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sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

O Rápido Progresso do Cristianismo

Sem dúvidas, as causas e meios foram divinos. Eles provam ser assim. O Espírito de Deus, que desceu em poder no dia de Pentecostes, e que tinha tomado Sua morada na igreja e em cada cristão individualmente, é a verdadeira fonte de todo o sucesso na pregação do evangelho, na conversão das almas, e no testemunho para Cristo contra o mal. "Não por força nem por violência, mas sim pelo meu Espírito, diz o Senhor" (Zacarias 4:6). Além disso, o Senhor prometeu estar com Seu povo o tempo todo: "E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos." (Mateus 28:20). Mas nosso objetivo aqui é olhar para as coisas historicamente, e não apenas com a segurança da fé:

1. Uma das grandes causas da rápida propagação do cristianismo é sua perfeita adaptação ao homem em qualquer idade, em qualquer país, e em qualquer condição. Ele aborda todos como perdidos, e supõe uma falta em todos. Assim, ele se adapta ao judeu e ao gentio, ao rei e ao súdito, aos sacerdotes e ao povo, ao rico e ao pobre, ao jovem e ao velho, ao erudito e ao ignorante, ao moral e ao devasso. É a religião de Deus para o coração, e ali firma Sua soberania, e a Sua apenas. Ele se anuncia como o "poder de Deus para salvação de todo aquele que crê" (Romanos 1:16). Ele propõe levantar o homem das profundezas mais profundas de degradação para as alturas mais elevadas da glória eterna. Quem é capaz de estimar, apesar de todo preconceito, o efeito da proclamação de tal evangelho a pagãos miseráveis e ignorantes? Milhares, milhões, cansados de uma religião sem valor e desgastada, responderam à voz celestial, foram reunidos em torno do nome de Jesus, tomaram com alegria o espólio de seus bens, e estavam prontos para sofrer por amor a Ele. O amor reinava na nova religião, e o ódio na antiga.

2. A confirmação e manutenção de todas as relações terrenas que estivessem de acordo com Deus é outro motivo para a aceitação do evangelho entre os pagãos. Cada um era exortado a permanecer em seus relacionamentos e a procurar glorificar a Deus neles. As bênçãos do cristianismo para as esposas, filhos e servos são indescritíveis. Seu amor, felicidade e conforto eram um espanto para os pagãos, e uma novidade entre eles. Ainda assim, tudo era natural e ordenado. Um cristão, que dizem ter vivido nessa época - no início do segundo século - descreve assim seus contemporâneos: "Os cristãos não são separados dos outros homens pelo lugar onde moram, por língua ou por costumes. Eles não moram em um lugar especial na cidade, eles não usam uma linguagem diferente ou assumem um estilo de vida extravagante. Eles habitam nas cidades dos gregos, e dos bárbaros... e embora se adaptem aos costumes da região, no que diz respeito ao modo de vestir, à comida, e outras coisas que pertencem à vida exterior, eles ainda assim mostram uma conduta peculiar que é maravilhosa e marcante para todos. Eles obedecem as leis existentes, e superam a lei pela forma com que vivem." *

{* História da Igreja, de Neander, vol. 1, p. 95.}

3. As vidas irrepreensíveis dos cristãos, a pureza divina de suas doutrinas, sua paciência, alegre resistência a sofrimentos piores que a morte, assim como a própria morte, seu desprezo por qualquer objeto de ambição comum, sua ousadia na fé a ponto de correrem risco de vida, crédito e propriedades; estes eram os principais recursos na rápida disseminação do cristianismo. "Pois quem", diz Tertuliano, "ao observar tais coisas, não é impelido a investigar a causa? E quem, tendo investigado, não abraça o cristianismo, e tendo abraçado, não tem o desejo de sofrer por isso?"

