quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

A Condição dos Cristãos Durante o Reinado de Trajano (98-117 d.C.)

Uma vez que a história externa da igreja tenha sido afetada pela vontade de um homem, será portanto necessário observar, embora brevemente, a disposição da paixão pelo governo do príncipe reinante. A condição dos cristãos em todo lugar dependia, em grande parte, daquele que era o mestre do mundo romano, e de certo modo do mundo todo. Ainda assim, Deus estava e está acima de tudo.

Trajano foi um imperador de grande renome. Talvez nunca mais alguém assim tenha se sentado no trono dos Césares. O mundo romano, dizem, alcançou seus mais amplos limites por suas vitórias. Ele fez com que o terror das armas e da disciplina romana fossem sentidas nas fronteiras, como nunca antes tinha sido feito. Ele foi, portanto, um grande general e soberano militar; e, possuindo uma grande e vigorosa mente, ele foi um governante capaz, fazendo Roma florescer sob sua influência. No entanto, na história da igreja, essa personagem aparece em uma luz menos favorável. Ele tinha um preconceito confirmado contra o cristianismo, e sancionou a perseguição aos cristãos. Alguns dizem que ele anelava a extinção desse nome. Esta é a mancha mais profunda que repousa sobre a memória de Trajano.

Mas o cristianismo, apesar dos imperadores romanos, das prisões romanas e das execuções romanas, prosseguiu em sua silente e firme caminhada. Em pouco mais que setenta anos depois da morte de Cristo, o cristianismo tinha feito tão rápidos progressos em alguns lugares que chegavam a ameaçar a queda do paganismo. Os templos pagãos estavam desertos, a adoração aos deuses foi negligenciada, e as vitimas para os sacrifícios eram raramente compradas. Isto naturalmente levantou um clamor popular contra o cristianismo, assim como houve em Éfeso: "E não somente há o perigo de que a nossa profissão caia em descrédito, mas também de que o próprio templo da grande deusa Diana seja estimado em nada." (Atos 19:27). Aqueles cujo sustento dependia da adoração das divindades pagãs lançavam muitas e graves acusações contra os cristãos perante os governantes. Isto aconteceu mais especialmente nas províncias asiáticas onde o cristianismo foi mais prevalente.

Por volta do ano 110, muitos cristãos foram então levados perante o tribunal de Plínio, o Jovem, o governador de Bitínia e Ponto. Mas Plínio, sendo naturalmente um homem sábio, cândido e humano, teve o cuidado de se informar sobre os princípios e práticas dos cristãos. Quando ele descobriu que muitos deles foram condenados à morte, não tendo nada que os condenasse por qualquer crime público, ele ficou imensamente embaraçado. Ele não tinha tomado parte em tais assuntos antes, e nenhuma lei sobre o assunto existia até então. Os decretos de Nero tinham sido repelidos pelo Senado, e aqueles de Domiciano pelo seu sucessor, Nerva. Sob tais circunstâncias, Plínio buscou o conselho de seu mestre, o imperador Trajano. As cartas que eles trocaram, sendo justamente consideradas como os mais valiosos registros da historia da igreja durante aquele período, merece um lugar em nosso livro. Mas podemos apenas transcrever uma parte da celebrada epístola de Plínio, e principalmente aquelas partes que se referem ao caráter dos cristãos, e a extensão do cristianismo.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

O Curto Porém Pacífico Reinado de Nerva

No mesmo dia da morte de Domiciano, Nerva foi escolhido pelo Senado para ser o imperador, em 18 de setembro de 96 d.C. Ele era um homem de reputação irrepreensível. O caráter de seu reinado foi o mais favorável para a paz e prosperidade da igreja de Deus. Os cristãos que tinham sido banidos por Domiciano foram chamados de volta, e recuperaram suas propriedades confiscadas. O apóstolo João retornou de seu banimento na ilha de Patmos, retornando ao seu lugar de serviço entre as igrejas na Ásia. Ele viveu até o reinado de Trajano quando, em idade avançada de cerca de 100 anos, adormeceu em Jesus.

Nerva iniciou seu reinado remediando as injustiças, repelindo os estatutos iníquos, decretando boas leis, e dispensando favores com grande liberalidade. No entanto, sentindo-se inadequado quanto aos deveres de sua posição, adotou Trajano como colega e sucessor ao império, e morreu no ano 98 d.C.

O Cruel Reinado de Domiciano

Domiciano, o irmão mais novo de Tito, ascendeu ao trono em 81 d.C. No entanto, ele tinha um temperamento totalmente diferente de seu pai e de seu irmão. Estes toleravam os cristãos, mas ele os perseguia. Seu caráter era covarde, suspeitoso e cruel. Ele levantou uma perseguição contra os cristãos por causa de um certo temor vago e supersticioso que ele nutria sobre a possível aparição de uma pessoa nascida na Judeia, da família de Davi, e que deveria obter o império do mundo. Domiciano não poupou nem os romanos de nascimento da mais ilustre e alta posição que tinham abraçado o cristianismo. Alguns foram martirizados de imediato, outros foram banidos para serem martirizados no exílio. Sua própria sobrinha, Domitila, e seu primo Flávio Clemente, para quem tinha sido dada em casamento, foram vítimas de sua crueldade por terem abraçado o evangelho de Cristo. Assim vemos que o cristianismo, pelo poder de Deus, apesar de exércitos e imperadores, fogo e espada, estava se espalhando, não apenas entre os de classe média e baixa, mas também entre as classes mais altas.

"Domiciano", diz Eusébio, o pai da história eclesiástica, "tendo exercido sua crueldade contra muitos, e injustamente matando não poucos homens nobres e ilustres de Roma, e tendo, sem causa, punido um vasto número de homens honráveis com o exílio e a confiscação de suas propriedades, por fim estabeleceu a si mesmo como o sucessor de Nero em termos de ódio e hostilidade contra Deus." Ele também seguia Nero ao endeusar a si mesmo. Ele comandou que sua própria estátua fosse adorada como um deus, reviveu a lei da traição, e pôs em temeroso vigor suas terríveis provisões: sob tais circunstâncias, cercado de espiões e informantes, quão terrível deve ter sido essa segunda perseguição aos cristãos!*

{* Veja História Romana, Enciclopédia Britânica, vol. 19, página 406.}

Mas o fim desse tirano fraco, vão e desprezível se aproximava. Ele tinha o hábito de escrever em um rolo os nomes daquelas pessoas que ele destinava à morte, mantendo-o cuidadosamente aos seus próprios cuidados. E, de modo a desviar a atenção de suas futuras vítimas, ele os tratava com a mais lisonjeira atenção. Mas esse rolo fatal foi um dia tomado de debaixo de uma almofada em que ele estava dormindo por uma criança que estava brincando no apartamento, que então o levou à imperatriz. Ela foi atingida com espanto e alarme ao encontrar seu próprio nome na lista negra, juntamente com os nomes de outros que eram aparentemente elevados em seu favor. Assim, a imperatriz comunicou o conhecimento de seu perigo, e não obstante toda a precaução que a covardia e astúcia podia sugerir, ele foi expulso por dois oficiais de sua própria casa.

sábado, 26 de dezembro de 2015

A Queda de Jerusalém (70 d.C.)

