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domingo, 18 de outubro de 2020

O Movimento de Reforma na Boêmia

Capítulo 31: Boêmia (1409-1471 d.C.)

É verdadeiramente satisfatório saber que as benditas verdades do evangelho, que salvam almas e que foram ensinadas por Wycliffe e seus seguidores, já estavam produzindo resultados de uma importância ampla e duradoura: que, apesar de todos as execuções na fogueira e assassinatos de Roma, essas verdades estavam permeando profundamente nos corações de milhares e centenas de milhares, e se espalhando por quase todas as partes da Europa. O bispo de Lodi no concílio de Constança, em 1416 -- um ano antes do martírio de Cobham e 36 anos após a tradução da Bíblia -- declarou que as heresias de Wycliffe e Hus se espalharam pela Inglaterra, França, Itália, Hungria, Rússia, Lituânia, Polônia, Alemanha e por toda a Boêmia. Assim, um amargo inimigo é inconscientemente -- ou não intencionalmente -- a testemunha da influência e da inextinguível vitalidade da boa semente da Palavra de Deus. 

Mas aqui será necessário preparar nosso caminho dizendo algumas palavras sobre o grande cisma papal, antes de traçarmos a ampla linha prateada da graça de Deus no testemunho e martírio de Hus e Jerônimo.

domingo, 20 de setembro de 2020

Reflexões Sobre a Morte de Bonifácio

Quinhentos e setenta e dois anos passaram desde que Bonifácio morreu por seu próprio curso suicida*. Que tempo para reflexão, reprovação, remorso, desespero! Por que, oh, por que os homens, homens inteligentes, arriscariam uma eternidade de miséria por alguns poucos anos de glória terrena, ou gratificação própria, ou qualquer forma de amor a si mesmos? Mas, infelizmente, as advertências mais solenes são desconsideradas; os mais graciosos convites de misericórdia são rejeitados, na busca ansiosa de seu próprio objetivo egoísta. E quando eles o alcançam, o que é? Quanto eles desfrutam disso? Por quanto tempo eles o possuem? Apenas nove anos Bonifácio reinou como supremo pontífice e, para garantir aquele brilho sombrio de glória, ele executou em particular o assassinato de seu predecessor Celestino, a quem ele havia suplantado. Mas, assim como o homem semeia, também deve colher. Celestino tem a compaixão e a simpatia da posteridade; mas sobre o túmulo de Bonifácio toda a posteridade escreveu: "Ele subiu na cadeira como uma raposa, reinou como um leão, morreu como um cachorro". E assim foi, sem as consolações da misericórdia de Deus e sem os ternos ministérios do homem, ele morreu. Quando a porta do quarto foi aberta, ele foi encontrado frio e rígido. Seus cabelos brancos estavam manchados de sangue, a ponta de seu cetro tinha as marcas de seus dentes e estava coberto de espuma.

{* Este livro foi escrito no século XIX}

Quão bem-aventurados -- estamos prontos a exclamar -- os que têm uma herança incorruptível, imaculada e que não se desvanece, reservada no céu para todos cuja fé e esperança estão firmemente fixadas em Cristo somente. Eles são filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus; eles pertencem à família real do céu; eles não precisam buscar glória terrena; eles são herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo. Eles têm um trono que nunca pode ser abalado, uma coroa que nunca pode ser lançada ao chão, um cetro que nunca pode ser arrancado de suas mãos, uma herança que nunca pode ser alienada. Mesmo assim, eles são capazes de lamentar o fim melancólico de um companheiro pecador com profunda piedade, e procurar transformar aquela cena de tristeza tão sombria e profunda em uma ocasião de ganho espiritual para outros. Um olhar de fé para o Salvador teria sido vida para sua alma, embora ele fosse o principal pecador, e o primeiro olhar de fé é a vida eterna para o principal dos pecadores hoje. "Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro." (Isaías 45:22)

Mas devemos agora retornar à nossa história.

domingo, 6 de setembro de 2020

As Novas Ordens -- São Domingos e São Francisco

Frequentemente, tem sido observado que, onde o Espírito de Deus está operando por meio do evangelho, e onde há resultados manifestos na conversão de almas a Cristo, aí também o inimigo certamente estará ativo. Ele não vai permitir em silêncio que seu reino seja invadido. Pode ser impedindo o trabalho pela perseguição, ou corrompendo-o, induzindo à autocondescendência, ou imitando-o de maneira iníqua e perversa. Temos muitos exemplos tristes de tais coisas na história de Israel e da Igreja -- casos numerosos demais para serem mencionados aqui; mas veremos agora, neste período de nossa história das instituições monásticas, o que explicará o que queremos dizer.

O objetivo especial das novas ordens que surgiram no início do século XIII era contrabalançar a influência que os pregadores albigenses adquiriram sobre as classes mais pobres do povo ao se familiarizarem com elas e constantemente pregarem o evangelho a elas. Pregar o evangelho de Cristo adequadamente para as classes mais humildes foi completamente negligenciado durante séculos pelo clero da igreja romana. Vez ou outra, um pregador fervoroso surgia, tais como Cláudio de Turin, Arnaldo de Bréscia, Fulco de Neuilly, Henrique, o diácono, ou Pedro Valdo, que se dedicaram à obra do evangelho e à salvação de almas; mas esses casos foram poucos e distantes entre si. Mais comumente, as pregações tinham algum objetivo puramente papista, como as Cruzadas, quando o clero tentava despertar o povo com sua eloquência.