Essas poucas indicações permitirão ao leitor formar um juízo mais definitivo quanto ao que, por um lado, tendia a impedir, e o que, por outro lado, tendia a promover o progresso do evangelho de Cristo. Nada pode ser mais interessante para a mente cristã que o estudo dessa grande e gloriosa obra. Os obreiros do Senhor, em sua maioria, eram homens simples e iletrados; eram pobres, sem amigos e destituídos de toda a ajuda humana; e ainda assim, em pouco tempo, persuadiram uma grande parte da humanidade a abandonar a religião de seus ancestrais, e a abraçar uma nova religião que é oposta às disposições naturais dos homens, aos prazeres do mundo, e aos estabelecidos costumes das eras. Quem poderia questionar o poder que vinha de dentro do cristianismo tendo tais fatos exteriores diante de si? Certamente foi o Espírito de Deus que revestiu de poder as palavras daqueles primeiros pregadores! Certamente a força deles nas mentes dos homens era divina. Uma mudança completa foi produzida: foram nascidos de novo - criados de novo em Cristo Jesus.

Em menos de cem anos a partir do dia de Pentecostes, o evangelho tinha penetrado na maioria das províncias do império romano, e foi largamente difundido em muitos delas. Em nosso breve resumo da vida de Paulo, e na tabela cronológica de suas missões, traçamos o primeiro plantio de muitas igrejas, e a propagação da verdade em muitas regiões. Nas grandes cidades centrais, tais como a Antioquia na Síria, Éfeso na Ásia, e Corinto na Grécia, vimos o cristianismo bem estabelecido, e espalhando suas ricas bênçãos entre as cidades e vilas vizinhas.

Também aprendemos, da antiguidade eclesiástica, que Cartago era para a África o mesmo que essas cidades eram para a Síria, Ásia e Grécia. Quando Escápula, o presidente de Cartago, ameaçou os cristãos com tratamento severo e cruel, Tertuliano, em um de seus veementes apelos, tentou fazê-lo refletir: "O que pretendes fazer", diz ele, "com tantos milhares de homens e mulheres de todas as idades e dignidades, por mais que livremente se ofereçam a si mesmos? Quantas fogueiras e espadas ainda serão necessárias? O que Cartago é capaz de sofrer se for dizimada por ti? Quando todos encontrarem ali o seu parente mais próximo e vizinhos, verá matronas e possivelmente homens de sua própria classe social e condição, e as pessoas mais importantes, também parentes ou amigos daqueles que são teus amigos mais próximos. Poupe-os então, por isso, para o seu próprio bem, se não para o nosso." *

{* Cristianismo Primitivo, de Cave, p. 20.}

Vamos agora continuar a narrativa dos eventos, e o próximo na ordem a ser relacionado é o martírio de Inácio.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

As Causas Ostensivas da Perseguição

Os romanos professavam tolerar todas as religiões, e que a comunidade não tinha nada a temer. Esta era a vangloriosa liberalidade que professavam. Até mesmo aos judeus eram permitidos viver de acordo com suas próprias leis. O que foi que aconteceu então, podemos nos perguntar, que pode ter causado toda a severidade deles contra os cristãos? Tinha a comunidade algo a temer deles? Havia algo a temer daqueles cujas vidas eram irrepreensíveis, cujas doutrinas era a pura verdade do céu, e cuja religião era propícia ao bem-estar das pessoas, tanto de modo público como privado?

Os seguintes pontos podem ser considerados como algumas das inevitáveis causas da perseguição, olhando para os dois lados da questão:

1. O cristianismo, ao contrário de todas as religiões que a precederam, era agressivo em seu caráter. O judaísmo era exclusivo: a religião de uma nação só. O cristianismo era proclamado como a religião da humanidade, ou do mundo todo. Isto era algo inteiramente novo na terra. "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura." (Marcos 16:15), este era o mandamento do Senhor para seus discípulos. Eles deviam prosseguir e guerrear contra o erro em todas as suas formas e em todas as suas obras. A conquista a ser feita era o coração para Cristo. "As armas da nossa milícia", diz o apóstolo, "não são carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas; destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo." (2 Coríntios 10:4,5). Nessa guerra de agressão contra as instituições existentes, e contra os hábitos corruptos dos pagãos, os discípulos de Jesus tinham pouco a esperar além de resistência, perseguição e sofrimento.