A dispersão dos judeus e a total destruição de sua cidade e templo são os próximos eventos a se considerar no restante do primeiro século, embora, estritamente falando, essa terrível catástrofe não faça parte da história da igreja, e sim da história dos judeus. No entanto, pelo fato de ter sido um cumprimento literal da profecia do Salvador, e que afetou de imediato aqueles judeus que eram cristãos, esse evento merece um lugar em nossa história.

Os discípulos, antes da morte e ressurreição de Cristo, eram fortemente judaicos em todos os seus pensamentos e associações. Eles conectavam o Messias ao templo. Seus pensamentos eram de que Ele deveria libertá-los do poder dos romanos, e que todas as profecias sobre a terra, as tribos, a cidade e o templo seriam cumpridas. Mas os judeus rejeitaram o próprio Messias e, consequentemente, todas as suas próprias esperanças e promessas nEle. As palavras iniciais de Mateus 24 são muito significativas e importantes: "E, quando Jesus ia saindo do templo...". O templo estava agora, de fato, vazio aos olhos de Deus. Tudo o que dava valor a Ele ali agora se foi. "Eis que a vossa casa vai ficar-vos deserta" (Mateus 23:38). Ela agora estava pronta para a destruição.

"Aproximaram-se dele os seus discípulos para lhe mostrarem a estrutura do templo." (Mateus 24:1). Eles ainda se ocupavam com a grandeza e glória externas dessas coisas. "Jesus, porém, lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada." (Mateus 24:2). Essas palavras foram literalmente cumpridas pelos romanos cerca de quarenta anos depois de terem sido faladas, e da mesma maneira que o Senhor predisse: "Porque dias virão sobre ti, em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, e te sitiarão, e te estreitarão de todos os lados; e te derrubarão, a ti e aos teus filhos que dentro de ti estiverem, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, pois que não conheceste o tempo da tua visitação." (Lucas 19:43,44)

Depois dos romanos terem experimentados muitas decepções e derrotas na tentativa de abrir uma brecha nas muralhas, por causa da desesperada resistência dos judeus insurgentes e, embora houvesse pouca esperança de tomar a cidade, Tito mesmo assim convocou um conselho de guerra. Dois planos foram discutidos: invadir violentamente a cidade imediatamente; consertar os aparatos militares e reconstruir as máquinas; ou sitiar e induzir a fome na cidade para forçar a rendição. A última foi a preferida, e todo o exército foi colocado para "entrincheirar" toda a cidade. Mas o cerco foi longo e difícil. Durou da primavera até setembro. E durante todo o tempo, as mais sem precedentes misérias de todo tipo foram experimentas pelos sitiados. Mas afinal chegou o fim, quando tanto a cidade quanto o templo estavam nas mãos dos romanos. Tito estava ansioso para tomar o magnificente templo e seus tesouros. Mas, contrários a suas ordens, um soldado, montado nos ombros de um de seus camaradas, ateou fogo em uma pequena porta dourada no pátio exterior. As chamas logo se espalharam. Tito, vendo isto, correu ao lugar o mais rápido que pôde. Ele gritou, fez sinais para seus soldados para que extinguissem o fogo; mas sua voz foi abafada, e seus sinais não foram percebidos em meio à terrível confusão. O esplendor do interior do templo o encheu de admiração e, como as chamas ainda não tinham chegado ao lugar santo, ele fez um último esforço para salvá-lo, exortando os soldados a apagar o incêndio; mas era tarde demais. Chamas ardentes se erguiam por todas as direções, e a feroz excitação da batalha, somada à insaciável esperança de pilhagem, tinha atingido seu ápice. Tito mal sabia que Alguém que era maior que ele tinha dito: "Não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada." (Mateus 24:2). A palavra do Senhor, e não os comandos de Tito, devia ser obedecida. O templo foi realmente arrasado até as fundações, de acordo com a palavra do Senhor.

Para quase todos os aspectos particulares desse terrível cerco, estamos em débito com Josefo, que estava no acampamento romano e próximo da pessoa de Tito naquele tempo. Ele agiu como intérprete quando foram tratados os termos entre Tito e os insurgentes. Os muros e baluartes de Sião pareciam inconquistáveis para os romanos, e Josefo ansiava muito por um tratado de paz. No entanto, os judeus rejeitavam cada proposta, até que os romanos finalmente triunfaram. Ao entrar na cidade, Josefo nos conta que Tito se encheu de admiração pela sua força. De fato, ao contemplar a sólida altitude das torres, a magnitude de várias das pedras, e a precisão de suas junções, e ao ver quão grandes eram sua amplitude e quão vasta sua altura, "Claramente", exclamou Tito, "lutamos com Deus do nosso lado; e foi Deus quem derrubou os judeus daqueles baluartes, pois o que as mãos humanas ou maquinas podiam fazer contra aquelas torres?" Tais foram as confissões do general pagão. Certamente deve ter sido o cerco mais terrível de toda história do mundo registrada.

Os relatos dados por Josefo sobre os sofrimentos dos judeus durante o cerco são horríveis demais para serem transferidos para nossas páginas. Os números que pereceram sob Vespasiano no país, e sob Tito na cidade, no período de 67-70 d.C., por fome, facções internas e pela espada romana, chegou à casa de 1.350.460, além de cem mil vendidos como escravos.* Infelizmente, essas foram as horríveis consequências da incredulidade e desdém aos apelos solenes, ternos e a afetuosos de seu próprio Messias. Podemos imaginar as lágrimas do Redentor derramadas sobre a cidade amada? E podemos imaginar as lágrimas dos pregadores de hoje em dia, enquanto apela a amados pecadores, em vista da vinda e dos juízos eternos? Certamente é de se maravilhar o fato de que tantas lágrimas sejam derramadas por causa de pecadores imprudentes, descuidados e perdidos. Ah, que corações sintam como sentiu o Salvador e que olhas chorem como os dEle!

