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domingo, 10 de novembro de 2019

A Inglaterra sob o Banimento Papal

Em um momento, todos os ofícios divinos por todo o reino cessaram, exceto o rito do batismo e a extrema unção. "Desde Berwick até o Canal Britânico", diz um relato sobre essa terrível maldição, "desde Land's End até Dover, as igrejas foram fechadas, os sinos silenciados; os único clérigos que se viam por aí, silenciosamente, eram aqueles que deviam batizar recém-nascidos, ou que ouviam a confissão dos moribundos. Os mortos eram lançados fora das cidades, enterrados como cães em qualquer lugar não consagrado, sem orações, sem o tocar dos sinos, sem o rito funeral. Apenas podem julgar o efeito do interdito papal aqueles que consideram quão completamente toda a vida de todas as classes de pessoas era afetada pelos rituais e ordenanças diárias da igreja. Cada ato importante era feito sob o conselho dos padres e monges. Os festivais da igreja eram os únicos feriados, as procissões da igreja os únicos espetáculos, as cerimônias da igreja o único entretenimento. Não ouvir qualquer oração ou canto, supôr que o mundo estava rendido ao poder irrestrito do diabo e de seus espíritos malignos, sem santo algum para interceder, sem nenhum sacrifício para aplacar a ira de Deus; quando nenhuma imagem sequer era exposta à vista, nenhuma cruz havia que não estivesse velada: a relação entre o homem e Deus totalmente quebrada; almas deixadas a perecer, ou no máximo relutantemente permitidas à absolvição no momento da morte." E, de outras partes, aprendemos que, de modo a inspirar a mais profunda melancolia e fanatismo, não se permitia que se cortassem os cabelos ou as barbas; o consumo da carne era proibido, e até mesmo a saudação comum era proibida.

Tal foi o estado da Inglaterra por pelo menos quatro anos. A miséria pública foi grande e universal; mas nem a miséria dos indivíduos nem as privações religiosas dos cristãos moveram o coração obturado do rei nem do pontífice. O triunfo do pastor de Roma sobre um grande reino era muito mais desejado do que o bem-estar do rebanho. Os clérigos que publicaram o edito, juntamente com outros bispos ricos, fugiram do reino. "Lá viviam eles", diz o historiador, "em abundância e luxúria, em vez de permanecerem em defesa pela casa do Senhor, abandonando seus rebanhos para o lobo voraz". O tirano vingativo João parecia desafiar e tratar com insolente desdém os terríveis efeitos do edito sobre os seus sofredores súditos. Ele se regozijava em sua vingança contra os bispos e padres que obedeciam ao papa. Ele confiscou a propriedade do clero superior e dos monastérios por toda a Inglaterra e obrigou os judeus a cederem suas riquezas por meio de prisão e tortura. Esse estado de coisas durou quase dois anos quando uma nova bula pontifícia* foi emitida.

{* A bula pontifícia é um alvará passado pelo Papa ou Pontífice católico, com força de lei eclesiástica, pelo qual se concedem graças e indulgências aos que praticam algum acto meritório. O termo bula refere-se não ao conteúdo e à solenidade de um documento pontifício, como tal, mas à apresentação, à forma externa do documento, a saber, lacrado com pequena bola (em latim, "bulla") de cera ou metal, em geral, chumbo (sub plumbo). Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Bula_pontif%C3%ADcia}

O astuto papa tinha assistido de perto o efeito do primeiro edito e, vendo que João estava perdendo seus amigos e se tornando mais impopular, publicou a sentença de excomunhão contra o nome e a pessoa do soberano. Ainda assim, os hábitos desprezíveis de João eram tais que, embora desafiasse o papa e a hierarquia, ao mesmo tempo alienava as afeições de todas as classes de pessoas no país. Mais uma vez, o papa viu sua oportunidade, emitindo outra bula ainda mais assustadora. Os súditos de João foram absolvidos de sua lealdade ao rei e ordenou-se que evitassem sua presença. Mas, com aquela indiferença estoica para com o sofrimento humano que ele uniformemente manifestava, determinou que tanto ele próprio quanto a nação deveriam enfrentar completamente a vingança de Roma. Os trovões papais pareciam não causar qualquer efeito sobre o rei insensível e irreligioso, e tivesse ele tratado mais sabiamente seus nobres e seu povo, nem o maior dos papas nem os seus ataques mais pesados surtiriam qualquer efeito sobre o povo da Inglaterra. Mas agressiva avidez, as barbaridades e a conduta ultrajante do rei afastaram de si todas as classes de pessoas. O desafeto para com ele crescia de murmurações a quase revoltas. Inocêncio, observando esse fermento de descontentamento trabalhando tão eficazmente na Inglaterra, preparou-se para lançar sua última e mais perigosa rajada contra o contumaz soberano. "O interdito tinha ferido a terra, a excomunhão tinha profanado a pessoa do rei, restando apenas o ato de deposição do trono de seus pais, que foi então pronunciada: 'Que João, rei da Inglaterra, seja deposto da coroa e dignidade real; que seus súditos sejam absolvidos de seu juramento de lealdade, e estejam livres para transferi-lo a uma pessoa mais digna de preencher o trono vago.'"*