2. A religião pagã, a qual o cristianismo estava rapidamente prejudicando e destinando à queda, era uma instituição do Estado. Ela estava tão intimamente entrelaçada com todo o sistema civil e social que atacar esta religião era entrar em conflito com ambos os sistemas civil e social. E foi exatamente isto que aconteceu. Se a igreja primitiva fosse tão acomodada com o mundo como é a cristandade hoje, muita perseguição poderia ter sido evitada. Mas a hora não tinha chegado para tal frouxo acomodamento. O evangelho que os cristãos então pregavam, e a pureza da doutrina e da vida que mantinham, abalaram o próprio fundamento da velha e profundamente enraizada religião do Estado.

3. Os cristãos naturalmente se separavam dos pagãos. Eles se tornaram um povo separado e distinto. Eles não podiam fazer nada além de condenar e abominar o politeísmo como algo totalmente oposto ao único e verdadeiro Deus, e ao evangelho de Seu Filho Jesus Cristo. Isto deu aos romanos a ideia de que os cristãos eram hostis à raça humana, vendo que condenavam todas as religiões, menos a sua própria. Portanto, diz-se que eles eram chamados de "ateus", pois não acreditavam nas divindades pagãs e ridicularizavam a adoração pagã.

4. Simplicidade e humildade caracterizavam a adoração cristã. Eles pacificamente se reuniam antes do sol nascer ou após o sol se pôr para evitar ofender os demais. Eles cantavam hinos a Cristo como Deus, eles partiam o pão em memória de Seu amor ao morrer por eles, eles edificavam-se uns aos outros e comprometiam-se a uma vida de santidade. Mas eles não tinham templos bonitos, nem estátuas, nem ordens sacerdotais, e nem vítimas para oferecer em sacrifício. O contraste entre a adoração deles e a de todos os outros no império se tornou muito claro. Os pagãos, em sua ignorância, concluíram que os cristãos não tinham nenhuma religião, e que suas reuniões secretas tinham o pior dos propósitos. O mundo agora, assim como naquela época, diria daqueles que adoram a Deus em espírito e em verdade que "essas pessoas não tem nenhuma religião". A adoração cristã, em verdadeira simplicidade, sem o auxílio de templos e sacerdotes, ritos e cerimônias, não é muito melhor compreendida agora pela cristandade professa do que era pela Roma pagã daquela época. Continua sendo verdade que "Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade." (João 4:24)

5. Pelo progresso do cristianismo, os interesses temporais de um grande número de pessoas foram seriamente afetados. Isto era uma fonte fecunda e amarga de perseguição. Uma incontável multidão de sacerdotes, fabricantes de imagens, comerciantes, adivinhos, augures e artesãos ganhavam uma boa vida pela existência da adoração de tantas divindades.

6. Todos estes, vendo seu trabalho e fonte de renda em perigo, se levantaram em força unida contra os cristãos, e procuraram por todos os meios deter o progresso do cristianismo. Eles inventaram e disseminaram as mais vis calúnias contra tudo o que era cristão. Os astutos sacerdotes e adivinhos facilmente persuadiam os vulgares e a mente do público em geral de que todas as guerras, tempestades e doenças que afligem a humanidade foram enviadas sobre eles por deuses raivosos, porque os cristãos que desprezavam a autoridade deles eram tolerados em todo lugar. *

{* Veja História Eclesiástica, de Mosheim, vol. 1, página 67; e os primeiros capítulos de Cristianismo Primitivo, de Cave. }

Muitas outras coisas poderiam ser mencionadas, mas estas eram, em todo lugar, as causas diárias dos sofrimentos dos cristãos, tanto publicamente quanto em privado. Da verdade desses fatos um momento de reflexão é capaz de convencer qualquer leitor. Mas a fé podia ver a mão do Senhor e ouvir Sua voz em tudo: "Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos... eles vos entregarão aos sinédrios, e vos açoitarão nas suas sinagogas; e sereis até conduzidos à presença dos governadores, e dos reis, por causa de mim, para lhes servir de testemunho a eles, e aos gentios... Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada." (Mateus 10:16-34) *