{* Veja História dos Judeus, de Dean Milman, livro 16, volume 2, página 380.}


Os cristãos, com quem temos mais especialmente que tratar, lembrando-se do aviso do Senhor, em grupo deixaram Jerusalém antes do cerco ser formado. Eles viajaram para Pella, uma vila além do Jordão, onde permaneceram até que Adriano lhes permitiu retornar às ruínas da antiga cidade. E isso nos leva ao fim do primeiro século.

Durante os curtos reinados de Vespasiano e de seu filho Tito, o número de cristãos deve ter crescido consideravelmente. Isto aprendemos, não de algum relato direto que possamos ter sobre a prosperidades deles, mas das circunstâncias incidentais que provam isso, e que vamos conhecer em seguida.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

A Primeira Perseguição sob os Imperadores

Aqui podemos fazer uma breve pausa para contemplar o progresso do cristianismo, e o estado da igreja em Roma nessa época. Muito cedo, e sem o auxílio de qualquer apóstolo, o cristianismo tinha encontrado o seu caminho até Roma. Sem dúvida, deve ter sido primeiramente levado por alguém que tinha se convertido por meio da pregação de Pedro no dia de Pentecostes. Dentre seus ouvintes temos expressamente mencionados "forasteiros romanos, tanto judeus como prosélitos" (Atos 2:10). E Paulo, em sua epístola àquela igreja, dá graças a Deus "porque em todo o mundo é anunciada a vossa fé" (Romanos 1:8). E em suas saudações ele fala de "Andrônico e Júnias", seus parentes e companheiros de prisão, que eram homens que se distinguiam entre os apóstolos e cuja conversão foi anterior à sua própria (Romanos 16:7). Mas grandes maravilhas tinham sido escritas pelo evangelho no decorrer de trinta anos. Os cristãos tinham se tornado um povo marcado, separado e peculiar. Eles eram agora conhecidos como perfeitamente distintos dos judeus, e amargamente negados por eles.

Os trabalhos de Paulo e seus companheiros, durante os dois anos de seu aprisionamento, eram sem dúvida abençoados pelo Senhor para a conversão de muitos; tanto que os cristãos, nesse tempo, não formavam uma comunidade secreta ou inconsiderada, mas uma que era conhecida por ter em seu meio tanto judeus quanto gentios de todas as classes e condições, desde membros da família imperial até escravos fugitivos. No entanto, seu sofrimento presente, como vimos, não era pelo cristianismo que professavam. Eles foram, na verdade, sacrificados por Nero para apaziguar a fúria popular e para se reconciliar com suas divindades ofendidas.

Essa foi a primeira perseguição oficial aos cristãos; e, por algumas de suas características, ela se destaca dentre os anais da barbaridade humana. Uma crueldade inventiva procurava novas formas de tortura para saciar o sanguinário Nero - o imperador mais cruel que já reinou. Os calmos, pacíficos e inofensivos seguidores do Senhor Jesus eram costurados nas peles de feras selvagens e rasgados por cachorros; outros eram envoltos em um tipo de roupa coberta com cera, piche e outros materiais inflamáveis, tendo uma estaca debaixo do queixo para mantê-los na vertical, sendo então incendiados quando chegava a noite, para que servissem de tochas nos jardins públicos, para divertimento dos populares. Nero emprestou seus próprios jardins para tais exibições, dando entretenimento ao povo. Ele tomava parte ativa nos próprios jogos, algumas vezes se misturando à multidão à pé, e às vezes assistindo o horrível espetáculo de sua carruagem. Mas o povo, mesmo acostumado a execuções públicas e espetáculos de gladiadores, começou a se compadecer pelas crueldades sem precedentes infligidas contra os cristãos. Eles começaram a perceber que os cristãos sofriam, não pelo bem público, mas para gratificar a crueldade de um monstro. Contudo, por mais terrível que fosse a morte, ela logo terminaria, e para os cristãos, sem dúvida, seria então o momento mais feliz de sua existência. Muito, mas muito tempo antes que as luzes se apagassem no jardim de Nero, os mártires já tinham chegado ao seu lar e descanso no florescente jardim das eternas delícias de Deus. Esta preciosa verdade aprendemos do que o Salvador disse ao ladrão arrependido na cruz - "Hoje estarás comigo no Paraíso." (Lucas 23:43).

Embora os historiadores não entrem em acordo quanto à extensão ou duração dessa terrível perseguição, há muitas boas razões para crer que ela se espalhou pelo império e durou até o fim da vida do tirano. Ele morreu por sua própria mão na mais absoluta miséria e desespero, em 68 d.C., cerca de quatro anos depois da queimada de Roma, e um ano após o martírio de Pedro e Paulo. Perto do fim de seu reinado, os cristãos eram obrigados, sob as mais pesadas penas, até mesmo de morte, a oferecer sacrifícios ao imperador e aos deuses pagãos. Embora tais decretos estivessem em vigor, a perseguição deve ter continuado.

Após a morte de Nero, a perseguição cessou, e os seguidores de Jesus desfrutaram de relativa paz até o reinado de Domiciano, um imperador que ficava só um pouco atrás de Nero em termos de maldade. Mas enquanto isso, devemos mudar de assunto por um momento e tomar nota do cumprimento de um dos avisos mais solenes do Senhor: a queda de Jerusalém.

O Incêndio de Roma

Capítulo 7: Roma e Seus Governantes (64 d.C. - 177 d.C.)

 

Como nossos dois grandes apóstolos, Pedro e Paulo, sofreram o martírio durante a primeira perseguição imperial, pode ser interessante para muitos de nossos leitores saber algo sobre os elementos particulares que conduziram a esse edito cruel.

Mas aqui, embora relutantemente, devemos trocar a certeza da Palavra de Deus pelos escritos incertos dos homens. Passamos, neste momento, do firme e sólido solo da inspiração para o solo inseguro dos historiadores romanos e da historia eclesiástica. No entanto, todos os historiadores, tanto antigos quanto modernos, pagãos e cristãos, concordam quanto aos principais fatos sobre o incêndio em Roma, e sobre a perseguição aos cristãos.

No mês de julho do ano de 64 d.C. um grande incêndio irrompeu no Circo Máximo, e continuou a se espalhar até que deixou em ruínas toda a antiga grandeza da cidade imperial. As chamas se estenderam com grande rapidez, e sendo Roma uma cidade de ruas longas e estreitas, e de montes e vales, e tendo o vento ajudado o fogo a se alastrar, logo se tornou um caos generalizado. Em pouco tempo a cidade inteira parecia envolta em um mar de chamas ardentes.