"Em teoria", diz o historiador eclesiástico, "era um privilégio especial dos bispos pregar, mas havia poucos entre eles que tinham o dom, a inclinação, o tempo livre de suas ocupações seculares, judiciais ou bélicas, para pregar até mesmo nas catedrais de suas cidades; no restante de suas dioceses, sua presença era apenas ocasional, um progresso, ou uma visitação de pompa e forma, em vez algum tipo de instrução popular. Praticamente o único meio de instrução religiosa era o Ritual, que, no que diz respeito à linguagem utilizada, há muito havia deixado de ser inteligível; e os padres eram quase tão ignorantes quanto o povo; eles apenas aprendiam a passar pelas observâncias da maneira mais mecânica possível. Os casados, ou clérigos seculares, como eram chamados, embora fossem de longe os mais morais e respeitáveis, agiam em oposição às leis da Igreja, e eram até mesmo sujeitos à acusação de viver em concubinato; portanto, seus ministérios tinham muito pouco peso para o povo. O clero regular obedecia à regra externa, mas, segundo todos os relatos, eles violavam tão flagrantemente os princípios mais severos da Igreja, que seu ensino, se tentassem ministrar um ensino verdadeiro, cairia em descrédito na mente do povo."*

{*Dean Milman, vol. 4, pág. 243. J.C. Robertson, vol. 3, pág. 363.}

Tal estado de coisas na Igreja Estabelecida deixou o caminho aberto para os assim chamados hereges. Eles aproveitaram a oportunidade, entraram em cena e trabalharam diligentemente para divulgar suas doutrinas ao povo. Pregar em público e em privado era o segredo, sob a permissão de Deus, do grande sucesso dos valdenses e albigenses. Esta foi desde os primeiros tempos, e ainda é, a maneira divina de disseminar a verdade e reunir almas para Jesus. Quanto mais pública a pregação, melhor. Em todas as épocas agradou a Deus aquilo que o mundo chama de "loucura da pregação, para salvar os crentes". Pregação ao ar livre, visitas e ensino de casa em casa, testemunho público dentro e fora de casa, são maneiras e meios que Deus sempre abençoará. E esses meios parecem ter sido usados ​​diligentemente por aqueles acusados ​​de heresia em Languedoque (os albigenses).

O inimigo atento, observando o efeito desse modo de ação, muda então sua tática. Em vez de calar todos os membros sinceros, fervorosos e piedosos da igreja de Roma nos mosteiros, para pensarem apenas em si mesmos, instruírem-se, orarem e pregarem apenas para si mesmos, ele agora os envia como pregadores ao ar livre e para invadir os próprios campos que haviam sido ocupados por séculos pelos verdadeiros seguidores de Cristo. Seus emissários tinham ordens estritas, não apenas para imitar os hereges, mas para superá-los, na simplicidade de vestir, humildade, pobreza e familiaridade com o povo. Uma mudança completa ocorre então na história das ordens monásticas; no lugar de monges enclausurados, isolados dos olhos do mundo, fazendo suas orações, trabalhando nos campos ou colhendo os frutos de seus jardins, temos frades pregadores nas esquinas de todas as ruas e em todas as cidades da Europa, sim, implorando de porta em porta. Mas isto não foi tudo; sendo favoritos dos pontífices, eles tomaram a direção de quase tudo na Igreja e no Estado por três séculos. “Eles ocupavam os mais altos cargos, tanto civis quanto eclesiásticos”, diz Mosheim, “ensinavam com autoridade quase absoluta em todas as escolas e igrejas, e defendiam a majestade dos pontífices romanos contra os reis, bispos e hereges, com incrível zelo e sucesso. O que os jesuítas foram depois da Reforma, os mesmos foram os dominicanos e franciscanos do século XIII até os tempos de Lutero. Eles eram a alma de toda a Igreja e do Estado, e os projetores e executores de todos tipo de empreendimento no decorrer de toda essa época."


domingo, 10 de junho de 2018

O Martírio de Arnaldo (1155 d.C.)

O novo papa era um inglês de grande habilidade, e o único inglês que já se sentou no trono papal. Ele era originalmente um monge de Santo Albans, mas foi obrigado a deixar seu lar por causa da severidade de seu pai. Após viajar por algum tempo no continente, estudar teologia e lei canônica com grande ardor e sucesso, e subir de classe em classe na ordem eclesiástica, ele foi, com o tempo, elevado à mais alta ordem da grandeza eclesiástica pelo nome de Adriano IV. Seu nome inglês era Nicolas Breakspeare.