{* N. do T.: Apesar do capítulo 10 de Mateus, assim como Marcos 16:15, dizerem respeito à comissão dos judeus e ao evangelho do reino, é evidente que muitos pontos podem ser aplicados também aos cristãos, e descrevem muito bem o sofrimento e perseguição sofridas por causa do nome de Cristo. O caráter judaico e a pregação do evangelho do reino (e não o evangelho da graça de Atos 16:31) de Mateus 10 podem ser facilmente observados por uma leitura atenciosa e em oração: "Não ireis pelo caminho dos gentios, nem entrareis em cidade de samaritanos; mas ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel; E, indo, pregai, dizendo: É chegado o reino dos céus... E odiados de todos sereis por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até ao fim será salvo. Quando pois vos perseguirem nesta cidade, fugi para outra; porque em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel sem que venha o Filho do homem." (Mateus 10:5-7, 22-23).
Para mais detalhes sobre o caráter judaico dos evangelhos e sobre a diferença entre o evangelho do reino e o evangelho da graça, acesses estes links: 
}

Tendo falado bastante sobre a grande oposição que a igreja primitiva teve que lutar contra, será necessário olhar por um momento para a verdadeira causa das causas e dos meios para o rápido progresso do cristianismo.

sábado, 3 de outubro de 2015

O Fim dos Trabalhos de Paulo em Liberdade

Chegamos agora a uma questão importante, e a um ponto de virada na história de Paulo daqui para a frente. Iria ele direto para o ocidente, em direção a Roma, ou iria passar por Jerusalém? Tudo depende disso. Jerusalém também estava em seu coração. Mas se Cristo o tinha enviado tão longe, para os gentios, poderia o Espírito, da parte de Cristo, conduzi-lo a Jerusalém? Foi apenas aqui, acreditamos, que foi permitido ao grande apóstolo seguir os desejos de seu próprio coração, cujos desejos eram corretos e belos em si mesmos, mas não estavam de acordo com a mente de Deus naquele momento. Ele amava profundamente sua nação, e especialmente os santos pobres em Jerusalém; e, tendo sido muito mal representado ali, ele esperava provar seu amor pelos pobres dentre seu povo levando as ofertas dos gentios pessoalmente. "Assim que", diz ele, "concluído isto, e havendo-lhes consignado este fruto, de lá, passando por vós, irei à Espanha." (Romanos 15:28). Certamente isto era amável e louvável! Sim, mas isto vinha de um lado apenas, e este era o lado da natureza - da carne - e não do Espírito. "E, achando discípulos, ficamos ali sete dias; e eles pelo Espírito diziam a Paulo que não subisse a Jerusalém." (Atos 21:4). Isto parece claro o bastante, mas Paulo naquele momento se inclinou para o lado de suas afeições "pelos pobres do rebanho" em Jerusalém. Será que poderia haver um erro mais perdoável que este? Impossível! Foi seu amor pelos pobres, e o prazer de levar a eles as ofertas dos gentios, que o conduziu a passar por Jerusalém em seu caminho a Roma. No entanto, foi um erro, e um erro que custou a Paulo sua liberdade. Seu trabalhos em liberdade acabam aqui. Ele permitiu liberdade à sua carne, e Deus permitiu que os gentios o prendessem em correntes. Esta era a expressão de puro amor do Mestre para com Seu servo. Paulo era muito precioso para que o Senhor o deixasse sem a justa disciplina nessa ocasião. Também provaria que nem Jerusalém nem Roma poderiam ser a metrópole do cristianismo. Cristo, a Cabeça da igreja, estava no céu, e lá é o único lugar em que a metrópole do cristianismo deve estar. Jerusalém perseguiu o apóstolo, Roma o aprisionou e martirizou. No entanto, o Senhor estava com Seu servo para o seu próprio bem, para o avanço da verdade, para a bênção da igreja, e para a glória de Seu próprio grandioso nome.

