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domingo, 12 de fevereiro de 2017

A Origem dos Paulicianos (653 d.C.)

Os gnósticos, que tinham sido tão numerosos e poderosos durante os primeiros dias do cristianismo, eram então um obscuro remanescente, principalmente confinados às aldeias ao longo das margens do Eufrates. Eles tinham sido expulsos pelos todo-poderosos católicos das capitais do Oriente e do Ocidente, e o restante de suas diferentes seitas passaram sob o genérico e odioso nome dos maniqueístas.

Nessa região, na aldeia dos Mananalis, próximo à Samósata, viveu por volta do ano 653 um homem chamado Constantino, que é descrito pelos escritores romanos como descendente de uma família maniqueísta. Logo após a conquista dos sarracenos da Síria, um diácono armênio, que retornava do cativeiro entre os sarracenos, tornou-se hóspede de Constantino. Em reconhecimento de sua hospitalidade o diácono presenteou-o com um manuscrito contendo os quatro Evangelhos e as quatorze Epístolas de São Paulo. Este era, de fato, um presente raro, uma vez que as Escrituras já eram escondidas dos leigos. O estudo desses livros sagrados produziu uma revolução completa em seus princípios religiosos, e em todo o curso subsequente de sua vida. Alguns dizem que ele tinha sido treinado no gnosticismo, outros, que ele era um membro da igreja grega estabelecida; mas, seja como possa ter sido, aqueles livros tornaram-se então seu único estudo e a regra de sua fé e prática.

Constantino pensou então em formar uma nova seita, ou melhor, em restaurar o cristianismo apostólico. Ele renunciou e jogou fora seus livros maniqueístas, como dizem seus inimigos; abjurou ao maniqueísmo e tornou uma lei para seus seguidores que não lessem qualquer outro livro além dos Evangelhos e das Epístolas do Novo Testamento. Isto pode ter dado aos seus inimigos o pretexto para acusá-los de rejeitarem o Antigo Testamento e as duas epístolas de São Pedro. Mas é mais que provável que eles não possuíssem essas porções da Palavra de Deus. É de se temer, no entanto, a partir de seu apego e devoção peculiar aos escritos e ao caráter de São Paulo, que outras Escrituras foram negligenciadas.

É geralmente aceito que a palavra pauliciano foi cunhada a partir do nome do grande apóstolo dos gentios. Seus cooperadores, Silvano, Timóteo, Tito e Tíquico eram representados por Constantino e seus discípulos; e suas congregações, como se espalharam por diferentes lugares, eram chamadas segundos os nomes das igrejas apostólicas. É difícil perceber como nesta assim chamada "inocente alegoria" os católicos poderiam ter sido tão gravemente ofendidos com os paulicianos, ou nisto encontrado um pretexto para caçá-los com fogo e espada. E mesmo assim o fizeram, como veremos a seguir. Seu "pecado imperdoável" era sua separação da igreja do Estado, seu testemunho contra a superstição e apostasia, e seu reavivamento de uma memória de um cristianismo primitivo puro.

domingo, 17 de julho de 2016

O Início do Arianismo

O arianismo foi o crescimento natural das opiniões gnósticas, e Alexandria, o viveiro das questões metafísicas e distinções sutis, seu local de nascimento. Paulo de Samósata e Sabélio da Líbia, no terceiro século, ensinavam falsas doutrinas similares à de Ário no quarto século. As seitas gnósticas em suas diferentes variedades, e a maniqueísta, que era a religião persa com uma mistura de cristianismo, podem ser consideradas religiões rivais, mas como facções cristãs, no entanto, todas elas fizeram sua obra má entre os cristãos quanto à doutrina da Trindade. Quase todas essas heresias, como são comumente chamadas, tinham caído sob o descontentamento real, e seus seguidores eram sujeitos a regulamentos penais. Os montanistas, paulitas, novacianos, marcionitas e valentinianos estavam entre as seitas proscritas e perseguidas. Mas havia uma outra heresia, uma mais profunda e tenebrosa, e muito mais influente do que qualquer outra que já tinha aparecido, que estava para estourar a partir do próprio seio da assim chamada "santa igreja católica". A seguir temos um relato do que aconteceu.

