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domingo, 14 de janeiro de 2018

A Segunda Cruzada (1147 d.C.)

Tendo assim dado um relato um pouco minucioso e detalhado sobre a primeira cruzada, precisamos fazer pouco mais do que fornecer algumas datas, com alguns pontos em particular, das sete seguintes cruzadas. As mesmas causas nada razoáveis e não bíblicas, mas empolgantes para o povo, e os mesmos resultados desastrosos, são aparentes em cada uma das expedições. Elas nada mais foram do que várias cópias fracas e mal sucedidas da original.

Os descendentes imediatos dos primeiros cruzados são descritos como dando lugar à vida de facilidade e luxúria, tornando-se assim completamente depravados e efeminados. Mas, por outro lado, os muçulmanos, tendo se recuperado de seu repentino terror e consternação, reuniram grandes forças e assediaram os cristãos com guerras perpétuas. Em 1144, Zengi, príncipe de Mosul, tornou-se mestre de Edessa. Os habitantes foram abatidos, a cidade saqueada e totalmente destruída. A exultação dos muçulmanos não se podia conter: eles ameaçaram a Antioquia, e a coragem dos cristãos começou a afundar. Com lágrimas eles, então, imploraram pelo auxílio dos reis cristãos e dos exércitos da Europa. "Os inimigos da cruz estão avançando", clamavam, "milhares de cristãos foram massacrados, e nenhum será deixado vivo na Terra Santa a menos que a ajuda venha rapidamente".

O Pontífice Romano, Eugênio III, ouviu essas petições, e resolveu provocar uma nova cruzada. Os reis, príncipes e o povo da Europa foram convocados, pelas cartas do papa, para a guerra santa, mas a pregação da cruzada sobre esses países foi delegada ao celebrado São Bernardo, abade de Claraval.  Ele foi um homem de imensa influência, de caráter santo e de grande reputação pela realização de milagres. Na mais brilhante eloquência, ele retratava os sofrimentos dos cristãos orientais, a profanação dos lugares santos pelos infiéis, e o sucesso assegurado dos exércitos do Senhor. Luís VII da França, sua rainha, e um vasto número de seus nobres, tomaram o voto, e devotaram-se à guerra santa. Conrado III, imperador da Alemanha, após resistir por um tempo aos apelos de São Bernardo, com o tempo declarou-se pronto a obedecer ao chamado do serviço de Deus. Muitos dos chefes da Alemanha seguiram o exemplo do imperador ao tomar a cruz -- como era então a frase da vez -- mas era uma cruz sem a verdade nem a graça, a terrível ilusão de Satanás, e perversa prostituição do símbolo sagrado para a cegueira e ruína de milhões.

Assim que esses monarcas tomaram o voto, os preparativos para a expedição foram iniciados. Tropas e suprimentos de todo tipo foram coletados; e no ano de 1147, seus poderosos exércitos, compostos principalmente de franceses, alemães e italianos, e com mais de novecentos mil, avançaram em duas tropas em direção à Palestina. Prosseguindo, como pensaram, e como Bernardo lhes tinha assegurado, sob a sanção dos céus, eles esperavam que agora o golpe final seria dado contra o poder dos muçulmanos, que o reino de Jerusalém seria firmemente estabelecido, e que a paz seria assegurada aos cristãos latinos. Em alguns aspectos, a segunda cruzada diferiu da primeira. Aquela foi o resultado do entusiasmo popular, e esta foi um grande movimento europeu, liderado por dois soberanos, seguidos por seus nobres, e apoiados pela riqueza e influência das nações; mas elas foram igualmente mal sucedidas como o exército de Pedro o Eremita. Eles foram cruelmente traídos pelos traiçoeiros gregos, que estavam com mais medo dos cruzados do que dos muçulmanos. A aproximação de cento e quarenta mil cavaleiros de armadura pesada, com seus atendentes imediatos, no campo, além das tropas de armadura leve, infantaria, padres e monges, mulheres e crianças -- em todos contando quase um milhão -- alarmou tanto os gregos efeminados que o imperador enviou homens exigindo que jurassem que não tinham nenhum desígnio contra o império. Mas o terror deles tomou a forma de hostilidade, e enquanto os cruzados entravam no território imperial, dificuldades erguiam-se por todos os lados.