Aqui podemos tomar a permissão para mais uma reflexão. Em quantas histórias, desde a quinta visita de Paulo a Jerusalém, essa cena solene tem sido reproduzida! Quantos santos têm sido amarrados com correntes de diferentes tipos, mas quem pode dizer para quê, ou para quem? Todos nós teríamos dito - se não iluminados pelo Espírito - que o apóstolo não podia ter atuado por um motivo mais digno ao passar por Jerusalém em seu caminho a Roma. Mas o Senhor não havia dito para ele fazer isso. Tudo depende disso. Quão necessário é ver, em cada estágio de nossa jornada, que temos a palavra de Deus para nossa fé, o serviço de Cristo para nossos motivos, e o Espírito Santo para nossa direção. Retornemos agora ao relato dos eventos.

Deixamos Paulo sentado com os anciãos na casa de Tiago. Eles tinham sugerido a ele um modo de conciliar os crentes judeus, e de refutar as acusações de seus inimigos. Deslealdade para com sua nação e com a religião de seus pais era a principal acusação levantada contra ele. Mas sob a superfície dos eventos exteriores, e especialmente tendo a luz das epístolas derramada sobre eles, descobrimos a raiz de toda a questão na inimizade do coração humano contra a graça de Deus. De modo a entender isso, devemos observar que o ministério de Paulo tinha um duplo caráter: (1) Sua missão era pregar o evangelho "a toda criatura debaixo do céu" - não foi apenas além dos limites do judaísmo, como também estava em perfeito contraste com esse sistema; (2) Ele era também o ministro da igreja de Deus, e pregava sua exaltada posição, e seus benditos privilégios, como estando unida a Cristo, o Homem glorificado no Céu. Essas verdades benditas serão vistas erguendo a alma do crente muito acima da religião da carne, sempre tão penosa - sempre tão abundante em ritos e cerimônias. Votos de jejum, festas, ofertas, purificações, tradições e filosofia, são todas excluídas como nada dignas diante de Deus, e opostas à própria natureza do cristianismo. Isto exasperava o judeu religioso com suas tradições, e o grego incircunciso com sua filosofia; e ambos se uniram para perseguir o verdadeiro portador deste duplo testemunho. E assim tem sido sempre. O homem religioso com suas ordenanças, e o homem meramente natural com sua filosofia, por um processo natural, prontamente se uniram em oposição ao testemunho de um cristianismo celestial. Veja Colossenses 1 e 2.

Se Paulo tivesse pregado a circuncisão, a ofensa da cruz teria cessado, pois isto teria dado lugar, e a oportunidade, de ser alguma coisa e fazer alguma coisa, e até mesmo de tomar parte com Deus em Sua religião. Isto era o judaísmo, e isto dava ao judeu sua preeminência. Mas o evangelho da graça de Deus se dirige ao homem como já perdido - como "morto em delitos e pecados" - e não tem mais respeito para com os judeus do que para com os gentios. Assim como o sol no firmamento, ele brilha para todos. Nenhuma nação, tribo, língua ou povo é excluído de seus raios celestiais. "Pregar o evangelho a toda criatura que está debaixo do céu" é a divina comissão e a esfera mais ampla do evangelista; ensinar aqueles que acreditam neste evangelho sua perfeição em Cristo é o privilégio e dever de cada ministro do Novo Testamento.

Tendo assim limpado o terreno quanto aos motivos, objetivos e posição do grande apóstolo, vamos agora traçar brevemente o restante de sua vida agitada. Chegou o tempo em que ele seria levado diante dos reis e governantes, e até mesmo diante do próprio César, por causa do nome do Senhor Jesus.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

O Selo dos Gentios

Observe, então, esse importante fato conectado à introdução dos gentios à igreja - eles recebem o dom/dádiva do Espírito Santo simplesmente por meio da pregação da Palavra. Em Jerusalém, os judeus foram batizados antes de terem recebido o Espírito Santo. Em Samaria, os samaritanos foram não apenas batizados, mas tiveram que passar pela imposição de mãos dos apóstolos com oração, antes de receberem o Espírito Santo. Mas em Cesareia, sem batismo, sem imposição de mãos e sem oração, a mais rica bênção cristã foi dada aos gentios, embora a doutrina da igreja como o corpo de Cristo ainda não ter sido revelada.

