domingo, 25 de agosto de 2024

A Epístola à Igreja em Sardes - Parte 4

No antigo sistema católico, a salvação era uma questão, não apenas de fé em Cristo Jesus, mas de privilégio eclesiástico. Toda bênção dependia de se haver uma conexão com a igreja de Roma. Não havia perdão de pecados, nem paz com Deus, nem vida eterna em Cristo, nem salvação para a alma, fora de sua comunhão. Foi este dogma blasfemo e ousado que lhe deu tal poder enorme durante a Idade das Trevas, e que fez de suas excomunhões as punições mais insuportáveis que poderiam ser impostas a pessoas ou nações. Quando a igreja proferia sua voz de censura, a vítima de seus trovões não conhecia poder de resistência. Não havia um homem, do monarca mais altivo ao súdito mais humilde, que não tremesse onde o raio caísse. Guerra, fome, pestilência, eram toleráveis, sendo calamidades temporais; mas a maldição do papa arruinava a alma para sempre, e a condenava a um inferno sem fim. Não importava quão genuína fosse a fé e a piedade de um homem, se ele não pertencia à santa igreja católica e não desfrutava do benefício de seus sacramentos, a salvação era impossível. Essa doutrina temerosa, que então era crida, fez da igreja tudo — mestre, legisladora, salvadora — e a comunhão com ela o único caminho para o céu, qualquer que fosse o caráter individual. Ela também reivindicava o privilégio de dizer quem deveria ser chamado santo e quem não deveria; quem iria diretamente para o céu após a morte, e quem iria para o purgatório, e por quanto tempo deveriam ser retidos lá. O lugar e a importância de cada homem, tanto no tempo quanto na eternidade, só podiam ser decididos por aquela que se autodenominava a Igreja, a esposa de Cristo.

Mas esse mal monstruoso, que ficou oculto por séculos nas trevas mais congeniais, foi trazido à luz na Reforma. A massa amadurecida de corrupção não podia mais escapar da execração da humanidade. Muitos se levantaram em rebelião contra ela, declararam que todo o sistema do papado era a mentira de Satanás, e que o protesto de Lutero era a verdade de Deus. Mas os reformadores, em vez de confiarem em Cristo, que se apresenta à fé como superior a todas as circunstâncias, e fazendo d'Ele seu refúgio e força, caíram no laço de olhar para o magistrado civil como um braço protetor contra as perseguições de Roma, e como aquele que deveria regular os movimentos das sete estrelas. A autoridade eclesiástica — a nomeação de ministros — passou para as mãos dos poderes deste mundo. Este foi o fracasso do Protestantismo desde o início. Vejamos o testemunho de outro autor:

"Assim, o Protestantismo sempre este errado, eclesiasticamente, porque olhava para o governante civil como aquele em cujas mãos estava investida a autoridade eclesiástica; de modo que, se a igreja tinha sido, sob o papado, a governante do mundo, o mundo agora se tornou, no Protestantismo, o governante da igreja... Sardes descreve o que se seguiu à Reforma, quando o brilho e o fervor da verdade e o primeiro influxo de bênçãos haviam passado, e um formalismo frio havia se instalado... Em terras protestantes, sempre houve uma medida de liberdade de consciência. Mas o objetivo de Deus não é apenas libertar da maldade grosseira ou de meros detalhes, mas que a alma esteja correta para com Deus, e que permita ao Senhor ter Seu caminho e glória — liberdade para o Senhor trabalhar pelo Espírito Santo de acordo com Sua vontade. Quando Ele é colocado em Seu devido lugar, há o fruto abençoado disso em amor e liberdade santa. Não é a liberdade humana derivada do poder do mundo que queremos — embora Deus nos proíba de falar contra os poderes constituídos na própria esfera de atuação deles — mas a liberdade do Espírito Santo. É o pecado dos cristãos ter colocado os poderes constituídos em uma posição falsa. O Senhor Jesus toca a raiz de toda a questão na forma como Se apresenta à igreja de Sardes. Quer seja poder espiritual ou a autoridade externa que dele flui, o Senhor reivindica tudo como pertencente a Si... Quando há fé para olhar para Ele em Seu lugar como Cabeça da igreja, Ele certamente suprirá toda necessidade. Se Ele ouve o mais simples clamor de Seus cordeiros, não entraria Ele na necessidade mais profunda de Sua igreja, que sempre é Seu objeto mais amado? Ele assumiu Sua posição de Cabeça da igreja apenas na glória celestial, e Ele foi para lá não apenas para ser, mas para agir, como o Cabeça."*

{* Comentários sobre o Apocalipse - Sardes, por W. Kelly.}

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