A história da segunda cruzada na Terra Santa é mais lamentável, vergonhosa, e desastrosa do que a primeira. Em 1149, Conrado e Luís levaram de volta à Europa os poucos soldados que sobreviveram. O que aconteceu com o resto? Seus ossos forravam todas as estradas e desertos sobre os quais eles passaram. Um milhão tinha perecido em menos de dois anos. Altos murmúrios foram ouvidos contra Bernardo, sendo o padre por cuja pregação, profecias e milagres, a cruzada tinha sido principalmente promovida. Mas o astuto abade convenceu o povo de que ele estava certo em tudo o que disse, e que a falha na expedição foi um castigo cabível pelos pecados dos cruzados. Assim vemos que o único efeito da segunda cruzada foi de drenar a Europa de uma grande porção de sua riqueza, e da flor de seus exércitos, sem melhorar a condição dos cristãos no Oriente.

domingo, 10 de dezembro de 2017

O Cerco de Niceia

O zelo e a indignação dos peregrinos foram grandemente excitados quando viram a pirâmide de ossos que marcou o lugar onde Gualtério e seus companheiros tinham caído. Niceia foi sitiada e caiu em cerca de cinco semanas, mas eles ficaram muito desapontados com o saque esperado. Quando os turcos perceberam que sua posição não era mais sustentável, secretamente concordaram em entregar a cidade a Aleixo. A bandeira imperial foi erguida na cidadela, e a importante conquista foi guardada com invejosa vigilância pelos pérfidos gregos. Os murmúrios dos chefes eram inúteis, e após alguns dias de descanso, dirigiram sua marcha em direção à Frígia.

A grande batalha de Dorílio foi lutada cerca de quinze dias após o cerco de Niceia. Solimão reuniu suas hordas turcas e pôs-se em perseguição ao que ele chamou de bárbaros ocidentais. Ele os surpreendeu e atacou antes de terem alcançado Dorílio. Sua cavalaria é declarada pelos cristãos como tendo trezentos mil homens. Tão temível foi o início do ataque e tão espessas as flechas envenenadas, que os cruzados foram sobrepujados. Eles foram lançados em tal confusão que, não fosse a coragem pessoal e conduta militar de Boemundo, Tancredo, Roberto da Normandia, e a ajuda oportuna de Godofredo e Raimundo, todo o exército podia ter perecido. Com o tempo a longa batalha foi decidida em favor dos cruzados, e a campanha de Solimão caiu em suas mãos. A superstição afirmava que a vitória tinha sido ganha pelos campeões celestiais, que desceram para ajudar os cristãos.

Em uma marcha de 500 milhas através da Ásia Menor, o exército sofreu severamente de fome, sede, calor extremo, escassez de comida, e da dificuldade da marcha, o que diminuiu muito suas fileiras. A sede foi fatal para centenas em um único dia. Quase todos os cavalos morreram. E, acrescentando à confusão e consternação deles, a desunião apareceu entre os líderes, até mesmo em abertas contendas. Mas apesar de todas as dificuldades, a grande massa de cruzados que sobreviveram a essas calamidades seguiram a caminho de Jerusalém. Balduíno, o irmão de Godofredo, conseguiu se apossar da cidade de Edessa, e fundou o primeiro principado dos latinos além do Eufrates.

domingo, 15 de janeiro de 2017

O Papa Rejeita os Decretos de Leão

A inteligência do primeiro assalto de Leão III contra as imagens de Constantinopla encheu os italianos de dor e indignação; mas quando as ordens chegaram para forçar esses decretos fatais dentro das dependências italianas do império, todos levantaram seus braços contra isso, desde os maiores até os menores. O papa se recusou a obedecer as ordens e desafiou o imperador; e todo o povo jurou viver e morrer em defesa do papa e das imagens sagradas. Mas a complicação política dos assuntos naquele momento tornou impossível para o imperador forçar seus decretos nos domínios papais. Gregório se dirigiu ao imperador com grande tensão; o tom de sua resposta ao manifesto imperial respira um espírito do mais sedicioso desafio. Os monges, que viam seu ofício em perigo -- a superstição à qual deviam sua riqueza e influência -- pregavam contra o imperador como a um apóstata abandonado. Ele foi pintado por esses escravos da idolatria como alguém que combinava em sua pessoa todas as heresias que já haviam poluído a fé cristã e que ameaçavam as almas dos homens. Mas, exibindo o verdadeiro espírito do papado, tanto na defesa de sua querida superstição e idolatria, quanto em seu desafio ao poder secular, transcreveremos partes das epístolas originais do segundo e terceiro Gregório, deixando ao leitor que examine o quadro.

O papa Gregório II disse ao imperador: "Durante dez puros e afortunados anos temos provado os confortos anuais de tuas cartas reais, assinadas em tinta púrpura por tua própria mão, nas quais pudemos ver as sagradas promessas de teu apego ao credo ortodoxo de teus pais. Que deplorável mudança! Que tremendo escândalo! Tu agora acusas os católicos de idolatria; e pela acusação, trais tua própria impiedade e ignorância. A esta ignorância somos obrigados a adaptar a descortesia de nosso estilo e argumentos: os primeiros elementos das cartas sagradas são suficientes para tua confusão; e, se o imperador entrasse em uma escola de gramática e se declarasse o inimigo de nossa adoração, as simples e piedosas crianças lançariam suas tábuas de escrever em tua cabeça." 