Alexandre, o bispo de Alexandria, em uma reunião com seus presbíteros, parece ter se expressado livremente sobre o assunto da Trindade, quando Ário, um dos presbíteros, questionou a verdade das posições de Alexandre, alegando que estavam aliadas aos erros sabelianos, que tinham sido condenados pela igreja. Essa disputa levou Ário a declarar suas próprias visões sobre a Trindade, que eram, em essência, a negação da divindade do Salvador -- que Ele seria apenas o primeiro e mais nobre dos seres criados, formado a partir do nada por Deus Pai -- que, embora imensuravelmente superior em poder e em glória aos mais elevados seres criados, Ele seria inferior ao Pai. Ele também defendia que, embora inferior ao Pai em natureza e em dignidade, Ele é a imagem do Pai e o representante do poder divino pelo qual Ele criou os mundos. Quais eram suas visões sobre o Espírito Santo não são tão claramente expostas.*

{* A doutrina blasfema de Ário era um desdobramento do gnosticismo, talvez a menos ofensiva em aparência, mas direta e inevitavelmente destrutiva para a glória pessoal do Filho como Deus e, portanto, derrubava as bases da redenção. O unitarianismo moderno nega que o Senhor Jesus seja mais que um homem, negando até mesmo Seu nascimento sobrenatural da virgem Maria. No entanto, Socino afirmou que houve uma modificação singular em sua exaltação após Sua ressurreição, constituindo-O como um objeto adequado de adoração divina. Ário parecia se aproximar da verdade quanto a Sua preexistência antes de ter vindo ao mundo, e afirmava que Ele é o Filho de Deus, que criou o universo, mas manifestava que Ele próprio tinha sido criado, mesmo sendo a primeira e mais elevada das criaturas. Não era a mesma coisa que a negação sabeliana das personalidades distintas, mas a negação de que o Filho, e é claro também o Espírito, são a verdadeira, distintiva, essencial e eterna Divindade.}

O arianismo não apenas é inconsistente com o lugar dado ao Filho do começo ao fim das Escrituras, como também com a obra infinita de reconciliação e nova criação, e é distintamente refutada de antemão por muitas passagens das Sagradas Escrituras. Pode ser interessante citar algumas delas aqui. Aquele que, quando nascido de mulher, foi chamado Jesus, o Espírito de Deus declara (João 1:1-3) ser, no princípio, o Verbo que estava com Deus e era Deus. "Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez". É impossível conceber um testemunho mais poderoso de Sua subsistência não criada, de Sua personalidade distinta quando Ele estava com Deus antes da criação, e de Sua natureza divina. Ele é aqui mencionado como o Verbo, cujo correlato não é o Pai, mas Deus (e assim deixando espaço para o Espírito Santo); mas, para que Sua própria consubstancialidade fosse enfatizada, Ele é cuidadosa e definitivamente declarado Deus*. Voltando para além do tempo e da criatura, tão longe quanto alguém possa pensar, "no princípio era o Verbo". A linguagem é muito precisa: Ele estava no princípio com Deus, não no sentido de vir a ser ou chegar a ser, mas "Ele estava" em Seu próprio absoluto ser. Todas as coisas "vieram à existência" através dEle. Ele foi o Criador tão completamente que o apóstolo João acrescenta: "sem ele nada do que foi feito se fez". Por outro lado, quando a encarnação é afirmada no versículo 14, a linguagem é: "E o Verbo se fez carne", não no sentido de ser absoluto, mas no sentido de vir a ser. Além disso, quando Ele veio entre os homens, Ele é descrito como "o Filho unigênito, 'que está' [não apenas que estava ou esteve] no seio do Pai" (João 1:18) -- uma linguagem ininteligível e confusa a menos que se considere como demonstração de que Sua humanidade de modo algum diminui Sua divindade, e que a proximidade infinita do Filho com o Pai sempre subsiste.

