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domingo, 3 de junho de 2018

Bernardo Parte de Claraval (1130 d.C.)

Uma grande cisma na igreja, causada por dois papas inescrupulosos, foi a ocasião em que São Bernardo foi retirado relutantemente de sua pacífica reclusão e mergulhado de vez nos assuntos do mundo. Mas, como um exemplo do que era uma comum ocorrência em conexão com as eleições papais, daremos alguns detalhes. O leitor lerá e poderá julgar por si mesmo acerca da alegada infalibilidade papal. Infelizmente, poucos dos papas foram decentes exteriormente.

Quando o Papa Honório II estava para morrer, mas antes de ter dado seu último suspiro, o cardeal Pietro Pierleoni, que era neto de um agiota judeu, fez um ousado esforço para ocupar a cadeira de São Pedro. Mas, quando o pontífice moribundo apareceu à janela e mostrou ao povo que ainda estava vivo, Pietro e seus amigos se retiraram pelo momento. Um outro partido, determinado a excluir Pietro, e assistindo até que o pobre papa morresse, imediatamente proclamou o cardeal Gregório como o supremo pontífice do mundo cristão sob o nome de Inocêncio II. O partido de Pedro, ao mesmo tempo, elegeu seu papa e o vestiu como pontífice, declarando que ele, sob o título de Anacleto II, era o autêntico vigário de Cristo.

Roma, a cena de infindáveis lutas e guerras, estava agora cheia de dois exércitos de partidários ferozes. A devastação e o derramamento de sangue rapidamente se seguiram após as ameaças e maldições espirituais. Anacleto, conta-se, à frente de um grupo de mercenários, iniciou o ataque sitiando a igreja de São Pedro. Ele forçou seu caminho para dentro do santuário, carregando o crucifixo de ouro e todo um tesouro em ouro, prata e pedras preciosas. Tais riquezas levaram um grande número a ficar do lado dele. Ele era rico e tinha condições de pagar por seguidores. Ele assaltou e despojou as igrejas da capital, uma após a outra. Inocêncio logo se convenceu de que Roma, no atual estado de calamidade pública, não podia ser um lugar seguro para ele. Ele decidiu partir. Sua pessoa corria perigo. Foi com grande dificuldade que ele e seus amigos escaparam em duas galés e chegaram em segurança ao porto de Pisa. De lá, dirigiram-se à França, e foram recebidos de braços abertos pelas comunidades de Cluny e Claraval.

Bernardo zelosamente abraçou a causa de Inocêncio. Seu zelo o tirou de seu covil. Ele viajou de soberano a soberano, de condado a condado, de mosteiro a mosteiro, até que conseguisse que Inocêncio fosse reconhecido pelos reis da França, Inglaterra, Espanha, o imperador Lotário, os mais poderosos clérigos e as comunidades religiosas por todos esses países. Apenas o poderoso Duque Rogério da Sicília apoiava Anacleto, e impedia que Inocêncio retornasse a Roma. Mas a morte veio para o alívio de todos os partidos. Anacleto morreu em sua invencível fortaleza em Santo Ângelo em janeiro de 1138, tendo desafiado todos os seus inimigos por oito anos. Inocêncio retornou a Roma em maio com Bernardo ao seu lado, e assim foi devidamente reconhecido como supremo pontífice.

domingo, 3 de setembro de 2017

O Incêndio da Roma Antiga

"O cavalo normando", diz Milman, "entrou pelas ruas, mas os romanos lutaram em vantagem na posse de suas casas e de seu conhecimento do terreno. Eles começaram a ganhar superioridade, e os normandos se viram em perigo. O impiedoso Guiscardo deu a ordem de incendiar as casas. De todos os lados as chamas queimavam furiosamente: casas, palácios, conventos, igrejas, à medida que a noite escurecia, foram vistas em terrível conflagração. Os distraídos habitantes precipitaram-se descontroladamente pelas ruas, não mais tentando defender a si mesmo, mas tentando salvar suas famílias. Centenas morreram. Os sarracenos aliados do papa, que haviam sido os primeiros na pilhagem, eram agora também os primeiros na conflagração e no massacre."*