A graça de Deus, assim apresentada aos gentios no início da dispensação, a tem caracterizado desde então. Somos gentios: não somos judeus nem samaritanos. Portanto os caminhos de Deus em graça, e Sua ordem de coisas para com os gentios, têm uma aplicação especial para nós. Não há exemplo registrado pelos historiadores inspirados de alguém que tenha sido batizado sem professar fé em Cristo, mas se formos seguir o padrão de coisas em Cesareia, devemos procurar pelo selamento assim como pela vivificação - para a paz com Deus, assim como para a fé em Cristo antes do batismo. O caso de Cornélio se situa justamente no início de nossa dispensação. Foi a primeira expressão de graça endereçada diretamente aos gentios e, certamente, deveria ser um modelo para pregadores e discípulos gentios. Quando a Palavra de Deus que foi, naqueles dias, pregada a Cornélio é, hoje, crida, podemos garantir que teremos os mesmos efeitos, isto é, a paz com Deus..

Pregar, crer, selar, batizar, é a ordem divina das coisas aqui. Deus e Sua Palavra nunca mudam, embora os "tempos mudam", como dizem os homens, assim como as opiniões humanas mudam, e as observâncias religiosas mudam. Mas a Palavra de Deus - nunca. Judeus, gentios e samaritanos professaram fé em Cristo antes de serem batizados. De fato, o batismo presume vida eterna adquirida pela fé, e não transmitida após o ato de batizar, como ensinam os católicos e anglicanos. "A graça e a vida são comunicadas por meio de sacramentos", dizem eles, "e só podem ser efetuadas por esses meios, independente de qualquer exercício de intelecto da parte da pessoa trazida à união. O santo batismo é o meio pelo qual uma vida nova e espiritual é conferida ao receptor." *

{*The Church and the World, páginas 178-188.}

Tais noções - nem precisamos comentar muito - são totalmente contrárias às Escrituras. O batismo não concede nada. A vida é concedida por outros modos, como as Escrituras claramente ensinam. A conversão, ou "nascer de novo", é efetuada, em todos os casos, sem exceção, pelo Espírito Santo. Como lemos em 1 Pedro: "Purificando as vossas almas pelo Espírito na obediência à verdade, para o amor fraternal, não fingido; amai-vos ardentemente uns aos outros com um coração puro. Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre." (1 Pedro 1:22-23). Aqui, a verdade do evangelho é vista como o meio, e o Espírito Santo como o poder, da conversão. Cristo, ou Deus em Cristo, é o novo objetivo da alma. É pelo Espírito e pela verdade de Deus que tal bendita mudança é efetuada. Àqueles que confiam nas águas do batismo como o meio de efetuá-la, sinto-lhes dizer, estão em uma grande e fatal engano.

{* As seguintes breves declarações dos "pais" do quarto século, sobre o assunto do batismo, mostrará aos leitores as fontes, ou autoridades, de muito do que se dizia e fazia naqueles dias pelos ritualistas. Note que a autoridade das Escrituras é totalmente posta de lado: "Na Páscoa, e no Pentecostes, e em alguns lugares na Epifania, o rito do batismo era administrado publicamente - isto é, na presença dos fiéis - a todos os convertidos naquele ano, com exceção de alguns que tiveram a oportunidade de participar da cerimônia sem atraso, ou quando o cristão deixava para fazê-lo apenas próximo ao final de sua vida, como o exemplo de Constantino: uma prática há muito tempo condenada pelo clero. Mas o fato do atraso demonstra quão profundamente a importância e eficácia do rito era enraizada na mente cristã. Significava uma completa purificação da alma. O neófito (novo convertido) emergia das águas do batismo em um estado de perfeita inocência. A pomba - o Espírito Santo - constantemente pairava sobre a fonte, santificando as águas para a misteriosa lavagem de todos os pecados da vida passada. Se a alma não sofresse nenhuma culpa posterior, ela passaria de uma vez por todas para o reino de pureza e felicidade, isto é, o coração seria purificado, com entendimento iluminado e o espírito revestido de imortalidade.