{* A ausência do artigo aqui é necessariamente devido ao fato de que meos é o predicado de o Aoyos, que de modo nenhum poderia dar um sentido inferior de Sua Divindade, o que contradiria o próprio contexto. De fato, se o artigo tivesse sido inserido, seria uma heterodoxia muito grosseira, pois seus efeitos seriam a negação de que o Pai e o Espírito são Deus ao excluir a todos menos o Verbo da Divindade.}

Novamente, Romanos 9:5 é uma rica e precisa expressão da imutável e suprema Divindade de Cristo igualmente com o Pai e o Espírito. Cristo veio, "o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente. Amém". Os esforços dos críticos heterodoxos dão testemunho de toda a importância da verdade que eles em vão procuram abalar por esforços artificiais que somente fazem transparecer a insatisfação de seus autores. Não há mais enfática afirmação da suprema divindade em toda a Bíblia; porque a humilhação do Filho na encarnação e na morte de cruz a torna a mais cabal prova da divina supremacia que pode ser usada a favor dEle.

Em seguida, o apóstolo diz de Cristo: "O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele." (Colossenses 1:15-17). Os devaneios dos gnósticos são aqui antecipadamente cortados fora, pois demonstra que Cristo foi o chefe de toda a criação porque Ele foi o Criador, tanto dos seres invisíveis mais elevados quanto dos visíveis: todas as coisas são ditas terem sido criadas para Ele assim como por Ele; e como Ele é antes de tudo, assim tudo subsiste juntamente em virtude dEle.

A única outra passagem que preciso agora referenciar é Hebreus 1, onde o apóstolo ilustra a plenitude da Pessoa de Cristo entre outras escrituras do Antigo Testamento como o Salmo 45 e 102. No primeiro Ele é tratado como Deus e ungido como homem; no outro Ele é reconhecido como Jeová, o Criador, após Ele ser ouvido derramando Sua aflição como o rejeitado Messias.

É impossível, então, aceitar a Bíblia sem rejeitar o arianismo como um libelo hediondo contra Cristo e a verdade, pois não existe maior certeza de que Ele tenha se tornado um homem do que Ele ser Deus antes da criação, sendo Ele Próprio o Criador, o Filho e Jeová.

Alexandre, indignado com as objeções de Ário contra ele, e por causa de suas opiniões, o acusou de blasfêmia. "O ímpio Ário", exclamou, "o precursor do Anticristo se atreveu a proferir suas blasfêmias contra o divino Redentor". Ele foi julgado por dois concílios reunidos em Alexandria, e expulso da igreja. Ele se retirou para a Palestina, mas de modo nenhum desencorajado por sua desgraça. Muitos simpatizavam com ele, dentre eles dois clérigos chamados de Eusébio: um da Cesareia, o historiador eclesiástico, e outro, bispo da Nicomédia, um homem de imensa influência. Ário manteve uma correspondência animada com seus amigos, ocultando suas opiniões mais ofensivas, e Alexandre emitiu avisos contra ele, e recusou todas as intercessões de seus amigos que o queriam restaurado. Mas Ário era um antagonista astuto. Ele é descrito na história como uma pessoa alta e graciosa, calmo, pálido e de aparência branda; de discurso popular, mas com argumentação afiada; de vida rigorosa e irrepreensível, e de modos agradáveis; mas assim, sob um exterior humilde e mortificado,  ele ocultou os mais fortes sentimentos de vaidade e ambição. O adversário tinha habilmente selecionado seu instrumento. A aparente posse de tantas virtudes o tornou adequado para o propósito do inimigo. Sem essas aparências de justo ele não teria poder algum para enganar.

sábado, 14 de maio de 2016

O Estado Geral do Cristianismo

Antes de empreendermos um breve relato da perseguição sob Diocleciano, pode ser interessante rever a história e condição da igreja enquanto a luta final se aproximava. Mas, de modo a formar um julgamento correto do progresso e estado do cristianismo ao final de trezentos anos, devemos considerar o poder dos inimigos com quem tinha de contender.

1. Judaísmo. Vimos durante algum tempo, e especialmente na vida do apóstolo Paulo, que o judaísmo foi o primeiro grande inimigo do cristianismo. Teve de lutar, desde sua infância, com os fortes preconceitos dos judeus crentes, e com a amarga malícia dos incrédulos. Em sua região nativa, e onde quer que viajasse, o cristianismo foi perseguido por esse inimigo implacável. E após a morte dos apóstolos, a igreja sofreu muito ao ceder à pressão judaica, levando finalmente a remodelar o cristianismo de acordo com o sistema do judaísmo. O vinho  novo foi posto em odres velhos. 

