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domingo, 15 de novembro de 2020

A Unidade dos Irmãos

A primeira migração para a Morávia foi em 1451. Muitos dos cidadãos de Praga, com alguns da nobreza e homens eruditos, e até mesmo alguns dos mais piedosos dos calixtinos, juntaram-se a eles. Eles então assumiram o nome de Unitas Fratrum, ou Unidade dos Irmãos. Esta foi a origem de uma comunidade que continua até os nossos dias. Pelo espaço de três anos, eles desfrutaram de paz e liberdade de consciência. O espírito missionário, pelo qual os morávios sempre se destacaram, manifestou-se naquele período inicial de sua história. Agora, a linha prateada do amor do Salvador e o zelo cristão deles brilha intensamente. Não pudemos ver nenhum traço disso quando eles estavam usando armas carnais para a defesa da verdade de Deus. Mas assim que a graça brilhou e seu número aumentou, os sacerdotes romanos os olharam com suspeita. Muitas almas foram convertidas por meio de sua pregação, e congregações foram formadas em diferentes partes do país. 

Falsas acusações foram divulgadas pelos monges e frades, obra maligna que sempre convinha às suas línguas mentirosas. “Sedição!”, foi o clamor. “Os morávios estão reunindo números”, disseram os monges, “para que possam renovar as guerras taboritas e tomar o governo”. O rei ficou alarmado; o sem princípios Rokyzan, com medo de perder sua dignidade na igreja, aliou-se aos católicos e influenciou os calixtinos a se voltarem contra seus irmãos. Eles foram denunciados como hereges incorrigíveis. Uma perseguição amarga irrompeu em toda a sua fúria sobre os irmãos missionários. Mas o joio parece ter sido separado do trigo, pois, ao contrário dos dias de Žižka, a nova geração dos antigos hussitas decidiu não usar nenhuma arma carnal em defesa de si mesmos ou de sua religião. Mas a coragem destemida, que caracterizava seus antepassados ​​no campo de batalha, era agora exibida em sua perseverança paciente de sofrimento por amor de Cristo. Sob suas mais pesadas aflições, a energia deles nunca falhou. Eles foram declarados como tendo perdido os direitos comuns de súditos do rei; suas propriedades foram confiscadas; eles foram até mesmo expulsos de suas casas no auge do inverno, e compelidos a vagar pelos campos abertos, onde muitos morreram de frio e fome. Todas as prisões na Boêmia, especialmente em Praga, estavam lotadas com os irmãos. Vários tipos de tortura foram infligidos aos prisioneiros: alguns tiveram suas mãos e pés decepados; outros foram rasgados no cavalete*, queimados vivos ou assassinados barbaramente. Esses ultrajes continuaram por quase vinte anos com pouca redução, mas a morte do rei em 1471 e o remorso de Rokyzan, o arcebispo, trouxeram um certo alívio. Eles não foram mais expostos à tortura, mas foram expulsos do país. 


Os Irmãos Unidos, assim compelidos a deixarem suas casas em Lititz e outras cidades e vilas, foram obrigados a viver em florestas e sob o abrigo de rochas, acendendo suas fogueiras à noite. E, por mais singular que possa parecer, eles não apenas se empenharam em consolar uns aos outros, mas em aperfeiçoar o que eles chamavam de “a constituição da igreja”, esquecendo-se, como muitos outros têm feito, que Deus fez perfeita a constituição da igreja no Pentecostes, e no-la revelou em Sua santa Palavra. Cerca de setenta pessoas realizaram um sínodo na floresta. Duas resoluções foram adotadas e que marcaram o futuro caráter dos morávios: (1) que era necessário providenciar homens adequados para o ofício ministerial; e (2) que eles deveriam ser escolhidos por sorteio como Matias em Atos 1:24-26. Como princípio fundamental, os irmãos sustentavam que "as sagradas escrituras são a única regra de fé e prática". Ao mesmo tempo, foi feita uma distinção entre o essencial e o não essencial, o que deixa amplo espaço para a vontade humana e a imaginação. O essencial diz respeito à questão da salvação do homem; os não essenciais, às coisas exteriores do Cristianismo, como ritos, cerimônias, costumes e regulamentos eclesiásticos. E, além disso, eles poderiam ser alterados de acordo com o melhor julgamento humano, para que a grande obra do evangelho fosse promovida. Isso é humano, não exclusivamente morávio. É, praticamente, o ditado comum: "O fim justifica os meios". Mas certamente o que Deus revelou nunca pode deixar de ser essencial, e o que Ele não revelou nunca deveria ser introduzido em Sua assembleia. 

