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domingo, 1 de novembro de 2020

A Detenção e Prisão de Jerônimo

A notícia da prisão de Hus afetou muito seu amigo e colega de trabalho, Jerônimo de Praga. Ele o seguiu até o concílio; mas sendo avisado por Hus de que corria perigo, e descobrindo que um salvo-conduto não poderia ser obtido, ele partiu para a Boêmia; mas ele foi preso e trazido de volta para Constança acorrentado. Imediatamente após sua prisão, e carregado com muitas correntes, ele foi examinado perante uma congregação geral do concílio. Havia muitos para acusá-lo e insultá-lo; entre eles estava o famoso Gerson de Paris. Mas o prisioneiro declarou firmemente que estava disposto a dar sua vida em defesa do evangelho que pregara. No final do dia, ele foi detido até que o caso de Hus fosse resolvido e entregue aos cuidados do arcebispo de Rigo. Este monstro cruel de um sacerdote o tratou com grande barbárie. Jerônimo era um mestre em teologia, embora um leigo, no sentido de não ser clérigo, e um homem de reconhecida piedade, erudição e eloquência. O corpo deste cavalheiro cristão católico, que ocupava uma posição de destaque nos círculos mais elevados da Boêmia, foi preso a uma viga alta e vertical, com os braços amarrados atrás da cabeça curvada e os pés amarrados. Vários meses de confinamento fatigado, acorrentado nas trevas com uma dieta pobre, e ninguém para confortá-lo ou fortalecê-lo! -- sua mente e espírito falharam sob seus sofrimentos. Ele foi persuadido a retratar totalmente todos os erros contra a fé católica, especialmente os de Wycliffe e Jan Hus.

Pobre Jerônimo! Tendo renunciado às opiniões que lhe foram imputadas, tinha direito à liberdade, mas não havia sentimento, fé, honra ou justiça na assembleia. Ele foi jogado de volta na prisão sob alegadas suspeitas quanto à sinceridade de suas retratações. Isso abriu os olhos de Jerônimo. Deus usou isso para restaurar sua alma. Ele se arrependeu amargamente de sua retratação; a comunhão com Deus foi novamente desfrutada: ele se alegrou mais uma vez à luz de Seu semblante. Novas acusações foram feitas contra ele, para que pudesse ser seduzido a uma humilhação ainda mais profunda. Mas os cabelos do nazireu haviam crescido em sua detestável prisão. Em seu exame final, tendo permissão para falar por si mesmo, ele surpreendeu seus inimigos ao afirmar que a condenação que havia feito de Wycliffe e Hus foi um pecado do qual se arrependeu profundamente. Ele começou pedindo a Deus que governasse seu coração por Sua graça, para que seus lábios nada avançassem senão o que conduzisse à bênção de sua alma. “Não ignoro”, exclamou, “que muitos homens excelentes foram derrubados por falsas testemunhas e injustamente condenados”. Ele então percorreu a longa lista das Escrituras, observando casos como José, Isaías, Daniel, os profetas, João Batista, o próprio bendito Senhor, Seus apóstolos e Estevão. Ele então falou sobre todos os grandes homens da antiguidade que haviam sido vítimas de falsas acusações e que haviam dado suas vidas pela verdade.

A eloquência brilhante de Jerônimo excitou o espanto e a admiração de seus inimigos, especialmente quando consideraram que por trezentos e quarenta dias ele estivera preso em uma masmorra. Toda a sua serena intrepidez havia voltado, ou melhor, ele agora falava na força do Espírito Santo. Ele declarou que nenhum ato de sua vida lhe causou tanto remorso quanto sua covarde abjuração. "Desta retração pecaminosa", ele exclamou, "eu agora me retiro totalmente e estou decidido a manter os princípios de Wycliffe e Hus até a morte, acreditando que sejam as verdadeiras e puras doutrinas do evangelho, assim como suas vidas foram irrepreensíveis e santas." Nenhuma prova adicional de sua heresia foi exigida -- ele foi condenado como um herege reincidente. O bispo de Lodi foi novamente chamado para pregar o sermão fúnebre. Seu texto era: "Lançou-lhes em rosto a sua incredulidade e dureza de coração”, aplicando-o especialmente ao herege incorrigível antes dele (Marcos 16:14). Em resposta, Jerônimo se dirigiu ao conselho e disse: "Condenastes-me sem me terdes declarado culpado de crime algum; uma ferroada será deixada em vossas consciências, um verme que nunca morrerá. Apelo ao Supremo Juiz, perante o qual deveis comparecer comigo para responder por este dia. " Poggio, um escritor católico romano presente na época, declara: "Todos os ouvidos foram cativados e todos os corações tocados; mas a assembleia era muito indisciplinada e indecente." Como Paulo perante Agripa, Jerônimo era sem dúvida o homem mais feliz naquela vasta assembleia. Ele estava desfrutando da presença prometida de Seu bendito Senhor e Mestre.