Tácito, um historiador romano daqueles dias, e considerado um dos mais precisos de sua época, nos conta: "Das quatorze áreas nas quais Roma era dividida, apenas quatro permaneceram inteiras, três foram reduzidas a cinzas, e dos sete restantes restou nada mais que um monte de casas destroçadas em meio às ruínas." O fogo se alastrou furiosamente por seis dias e sete noites. Palácios, templos, monumentos, as mansões dos ricos e as habitações dos pobres pereceram nesse fogo fatal. Mas isso não era nada comparado aos sofrimentos dos habitantes. As doenças da idade, a fraqueza dos jovens, o desamparo dos doentes, os pavorosos gritos de lamentação das mulheres: tudo se somava à miséria desta cena terrível. Alguns se esforçaram para prover para si mesmos, outros para salvar seus amigos, mas nenhum lugar de segurança podia ser encontrado. Para qual caminho se virar, ou que caminho tomar, ninguém podia dizer. O fogo se alastrava por todos os lados, de modo que um grande número de pessoas caíam prostradas nas ruas, lançando-se a uma morte voluntária, e pereciam nas chamas.

A questão importante, quanto à origem do fogo, era agora discutida em todos os lugares. Quase todos acreditavam que a cidade foi queimada por incendiários, e por ordens do próprio Nero. Era certo que um número de homens foram vistos estendendo as chamas em vez de extingui-las, afirmando ousadamente que eles tinham autoridade para fazê-lo. Foi também geralmente relatado que, enquanto Roma estava em chamas, o desumano monstro Nero permaneceu em uma torre de onde podia assistir o progresso do incêndio, divertindo-se tocando "A Queda de Troia" em sua lira favorita.

Muitos de nossos leitores, sem dúvidas, devem estar se perguntando qual poderia ser o objetivo de Nero ao incendiar a maior parte de Roma. O objetivo, acreditamos, era de poder reconstruir a cidade em uma escala de maior magnificência, para então chamá-la com seu próprio nome. E ele tentou fazer isso imediatamente de maneira grandiosa. Mas tudo o que ele fez não conseguiu restabelecer-lhe o favor popular, ou remover a infame acusação de ter incendiado a cidade. E quando toda a esperança de obter o favor, tanto das pessoas quanto dos deuses, se acabou, ele partiu para o plano de passar a culpa que tinha para outros. Ele sabia bem da impopularidade dos cristãos, tanto com os judeus quanto com os pagãos, para decidir fazer deles seu bode expiatório. Um rumor logo se espalhou de que os incendiários tinham sido descobertos, e que os cristãos eram os criminosos. Muitos foram imediatamente presos para que pudessem ser levados à uma punição à altura, e para satisfazer a indignação popular. Chegamos então à primeira perseguição sob os imperadores.

domingo, 20 de dezembro de 2015

Tabela Cronológica da Vida de Paulo

Ano 36 - Conversão de Saulo de Tarso (Atos 9).

Anos 36-39 - Em Damasco; prega na sinagoga; vai à Arábia; retorna a Damasco; foge de Damasco. Sua primeira visita a Jerusalém, três anos depois de sua conversão. Dali parte para Tarso (Atos 9:23-26; Gálatas 1:18).

Anos 39,40 - Paz nas igrejas judias (Atos 9:31).

Anos 40-43 - Paulo prega o evangelho na Síria e Cilícia (Gálatas 1:21). Um período de duração incerta. Durante este tempo ele provavelmente sofre a parte principal dos perigos e sofrimentos aos quais se refere ao escrever aos coríntios (2 Coríntios 11). Ele é trazido de Tarso para a Antioquia por Barnabé, e fica ali um ano antes da fome (Atos 11:26).

Ano 44 - A segunda visita de Paulo a Jerusalém, com a coleta (Atos 11:30).

Ano 45 - O retorno de Paulo à Antioquia (Atos 12:25).

Anos 46-49 - A primeira viagem missionária de Paulo com Barnabé; vai para o Chipre, Antioquia na Pisídia, Icônio, Listra, Derbe, e de volta pelo mesmo caminho até a Antioquia. Ele fica por um longo tempo na Antioquia. Dissensões e disputas sobre a circuncisão (Atos 13; 14; 15:1,2).

Ano 50 - A terceira visita de Paulo a Jerusalém com Barnabé, quatorze anos depois de sua conversão (Gálatas 2:1). Eles participam do concílio em Jerusalém (Atos 15). Retorno de Paulo e Barnabé à Antioquia, com Judas e Silas (Atos 15:32-35).

Ano 51 - A segunda viagem missionária de Paulo com Silas e Timóteo. Ele parte da Antioquia para a Síria, Cilícia, Derbe, Listra, Frígia, Galácia e Trôade. Lucas se une ao grupo apostólico (Atos 16:10).

Ano 52 - Entrada do evangelho na Europa (Atos 16:11-13). Paulo visita Filipos, Tessalônica, Bereia, Atenas e Corinto. Passa um ano e seis meses em Corinto (Atos 18:11). A Primeira Epístola aos Tessalonicenses é escrita.

Ano 53 - A Segunda Epístola aos Tessalonicenses é escrita. Paulo deixa Corinto e navega até Éfeso (Atos 18:18,19).

Ano 54 - A quarta visita de Paulo a Jerusalém para as festas. Retorna à Antioquia.

Anos 54-56 - A terceira viajem missionária de Paulo. Ele parte da Antioquia - visita a Galácia, Frígia, e chega a Éfeso, onde fica por dois anos e três meses. Aqui Paulo separa os discípulos da sinagoga judaica (Atos 19:8,10). A Epístola aos Gálatas é escrita.

Ano 57 - (Primavera) A Primeira Epístola aos Coríntios é escrita. O tumulto em Éfeso; Paulo parte para a Macedônia (Atos 19:23; 20:1). (Outono) A Segunda Epístola aos Coríntios é escrita (2 Coríntios 1:8; 2:13,14; 7:5; 8:1; 9:1). Paulo visita a região do Ilírico; vai a Corinto; passa o inverno ali (Romanos 15:19; 1 Coríntios 16:6).

Ano 58 - (Primavera) A Epístola aos Romanos é escrita (Romanos 15:25-28; 16:21-23; Atos 20:4). Paulo deixa Corinto; passa pela Macedônia; navega a partir de Filipos; prega em Trôade; faz um discurso aos anciãos em Mileto; visita Tiro e Cesareia (Atos 20; 21:1-14).