Os irmãos que foram banidos da Morávia foram gentilmente recebidos na Hungria e na Moldávia, e se distinguiram muito por seus trabalhos missionários e outros serviços religiosos. Por volta do ano de 1470, eles publicaram na língua boêmia uma tradução de toda a Bíblia. Esta é a segunda tradução registrada da Bíblia para uma das línguas europeias. Passou por várias edições rapidamente e, dessa maneira, essas pessoas interessantes e devotadas prepararam o caminho para Lutero, Melâncton e Calvino.

sábado, 18 de julho de 2020

A Aplicação da Tortura

Não fosse a verdade e o relato de uma história imparcial exigirem que a verdadeira natureza do papado fosse exposta, preferiríamos não descrever, mesmo que de maneira breve, aquelas cenas de tortura; mas poucos de nossos jovens leitores, nestes tempos pacíficos em que vivemos, têm alguma ideia do caráter cruel do papado e de sua sede pelo sangue dos santos de Deus. E essa natureza -- que isso seja lembrado -- não mudou em nada. No final da década de 1820, a pouco tempo atrás*, quando a Inquisição foi derrubada em Madri pelas ordens das Cortes, foram encontrados vinte e um prisioneiros: nenhum deles sabia o nome da cidade em que estavam; alguns já estavam confinados por três anos, outros por um período mais longo, e ninguém sabia exatamente a natureza do crime pelo qual foram acusados. Uma dessas pessoas seria executada no dia seguinte pelo pêndulo. Esse método de tortura é descrito da seguinte maneira: "O condenado era preso deitado de costas encima de uma mesa, e acima dele, ficava suspenso um pêndulo cujo gume afiado se aproximava mais e mais a cada momento; com o tempo, ele cortava a pele de seu rosto, e gradualmente cortava toda a cabeça, até que a vida se extinguisse." Essa era a punição do Tribunal Secreto em 1820, e pode ser que ainda aconteça hoje em alguns lugares na Espanha e na Itália*.

{*N. do T.: este livro foi escrito no século XIX.}

As penitências e punições a que o acusado era submetido, a fim de que os inquisidores obtivessem a confissão que desejavam, eram muitas e variadas; o cavalete (ou potro)* era geralmente o primeiro a ser aplicado. Os braços nus eram presos por um pequeno cordão rígido e torcidos para trás das costas, pesos pesados eram ​​amarrados aos pés, e então o torturado era puxado para cima através de uma corda que passava por uma polia. Tendo sido mantido suspenso por algum tempo, a vítima era solta abruptamente até alcançar uma distância próxima ao chão; isso era feito várias vezes, de modo que as articulações dos braços se deslocavam enquanto o cordão, pelo qual a pessoa estava suspensa, cortava a pele e a carne e penetrava até os ossos; e, por meio dos pesos anexados aos pés, toda a sua estrutura óssea era esticada violentamente. Essa espécie de tortura continuava por uma hora e algumas vezes até mais tempo, dependendo do prazer com que os inquisidores presentes o faziam e da força com a qual o sofredor parecia capaz de suportar. A tortura pelo fogo era igualmente dolorosa. Estendido o prisioneiro no chão, as solas dos pés eram esfregadas com banha de porco e colocadas perto do fogo, até que, contorcendo-se em agonia, fosse compelido a confessar o que seus torturadores exigiam. Em um segundo momento, os juízes condenavam suas vítimas à mesma tortura, para fazê-las confessar os motivos e as intenções do coração que os levaram ao crime já confessado; e em uma terceira vez, para que revelassem os nomes de seus cúmplices ou parceiros.


Quando as crueldades não conseguiam forçar uma confissão, eram utilizados artifícios e armadilhas. Pessoas eram enviadas para as masmorras, fingindo ser prisioneiros como eles, que começavam a falar contra a Inquisição, mas apenas com o objetivo de enganar os demais para que testemunhassem contra eles. Quando o acusado era condenado, por testemunhas ou por sua própria confissão forçada, era condenado de acordo com a hediondez de sua ofensa. Poderia ser a morte, a prisão perpétua, as galés* ou o açoitamento. Aqueles que eram condenados à morte pelo fogo eram mantidos presos até que se acumulassem, de modo que o sacrifício de um grande número ao mesmo tempo pudesse produzir um efeito mais impressionante e terrível.