2. Orientalismo. Próximo ao fim do primeiro século e do início do segundo século, o cristianismo teve de abrir caminho entre os muitos e conflitantes elementos da filosofia oriental. Seu primeiro conflito foi com Simão Mago, como registrado em Atos dos Apóstolos. Embora fosse samaritano de nascença, supõe-se que ele tenha estudado as várias religiões do Oriente em Alexandria. Ao retornar ao seu país de origem, ele avançou em pretensões muito altas em direção a um conhecimento e poder superior, fazendo pasmar o povo de Samaria, anunciando que ele próprio era alguém grande, a quem todos, desde o menor até o maior, davam ouvidos, dizendo: "Este é a grande virtude de Deus". A partir desta observação sobre Simão podemos aprender que influência tais homens tinham sobre as mentes dos ignorantes e supersticiosos, e também que poder terrível de Satanás a igreja tinha que enfrentar. Ele assumiu não somente o elevado título de "grande virtude de Deus", como também se vangloriava de possuir outras perfeições da Divindade. Os escritores geralmente se referem a ele como a cabeça e pai de toda a hoste de impostores e hereges.

Após ter sido tão aberta e vergonhosamente derrotado por Pedro, dizem que Simão Mago deixou Samaria e viajou por vários países, escolhendo especialmente aqueles nos quais o evangelho ainda não tinha chegado. Desde essa época ele introduziu o nome de Cristo em seu sistema, e assim se esforçou em confundir o evangelho com suas blasfêmias, confundindo a mente do povo. Quanto aos seus milagres e mágicas, suas maravilhosas teorias sobre ter ele mesmo descido do céu, e outras emanações, não temos nada a dizer, além de que provam ter sido, especialmente no Oriente, um obstáculo poderoso para o progresso do evangelho.

Os sucessores de Simão, tais como Cerinto e Valentino, sistematizaram de tal modo suas teorias que tornaram-se os fundadores de uma forma de gnosticismo que a igreja teve que enfrentar no segundo século. O nome "gnosticismo" envolve a ideia de ambições por um conhecimento superior. Costuma-se pensar que Paulo se refere a este significado da palavra ao alertar seu filho Timóteo contra a "falsamente chamada ciência" (1 Timóteo 6:20)

Embora esteja fora do escopo deste livro tentar qualquer coisa como um esboço desse tão difundido orientalismo ou gnosticismo, ainda assim devemos dar aos nossos leitores alguma ideia do que era. Isto se provou por um tempo como o mais formidável oponente do cristianismo. Mas à medida que os fatos e doutrinas do evangelho prevaleciam, o gnosticismo declinava.

Sob a cabeça dos gnósticos podem ser incluídos todos aqueles nos primeiros séculos da igreja que incorporaram em seus sistemas filosóficos as doutrinas mais óbvias e convenientes, tanto do judaísmo quanto do cristianismo. Assim o gnosticismo se tornou uma mistura de filosofia oriental, judaísmo e cristianismo. Por meio desta confusão satânica, a bela simplicidade do evangelho foi destruída e, por um longo tempo, em muitos lugares, seu verdadeiro caráter foi obscurecido. Foi um plano bem pensado e um poderoso esforço do inimigo, não apenas para corromper, mas também para minar e subverter todo o evangelho. Logo que o cristianismo apareceu os gnósticos começaram a adotar em seus sistemas algumas de suas mais sublimes doutrinas. O judaísmo já era profundamente modificado com isto antes da era cristã, provavelmente desde o cativeiro.

