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domingo, 28 de agosto de 2016

O Pecado e o Arrependimento de Teodósio

A história do tumulto e massacre em Tessalônica, no ano de 390, grava linhas ainda mais profundas sobre o caráter de Teodósio. Ao estudarmos esse período de sua vida, lembramos de Davi, o rei de Israel. Neste triste caso o inimigo ganhou uma grande vantagem sobre o imperador cristão; mas Deus fez com que esses atos se tornassem na mais profunda bênção para sua alma.

Botérico, comandante-chefe do distrito, e vários de seus principais oficiais, foram mortos pelo populacho em uma corrida de carruagem. Um dos cocheiros favoritos tinha sido lançado na prisão por um crime notório e, consequentemente, estava ausente no dia dos jogos. O populacho injustificadamente exigiu sua liberdade. Botérico recusou, e assim o tumulto começou e seguiram-se as terríveis consequências. A notícia exasperou o imperador, que ordenou a liberação da espada sobre todos. Ambrósio intercedeu, e Teodósio prometeu perdoar os tessalonicenses. Seus conselheiros militares, no entanto, artisticamente insistiram no caráter hediondo do crime, e obtiveram uma ordem para punir os ofensores, o que foi cuidadosamente guardado em segredo do bispo. Os soldados atacaram o povo indiscriminadamente quando reunidos no circo, e milhares foram mortos para vingar a morte de seus oficiais.

A mente de Ambrósio se encheu de horror e angústia ao ouvir sobre o massacre. Como servo de Deus, ele se separa do mal, até mesmo da presença de seu mestre imperial. Ele retirou-se para o interior do país para curar sua dor, e para evitar a presença do imperador. Mas escreveu uma carta, na qual expunha da maneira mais solene a profunda culpa do imperador; assegurando que não o permitiria entrar na "igreja" (N. do T.: templo) de Milão até estar convencido da autenticidade de seu arrependimento. O imperador, neste tempo, estava profundamente afetado pelas reprovações de sua própria consciência e de seu pai espiritual. Ele amargamente lamentou as consequências de sua irrefletida fúria ao substituir a justiça pela barbárie, e procedeu a exercer suas devoções na igreja de Milão. Mas Ambrósio o encontrou no alpendre, e, lançando mão de seu manto, pediu-lhe que se retirasse, como um homem manchado com sangue inocente. O imperador assegurou Ambrósio sobre sua contrição, que lhe respondeu que remorsos privados eram insuficientes para expiar ofensas públicas. O imperador mencionou Davi, um homem segundo o coração de Deus. "Você o imitou nesse crime, então imite-o em seu arrependimento", foi a resposta destemida do bispo.

O imperador se submeteu ao sacerdote. Por oito meses, ele permaneceu em reclusão penitencial, deixando de lado todos os seus ornamentos imperiais, até que na época do Natal ele se apresentou perante o arcebispo, e humildemente rogou pela readmissão à igreja. "Eu choro", disse ele, "pois o templo de Deus, e consequentemente o céu, está fechado para mim, e está aberto para escravos e mendigos". Ambrósio ficou firme, e solicitou algum fruto prático de seu arrependimento. Ele exigiu que, no futuro, a execução da pena de morte fosse adiada até trinta dias após a sentença, de modo que os efeitos nocivos da raiva descontrolada pudessem ser prevenidos. O imperador concordou prontamente, e foi então permitido a entrar na "igreja" (N. do T.: templo). A cena que se seguiu foi comovente. O imperador, tirando suas vestes imperiais, orou prostrado no chão. "A minha alma se apega ao pó", gritou ele, "vivifica-me segundo a Tua palavra". O povo chorou e orou por ele, comovidos por sua dor e humilhação.

Ambrósio menciona, em sua oração fúnebre, que desde o tempo da profunda angústia do imperador, ele nunca passou um dia sem levar à mente o crime no qual ele tinha sido traído por sua grande falha -- uma fraqueza de temperamento.

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