{* Sobre a pena das galés: https://pt.wikipedia.org/wiki/Gal%C3%A9s_(pena) }

terça-feira, 24 de março de 2020

Os Procedimentos Internos da Inquisição

Sob a chefia do papado, como todos sabemos agora, os atos mais sombrios, as mais irresponsáveis tiranias e crueldades desumanas que já enegreceram os anais da humanidade puderam ser escritas. Mas longos detalhes, por mais dolorosamente interessantes, ficariam fora do escopo deste livro. Portanto, nos contentaremos com algumas breves declarações e extratos. Nenhum tribunal -- podemos seguramente afirmar -- tão alheio à justiça, humanidade e a qualquer relacionamento sagrado da vida jamais existiu nem mesmo nos domínios do paganismo ou islamismo.

Quando uma pessoa era levemente suspeita de heresia, os espiões, chamados Familiares da Inquisição, eram empregados para vigiá-la com o objetivo de descobrir a menor acusação possível que permitisse entregá-la ao tribunal do Santo Ofício. O homem podia até ser um bom católico, pois Llorente nos garante que nove décimos dos prisioneiros eram fiéis à fé católica, mas que, talvez, fossem suspeitos de manter opiniões liberais, ou por talvez terem demonstrado em suas conversas que conheciam mais de teologia do que os monges iletrados, ou porque discordavam deles em algum ponto da doutrina. Qualquer uma dessas coisas seria suficiente para criar suspeitas, pois nada era mais temido do que uma nova luz ou verdade; tal pessoa era então marcada e denunciada pelos Familiares.

À meia-noite, ouve-se uma batida, e o suspeito é ordenado a acompanhar os mensageiros do Santo Ofício. Sua esposa e família sabem o que isso significa; a angústia deles é grande; eles devem agora se despedir do amado marido e do amado pai. Nem uma palavra de súplica ou remorso se atreve a respirar. Assim, repentina e inesperadamente, essa instituição assustadora atacava suas vítimas. As esposas deixavam seus maridos; os maridos, as mulheres; os pais, os filhos; e os mestres, seus servos, sem uma pergunta ou murmúrio sequer. O terror constituía o grande elemento de seu poder. Ninguém, do monarca ao escravo, sabia quando a batida poderia chegar à sua porta. Um sigilo impenetrável caracterizava todos os procedimentos dessa instituição. Esse sentimento de insegurança e as maquinações da imaginação ajudaram a exagerar a terrível realidade. Nem a classe, nem a idade, nem o sexo ofereceriam qualquer defesa contra sua vigilância incessante e sua severidade impiedosa.

O prisioneiro, a vítima indefesa, está agora dentro dos portões da Inquisição; e poucos que já entraram de lá saíram absolvido e quites; diz-se que não mais do que um em mil. Certas formalidades eram tomadas com o objetivo de questionar a suposta culpa do acusado, mas todas não passavam de uma grosseira zombaria à justiça. "O tribunal se sentava em profundo segredo, nenhum advogado podia comparecer perante o tribunal, nenhuma testemunha era confrontada com o acusado; ninguém sabia quem eram os informantes, quais eram as acusações, a não ser a vaga acusação de heresia. O suspeito herege era convocado, pela primeira vez, para declarar sob juramento que falaria a verdade, toda a verdade, sobre todas as pessoas vivas ou mortas e sobre ele próprio, sob suspeita de heresia ou valdensianismo. Se recusasse, seria lançado em uma masmorra, a mais sombria, a mais suja, a mais barulhenta, naqueles tempos sombrios. Nenhuma falsidade era tão falsa, nenhuma artimanha tão astuta, nenhum truque tão baixo, do que essa tortura moral deliberada e sistemática que era torcer da pessoa mais confissões contra ela própria e denúncias contra os outros. Era o objetivo deliberado dos inquisidores esmagar o espírito das pessoas; a comida dada ao prisioneiro era diminuída lenta e gradualmente até que o corpo e a alma se prostrassem. Ele era então deixado na escuridão, na solidão e no silêncio." A próxima parte do procedimento do Santo Ofício nessas prisões secretas era a aplicação de tortura corporal. A vítima indefesa era acusada de ocultar e negar a verdade. Em vão a pessoa afirmava que havia respondido a todas as perguntas de maneira plena e honesta, na extensão máxima de seu conhecimento; ela era instada a confessar se alguma vez tinha tido algum pensamento maligno em seu coração contra a Igreja, ou contra o Santo Ofício, ou contra qualquer outra coisa que escolhessem nomear. Não importava a resposta que desse, a pessoa era denunciada como um herege obstinado. Após algumas expressões hipócritas quanto ao amor pela alma da pessoa e quanto ao sincero desejo deles de libertá-la do erro, para que a pessoa pudesse obter a salvação, um vasto aparato de instrumentos de tortura lhe era mostrado; a tortura agora deveria ser aplicada para fazer a pessoa confessar seu pecado.