Anos 58-60 - A quinta visita de Paulo a Jerusalém antes do Pentecostes. Ele é preso no Templo; levado perante Ananias e o Sinédrio; enviado por Lísias a Cesareia, onde é mantido em prisão por dois anos.

Ano 60 - Paulo é ouvido por Félix e Festo. Ele apela para César; prega diante de Agripa e Berenice, e aos homens de Cesareia. (Outono) Paulo parte de navio para a Itália. (Inverno) Naufrágio em Malta (Atos 27).

Ano 61 - (Primavera) Chega em Roma; habita por dois anos em sua própria casa alugada.

Ano 62 - (Primavera) As Epístolas a Filemom, aos Colossenses e aos Efésios são escritas. (Outono) A Epístola aos Filipenses é escrita.

Ano 63 - (Primavera) Absolvição e libertação de Paulo. A Epístola aos Hebreus é escrita. Paulo parte para uma nova viajem, pretendendo visitar a Ásia Menor e a Grécia (Filemom 22; Filipenses 2:24).

Ano 64 - Visita Creta e deixa Tito ali; exorta Timóteo a permanecer em Éfeso. A Primeira Epístola a Timóteo é escrita. A Epístola a Tito é escrita.

Anos 64-67 - Pretende invernar em Nicópolis (Tito 3:12). Visita Trôade, Corinto e Mileto (2 Timóteo 4:13-20). Paulo é preso e enviado a Roma. Abandonado e solitário, tendo apenas Lucas, dentre seus velhos associados, com ele. A Segundo Epístola a Timóteo é escrita, provavelmente não muito tempo antes de sua morte. Geralmente supõe-se que essas viagens e eventos cobrem um período de mais ou menos três anos.

Ano 67 - O martírio de Paulo.

O Martírio de Paulo

Embora não tenhamos registro do segundo estágio de seu julgamento, temos motivos para acreditar que se sucedeu pouco tempo depois do primeiro, e que terminou em sua condenação e morte. Mas a Segunda Epístola a Timóteo é o divino registro do que estava se passando em sua mente profundamente exercitada nesse solene momento. Sua profunda preocupação pela verdade e pela igreja de Deus; seu comovente carinho para com os santos, e especialmente para com seu amado filho Timóteo; sua triunfante esperança frente ao imediato prospecto do martírio; tudo isso só pode ser dito em suas próprias palavras: "Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda." (2 Timóteo 4:6-8)

O tribunal de Nero aqui desaparece de sua vista. A morte em sua forma mais violenta não exerce nele terror. Cristo em glória é o objeto de seus olhos e de seu coração - a fonte de sua alegria e de sua força. Sua obra foi concluída, e as fadigas de seu amor se cumpriram. Embora prisioneiro e pobre - embora velho e rejeitado - ele era rico em Deus, ele possuía Cristo, e nEle todas as coisas. O Jesus que ele tinha visto em glória no início de sua jornada, e que o tinha feito passar por todas as provas e trabalhos pelo evangelho, era agora sua posse e sua coroa. O injusto tribunal de Nero, e a espada manchada de sangue do carrasco, eram para Paulo apenas mensageiros da paz, que tinham vindo fechar seu longo e cansativo caminho, e introduzi-lo na presença de Jesus em glória. A hora tinha agora chegado em que Jesus, que o amava, o levaria para Si mesmo. Ele tinha lutado o bom combate do evangelho até o fim; ele tinha terminado seu curso, e agora só lhe faltava ser coroado, quando o Senhor, o justo Juiz, aparecer em glória.
“Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores
Por aquele que nos amou.
Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida
Nem os anjos, nem os principados, nem as potestades
Nem o presente, nem o porvir
Nem a altura, nem a profundidade
Nem alguma outra criatura
Nos poderá separar do amor de Deus
Que está em Cristo Jesus nosso Senhor.”
Temos simultâneos testemunhos da antiguidade de que Paulo sofreu martírio durante a perseguição de Nero, e muito provavelmente em 67 d.C. Como cidadão romano, ele foi decapitado em lugar de ser flagelado e crucificado ou exposto a torturas terríveis que então tinham sido inventadas para os cristãos. Como seu Mestre, ele sofreu "fora da porta" (Hebreus 13:12). Há um local na Via Ostia, mais ou menos duas milhas para além dos muros da cidade, onde supõe-se que seu martírio aconteceu. Ali o último ato da crueldade humana foi executado, e o grande apóstolo finalmente estava "fora do corpo, e habitando com o Senhor." (2 Coríntios 5:8). Seu espírito fervente e feliz foi libertado desse frágil e sofrível corpo, e o desejo há muito acalentado de seu coração foi cumprido - "partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor." (Filipenses 1:23)

O Segundo Aprisionamento de Paulo em Roma

Alguns supõem que o apóstolo tenha sido preso em Nicópolis (onde ele pretendia passar o inverno) e dali levado prisioneiro a Roma. Outros supõem que, após invernar em Nicópolis e visitar os lugares mencionados anteriormente, ele retornou a Roma em um estado de liberdade pessoal, mas foi preso durante a perseguição de Nero e lançado na prisão.

Quanto à acusação exata que agora era feita contra o apóstolo, e pela qual ele foi preso, não temos meios de verificar com certeza. Pode ter sido simplesmente a acusação por ser um cristão. A perseguição generalizada contra os cristãos agora se enfurecia com maior severidade. Não se tratava mais sobre certas questões da lei, e ele não estava mais sob os cuidados suaves e humanos de Burrus: ele agora era tratado como um malfeitor - como um criminoso comum: "Por isso sofro trabalhos e até prisões, como um malfeitor" (2 Timóteo 2:9) - e muito diferente das cadeias de seu primeiro aprisionamento, quando ele morava em sua própria casa alugada.

Alexandre - que acreditamos ser de Éfeso -  evidentemente tinha algo a ver com sua prisão. Ou ele foi um de seus acusadores ou, ao menos, uma testemunha contra ele. "Alexandre, o latoeiro", ele escreve a Timóteo, "causou-me muitos males" ["exibiu muito mal de espírito contra mim"] (2 Timóteo 4:14) . Dez anos antes disso, ele tinha estado à frente como um antagonista aberto do apóstolo em Éfeso (Atos 19). Ele pode agora ter procurado vingança colocando informação contra o apóstolo perante o prefeito. O fato de ser o mesmo Alexandre de Éfeso parece claro considerando o que ele escreve a Timóteo: "Tu, guarda-te também dele, porque resistiu muito às nossas palavras." (2 Timóteo 4:15)

Durante a primeira e extensa prisão de Paulo, ele estava cercado por muitos de seus mais velhos e valorados companheiros, a quem ele chama de "cooperadores" e "prisioneiros comigo". Por meio destes, seus mensageiros, embora acorrentado e preso em um único local, ele continuou em constante relação com seus amigos por todo o império, e com as igrejas dos gentios que ainda nem tinham visto sua face. Mas seu segundo aprisionamento estava em perfeito contraste com tudo isso. Ele estava longe de todos os seus companheiros de costume. Erasto ficou em Corinto, Trófimo foi deixado doente em Mileto, Tito tinha ido à Dalmácia, Crescente à Galácia, Tíquico tinha sido enviado a Éfeso, e Demas o tinha abandonado, "amando o presente século" (2 Timóteo 4:10).

