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domingo, 3 de setembro de 2017

A Morte de Gregório (1085 d.C.)

Coberto de vergonha e marcado com infâmia eterna, e temendo ouvir as reprovações que seriam lançadas contra ele como o autor das recentes calamidades, ele se retirou da cidade de São Pedro na companhia de seus aliados, enquanto suas ruínas ainda fumegavam e suas ruas se encontravam desoladas, e seus antes numerosos habitantes queimavam, jaziam mortos, ou eram levados ao cativeiro. Fraco e de coração abatido, sem dúvida -- do orgulho terrivelmente mortificado -- ele primeiramente tomou repouso no monastério de Monte Cassino, e então prosseguiu ao forte castelo Salerno, dos normandos. Ele nunca viu Roma novamente.

Um numeroso corpo de eclesiásticos, devotados à promoção das elevadas pretensões do papa degradado, o seguiram até Salerno. Ali ele convocou um sínodo, e como se não estivesse afetado pelos horrores que causou e testemunhou, trovejou novamente anátemas e excomunhões contra Henrique, o antipapa Clemente e todos os seus adeptos. Mas estes foram seus últimos trovões. A morte se aproximava rapidamente. O grande e inflexível defensor da supremacia da ordem sacerdotal deveria morrer como qualquer outro homem. Ele chamou seus companheiros de exílio, fez uma confissão de sua fé -- especialmente no que se referia à eucaristia, tendo sido suspeito de simpatizar com os pontos de vista de Berengário de Tours -- e perdoou e absolveu a todos aqueles que ele tinha anatemizado, com exceção do imperador e do antipapa. Em relação a esses ele ordenou que seus seguidores não fizessem as pazes, a menos que se submetessem completamente à igreja.

Conta-se que uma tempestade assustadora se enfureceu enquanto seus amigos presenciavam a morte do papa. Suas últimas palavras memoráveis foram: "Eu amei a justiça e odiei a iniquidade; portanto morro no exílio". "No exílio, meu senhor?", disse um bispo com o mesmo sentimento, cujo orgulho sacerdotal não foi repreendido por esse espetáculo de mortalidade, "tu não podes morrer no exílio! Vigário de Cristo e de Seus apóstolos, tu recebeste de Deus os pagãos por tua herança, e as partes mais longínquas da terra por tua possessão!" O atrevido sopro de blasfêmia assim fechou, assim como tinha permeado, a vida do grande clérigo. Mas seu espírito estava agora longe da adulação de seus amigos, para ser manifesto perante um outro tribunal. Lá tudo será julgado, não de acordo com os princípios do papado, mas de acordo com a eterna verdade de Deus como foi revelada a nós na Pessoa e na obra do Senhor Jesus Cristo.

"Bem-aventurados todos aqueles que nele confiam" (Salmos 2:12), são palavras da mais doce certeza para o coração; pois o quanto essa palavra "bem-aventurados" (ou "abençoados") significa quando usada pelo Próprio Deus! Mas ai daqueles que vivem e morrem sem Cristo, que um dia terão de dizer: "Passou a sega, findou o verão, e nós não estamos salvos" (Jeremias 8:20). Ah! Quem pode compreender as profundezas da miséria -- a eternidade de sofrimento -- nestas duas palavras: "não salvos!" "não salvos!" Que tremendo texto para um pregador! Que palavra de aviso para um pecador! Que o meu leitor guarde isso no coração, antes de guardar este livro, e possa cuidadosamente contrastar a morte do grande clérigo com a morte do grande apóstolo. "Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda" (2 Timóteo 4:7,8). Até mesmo um falso profeta foi obrigado a dizer: "Que a minha alma morra da morte dos justos, e seja o meu fim como o seu" (Números 23:10).

domingo, 27 de agosto de 2017

Henrique Parte para a Itália

O imperador caído estava agora preso nos ardis do inimigo. A política de Gregório tinha sido bem-sucedida. Tendo iniciado uma revolução e causado muito derramamento de sangue entre os príncipes do reino de Henrique, que ele ardilosamente mudou do terreno da queixa individual ou política para o terreno da religião, ele agora fingia ser um pacificador. Daí vieram tais palavras de hipocrisia: "Tratem Henrique com gentileza, e estendam-lhe aquela caridade que cobre uma multidão de pecados". Logo veremos a qualidade da gentileza e caridade de Gregório para com Henrique.

A situação do rei era agora desesperadora. Despojado de todo o seu poder, e até mesmo do sinal de realeza, e sentindo que não tinha nada a esperar de uma assembleia de seus súditos rebeldes e de seu inimigo declarado, ele resolveu, como uma última chance, tentar uma conversa pessoal com o papa e lançar-se como um penitente aos seus pés. Com dificuldade ele coletou de seus poucos amigos restantes dinheiro suficiente para custear suas despesas até a Itália. Ele deixou a cidade de Espira no meio do inverno, com sua esposa e seu filho pequeno, e uma assistente fiel. Mas os Alpes ainda se encontravam entre eles e a Itália. E então até mesmo a natureza parecia conspirar com o papa contra o rei caído. O clima estava excepcionalmente severo. O rio Reno e o rio Pó estavam densamente congelados, e a neve que cobria os Alpes estava tão dura e tão escorregadia como o gelo. Além disso, as travessias eram zelosamente vigiadas pelos duques de Bavária e Caríntia, inimigos de Henrique. Todas as travessias pareciam impossíveis. Mas o esforço teve de ser feito, por mais perigoso que fosse. Segundo o acordo entre Henrique e os príncipes rivais, ou generais dos Estados, ele devia obter a absolvição dentro de um ano e um dia a partir da data da anátema papal, ou perder sua coroa e seu reino para sempre; mas se ele pudesse obter a absolvição destro desse período, eles retornariam a suas posições e dignidades.

Os Alpes deviam ser cruzados. O dia fatal -- 23 de fevereiro -- se aproximava. Guias bastante conhecedores dos caminhos foram contratados, e algo como um caminho foi pavimentado em meio à neve para a comitiva real. Com grande dificuldade eles alcançaram o topo da travessia, mas a descida era ainda mais perigosa. Parecia um vasto precipício de gelo liso. Mas a dificuldade tinha de ser vencida. Os homens rastejaram, engatinhando, muitas vezes escorregando pelos declives congelados. A rainha, seu filho pequeno e uma mulher assistente foram arrastadas pelos guias em peles de bois, como se fossem trenós. Os cavalos foram descidos por meio de diversos artifícios. Alguns, com os pés amarrados, foram rolados declive abaixo, mas alguns foram mortos e poucos alcançaram os pés dos Alpes em condições úteis.

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