Uma oportunidade então surgiu para que se livrassem do ousado reformador. O imperador Frederico Barbarossa estava a caminho para receber das mãos de Adriano a coroa imperial. Ele enviou uma embaixada de três cardeais para se encontrarem com o imperador, e para solicitar, como preço de sua coroação, a rendição de Arnaldo de Bréscia em suas mãos. Para um homem que pensava tão pouco sobre a vida humana como Frederico, pareceu de fato algo leve de se executar, obrigando então os amigos de Arnaldo a entregá-lo nas mãos dos emissários papais. Não havia tempo a perder, para que seus amigos não ouvissem sobre isso e tentassem resgatá-lo. A igreja tomou por si mesma a responsabilidade pela sumária condenação e execução do rebelde, sem empregar, como de costume, a espada secular. Antes do dia amanhecer, o oficial do papa já tinha sujado suas mãos no sangue de sua vítima; seu corpo foi queimado até as cinzas, que foram jogadas no rio Tibre, para que o povo não coletasse a adorasse as relíquias de seu amigo martirizado. O clero triunfou em sua morte, mas sua memória viveu nas mentes dos romanos. "E nas cinzas da pilha fúnebre de Arnaldo", diz Milman, "o fogo ardeu durante séculos, o que levou, com o tempo, a uma explosão irresistível de violência".

Bernardo, o grande Antagonista de Abelardo e de Arnaldo, tinha falecido em paz em Claraval, no ano de 1153. O santo, o filósofo e o reformador passaram para outro mundo, para serem julgados, não pelos decretos papais, mas pelo trono de eterna justiça e imaculada santidade. A fé no Senhor Jesus Cristo é o único fundamento do perdão e aceitação aos olhos de Deus. Não há purgatório, mas sim o precioso sangue de Sua cruz. Mas, que misericórdia! Esse sangue pode tornar limpo o mais vil! "Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais branco do que a neve" (Salmos 51:7). Nada além do sangue de Jesus pode tornar a alma mais branca do que a neve e apta para o céu. Todos os outros meios nada mais são do que uma zombaria, uma ilusão de Satanás que apenas aprofunda e perpetua a culpa da alma. "O sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado" (1 João 1:7). A salvação é pela fé somente, sem as obras da lei. Cristo é a única videira; os crentes são os ramos. "Aquele que diz que está nele, também deve andar como ele andou" (1 João 2:6). Aparte de uma verdadeira e viva fé em Cristo, não há perdão, nem salvação, nem felicidade, e nem o céu; "bem-aventurados todos aqueles que nele confiam" (Salmos 2:12).

Retornemos agora a nossa história, e primeiro tomaremos nota sobre o encontro entre Adriano e Frederico.

domingo, 4 de junho de 2017

Reflexões sobre o Espírito Missionário de Roma

Temos visto, ao traçar a boa obra do evangelho em diferentes países, a atividade, energia e o caráter agressivo da igreja de Roma. E embora houvesse uma terrível quantidade de tradição humana e muitas tolices absurdas misturadas ao "evangelho de Deus", ainda assim o nome de Jesus Cristo era proclamado, e a salvação por meio dEle, embora, infelizmente, não por Ele somente. No entanto, Deus em graça podia usar esse bendito nome e dar os olhos de fé para ver sua preciosidade em meio ao lixo da superstição romana. O evangelho de Cristo pleno e claro tinha se perdido completamente. Não era mais Cristo apenas, mas Cristo e mil outras coisas. Eles eram eloquentes em pregar boas obras, mas, ao mesmo tempo, obscureciam a fé da qual toda a boa obra deveria emanar. "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo"; "Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro"; "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei"; "O que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora". (João 1:29, Isaías 45:22, Mateus 11:28, João 6:37). Textos como esses dão uma ideia de um evangelho que traz almas para o Próprio Cristo, pela fé somente; não a Cristo e aos ritos e cerimônias inumeráveis, antes da alma poder ser salva. Ser convertido ao Próprio Cristo é a melhor de todas as conversões. Descansar sobre a infalível eficácia do sangue de Cristo é salvação certa e segura para a alma, e perfeita paz com Deus.

Havia, sem dúvida, muitos homens bons e sinceros no campo missionário, cujo estado espiritual poderia ter sido muito melhor do que sua posição eclesiástica, e a quem Deus poderia ter usado para ganhar almas preciosas para Si. Mas não pode haver dúvida de que o espírito dos missionários de Roma eram mais de proselitismo para a igreja de Roma do que para a fé e obediência a Cristo. O batismo e a implícita e inquestionável sujeição à autoridade do papa era a exigência feita a todos os convertidos, fossem governadores ou súditos. Não buscava-se a fé em Cristo. A ambição da Sé Romana era abraçar o mundo todo e, no que diz respeito à Europa, toda confissão pública de cristianismo que professasse independência da dominação romana deveria ser imediatamente suprimida, e totalmente destruída.

Exatamente nessa época, um monge de origem humilde, mas do mais extraordinário caráter, apareceu em cena. Nele foram cumpridos todos os sonhos de domínio da mente humana. Até então a missão do papado nunca tinha sido totalmente cumprida. Mas como nunca houve um papa assim até então, e nunca mais houve um assim desde então, devemos esboçar brevemente sua incomparável carreira.

domingo, 16 de outubro de 2016

Como o Homem é Responsável?