O apóstolo estava agora quase que inteiramente sozinho. "Só Lucas está comigo", diz ele (2 Timóteo 4:11). Mas o Senhor pensava em Seu solitário e abandonado servo. Um feixe luminoso, a partir da fonte de amor, brilha em meio à escuridão e melancolia de sua prisão. Havia alguém fiel em meio à deserção geral, e alguém que não se envergonhava das cadeias do apóstolo. Quão peculiarmente doce e refrescante para o coração do apóstolo deve ter sido o ministério de Onesíforo naquele tempo! Nunca poderá ser esquecido. Onesíforo e sua casa - que Paulo relaciona consigo mesmo - serão guardados em memória eterna, e deverão colher o fruto de sua coragem e devoção ao apóstolo para sempre e sempre. "Estive na prisão, e foste me ver." (leia Mateus 25:31-46).

No que diz respeito às circunstâncias do julgamento de Paulo, não temos informação certa. Muito provavelmente, na primavera de 66 ou 67 d.C., Nero tomou seu lugar no tribunal, cercado por seus jurados e a guarda imperial, e Paulo foi levado à corte. Temos razões para acreditar que o espaçoso lugar se encheu de uma multidão promíscua de judeus e gentios. O apóstolo estava mais uma vez diante do mundo. Ele tinha novamente a oportunidade de proclamar a todas a nações aquilo pelo qual ele tinha sido feito prisioneiro - "e todos os gentios a ouvissem." (2 Timóteo 4:17). Imperadores e senadores, príncipes e nobres, e todos os grandes da terra, deveriam ouvir o evangelho da graça de Deus. Tudo o que o inimigo tinha feito se torna um testemunho ao nome de Jesus. Aqueles que antes eram inacessíveis ouvem o evangelho pregado com poder do alto.

Seria bastante proveitoso nos demorarmos nessa maravilhosa cena por alguns momentos. Nunca antes houve tal testemunho no pretório de Nero. A sabedoria de Deus em tornar todos os esforços do inimigo em tal testemunho é a mais profunda, enquanto Seu amor e graça no evangelho brilha inefável e igualmente para todas as classes. O próprio apóstolo comanda nossa devota admiração. Embora nesse momento seu coração estivesse quebrado pela infidelidade da igreja, ele permaneceu forte no Senhor e na força do Seu poder. Ele tinha uma oportunidade de falar de Jesus, de Sua morte e ressurreição, de modo que a multidão pagã pudesse ouvir o evangelho. Sua idade, suas fraquezas, sua forma venerável, seu braço agrilhoado, tudo isso tendia a aprofundar a impressão de sua eloquência viril e direta. Mas, felizmente, temos um relato, de sua própria pena, da primeira audiência de sua defesa. Ele escreve assim a Timóteo, imediatamente após o evento: "Ninguém me assistiu na minha primeira defesa, antes todos me desampararam. Que isto lhes não seja imputado. Mas o Senhor assistiu-me e fortaleceu-me, para que por mim fosse cumprida a pregação, e todos os gentios a ouvissem; e fiquei livre da boca do leão." (2 Timóteo 4:16,17)
"Observe agora, e veja o santo escolhido de Cristo
Em triunfo usar cadeias como seu Senhor;
Nenhum temor irá desviá-lo ou abatê-lo
Sua vida é Cristo, sua morte é lucro.”

Os Lugares Visitados por Paulo Durante sua Liberdade

Tendo conhecido essas diferentes teorias para examinação própria por parte do leitor, vamos tomar nota dos lugares visitados por Paulo mencionados nas Epístolas.

1. Algum tempo depois de ter deixado Roma, Paulo e seus companheiros devem ter visitado a Ásia Menor e a Grécia. "Como te roguei, quando parti para a macedônia, que ficasses em Éfeso, para advertires a alguns, que não ensinem outra doutrina." (1 Timóteo 1:3). Sentindo-se, talvez, um pouco ansioso por seu filho Timóteo e pelo peso das responsabilidades de sua posição em Éfeso, ele envia uma carta de encorajamento, conforto e autoridade, enquanto estava ainda na Macedônia - A Primeira Epístola a Timóteo.

2. Algum tempo depois, Paulo visitou a ilha de Creta em companhia de Tito, e o deixou lá. Ele também, algum tempo depois, envia a ele uma carta de instrução e autoridade, a Epístola a Tito. Timóteo e Tito podem ser considerados como delegados ou representantes do apóstolo. "Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam, e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros, como já te mandei." (Tito 1:5)

3. Paulo pretendia passar o inverno em um lugar chamado Nicópolis: "Quando te enviar Ártemas, ou Tíquico, procura vir ter comigo a Nicópolis; porque deliberei invernar ali." (Tito 3:12)

4. Ele visitou Trôade, Corinto e Mileto. "Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos... Erasto ficou em Corinto, e deixei Trófimo doente em Mileto." (2 Timóteo 4:13,20)

A Partida de Paulo da Itália

1. Ao escrever aos Romanos, antes de seu aprisionamento, Paulo expressou sua intenção de passar por Roma até a Espanha. "Quando partir para Espanha", diz ele, "irei ter convosco". E novamente: "Assim que, concluído isto, e havendo-lhes consignado este fruto, de lá, passando por vós, irei à Espanha." (Romanos 15:24,28). Alguns pensam que ele tenha ido à Espanha imediatamente após sua libertação. A principal evidência apresentada em favor dessa hipótese é suprida por Clemente, um cooperador mencionado em Filipenses 4:3, que dizem que mais tarde era reconhecido como um bispo de Roma. O escritor fala de Paulo ter pregado o evangelho do leste a oeste: que ele tinha instruído o mundo todo (se referindo, sem dúvidas, ao Império Romano), e que ele tinha ido ao mais extremo oeste - ou seja, até a região da Espanha. Como Clemente foi um dos próprios discípulos e cooperadores de Paulo, seu testemunho é digno de nosso respeito. Ainda assim, não está nas Escrituras, e portanto não pode ser considerado conclusivo.