{* History of Latin Christianity, vol. 3, p. 197}


Conta-se que Gregório esforçou-se nesse terrível momento, infelizmente não para salvar seu assim chamado rebanho da crueldade dos normandos, mas sim para salvar algumas das principais igrejas da conflagração geral. Guiscardo já tinha se tornado mestre da cidade -- ou melhor, das ruínas da Antiga Roma -- mas sua vingança ainda não tinha se apaziguado. Milhares de romanos foram vendidos publicamente como escravos, e milhares levados como prisioneiros. Supõe-se que nem os godos, nem os vândalos, nem os gregos nem alemães, jamais trouxeram tamanha desolação sobre a cidade como foi nesse episódio com os normandos. E que o leitor observe cuidadosamente que isso demonstra o verdadeiro espírito do papado, quando o fervoroso Guiscardo foi subornado por Gregório a se tornar seu aliado, seu libertador, seu protetor e seu vingador. As misérias, os massacres e a ruína de Roma foram justamente atribuídas à obstinação do papa nessa época, e tem sido desde então essa a opinião de todos os escritores imparciais. E ninguém jamais foi tão plenamente persuadido desse fato como o próprio Gregório. Ele não confiou nem sua pessoa nem suas fortunas à proteção fortificada dos muros de Santo Ângelo após a partida de seus aliados normandos.

domingo, 27 de agosto de 2017

Roberto Guiscardo Entra em Roma (1084 d.C.)

Para cumprir os desejos do papa, receber sua bênção e derrubar seus inimigos, Roberto juntou um exército de 30.000 soldados de infantaria irregular e 6000 cavaleiros normandos e colocou-os em marcha para Roma. Era uma hoste selvagem e mista, na qual se misturaram aventureiros de várias nações: alguns tinham se juntado ao seu estandarte para resgatar o papa, e outros por amor à guerra. Até mesmos os incrédulos sarracenos tinham se alistado em grandes números. As notícias de que uma força esmagadora estava avançando para vir ao auxílio do papa e de seus seguidores logo chegaram a Roma.

Henrique, sem perceber o perigo, tinha enviado para longe uma grande parte de suas tropas; e, como o restante era desigual demais para ir de encontro ao formidável exército inimigo, ele prudentemente retirou suas forças, assegurando a seus amigos romanos que em breve retornaria. Ele se retirou para Civita Castellana, onde podia observar os movimentos de todas as partes.

Três dias após Henrique ter deixado a cidade, o exército normando apareceu às muralhas. Quão desafortunados os habitantes daquela cidade culpada! Um dia mais tenebroso e pesado do que qualquer outro que ela já tenha passado estava por chegar, e todas as suas calamidades eram devido ao espírito vingativo e implacável de seu sumo sacerdote. Mas por se recusar a ceder ao poder secular, até mesmo o sangue de Roma -- sua própria cidade e capital -- teve de ser derramado. O domínio do papado sobre os reinos do mundo foi sua própria grande ideia, e nenhuma adversidade conseguia induzi-lo a ceder, nem um pouco, de suas sublimes pretensões. Ele foi tão inflexível em uma prisão quanto em um palácio. "Que o rei deite sua coroa e dê satisfações à igreja", eram as orgulhosas e desdenhosas palavras de Hildebrando, mesmo sendo um prisioneiro, e mesmo que o clero e os leigos implorassem para que entrasse em acordo com Henrique. Mas ele desprezou do mesmo modo os murmúrios, as ameaças e as súplicas de todos. Ele deve ter tido conhecimento sobre o caráter daquelas hordas assassinas que estavam nos portões, e quais seriam as consequências no momento em que entrassem. Mas sua mente estava formada, e a qualquer custo de derramamento de sangue humano e miséria ele inexoravelmente perseguiu seus desígnios imperiosos.

Os romanos não estavam preparados para se defenderem, e mal fizeram qualquer demonstração de resistência. O portão de São Lourenço foi rapidamente forçado, e a cidade estava imediatamente dominada. O primeiro ato de Roberto, o filho obediente da igreja, foi libertar o papa de seu longo aprisionamento no Castelo de Santo Ângelo. O normando recebeu formalmente a bênção pontifícia. Erguendo-se dos pés do papa, foi assim abençoado e edificado -- uma horrível zombaria e blasfêmia! Roberto soltou seus bandos de rufiões no meio do rebanho desprotegido do assim proclamado sumo pastor. Por três dias Roma esteve sujeita aos horrores de um saque. Os normando e os infiéis sarracenos se espalharam por cada canto da cidade. Assassinatos, pilhagem, luxúria e violência, estava tudo fora de controle. No terceiro dia, enquanto os normandos faziam festa e se divertiam em descuidada segurança, os habitantes, levados ao desespero, irromperam em uma rebeldia generalizada e correram armados pelas ruas, começando uma terrível carnificina com seus conquistadores. Assim surpreendidos, os normandos logo pegaram nas armas, e imediatamente toda a cidade tornou-se um cenário de conflito selvagem e desesperado.