domingo, 28 de agosto de 2016

O Pecado e o Arrependimento de Teodósio

A história do tumulto e massacre em Tessalônica, no ano de 390, grava linhas ainda mais profundas sobre o caráter de Teodósio. Ao estudarmos esse período de sua vida, lembramos de Davi, o rei de Israel. Neste triste caso o inimigo ganhou uma grande vantagem sobre o imperador cristão; mas Deus fez com que esses atos se tornassem na mais profunda bênção para sua alma.

Botérico, comandante-chefe do distrito, e vários de seus principais oficiais, foram mortos pelo populacho em uma corrida de carruagem. Um dos cocheiros favoritos tinha sido lançado na prisão por um crime notório e, consequentemente, estava ausente no dia dos jogos. O populacho injustificadamente exigiu sua liberdade. Botérico recusou, e assim o tumulto começou e seguiram-se as terríveis consequências. A notícia exasperou o imperador, que ordenou a liberação da espada sobre todos. Ambrósio intercedeu, e Teodósio prometeu perdoar os tessalonicenses. Seus conselheiros militares, no entanto, artisticamente insistiram no caráter hediondo do crime, e obtiveram uma ordem para punir os ofensores, o que foi cuidadosamente guardado em segredo do bispo. Os soldados atacaram o povo indiscriminadamente quando reunidos no circo, e milhares foram mortos para vingar a morte de seus oficiais.

A mente de Ambrósio se encheu de horror e angústia ao ouvir sobre o massacre. Como servo de Deus, ele se separa do mal, até mesmo da presença de seu mestre imperial. Ele retirou-se para o interior do país para curar sua dor, e para evitar a presença do imperador. Mas escreveu uma carta, na qual expunha da maneira mais solene a profunda culpa do imperador; assegurando que não o permitiria entrar na "igreja" (N. do T.: templo) de Milão até estar convencido da autenticidade de seu arrependimento. O imperador, neste tempo, estava profundamente afetado pelas reprovações de sua própria consciência e de seu pai espiritual. Ele amargamente lamentou as consequências de sua irrefletida fúria ao substituir a justiça pela barbárie, e procedeu a exercer suas devoções na igreja de Milão. Mas Ambrósio o encontrou no alpendre, e, lançando mão de seu manto, pediu-lhe que se retirasse, como um homem manchado com sangue inocente. O imperador assegurou Ambrósio sobre sua contrição, que lhe respondeu que remorsos privados eram insuficientes para expiar ofensas públicas. O imperador mencionou Davi, um homem segundo o coração de Deus. "Você o imitou nesse crime, então imite-o em seu arrependimento", foi a resposta destemida do bispo.

O imperador se submeteu ao sacerdote. Por oito meses, ele permaneceu em reclusão penitencial, deixando de lado todos os seus ornamentos imperiais, até que na época do Natal ele se apresentou perante o arcebispo, e humildemente rogou pela readmissão à igreja. "Eu choro", disse ele, "pois o templo de Deus, e consequentemente o céu, está fechado para mim, e está aberto para escravos e mendigos". Ambrósio ficou firme, e solicitou algum fruto prático de seu arrependimento. Ele exigiu que, no futuro, a execução da pena de morte fosse adiada até trinta dias após a sentença, de modo que os efeitos nocivos da raiva descontrolada pudessem ser prevenidos. O imperador concordou prontamente, e foi então permitido a entrar na "igreja" (N. do T.: templo). A cena que se seguiu foi comovente. O imperador, tirando suas vestes imperiais, orou prostrado no chão. "A minha alma se apega ao pó", gritou ele, "vivifica-me segundo a Tua palavra". O povo chorou e orou por ele, comovidos por sua dor e humilhação.

Ambrósio menciona, em sua oração fúnebre, que desde o tempo da profunda angústia do imperador, ele nunca passou um dia sem levar à mente o crime no qual ele tinha sido traído por sua grande falha -- uma fraqueza de temperamento.

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