{*Cathedra Petri, de Greenwood, livro 13, p. 582; Latin Christianity, de Milman, vol. 4, p. 90; History of the Church, de  Waddington, vol. 2, p. 167.}

O trono da Inglaterra estava então pública e solenemente declarado vago pelo decreto do papa, e os domínios do rei eram os despojos, por direito, de qualquer que pudesse arrancá-los de suas mãos imorais. Tal era o poder dos papas naqueles dias, e tal o terror de seus trovões. Ele golpeava grandes nações com seus anátemas, e elas caíam diante dele mirradas e feridas; ele arrancava grandes reis de seus tronos, e os obrigava a se curvarem diante da tempestade de sua ira e a obedecerem humildemente ao mandato de sua vontade. Todos, sem exceção, na Igreja e no Estado, deviam aceitar seus próprios termos de reconciliação, ou morreriam sem salvação e seriam atormentados nas chamas do inferno para sempre. O altivo e esperto Filipe Augusto da França foi domado em poucos meses, enquanto o fraco e desprezível João desconsiderou suas fulminações por anos, apenas para receber, no final, um golpe ainda mais pesado, e acabasse se submetendo a uma profunda humilhação. Veremos agora como isso foi cumprido; e, na trama, o leitor também perceberá a profunda astúcia e sedução do papa. Não teremos dificuldade, ao tratarmos desse assunto, em enxergar nisso as profundezas de Satanás.

domingo, 29 de julho de 2018

A Extrema Unção

Como todo falso sistema, o papado é flagrantemente inconsistente consigo mesmo. A falsidade, a mãe das mentiras, está escrita em sua testa, embora possam existir muitos corações honestos e piedosos em sua comunhão. Quão diferente da perfeita unidade da verdade divina (as Escrituras)! Embora escrita por tantas pessoas diferentes, sobre tantos assuntos diferentes, sob tantas circunstâncias diferentes, e em tantos lugares e épocas diferentes do mundo, ainda assim temos um todo perfeito. Como poderíamos deixar de ver, no decorrer das Escrituras, as glórias da cruz, as riquezas da graça divina, a condição perdida do pecador, e sua plena salvação (por exemplo: no cordeiro de Abel, na arca de Noé, e na purificação do leproso)? Mas ao passarmos de um sacramento para outro do sistema católico encontramos as mais evidentes contradições. Assim é com o purgatório e a extrema unção. Se existe alguma verdade na extrema unção, o purgatório é uma mera ilusão. Não pode haver tal lugar, nem necessidade para tal lugar. O objetivo declarado, e o efeito do óleo sagrado de acordo com o Concílio de Trento, é apagar os restos dos pecados. O herege que o despreza deve ir diretamente para as profundezas do inferno. Assim ele é administrado:

"O padre, tendo entrado na casa, deve colocar sobre sua sobrepeliz uma estola coberta de violeta, e apresentar a cruz à pessoa doente, para ser devotamente beijada. Tendo sido recitadas orações, e água benta aspergida, o padre mergulha seu dedo polegar no óleo sagrado, e unge o enfermo em forma de cruz. Começando pelo sentido da visão, ele unge cada olho, dizendo: 'O Senhor, através de Sua santa unção, e Sua mais graciosa compaixão, perdoa-te de qualquer pecado que hajas cometido pela visão'. Do mesmo modo há sete unções, uma para cada um dos cinco sentidos -- olhos, ouvidos, nariz, boca, mãos, e os outros dois são no peito e nos pés". Após muitas orações, cruzes, queima do pano que enxugou o óleo das diferentes partes do corpo ungido e do polegar do padre, o homem ou mulher moribunda é declarada como estando em um estado adequado para passar com segurança para o porto da felicidade eterna.

