés eram dotadas com direitos e royalties soberanos dentro de suas respectivas províncias. Bispados e abadias tinham crescido em principados e governos, e a esses príncipes eclesiásticos a maior parte dos ofícios e concílios do Estado tinham sido confiados. No sistema feudal, bispos tinham se tornado, em todos os aspectos, em posição igual aos dos nobres seculares. "Em toda cidade", diz Milman, "o bispo, se não o primeiro dos homens, estava no mesmo nível que o primeiro; além da cidade ele era senhor dos mais amplos domínios. Arcebispos quase se igualavam a reis; pois quem não teria cobiçado a classe e autoridade de um Hincmar, arcebispo de Reims, em vez do fraco monarca carlovíngio?"*

{*Cristianismo Latino, vol. 3, p. 105.}

Mas o clero superior não ficava em nenhum aspecto atrás dos leigos na prática corrupta da venda de ofícios espirituais sob seu patrocínio. Bispos e abades vendiam suas igrejas {*N. do T.: templo}, sem vergonha ou remorso, para que pudessem pagar suas despesas. Aquilo que tinha sido obtido por meios indignos era empregado para fins indignos. Tal era o terrível estado de coisas tanto na igreja quanto no Estado, e tal eram os motivos desprezíveis dos homens para entrar para as ordens sagradas, até que Hildebrando emitiu seu famoso decreto contra todas as práticas simoníacas, e contra todo o direito de investidura concedido por algum soberano secular, príncipe, nobre ou qualquer leigo.

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