Mas onde, pode-se perguntar, e de que forma entra a responsabilidade do homem? Certamente o homem é responsável por considerar que Deus é verdadeiro, e aceitar como justo, por mais humilhante que seja, Seu julgamento sobre sua natureza e caráter. "Se recebemos o testemunho dos homens, o testemunho de Deus é maior" (1 João 5:9).  Aceite esse quadro sombrio que Deus pinta sobre o homem e diga: este sou eu, isto é o que eu tenho feito e o que eu sou. A salvação é pela fé: não pelo arbítrio (desejo), escolha, ou obras, mas sim pelo crer. "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele... E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más." (João 3:16-19)

Como poderia alguém deixar de ver que uma responsabilidade é criada por essa demonstração de bondade divina em Cristo, e uma de caráter tão óbvio, solene e considerável? Tanto é assim, de fato, que a evidência é decisiva e final, e que o incrédulo será julgado diante de Deus. Não é uma questão, perceba, deles não encontrarem perdão, mas de preferirem as trevas à luz para que continuem em pecado. Isto é o que Deus coloca contra eles, e como poderia haver um fundamento mais justo e razoável de condenação? Impossível. Que possa ser a feliz condição de todos os que leem essas páginas de se curvarem à humilhante sentença das Escrituras sobre nossa natureza, e de nos considerarmos pecadores perdidos à vista de Deus. Que assim um Deus todo misericordioso e gracioso nos encontre na grandeza de Seu amor, e nos abençoe com tudo o que é devido a Cristo, como o Salvador da humanidade.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

O Efeito da Pregação de Paulo em Filipos

A quantidade de judeus em Filipos aparentemente era pequena, já que não havia sinagoga no lugar. Mas o apóstolo, como de costume, vai a eles primeiro, mesmo quando se trata de umas poucas mulheres reunidas à margem do rio (Atos 16). Paulo prega a elas, Lídia é convertida, a porta é aberta, e outras também creem. Foi nesse lugar despretensioso, e àquelas poucas mulheres piedosas, que o evangelho foi pregado pela primeira vez na Europa, e onde a primeira casa foi batizada*. Mas o silencioso início e seus triunfos pacíficos logo foram perturbados pela malícia de Satanás e pela cobiça do homem. O evangelho não avançaria em meio ao paganismo com facilidade e conforto, mas com grande oposição e sofrimento.

{* A ação do Espírito quanto à família parece ter sido marcante entre os gentios; entre os judeus, até onde sabemos, não ouvimos falar disso. Encontramos, também, distritos entre os judeus, e também entre os samaritanos, que foram poderosamente impressionados (para dizer o mínimo) pelo evangelho. Mas entre os gentios, famílias parecem ter sido particularmente visitadas pela graça divina, como registrado pelo Espírito. Tome por exemplo Cornélio, o carcereiro e Estéfanas; de fato, encontramos isso vez após vez. Isto é extremamente encorajador - especialmente para nós. - Extraído de Leituras Introdutórias dos Atos dos Apóstolos, etc., por W. Kelly}

Enquanto o apóstolo e seus companheiros iam ao oratório, ou lugar de oração, uma jovem possuída por um espírito maligno os seguia, e clamava, dizendo: "Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo." (Atos 16:17). Da primeira vez, Paulo não deu atenção. Ele foi em frente com sua própria bendita obra de pregação de Cristo, e de ganhar almas para Ele. Mas a pobre e obsessiva escrava persistia em segui-los, e em proferir a mesma exclamação. Foi uma tentativa maliciosa do inimigo para impedir a obra de Deus ao prestar um testemunho aos ministros da Palavra. Deve ser observado que ela não presta testemunho a "Jesus", ou ao "Senhor", mas aos Seus "servos", e ao "Deus Altíssimo". Mas Paulo não queria um testemunho para ele mesmo, nem um testemunho vindo de um espírito maligno, e ele, "perturbado, voltou-se e disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo, te mando que saias dela. E na mesma hora saiu." (Atos 16:18)

Como a moça não podia mais praticar suas artes de adivinhação, seus mestres viram-se privados dos ganhos que eles tinham derivado daquela fonte. Enfurecidos pela perda de sua propriedade, e movendo as multidões ao seu favor, prenderam Paulo e Silas e os arrastaram perante os magistrados. Como eles estavam bem conscientes de que não tinham nenhuma acusação verdadeira para trazê-los perante eles, levantaram o velho clamor da "perturbação da paz" - de que eles estavam tentando introduzir práticas judaicas na colônia romana, e ensinar costumes que eram contrários às leis romanas. E, como tem sido muitas vezes, o clamor da multidão foi aceito no lugar da evidência, exame e deliberação. Os magistrados, sem perguntar mais nada, ordenou-lhes que fossem açoitados e lançados na prisão. E assim foi, aqueles benditos servos de Deus, feridos, sangrando e fracos foram entregues a um cruel carcereiro, que aumentou ainda mais o sofrimento deles ao prender-lhes os pés no tronco. Mas Paulo e Silas, em vez de ficarem deprimidos por seus sofrimentos no corpo e pelas sombrias paredes da prisão, alegraram-se por terem sido considerados dignos de sofrer vergonha e dor por causa de Cristo; e em vez do silêncio da meia-noite ser quebrado com os suspiros e gemidos dos prisioneiros, eles "oravam e cantavam hinos a Deus, e os outros presos os escutavam." (Atos 16:25)