domingo, 27 de maio de 2018

São Bernardo e o Monasticismo

Como o cristianismo e o entusiasmo monástico, na teoria da igreja romana, era, nessa época, a única verdadeira perfeição cristã, apresentaremos ao leitor algumas particularidades desse sistema, para que possa julgar, por si mesmo, a extrema cegueira até mesmo de verdadeiros crentes como Bernardo, e a terrível perversão do sagrado nome do Cristianismo. Se as provas não fossem inquestionáveis, seria difícil crer em tais fatos. A renúncia ao mundo, a solidão, o asceticismo, a mortificação severa, eram coisas pregadas quase como se fossem o único caminho seguro para o céu. Os supostos méritos do monastério, e não da obra consumada de Cristo, era a base de admissão por São Pedro aos reinos de glória. Por isso, quanto mais sincero fosse o monge, mais ele infligia a si mesmo todo tipo de tortura e miséria. Este era o engano: "Quanto mais longe do homem, mais próximo de Deus. A santidade era medida pelo sofrimento. Toda a simpatia humana, todos os sentimentos sociais, todos os laços de parentesco, todas as afeições, deveriam arrancadas pelas raízes do espírito que geme; dor e oração, oração e dor, deveriam ser as únicas e incansáveis ocupações de uma vida santa."

Certamente está é uma obra-prima de Satanás, a mais profunda ilusão dos conselhos do inferno. Que a tua santa Bíblia seja teu guia, querido leitor; e descanse com a certeza de que todo o que crê no Senhor Jesus Cristo é, e não apenas será, mas é salvo, e que todo aquele que verdadeiramente crê deve cuidar em manter boas obras, em virtude da natureza divina e do poder do Espírito Santo.  

domingo, 22 de maio de 2016

O Primeiro Decreto

Por volta do dia 24 de fevereiro de 303, o primeiro decreto foi emitido. Ele ordenava que todos os que se recusassem a sacrificar aos ídolos deveriam perder seus cargos, suas propriedades, sua classe, e os privilégios civis; que os escravos que persistissem em professar o evangelho fossem excluídos da esperança da liberdade, que todos os cristãos de todas as classes deviam ser destruídos, que as reuniões religiosas deviam ser suprimidas, e que as Escrituras deviam ser queimadas. A tentativa de exterminar as Escrituras foi uma característica nova nessa perseguição e, sem dúvida, foi sugerida pelos filósofos que frequentavam o palácio. Eles estavam bem conscientes de que seus próprios escritos teriam pouca influência sobre a opinião pública se as Escrituras e outros livros sagrados estivessem em circulação. Imediatamente após essas medidas terem sido tomadas a igreja de Nicomédia foi atacada, os livros sagrados foram queimados, e os edifícios inteiramente demolidos em poucas horas. Por todo o império as "igrejas" dos cristãos deveriam ser derrubadas até o pó, e os livros sagrados deviam ser entregues aos oficiais do império. Muitos cristãos que recusaram entregar as Escrituras foram condenados à morte, enquanto aqueles que as entregaram para serem queimadas foram considerados pela igreja como traidores de Cristo, e mais tarde houve grandes problemas no exercício da disciplina para com tais pessoas. *

{* Pode ser do interesse do leitor saber que nenhum dos manuscritos do Novo Testamento existentes datam de antes da metade do quarto século. Um fato responsável por isso, em grande medida, é a destruição dos escritos cristãos, especialmente as Escrituras, no reinado de Diocleciano durante a primeira parte daquele século. Sob Constantino sabe-se que esforços especiais foram empreendidos para criar cópias fidedignas, das quais o famoso crítico Tischendorf acredita que os manuscritos do Sinai sejam uma.}

Mal este cruel decreto tinha sido afixado no local costumeiro e um cristão de classe nobre o rasgou. Sua indignação com a injustiça o levou de modo tão flagrante a um ato de zelo imprudente - a uma violação daquele preceito do evangelho que ordena o respeito para com todos em posição de autoridade. Foi uma ocasião adequada para sentenciar um cristão de classe alta à morte. Ele foi queimado vivo em fogo baixo, e suportou seus sofrimentos com uma serenidade tão digna que surpreendeu e humilhou seus carrascos. A perseguição tinha agora começado. O primeiro passo contra os cristãos tinha sido tomado, e o segundo não demorou.