Mas o gnosticismo, devemos lembrar, não era uma corrupção do cristianismo, embora toda a escola de gnósticos seja chamada de herege pelos escritores eclesiásticos. Quanto à sua origem, o gnosticismo remonta desde a muitas religiões do Oriente, tais como a dos caldeus, dos persas, dos egípcios, dentre outras. Até mesmo em nossos dias tais filósofos seriam vistos como infiéis e estranhos ao evangelho de Cristo; mas nos primeiros tempos, o título de herege foi dado a todos os que, de qualquer maneira, introduziam o nome de Cristo em seus sistemas filosóficos. Por isso foi dito: "Se Maomé tivesse aparecido no segundo século, Justino Mártir ou Irineu teriam chamado ele de herege." Ao mesmo tempo, devemos reconhecer que os princípios da filosofia grega, especialmente o platônico, forçaram seu caminho, bem no começo, para dentro da igreja, corrompendo a corrente pura da verdade, e ameaçando, por um tempo, mudar o desígnio e o efeito do evangelho sobre a humanidade.

Orígenes, que nasceu em Alexandria - o berço do gnosticismo - por volta do ano de 185, foi o pai apostólico que deu forma e completude ao método alexandrino de interpretar as Escrituras. Ele distinguia nelas um tríplice sentido - o literal, o moral, e o místico - correspondendo, respectivamente, ao corpo, alma e espírito do homem. O sentido literal, defendia ele, podia ser entendido por qualquer leitor atento; o moral requeria uma inteligência mais elevada; e o místico só poderia ser aprendido por meio da graça do Espírito Santo, que devia ser obtida por oração.

O grande objetivo desse eminente mestre era harmonizar o cristianismo com a filosofia, e este foi o fermento da escola de Alexandria. Ele buscava juntar os fragmentos da verdade espalhados pelos outros sistemas, e uni-los em um esquema cristão, de modo a apresentar o evangelho em uma forma que não ofendesse os preconceitos, e que assegurasse a conversão de judeus, gnósticos e pagãos. Esses princípios de interpretação, e essa combinação do cristianismo com a filosofia, levou Orígenes e seus seguidores a muitos erros graves e sérios, tanto práticos quanto doutrinais. Ele mesmo era um cristão devoto, sincero e zeloso, e verdadeiramente amava o Senhor Jesus, mas a tendência de seus princípios nada mais fizeram, desde aqueles dias até hoje, além de enfraquecer a fé no caráter definitivo da verdade, se não também pervertendo-a toda por meio da espiritualização e alegorização, o que seu sistema ensinava e permitia.

A malignidade da matéria era um dos princípios fundamentais em todos as seitas dos gnósticos, e prevalecia em todos os sistemas religiosos do Oriente. Isto levou às mais loucas teorias quanto à formação e caráter do universo material e todas as substâncias corpóreas. Isto levou muitas pessoas a acreditarem que seus corpos eram intrinsecamente maus, recomendando-se a abstinência e severas mortificações corporais para que a mente, ou o espírito, que era visto como puro e divino, pudesse desfrutar maior liberdade, e ser capaz de contemplar melhor as coisas celestiais. Sem nos alongarmos sobre o assunto - o qual não apreciamos - o leitor poderá observar que o celibato do clero, em anos posteriores, e todo o sistema do asceticismo e monasticismo, tiveram sua origem, não nas Escrituras, mas na filosofia oriental.*

{* Para maiores detalhes sobre as diferentes seitas, veja o Dicionário das Igrejas Cristãs e Seitas, de Marsden. Robertson, volume 1; Neander, volume 2; Milman, volume 2; Mosheim, volume 1. }

3. Paganismo. A igreja não apenas tinha que enfrentar o judaísmo e o orientalismo, como também sofria com a hostilidade do paganismo. Estes eram os três formidáveis poderes de Satanás com os quais ele perturbou a igreja durante os três primeiros séculos de sua história. Na realização de sua alta comissão dada pelo Senhor -  "Fazei discípulos de todas as nações"... "Pregai o evangelho a toda criatura" - ela tinha esses inimigos para enfrentar e superar. Mas estes não poderiam impedir seu curso, se ela tivesse simplesmente andado em separação do mundo e permanecido verdadeira e fiel ao seu celestial e exaltado Salvador. Mas infelizmente, o que o judaísmo, o orientalismo e o paganismo não podiam fazer, as seduções do mundo conseguiram. E isto nos leva a olhar bem de perto para a condição da igreja quando a grande perseguição começou.

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