Se a Satanás não lhe falta recursos para continuar sua obra ruim, a Deus não Lhe falta recursos para continuar Sua boa obra. Ele agora faz uso de tudo que aconteceu para direcionar o progresso da obra do evangelho, e para cumprir os propósitos do Seu amor. O carcereiro deve ser convertido, a igreja deve ser reunida, e um testemunho criado para o Senhor Jesus Cristo na própria fortaleza do paganismo. À meia-noite, enquanto Paulo e Silas estavam cantando e os prisioneiros estavam ouvindo ao som incomum, ocorre um grande terremoto. Deus entra em cena em majestade e graça. Ele levanta Sua voz e a terra treme: as paredes da prisão são chacoalhadas, as portas se abrem, e os grilhões de todo homem caem. E agora, o que são cadeias e prisões? O que são legiões romanas? O que é todo o poder do inimigo? A voz de Deus é ouvida na tempestade: mas a violência da tempestade é sucedida pela voz mansa e delicada do evangelho e da paz do Céu.

Logo despertado pelo terremoto, os primeiros pensamentos do carcereiro foram em relação a seus prisioneiros. Alarmado por ver as portas da prisão abertas, e supondo que os presos tinham fugido, ele pega sua espada para se matar. "Mas Paulo clamou com grande voz, dizendo: Não te faças nenhum mal, que todos aqui estamos." (Atos 16:28). Estas palavras de amor quebraram o coração do carcereiro. A calma serenidade de Paulo e Silas - sua recusa em valer-se da oportunidade de escapar - sua carinhosa preocupação para com ele - tudo combinado para fazê-los aparecer aos olhos do espantado carcereiro como seres de uma ordem superior. Ele deixou de lado sua espada, pediu por luz, saltou para dentro da prisão e, tremendo, caiu aos pés do apóstolo. Sua consciência foi, agora, alcançada, seu coração foi quebrantado, e havia algo como a violência de um terremoto agitando toda sua alma. Ele toma o lugar de um pecador perdido, e clama: "Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar?" (Atos 16:30). Ele não fala como o doutor da lei em Lucas 10:25: "Mestre, que farei para herdar a vida eterna?" O que estava em questão para o carcereiro não era sobre fazer algo para a vida, mas sobre a salvação para o perdido. O doutor da lei, como muitos outros, não conhecia a si mesmo como um pecador perdido, portanto ele não fala sobre salvação.

Em resposta à mais importante pergunta que os lábios humanos podem fazer, "O que devo fazer para ser salvo?", o apóstolo direciona a mente do carcereiro para Cristo - "Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa." (Atos 16:31). Deus deu a bênção, e toda sua família creu, se alegrou, e foi batizada. E agora tudo está mudado: o carcereiro leva os prisioneiros à sua própria casa - sua crueldade é transformada em amor, simpatia e hospitalidade. Na mesma hora da noite, lavou-lhes os vergões - lhes ofereceu comida - regozijou-se, crendo em Deus com toda sua casa. Que noite agitada! Que mudança em poucas horas! E que manhã alegre clareou sobre aquela feliz casa! O Senhor seja louvado!

Como o rei Dário, os magistrados parecem ter sido perturbados durante a noite. A notícia do terremoto, ou de que Paulo e Silas eram cidadãos romanos, parece tê-los alcançado. Mas assim que amanheceu, mandaram dizer ao carcereiro que "soltassem aqueles homens". Ele, imediatamente, fez conhecer a ordem a Paulo e Silas, e desejou-lhes que partissem em paz. Mas Paulo se recusou a aceitar sua liberdade sem algum reconhecimento público do erro de que haviam sido vítimas. Ele agora também torna conhecido o fato de que ele e Silas eram cidadãos romanos. As famosas palavras de Cícero tinham se tornado um provérbio, e tinham um imenso peso onde quer que fosse: "Acorrentar um cidadão romano é um ultraje, açoitá-lo é um crime". Os magistrados tinham, evidentemente, violado as leis romanas; mas Paulo só exigiu que, como eles tinham sido publicamente tratados como culpados, os magistrados fossem a público e declarassem que eram inocentes. Isto eles fizeram prontamente, vendo o erro que tinham cometido. "E, vindo, lhes dirigiram súplicas; e, tirando-os para fora, lhes pediram que saíssem da cidade. E, saindo da prisão, entraram em casa de Lídia e, vendo os irmãos, os confortaram, e depois partiram." (Atos 16:39-40) *

{* Veja os artigos evangelísticos sobre as principais personagens deste capítulo em Things New and Old, vol. 12, páginas 29-97.}


Antes de deixarmos este memorável capítulo, devemos apenas acrescentar algo que é muito agradável de se encontrar: na Epístola de Paulo aos Filipenses, as provas de um vínculo que os unia, e que continuou desde "o primeiro dia" até mesmo depois do aprisionamento de Paulo em Roma. Sua afeição pelos amados filipenses era maravilhosa. Ele se dirigiu a eles como "meus amados e mui queridos irmãos, minha alegria e coroa, estai assim firmes no Senhor, amados." (Filipenses 4:1). E ele reconhece, sem poder conter a alegria, sua comunhão incansável com eles no evangelho, e as muitas provas práticas do amável cuidado e carinhosa simpatia que eles tinham por ele. Já em sua residência em Tessalônica eles se lembravam das necessidades do apóstolo. "Porque também uma e outra vez me mandastes o necessário a Tessalônica." (Filipenses 4:16)

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O Eunuco Etíope Recebe o Evangelho

Filipe é agora chamado a deixar sua feliz e interessante obra em Samaria e descer até Gaza - um deserto - e lá pregar o evangelho a uma única pessoa. Certamente há, nesse fato, uma lição da mais profunda importância para o evangelista, e uma que não podemos deixar passar sem alguma breve observação.