2. Pelas cartas mais recentes de Paulo, ele parece ter alterado seus planos e desistido da ideia de ir à Espanha, pelo menos por um tempo. Podemos tirar isso principalmente das Epístolas a Filemom e aos Filipenses. Ao primeiro ele escreve: "E juntamente prepara-me também pousada, porque espero que pelas vossas orações vos hei de ser concedido." (Filemom 1:22). Aqui ele pede a Filemom que espere pois iria em breve ter com ele em pessoa. Aos filipenses ele escreve, e falando de Timóteo acrescenta: "De sorte que espero vo-lo enviar logo que tenha provido a meus negócios. Mas confio no Senhor, que também eu mesmo em breve irei ter convosco.". E novamente, "E espero no Senhor Jesus que em breve vos mandarei Timóteo, para que também eu esteja de bom ânimo, sabendo dos vossos negócios." (Filipenses 2:19,23,24). Os movimentos pretendidos do apóstolo e de seu amado Timóteo parecem muito claros nessas passagens. Era evidentemente o propósito do apóstolo enviar Timóteo a Filipos assim que o julgamento terminasse, e ficar na Itália até que Timóteo retornasse com um relatório sobre a condição deles.

3. Pode-se razoavelmente esperar que Paulo tenha cumprido a intenção que ele havia expressado tão recentemente, de visitar as igrejas na Ásia Menor, algumas das quais ainda nem mesmo tinha conhecido. Tendo cumprido os objetivos de sua missão à Ásia Menor, alguns pensam que, depois disso, ele deve ter empreendido sua viagem à Espanha, mas sobre isso não temos informação confiável, e a mera conjectura não tem valor.

4. Outra teoria é que ele tenha ido da Itália para a Judeia, e daí para a Antioquia, Ásia Menor e Grécia. Este esquema se baseia principalmente em Hebreus 13:23,24. "Sabei que já está solto o irmão Timóteo, com o qual, se ele vier depressa, vos verei... Os da Itália vos saúdam." É também suposto que, enquanto ele estava esperando em Potéoli para a embarcação, imediatamente após o retorno de Timóteo, notícias chegaram ao apóstolo de que uma grande perseguição se erguia contra os cristãos em Jerusalém. Esse conhecimento tão triste encheu tanto o coração de Paulo com tristeza que ele escreveu sua famosa carta a eles - a Epístola aos Hebreus. Pouco tempo depois Timóteo teria chegado, e então Paulo e seus companheiros partiram para a Judeia. *

(* Para pormenores sobre a perseguição veja Josefo, Ant. 20, 9, 1.)

sábado, 12 de dezembro de 2015

A Absolvição e Libertação de Paulo

Depois de quatro anos cheios em prisão, parte na Judeia e parte em Roma, o apóstolo está novamente em liberdade. No entanto, não temos detalhes particulares quanto ao caráter de seu julgamento, ou quanto aos motivos de sua absolvição. O historiador sagrado nos conta que ele ficou por dois anos inteiros em sua própria casa alugada, mas ele não diz o que se seguiu ao final desse período. Teria se seguido a condenação e morte do apóstolo, ou sua absolvição e liberação? Esta é a questão, e a única resposta certa para ela deve ser retirada principalmente das Epístolas Pastorais. A Primeira a Timóteo e a Epístola a Tito parecem ter sido escritas na mesma época; e a Segunda a Timóteo algum tempo depois.

É admitido, cremos, por quase todos os que são competentes para decidir sobre tal questão, que Paulo foi absolvido, e que ele passou alguns anos em viagem, em perfeita liberdade, antes de ser novamente preso e condenado. E, embora seja difícil traçar os passos do apóstolo durante esse período, ainda assim podemos tirar algumas conclusões pelas suas cartas, sem invadir o domínio da conjectura. Muito provavelmente ele viajou rapidamente e visitou muitos lugares. Durante o prolongado período de seu aprisionamento, muito mal tinha sido feito pelos seus inimigos nas igrejas que foram plantadas por meio dele. Elas precisavam de sua presença, seu conselho e seu encorajamento. E pelo que conhecemos quanto à sua energia e zelo, podemos ter certeza de que nenhum trabalho seria poupado para visitá-las.

Epístolas que foram Escritas por Paulo Durante seu Aprisionamento

Não pode haver dúvida de que a Epístola a Filemom, aos Colossenses, aos Efésios e aos Filipenses foram escritas por volta dos últimos tempos de Paulo como prisioneiro em Roma. Ele se refere a suas "prisões" em todas essas cartas, e fala repetidamente sobre a expectativa de sua libertação (Compare Filemom 1:22; Colossenses 4:18; Efésios 3:1; 4:1; 6:20; Filipenses 1:7, 25; 2:24; 4:22). Além disso, ele deve ter estado por tempo o bastante em Roma para que as novidades sobre sua prisão chegassem aos afetuosos filipenses, e para que eles tivessem lhe enviado refrigério.

As três primeiras parecem ter sido escritas algum tempo antes da Epístola aos Filipenses. Paulo fala sobre um assunto urgente o qual teve de ser resolvido em sua epístola a eles: "De sorte que espero vo-lo enviar logo que tenha provido a meus negócios. Mas confio no Senhor, que também eu mesmo em breve irei ter convosco." (Filipenses 2:23,24). As três primeiras podem ter sido escritas por volta da primavera do ano 62 d.C., e enviadas por Tíquico e Onésimo; a última, no outono e enviada por Epafrodito.

Supõe-se também que a Epístola aos Hebreus tenha sido escrita por essa época, e cada justa consideração leva à conclusão de que Paulo foi o escritor. A expressão ao final da epístola "os da Itália vos saúdam" parecem decisivas quanto a onde o escritor estava quando a escreveu.  E as seguintes passagens parecem ser decisivas quanto à época: "Sabei que já está solto o irmão Timóteo, com o qual, se ele vier depressa, vos verei." (Hebreus 13:23,24). Compare isto com o que Paulo escreveu aos filipenses: "E espero no Senhor Jesus que em breve vos mandarei Timóteo... logo que tenha provido a meus negócios. Mas confio no Senhor, que também eu mesmo em breve irei ter convosco." (Filipenses 2:19,23,24). É difícil duvidar que essas passagens não tenham sido escritas pela mesma caneta por volta da mesma época, e que se referem aos mesmo movimentos pretendidos. Mas não iremos insistir nesse ponto. Uma coisa, no entanto, é evidente - que a epístola foi escrita antes da destruição de Jerusalém em 70 d.C., pois o templo ainda estava de pé, e a adoração no templo continuava inalterada. Compare Hebreus 8:4; 9:25; 10:11; 13:10-13.