Após essa desleal e ofensiva saudação, o papa tenta, como de costume, defender a adoração de imagens. Ele se esforça para provar a Leão a vasta diferença entre imagens cristãs e ídolos da antiguidade. Os últimos eram a representação fantasiosa de demônios, e as primeiras seriam a semelhança genuína de Cristo, de Sua mãe e de Seus santos. Ele então apela para as decorações no templo judaico -- o propiciatório, os querubins e os vários ornamentos feitos por Bezalel para a glória de Deus -- a fim de justificar o culto às imagens. Apenas os ídolos dos gentios, afirma ele, eram proibidos pela lei judaica. Ele nega que os católicos adoravam a madeira e a pedra: estes seriam apenas memoriais destinados a despertar sentimentos de piedade.

Ao falar de sua própria edificação ao contemplar as pinturas e imagens nas igrejas*, temos uma passagem de grande interesse histórico que mostra os temas habituais dessas pinturas: "O retrato miraculoso de Cristo enviado por Abgaro, rei de Edessa; as pinturas dos milagres do Senhor; a virgem mãe com o menino Jesus em seu colo, cercada por coros de anjos; a última ceia; a ressurreição de Lázaro; o milagre que deu vista ao cego; a cura do paralítico e do leproso; a alimentação das multidões no deserto; a transfiguração; a crucificação, sepultamento, ressurreição e ascensão de Cristo; o dom do Espírito Santo; e o sacrifício de Isaque."*

{* Cristianismo Latino, de Milman, vol. 2, p. 160.}


Gregório aborda longamente os argumentos comuns em defesa das imagens, e reprova o imperador pela violação dos mais solenes compromissos, e então irrompe em um tom desdenhoso, tal como: "Tu exiges um concílio: revogue teus decretos, cesse a destruição de imagens; um concílio não será necessário. Tu nos atacas, ó tirano, com um grupo carnal e militar: desarmado e nu só podes implorar a Cristo, o príncipe das hostes celestiais, pois Ele enviará a ti um demônio para a destruição de teu corpo e salvação de tua alma. Tu declaras, com tola arrogância: 'Despacharei minhas ordens a Roma, quebrarei em pedaços a imagem de São Pedro; e Gregório, como seu predecessor Martinho, será transportado em correntes, e em exílio, aos pés do trono imperial'. Quisera Deus que me fosse permitido pisar as pegadas do santo Martinho; mas que o destino de Constâncio possa servir de alerta aos perseguidores da igreja. Mas é nosso dever viver para a edificação e apoio ao povo fiel; e também não iremos arriscar nossa segurança no evento de um combate. Incapaz como és de defender teus súditos romanos, a situação marítima da cidade pode talvez expô-la a tuas depredações; mas só temos de nos retirar à primeira fortaleza dos lombardos, e então poderás, do mesmo modo, perseguir os ventos. Ignora tu que os papas são o vínculo de união, os mediadores da paz entre o Oriente e o Ocidente? Os olhos das nações estão fixados em nossa humildade; e elas reverenciam, como um Deus sobre a terra, o apóstolo São Pedro, cuja imagem tu ameaças destruir." 

{* N. do T.: aqui no sentido de edifícios onde cristãos se reuniam, e não no sentido bíblico do corpo de Cristo, composto por todos os verdadeiros crentes em Jesus, ou de uma assembleia reunida somente ao nome do Senhor.}


A conclusão da carta do papa evidentemente se refere a seus novos aliados além dos Alpes. Os francos tinham escutado obedientemente à recomendação papal de Bonifácio, o "apóstolo" da Alemanha. Negociações secretas já tinham começado para garantir a ajuda deles. A história e os resultados disso já examinamos em um capítulo anterior. Por isso o papa assegurou ao seu correspondente real que "os reinos remotos e interiores do Ocidente apresentam sua homenagem a Cristo e a Seu vice-gerente: e agora nos preparamos para visitar um dos mais poderosos monarcas, que deseja receber de nossas mãos o sacramento do batismo. Os bárbaros se submeteram ao jugo do evangelho, enquanto tu, sozinho, estás surdo à voz do Pastor. Esses piedosos bárbaros se acendem de raiva, têm sede de vingar as perseguições do Oriente. Abandona tua empreitada precipitada e fatal; reflita, trema e arrepende-te. Se persistires, somos inocentes do sangue que será derramado nessa disputa; que ele caia sobre tua cabeça."*

{* Veja Cathedra Petri, de Greenwood, vol. 3.}

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