O pregador, em tal cenário de despertar e conversão como houve em Samaria, necessariamente torna-se muito interessado na obra. Deus está colocando seu selo sobre o ministério da Palavra, e sancionando as reuniões em Sua presença. O obra do Senhor prospera. O evangelista é cercado de respeito e afeição, e seus filhos na fé naturalmente procuram por ele para obter mais luz e instrução para seus caminhos. "Como poderia ele deixar tal campo de trabalho?", muitos perguntariam, "Seria correto partir?". Apenas, respondemos, se o Senhor chamasse Seu servo a fazer isso, como Ele fez no caso de Filipe. Mas como alguém pode saber hoje em dia, visto que anjos e o Espírito não nos falam como falavam com Filipe? Embora um cristão, hoje em dia, não seja chamado dessa forma, ele deve procurar e esperar pela orientação divina. A fé deve ser seu guia. As circunstâncias não são seguras como guias; elas podem até nos repreender e nos corrigir em nosso andar, mas é o olho de Deus que deve ser nosso guia. "Guiar-te-ei com os meus olhos", essa é a promessa, "instruir-te-ei, e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir" (Salmos 32:8).

Somente o Senhor sabe o que é melhor para Seus servos e para Sua obra. O evangelista, em tal cenário, correria o risco de sentir sua própria importância pessoal. Daí o valor, se não a necessidade, da mudança do lugar de serviço.

"Levanta-te", falou o anjo do Senhor a Filipe, "e vai para o lado do sul, ao caminho que desce de Jerusalém para Gaza, que está deserta. E levantou-se, e foi; e eis que um homem etíope, eunuco, mordomo-mor de Candace, rainha dos etíopes, o qual era superintendente de todos os seus tesouros, e tinha ido a Jerusalém para adoração, regressava e, assentado no seu carro, lia o profeta Isaías. E disse o Espírito a Filipe: Chega-te, e ajunta-te a esse carro." (Atos 8:27-29)

É bela a obediência imediata e incondicional de Filipe nesse momento. Ele não faz nenhum questionamento sobre a diferença entre Samaria e Gaza - entre sair de um amplo campo de trabalho e partir para um lugar deserto para falar com uma única pessoa sobre a salvação. Mas o Espírito de Deus estava com Filipe. E o único desejo do evangelista deveria ser de sempre seguir a direção do Espírito. A partir da falta de discernimento espiritual, um pregador poderia permanecer no mesmo lugar após o Espírito ter terminado seu trabalho ali, e assim o serviço é vão.

Deus, em Sua providência, cuida de Seu servo. Ele envia um anjo para direcioná-lo quanto à estrada que ele havia de tomar. Mas quando se trata do evangelho e do lidar com almas, o Espírito toma a direção. "E disse o Espírito a Filipe: Chega-te, e ajunta-te a esse carro." Não sabemos de nada, em toda a história da igreja, mais interessante que essa cena no caminho para Gaza. O anjo e o Espírito de Deus acompanham o evangelista: o primeiro representando a providência de Deus em indicar exatamente a estrada a tomar, e o último representando o poder espiritual direcionando o lidar com as almas. Assim como era, assim é agora, embora tendemos a adotar mais o hábito de pensar na orientação do Espírito do que na direção de providência. Que possamos confiar em Deus para tudo! Ele nunca muda!

O evangelho agora encontra seu caminho, na pessoa do tesoureiro da rainha, para o centro da Abissínia. O eunuco crê, é batizado, e segue seu caminho cheio de alegria. O que ele procurava, em vão, em Jerusalém, tendo seguido uma longa jornada até lá, ele encontra no deserto. Um belo exemplo da graça do evangelho! A ovelha perdida é encontrada no deserto, e águas vivas brotam de lá. O eunuco é também um belo exemplo de uma alma ansiosa. Quando sozinho e ocioso, ele lê o profeta Isaías.  Ele reflete sobre a profecia do sofrimento sem resistência do Cordeiro de Deus. Mas o momento de luz e libertação era chegado. Filipe explica o profeta: o eunuco é ensinado por Deus - ele crê: imediatamente deseja o batismo e retorna para casa, cheio das novas alegrias da salvação. Será que ele ficaria calado sobre o que encontrou quando lá chegasse? Certamente não, um homem de tal caráter e influência teria muitas oportunidades de disseminar a verdade. Mas, como tanto as Escrituras quanto a história são omissas quanto aos resultados de sua missão, não nos aventuremos além.

SUSTRIS, Lambert. "The Baptism of the Ethiopian Eunuch by the Deacon Philip"

O Espírito é ainda visto em companhia de Filipe e o leva para longe. Ele se encontra, então, em Azoto, e evangeliza todas as cidades até Cesareia.