Esse sacramento nunca é administrado enquanto houver qualquer expectativa de recuperação da saúde. É chamada extrema porque é a última a ser administrada. Por meio desse assim chamado infalível sacramento pelo moribundo, alguém naturalmente esperaria que o purgatório receberia muito poucos fiéis da igreja de Roma, de modo que seria principalmente povoado por protestantes que desprezaram o unguento sacerdotal, ou por aqueles na comunhão católica que estavam desqualificados para receberem o sacramento. Mas há uma grande variedade de opiniões entre os romanistas sobre esse assunto. Alguns pensam que toda alma, sem exceção, desde o papa até o leigo, por mais santa que tenha sido sua vida, ou mesmo que o último sacramento tenha sido administrado, deve passar pelo purgatório -- que nenhuma alma poderia passar diretamente da terra para o céu. Eles argumentam que, como nenhum homem tem controle completo sobre seus pensamentos, pensamentos tolos e até mesmo pecaminosos podem passar por sua mente durante a administração da extrema unção, ou imediatamente após ela; portanto, a alma deveria passar pela região do purgatório em seu caminho para o céu. É claro que o pecado poderia ser tão pequeno de modo que a detenção seria muito curta. Mas até mesmo um Gregório ou um Bernardo deveria ser purificado pelo fogo do purgatório. Ai dos filhos de Roma! -- deveríamos exclamar -- todos devem ser escravos do príncipe do purgatório antes de poderem provar da liberdade e felicidade do céu. Quão terríveis, quão sombrios os pensamentos sobre a morte devem ser! Quão diferentes dos pensamentos e sentimentos do grande apóstolo, quando disse: "Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho". Se ele vivesse, viveria Cristo; ele desfrutava a mais plena e doce comunhão com Ele: se morresse, ele ganharia com isso... "Tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor". Além disso, a Palavra de Deus é positiva para todos os crentes em Cristo Jesus -- "Ausentes deste corpo, para estarmos presentes com o Senhor" (Filipenses 1:21-23; 2 Coríntios 5:8).

A alusão no Novo Testamento à antiga prática da unção com óleo deu aos escritores católicos grande ousadia em pressionar a necessidade desse sacramento. Mas eles cuidadosamente negligenciam ou ocultam o fato de que a unção bíblica era para a cura miraculosa do corpo e para o prolongamento dos dias de vida. A unção católica é para a alma -- um sacramento permanente para a transmissão da graça, o perdão do pecado, a obtenção da salvação, na hora da morte. A unção apostólica era para a recuperação da saúde; a extrema unção é a última preparação para a morte. "E expulsavam muitos demônios, e ungiam muitos enfermos com óleo, e os curavam". "Está doente algum de vós? Chame os anciãos da igreja, e estes orem sobre ele, ungido-o com óleo em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará." (Marcos 6:13; Tiago 5:14,15).

Não é difícil ver como a superstição usaria tais passagens para o cumprimento de seus próprios fins; mas está perfeitamente claro que a unção original era usada para a recuperação da saúde em pessoas específicas, e continuou enquanto ainda havia o dom de curas e o poder de operar milagres, o que provavelmente mal durou até o final da era apostólica. E a extrema unção, em sua presente forma, era desconhecida na igreja durante os primeiros onze séculos de sua história. Foi estabelecida durante o reinado da ignorância e da astúcia sacerdotal no século XII, e finalmente foi carimbada com o grande selo do Concílio de Trento.

domingo, 15 de julho de 2018

Os Sete Sacramentos

No Novo Testamento, onde tudo é claro e simples, lemos apenas de dois sacramentos, ou instituições divinas conectadas a um povo já salvo -- o batismo e a ceia do Senhor. Mas tanto na igreja grega (Ortodoxa Grega) quanto latina (Católica Romana) o número de sacramentos tinha sido grandemente aumentado e colocado de formas variadas por diferentes teólogos. Não era mais uma questão de revelação divina, mas da imaginação humana. Alguns falam de doze sacramentos; mas na igreja ocidental, no final, o místico número de sete foi estabelecido, como se correspondesse à ideia dos sete dons do Espírito Santo. E esses eram: o batismo, a confirmação, a eucaristia, a penitência, a extrema unção, a ordenação e o matrimônio.*

{* Veja J.C. Robertson, vol. 3, pp. 259-272.}

Assim foi a armadilha posta diante dos pés dos verdadeiros seguidores de Cristo. Não importava quão sinceramente um homem cria e obedecia à Palavra de Deus: se desconsiderasse os sacramentos da igreja e suas numerosas cerimônias, expunha-se à acusação e às consequências da heresia. Por outro lado, de nada importava também se a Palavra de Deus fosse totalmente desprezada, desde que a obediência à igreja fosse professada. Mas para todos que seguiam o Senhor de acordo com Sua palavra, era impossível escapar: a rede se estendia por todos os cantos.

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