Os Efeitos da Política Papal

Gregório logo percebeu que tinha ido longe demais -- que a humilhação em Canossa não poderia jamais ser esquecida e nunca poderia sossegar até que fosse vingada. A compaixão, assim como o interesse, moveu muitos príncipes e prelados a se reunirem em torno do rei caído, agora que estava liberto do banimento da excomunhão. Hildebrando (Gregório VII) era odiado pela maioria por causa de sua tirania política, e temido por causa de suas censuras eclesiásticas. Os revoltados príncipes da Alemanha ficaram secretamente encorajados pelo papa a disputar a posse do trono com Henrique, o que aumentou sua perplexidade e o preveniu de voltar seus exércitos contra Roma. Ele rezou para que Henrique nunca pudesse prosperar na guerra e, no nome e com as bênçãos dos apóstolos, concedeu o reino da Alemanha ao rebelde Rodolfo, duque da Suábia. O papa até mesmo se aventurou a profetizar que dentro de um ano Henrique estaria morto ou deposto; e, como se soubesse o fim desde o início, enviou uma coroa ao futuro rei, com uma inscrição significando que aquilo era o presente de Cristo a São Pedro, e de São Pedro a Rodolfo. Mas logo ele provou-se um profeta mentiroso, assim como um padre mentiroso, e o fomentador sem remorsos de uma guerra civil.*

{*Robertson, vol. 2, p. 594.}


A força do rei aumentou gradualmente apesar de todas as tramas iníquas e cruéis de Gregório. Após anos da mais terrível guerra civil e derramamento de sangue, os exércitos de Henrique e de seu rival, Rodolfo, se encontraram uma vez mais nas margens do rio Elster, em outubro de 1080. A batalha foi longa e obstinada, mas a queda de Rodolfo deu a Henrique a vitória. Ele recebeu sua ferida de morte, conta-se, da lança de Godofredo, mais tarde o primeiro rei de Jerusalém, e um golpe de sabre de um outro decepou sua mão direita. Relata-se que o príncipe moribundo, olhando para sua mão decepada, reconheceu com tristeza: "Com essa mão eu ratifiquei meu juramento de fidelidade ao meu soberano, Henrique: a punição é justa, e agora perdi a vida e o reino". Após os adversários do rei ficarem, então, desencorajados e paralisados, ele decidiu tornar suas forças contra seu mais formidável e irreconciliável inimigo. Ele cruzou os Alpes, entrou na Itália e sitiou os muros de Roma.

Estando a cidade bem provisionada, com as muralhas fortalecidas e com a lealdade dos romanos assegurada pela riqueza de Matilde, Henrique empenhou-se por mais ou menos três anos em bloquear e sitiar Roma, mas no verão de 1083 ele ganhou posse da cidade culpada. Gregório tomou refúgio no forte castelo de Santo Ângelo, e alguns de seus partidários em suas casas fortificadas. Henrique estava disposto a fazer acordos com Hildebrando, e a aceitar a coroa imperial de suas mãos. Mas o papa não queria saber de nada que não fosse a submissão incondicional de Henrique. "Que o rei renuncie a sua dignidade e se submeta à penitência", foram os únicos termos de Gregório. O clero -- bispos, abades e monges -- e os leigos suplicaram-lhe que tivesse misericórdia da cidade afligida, e que entrasse em acordo com o rei.

Mas todas as tentativas de negociação foram infrutíferas; o papa inflexível desprezava igualmente súplicas e ameaças. A submissão absoluta de Henrique e a satisfação à igreja eram as altas exigências do papa aprisionado em seu castelo. Mas Henrique não era mais o abandonado, o de espírito quebrantado e suplicante aos seus pés, como tinha sido em Canossa.

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