Não muito tempo após a publicação do decreto houve um incêndio no palácio de Nicomédia que se espalhou quase até a câmara do imperador. A origem do fogo parece ser desconhecida, mas obviamente a culpa foi jogada sobre os cristãos. Diocleciano acreditou nisto. Ele ficou alarmado e indignado. Multidões foram lançadas na prisão, sem discriminação daqueles que eram ou não suspeitos, e as mais cruéis torturas foram empregadas para que houvesse uma confissão; mas foi em vão. Muitos foram queimados até a morte, decapitados e afogados. Cerca de quatorze dias depois, um segundo incêndio irrompeu no palácio. Tinha se tornado então evidente que era obra de um incendiário. Os pagãos novamente acusaram os cristãos, e em alta voz clamaram por vingança, mas como não havia provas que pudessem ser encontradas de que os cristãos tivessem algo a ver com esses incêndios fatais, uma forte e, cremos, verdadeira suspeita, repousava sobre o próprio imperador Galério. Seu grande objetivo desde o início era incriminar os cristãos e alarmar Diocleciano por meio de suas próprias medidas violentas. Estando plenamente consciente da consequência desses eventos na mente sombria, tímida e supersticiosa do velho imperador, ele imediatamente deixou Nicomédia, alegando que não se considerava seguro na cidade.

Mas o objetivo foi alcançado, superando a extensão que até mesmo Galério e sua mãe pagã podiam ter desejado. Diocleciano, agora completamente incitado, irou-se ferozmente contra toda sorte de homens e mulheres que levavam o nome de cristão. Ele obrigou sua esposa Prisca e sua filha Valéria a oferecer sacrifício. Oficiais do palácio, da mais alta classe e nobreza, e todos os habitantes do palácio, foram expostos às mais cruéis torturas, pela ordem, e até mesmo na presença, do próprio Diocleciano. Os nomes de alguns de seus ministros de estado foram proferidos por preferirem as riquezas de Cristo à grandeza de seu palácio. Um dos eunucos foi trazido perante o imperador e foi torturado com grande severidade por rejeitar o sacrifício aos ídolos. Procurando fazer dele um exemplo para os outros, uma mistura de sal e vinagre foi derramada em suas feridas abertas, mas foi tudo em vão. Ele confessou sua fé em Cristo como seu único Salvador, e que não possuía nenhum outro Deus. Ele foi então gradualmente queimado até a morte. Doroteus, Gorgônio e Andrea, eunucos que serviam no palácio, também foram condenados à morte. Antimo, o bispo de Nicomédia, foi decapitado. Muitos foram executados, muitos foram queimado vivos, mas se tornou tedioso destruir homens individualmente, e então grandes fogueiras eram acesas para queimar muitos de uma só vez, e outros foram levados para o meio de um lado e lançados à água com pedras presas em seus pescoços.

A partir da Nicomédia, o centro da perseguição, as ordens imperiais foram despachadas, requerendo a cooperação dos outros imperadores na restauração da dignidade da religião antiga, e a completa supressão do cristianismo. Assim a perseguição se ergueu por todo o mundo romano, com exceção da Gália. Ali governava o brando Constâncio, e, embora ele tenha demonstrado concordância com as medidas de seus colegas, pela demolição das "igrejas", ele se absteve de toda violência contra as pessoas cristãs. Embora ele próprio não fosse um cristão decidido, ele era naturalmente humano, e evidentemente amigável ao cristianismo e aos que o professavam. Ele presidia sobre o governo da Gália, Grã-Bretanha e Espanha. Mas o temperamento feroz de Maximiano e a crueldade selvagem de Galério apenas aguardavam o sinal para levar em efeito as ordens vindas da Nicomédia. E agora os três monstros se erguiam, na plena força do poder civil contra os seguidores indefesos e inocentes do manso e humilde Jesus, o Príncipe da Paz.
"A graça que começou terminará em glória;
Jesus, dEle é a vitória
Em Sua própria triunfante história
Está o registro da nossa própria história."