Mas uma nova era na história da igreja começa a despontar. Um novo obreiro entra em cena: o mais notável, em muitos aspectos, que já serviu ao Senhor e à Sua igreja.

domingo, 6 de julho de 2014

A Descida do Espírito Santo

O tempo chegou. A redenção foi consumada, Deus foi glorificado - Cristo está à Sua direita no Céu, e o Espírito Santo desce à Terra. Deus inaugura a igreja, fazendo isto de maneira adequada à Sua própria sabedoria, poder e glória. Um poderoso milagre é operado, um sinal do alto é dado. O grandioso evento é assim registrado:

Atos 2: "E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos concordemente no mesmo lugar. E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem." Talvez seja bom fazer uma pausa por um momento e observar algumas coisas conectadas à descida do Espírito Santo e à demonstração de Seu poder nesse importante dia.

Havia, em primeiro lugar, o cumprimento da promessa do Pai: o próprio Espírito Santo foi enviado do Céu. Esta era a grande verdade do Pentecostes. Ele veio das alturas para habitar na igreja - o lugar preparado para Ele pela aspersão do sangue de Jesus Cristo. Havia também o cumprimento da palavra do Senhor aos apóstolos: "Vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias." (Atos 1:5). Talvez os discípulos não soubessem o significado dessas palavras, mas o fato é que agora estavam cumpridas. A revelação completa da doutrina do "um só corpo" aguardava o ministério de Paulo: "Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito." (1 Coríntios 12:13)

Mas, além disso, além dos vários dons dispensados para a obra do Senhor, temos algo mais benditamente pessoal, e bastante novo na Terra. O próprio Espírito Santo veio habitar, não apenas na igreja coletivamente, mas também em cada indivíduo que crê no Senhor Jesus. E, graças ao Senhor, este tão bendito fato é tão verdadeiro hoje quanto era naqueles dias. Ele habita agora em cada crente que descansa na obra consumada (finalizada) de Cristo. O Senhor tinha dito, predizendo esse dia: "Porque [o Espírito Santo] habita convosco, e estará em vós" (João 14:17). Esses dois grandes aspectos da presença do Espírito foram totalmente alcançados no dia de Pentecostes. Ele veio para habitar em cada cristão e na igreja; e agora - que bendita verdade - sabemos que Deus não é apenas para nós, mas em nós, e conosco.

Quando "Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude", Ele apareceu na forma de uma pomba - um belo símbolo da imaculada pureza, da mansidão e da humildade de Jesus. Ele não veio fazer Sua voz ecoar pelas ruas, ou quebrar o caniço rachado, ou apagar o pavio que se queima. Porém, no caso dos discípulos que esperavam em Jerusalém, foi completamente diferente. O Espírito Santo desceu sobre eles como línguas repartidas - línguas como que de fogo que pousaram sobre cada um deles. Isto foi característico. Era o poder de Deus dando testemunho de que aquilo deveria ir além, não apenas para Israel, mas para todas as nações da Terra. A palavra de Deus também julgaria a todos que viriam depois - ela era como línguas de fogo {* ver nota de rodapé}. O juízo de Deus sobre o homem por causa do pecado tinha sido judicialmente expresso na cruz, e agora tal fato solene deve ser tornado público a todos pelo poder do Espírito Santo. No entanto, a graça reina - reina através da justiça, para a vida eterna, por Cristo Jesus. O perdão é proclamado aos culpados, salvação aos perdidos, paz aos conturbados, e descanso aos cansados. Todos os que creem são, e serão para sempre, abençoados em - e com - um Cristo rescussitado e glorificado.

O espanto e consternação do Sinédrio e do povo judeu deve ter sido realmente grande na reaparição, em tal poder, dos seguidores do Jesus crucificado. Eles tinham, sem dúvida, concluído que, como o Mestre tinha partido, os discípulos não poderiam fazer nada por si mesmos. Para a maioria, os discípulos eram simples homens iletrados. Mas qual deveria ter sido o espanto das pessoas quando ouviram que aqueles homens simples estavam pregando corajosamente nas ruas de Jerusalém, e fazendo convertidos aos milhares para a religião de Jesus! Mesmo vista apenas historicamente, a cena é cheia do mais emocionante interesse, não havendo paralelo nos anais do tempo.

Jesus foi crucificado. Suas alegações de ser o Messias, à vista popular, tinham sido enterradas em Seu túmulo. Os soldados que guardavam Seu sepulcro tinham sido subornados para espalhar um falso relato quando à Sua ressurreição; a excitação popular tinha, sem dúvida, passado, e a cidade e a adoração no templo tinham retornado a seu curso normal, como se nada tivesse acontecido. Mas da parte de Deus as coisas não iriam ser deixadas passar quietamente. Ele estava esperando o tempo certo para reivindicar Seu Filho, e reivindicá-Lo no mesmo cenário de Sua humilhação. Isso aconteceu cedo de manhã, no dia de Pentecostes. Repentina e inesperadamente, Seus dispersos seguidores reapareceram em um poder miraculoso. Eles ousadamente acusaram os governantes e as pessoas culpadas de Sua apreensão, julgamento e crucificação - que eles haviam matado seu próprio Messias - mas que Deus O havia ressuscitado para ser Príncipe e Salvador, e para colocá-Lo em Seu lugar de direito no Céu. "Onde o pecado abundou, superabundou a graça" (Romanos 5:20)

A sentença de Babel, podemos também mencionar, foi revertida naquele maravilhoso dia. Nas diferentes línguas, pelas quais o homem tinha sido condenado por ter desobedecido a Deus, a salvação é proclamada. Essa poderosa e maravilhosa obra de Deus atraiu a multidão. Eles são surpreendidos, e especulam sobre o estranho acontecimento. Cada um, em sua própria língua do país de onde vieram, ouve dos lábios dos pobres galileus sobre as maravilhosas obras de Deus. Os judeus que habitavam em Jerusalém, não entendendo essas línguas estrangeiras, zombavam. Então Pedro se pôs de pé, e declarou a eles em sua própria língua, provando pelas suas próprias Escrituras, o verdadeiro caráter do que havia ocorrido.