O Escravo Foragido, Onésimo

De todos os convertidos que o Senhor deu ao apóstolo estando preso, nenhum deles parece ter ganho tão inteiramente seu coração como o pobre escravo fugitivo, Onésimo. Uma bela imagem de força, humildade e ternura do divino amor no coração que trabalha pelo Espírito, e docemente brilha em todos os detalhes da vida individual! O sucesso do apóstolo no palácio imperial não enfraquece seu interesse em um jovem discípulo da mais baixa condição da sociedade. Nenhuma porção da comunidade era mais depravada do que os escravos. Mas quem se associaria a um escravo fugitivo naquela devassa cidade? Mesmo assim, a partir destas profundezas, Onésimo é tirado pelas mãos invisíveis do amor eterno. Ele cruza o caminho do apóstolo, ouve-o pregar o evangelho, é convertido, dedica-se de uma vez por todas ao Senhor e a Seu serviço, e encontra em Paulo um amigo e irmão, assim como um líder e mestre. E agora resplandecem as virtudes e o valor do cristianismo, e as mais doces aplicações da graça de Deus para com um escravo pobre, sem amigos, destituído e foragido.

"O que é o cristianismo?", podemos perguntar, e qual sua origem, em vista de tais novidades em Roma. O que é o cristianismo no mundo? Será que foi aos pés de Gamaliel que Paulo aprendeu a amar assim? Não, querido leitor. Foi aos pés de Jesus. Que bom seria se o eloquente historiador de "O Declínio e a Queda do Império Romano" tivesse entrado nesta cena e aprendido o valor do cristianismo divino, em vez de ter se delongado em ridicularizá-lo com desdém! Se pensarmos por um momento nos trabalhos do apóstolo nesse tempo - sua idade - suas fraquezas - suas circunstâncias (para não falar dos assuntos elevados, e das imensas verdades fundamentais que então ocupavam sua mente) - podemos muito bem admirar a graça que podia entrar em cada detalhe do relacionamento de mestre e escravo, e isto com tal delicada consideração por cada pedido. A carta que ele enviou, com Onésimo, ao seu injuriado mestre Filemom, é claramente a mais tocante já escrita. Lendo-a por alto, perderemos o calor e seriedade de suas afeições, a delicadeza e equidade de seus pensamentos, ou a sublime dignidade que permeia por toda a epístola.

Vamos agora ponderar por um momento sobre as epístolas escritas durante sua prisão.

sábado, 5 de dezembro de 2015

A Ocupação de Paulo Durante Sua Prisão

Embora um prisioneiro, ele foi autorizado a manter livre relação com seus amigos, e foi então cercado de muitos de seus mais antigos e fiéis companheiros. Das Epístolas aprendemos que Lucas, Timóteo, Tíquico, Epafras, Aristarco e outros estavam com o apóstolo durante esse tempo. Ainda assim, devemos nos lembrar que ele estava, como prisioneiro, preso em cadeias a um soldado e exposto ao rude controle de tal. Devido ao longo atraso de seu julgamento, ele permaneceu nessa condição por dois anos, durante o qual ele pregou o evangelho e abriu as escrituras às congregações que vinham ouvi-lo. Ele também escreveu várias epístolas para as igrejas em lugares distantes.

Tendo plena e fielmente cumprido o dever que tinha para com os judeus, o povo favorecido de Deus, ele agora se dirige aos gentios, embora não deixasse totalmente de lado os judeus. Sua porta estava aberta de manhã até a noite para todos que quisessem vir e ouvir as grandes verdades do cristianismo. E, em alguns aspectos, ele nunca teve oportunidade melhor, uma vez que, sob proteção dos romanos, os judeus não tinham permissão para incomodá-lo.

Os efeitos da pregação de Paulo através da bênção do Senhor logo foram manifestos. Os guardas romanos, a família de César, e pessoas de "todos os demais lugares" foram abençoados através dele. "E quero, irmãos, que saibais", escreve ele aos filipenses, "que as coisas que me aconteceram contribuíram para maior proveito do evangelho; de maneira que as minhas prisões em Cristo foram manifestas por toda a guarda pretoriana, e por todos os demais lugares". E depois, o apóstolo diz: "Todos os santos vos saúdam, mas principalmente os que são da casa de César." (Filipenses 1:12,13; 4:22). A bênção parece ter sido primeiramente manifesta ao pretório, ou entre os guardas pretorianos. "As minhas prisões em Cristo foram manifestas por toda a guarda pretoriana", isto é, no alojamento dos guardas e tropas. O evangelho da glória que Paulo pregava foi ouvido por todos eles. Até mesmo o gentil prefeito romano Burrus, com seu amigo íntimo Sêneca, tutor de Nero, pode ter ouvido o evangelho da graça de Deus. Os modos corteses de Paulo, e suas grandes habilidades, tanto naturais quanto adquiridas, eram bem adequadas para atrair tanto o estadista quanto o filósofo. Sua estadia ali por dois anos lhe trouxe muitas oportunidades.

Ele deve ter ficado conhecido, podemos dizer, entre quase todos os guardas. Com cada mudança de guarda, a porta para o evangelho se abria cada vez mais. Estando constantemente preso a um dos soldados como sentinela, e sendo tal sentinela constantemente substituído, ele então se familiarizou com muitos; e com que amor, fervor e ardente eloquência ele deve ter falado com eles sobre Jesus e sobre a necessidade que tinham dEle! Mas devemos esperar até a manhã da primeira ressurreição para vermos os resultados da pregação de Paulo naquele lugar. O dia o declarará, e Deus terá toda a glória.

O apóstolo também nos faz saber que o evangelho tinha penetrado no próprio palácio. Havia santos na casa de César. O cristianismo foi plantado dentro das paredes imperiais, "e por todos os demais lugares". Sim, "por todos os demais lugares", disse o historiador sagrado. Não apenas Paulo estava trabalhando dentro dos recintos imperiais, como também seus companheiros, a quem ele chama de "cooperadores", estavam sem dúvidas pregando o evangelho "por todos os demais lugares", dentro e fora da cidade imperial, de modo que o sucesso do evangelho pudesse ser atribuído aos esforços de outros, assim como aos incansáveis esforços do grande apóstolo em seu cativeiro.

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