"Vestido em branco, emblemático da pureza imaculada, o candidato se aproximava do batistério - que em igrejas maiores era um edifício separado. Lá, ele proferia os solenes votos de que se comprometeria com sua religião. O gênio simbolizante do Oriente adicionou algumas cerimônias significativas. O catecúmeno (um dos primeiros estágios da instrução cristã) se virava para o Ocidente, o reino de Satanás, e renunciava três vezes ao seu poder. Então se virava para o Oriente para adorar o Sol da Justiça, e para proclamar seu pacto com o Senhor da vida. O místico número três prevalecia em tudo: o voto era triplo, e três vezes pronunciado. O batismo se dava geralmente por imersão. O despir das roupas era emblemático do 'tirar o velho homem', mas o batismo por aspersão era permitido, de acordo com a exigência do caso. A água em si se tornava, na vívida linguagem da igreja, o sangue de Cristo: era comparada, por uma fantasiosa analogia, com o Mar Vermelho. A ousada metáfora de alguns dos 'pais' parece afirmar uma transmutação da cor da água.

"Quase todos os 'pais' dessa era, como Basílio, os dois Gregórios, Ambrósio, etc., tinham escrito tratados sobre o batismo, e rivalizaram, por assim dizer, uns com os outros em seus louvores sobre a importância e eficácia do batismo. Gregório de Nazianzo quase esgota a copiosidade da língua grega ao falar do batismo." - A História do Cristianismo por Milman, vol. 3}

No caso dos gentios em questão aqui, ainda mais que vida era possuída antes do batismo ser administrado. Eles tinham o selo de Deus. O batismo é o sinal da plena libertação e salvação garantidas ao crente pela morte e ressurreição de Cristo. Cornélio tinha vida, era um homem devoto, mas ele deveria ouvir de Pedro as palavras pelas quais ele seria salvo e totalmente liberto. Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento ensinam essa bendita verdade da maneira mais clara possível. Israel, como um povo típico, após ter sido trazido a Deus e protegido pelo sangue do cordeiro no Egito, foi batizado a Moisés na nuvem e no mar. Assim eles foram libertos do Egito e viram a salvação de Jeová. Novamente, Noé e sua família foram salvos através do dilúvio - não por ele. Eles deixaram o velho mundo, passaram através das águas da morte, e pousaram em uma nova condição de coisas. "Como uma verdadeira figura, agora vos salva, o batismo, ... pela ressurreição de Jesus Cristo." (Êxodo 14; 1 Pedro 3:21)

Mas qual era a palavra, alguns poderiam perguntar, que Pedro pregou, e que foi acompanhada de tal notável bênção? Ele pregou paz por Jesus Cristo como o Senhor de tudo. Cristo ressuscitado, exaltado e glorificado foi o grandioso objeto de seu testemunho. Ele o resume com essas palavras: "A este dão testemunho todos os profetas, de que todos os que nele crêem receberão o perdão dos pecados pelo seu nome." (Atos 10:43). Então segue-se a bênção. Os judeus que estavam presentes ficaram atônitos, mas se curvam, e reconhecem a bondade de Deus para com os gentios. "E, dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios. Porque os ouviam falar línguas, e magnificar a Deus. Respondeu, então, Pedro: Pode alguém porventura recusar a água, para que não sejam batizados estes, que também receberam como nós o Espírito Santo? E mandou que fossem batizados em nome do Senhor. Então rogaram-lhe que ficasse com eles por alguns dias." (Atos 10:44-48)

Vamos, agora, refazer um pouco nossos passos e observar alguns dos principais eventos que, por ordem, precedem o capítulo 10.

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