{* Nota do tradutor: fogo, na Bíblia, sempre aparece com a conotação de juízo de Deus. Podemos refletir sobre a diferença na forma como o Espírito Santo pousou sobre o Senhor (pomba, simbolizando paz, pureza, mansidão), e como Ele se manifestou ao descer sobre a igreja (línguas como que de fogo, simbolizando juízo). Os crentes, embora sejam completamente salvos do juízo de Deus e feitos perfeitos - pelo novo nascimento - aos olhos de Deus pela obra consumada de Cristo, ainda possuem em si a velha natureza - a carne - enquanto neste mundo. A semelhança das línguas com fogo, no dia de Pentecostes, provavelmente simboliza que o Espírito Santo, em juízo, luta contra a carne, conforme Gálatas 5:17: "Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao outro, para que não façais o que quereis." }

A Ressurreição e Ascensão de Cristo

Encarnação, Crucificação, Ressurreição, são os grandes fatos ou verdades fundamentais da igreja - do cristianismo. A encarnação era necessária para a crucificação, e ambos para a ressurreição. É a bendita verdade de que Cristo morreu na cruz pelos nossos pecados, mas é igualmente verdade que o crente morreu em Sua morte (Veja Romanos 8; Colossenses 2). A vida cristã é vida em ressurreição. A igreja é edificada sobre o Cristo ressuscitado. Nenhuma verdade pode ser mais bendita e maravilhosa do que a encarnação e crucificação, mas a igreja está associada com aquEle que está, agora, ressuscitado e glorificado.

Em Atos 1 temos aquilo que está conectado à ressurreição e ascensão do Senhor, e também com as ações dos apóstolos após a descida do Espírito Santo. O bendito Senhor, mesmo em ressurreição, ainda fala e age por meio do Espírito Santo. Foi "através do Espírito Santo" que Ele deu ordens aos apóstolos que Ele escolheu. Isso é digno de nota especial, pois nos ensina duas coisas:

1. O caráter de nossa união com Cristo; o Espírito Santo no cristão, e no Senhor ressurreto, une a ambos. "O que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito." Pelo "mesmo Espírito" eles são unidos.

2. Esse importante fato aponta para a bendita verdade do Espírito Santo habitando e agindo no cristão, até mesmo depois que realmente ocorrer a ressurreição. Então não haverá mais - como há agora - a carne em nós para Ele combater, mas irá, calma e desimpedidamente, nos levar à completa alegria do Céu - a feliz adoração, o bendito serviço, e a completa vontade de Deus.

O Senhor ressurreto, a seguir, exorta os apóstolos, que esperam em Jerusalém pela "promessa do Pai" que, diz Ele, ouviste de Mim. "Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias." (Atos 1:5) Não é mais uma questão de promessas temporais a Israel; estas devem ser deixadas de lado até um dia futuro. A promessa do Pai sobre o Espírito Santo era algo inteiramente distinto, e grandemente diferente em seus resultados.

Muitas coisas "concernentes ao reino de Deus" foram conversadas entre o Senhor e Seus apóstolos, então Ele ascende (sobe) ao Céu, e uma nuvem O recebe, fora da vista dos discípulos. O retorno do Senhor é, então, mais clara e distintamente revelada: "E, quando dizia isto, vendo-o eles, foi elevado às alturas, e uma nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos. E, estando com os olhos fitos no céu, enquanto ele subia, eis que junto deles se puseram dois homens vestidos de branco. Os quais lhes disseram: Homens galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir." (Atos 1:9-11) É bem evidente, a partir dessas palavras, que Ele subiu pessoalmente, visivelmente, corporalmente, e que Ele também virá de novo da mesma maneira - que Ele, novamente, aparecerá entre as nuvens, e será manifesto às pessoas na Terra, pessoalmente, visivelmente e corporalmente; mas, nesse dia, será com poder e grande glória.

Os apóstolos e discípulos agora aprenderam duas coisas:

1. Que Jesus foi tirado deste mundo para o Céu;

2. Que Ele estaria voltando novamente a este mundo. 

Com base nesses dois grandes fatos o testemunho deles foi fundamentado. Mas Jerusalém seria o ponto inicial de seu ministério, e eles deveriam esperar pelo poder do alto. Chegamos, agora, ao segundo grande evento, de extrema importância no que diz respeito à condição do homem neste mundo - o dom (dádiva) do Espírito Santo. Agora seria não apenas Deus por nós, mas Deus em nós. Isto aconteceu no dia de Pentecostes.

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