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

A Primeira Perseguição sob os Imperadores

Aqui podemos fazer uma breve pausa para contemplar o progresso do cristianismo, e o estado da igreja em Roma nessa época. Muito cedo, e sem o auxílio de qualquer apóstolo, o cristianismo tinha encontrado o seu caminho até Roma. Sem dúvida, deve ter sido primeiramente levado por alguém que tinha se convertido por meio da pregação de Pedro no dia de Pentecostes. Dentre seus ouvintes temos expressamente mencionados "forasteiros romanos, tanto judeus como prosélitos" (Atos 2:10). E Paulo, em sua epístola àquela igreja, dá graças a Deus "porque em todo o mundo é anunciada a vossa fé" (Romanos 1:8). E em suas saudações ele fala de "Andrônico e Júnias", seus parentes e companheiros de prisão, que eram homens que se distinguiam entre os apóstolos e cuja conversão foi anterior à sua própria (Romanos 16:7). Mas grandes maravilhas tinham sido escritas pelo evangelho no decorrer de trinta anos. Os cristãos tinham se tornado um povo marcado, separado e peculiar. Eles eram agora conhecidos como perfeitamente distintos dos judeus, e amargamente negados por eles.

Os trabalhos de Paulo e seus companheiros, durante os dois anos de seu aprisionamento, eram sem dúvida abençoados pelo Senhor para a conversão de muitos; tanto que os cristãos, nesse tempo, não formavam uma comunidade secreta ou inconsiderada, mas uma que era conhecida por ter em seu meio tanto judeus quanto gentios de todas as classes e condições, desde membros da família imperial até escravos fugitivos. No entanto, seu sofrimento presente, como vimos, não era pelo cristianismo que professavam. Eles foram, na verdade, sacrificados por Nero para apaziguar a fúria popular e para se reconciliar com suas divindades ofendidas.

Essa foi a primeira perseguição oficial aos cristãos; e, por algumas de suas características, ela se destaca dentre os anais da barbaridade humana. Uma crueldade inventiva procurava novas formas de tortura para saciar o sanguinário Nero - o imperador mais cruel que já reinou. Os calmos, pacíficos e inofensivos seguidores do Senhor Jesus eram costurados nas peles de feras selvagens e rasgados por cachorros; outros eram envoltos em um tipo de roupa coberta com cera, piche e outros materiais inflamáveis, tendo uma estaca debaixo do queixo para mantê-los na vertical, sendo então incendiados quando chegava a noite, para que servissem de tochas nos jardins públicos, para divertimento dos populares. Nero emprestou seus próprios jardins para tais exibições, dando entretenimento ao povo. Ele tomava parte ativa nos próprios jogos, algumas vezes se misturando à multidão à pé, e às vezes assistindo o horrível espetáculo de sua carruagem. Mas o povo, mesmo acostumado a execuções públicas e espetáculos de gladiadores, começou a se compadecer pelas crueldades sem precedentes infligidas contra os cristãos. Eles começaram a perceber que os cristãos sofriam, não pelo bem público, mas para gratificar a crueldade de um monstro. Contudo, por mais terrível que fosse a morte, ela logo terminaria, e para os cristãos, sem dúvida, seria então o momento mais feliz de sua existência. Muito, mas muito tempo antes que as luzes se apagassem no jardim de Nero, os mártires já tinham chegado ao seu lar e descanso no florescente jardim das eternas delícias de Deus. Esta preciosa verdade aprendemos do que o Salvador disse ao ladrão arrependido na cruz - "Hoje estarás comigo no Paraíso." (Lucas 23:43).

Embora os historiadores não entrem em acordo quanto à extensão ou duração dessa terrível perseguição, há muitas boas razões para crer que ela se espalhou pelo império e durou até o fim da vida do tirano. Ele morreu por sua própria mão na mais absoluta miséria e desespero, em 68 d.C., cerca de quatro anos depois da queimada de Roma, e um ano após o martírio de Pedro e Paulo. Perto do fim de seu reinado, os cristãos eram obrigados, sob as mais pesadas penas, até mesmo de morte, a oferecer sacrifícios ao imperador e aos deuses pagãos. Embora tais decretos estivessem em vigor, a perseguição deve ter continuado.

Após a morte de Nero, a perseguição cessou, e os seguidores de Jesus desfrutaram de relativa paz até o reinado de Domiciano, um imperador que ficava só um pouco atrás de Nero em termos de maldade. Mas enquanto isso, devemos mudar de assunto por um momento e tomar nota do cumprimento de um dos avisos mais solenes do Senhor: a queda de Jerusalém.

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