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domingo, 31 de março de 2019

Filipe e Otão

Filipe tinha vinte e dois anos de idade, e Otão vinte e três. "No caráter pessoal", dizem os cronistas, "em riqueza, e em número de aderentes, Filipe tinha a vantagem. Ele foi louvado por sua moderação e seu amor pela justiça. Sua mente tinha sido cultivada pela literatura a um grau muito incomum entre príncipes, e seus modos populares contrastavam favoravelmente com o orgulho e aspereza de Otão. Mas Otão era o favorito do grande corpo de clérigos, a quem Filipe era detestável, sendo representante de uma família que era considerada opositora aos interesses da hierarquia clerical."*

{*J.C. Robertson, vol. 3, p. 292.}

Mas -- pode o leitor perguntar -- e quanto ao jovem Frederico, que tinha sido coroado e ungido, e a quem ambos os príncipes e prelados tinham jurado lealdade, e sobre cujos direitos o papa foi generosamente pago para vigiar e cuidar? A única resposta a essa pergunta é encontrada na política secreta, porém pérfida, de Inocêncio. Seu único grande objetivo em permitir, se não em criar, essa grande disputa nacional pela coroa imperial, era a humilhação da arrogante casa da Suábia, de modo que toda consideração dos subordinados deviam ser sacrificados objetivando a limitação desse poder. Mas à consciência elástica do papado nunca faltava um motivo aparentemente piedoso para a perpetração das maiores iniquidades, ou da mais infiel e traiçoeira conduta. Inocêncio não podia negar as reivindicações de Frederico, e portanto faz uma demonstração de alta equidade ao admiti-la. Essa era a voz do dragão. Ele admite a legalidade de sua eleição, e o juramento de lealdade tomado pelos nobres do império. Mas, por outro lado, ele desenterra o fato de que o juramento foi exigido pelo pai antes do filho ter se tornado um cristão pelo batismo. Ele decretou que uma criança de dois anos de idade, não batizado, era uma nulidade: portanto seus juramentos eram nulos e vazios e todas as obrigações para com o jovem herdeiro foram inteiramente deixadas de lado.

Que caráter, podemos exclamar, para a posteridade contemplar! Ele que assumia ser "o representante da justiça eterna e imutável de Deus sobre a terra, absolutamente acima de toda paixão ou interesse", agora absolve todo o eleitorado da Germânia do mais solene juramento de fidelidade ao herdeiro legítimo do reino. Em vez de manter os direitos de sua ala -- a quem ele escreveu quando aceitou o cargo de cuidador de Frederico, "que apesar de Deus o ter visitado pela morte de seu pai e mãe, ele tinha lhe dado um pai mais digno -- Seu próprio vigário na terra; e uma melhor mãe -- a igreja" -- repreendendo os partidos rivais e os persuadindo à paz, o vemos fomentando a animosidade de ambos; vemos a justiça, a verdade, a paz, e toda reivindicação de humanidade, sacrificada na esperança do aumento e consolidação do poder papal. O astuto papa manteve-se por trás da cena, mas era ele que atiçava e alimentava a chama da contenda, sabendo que ambos os partidos seriam obrigados, pela perda de sangue e tesouros, a colocar a causa aos seus pés, e então ele poderia vir como o soberano diretor dos reis, podendo então ditar seus próprios termos. Essas convicções se confirmaram totalmente pelo seguinte juízo dado pelo historiador e decano Milman: "Dez anos de lutas e guerra civil na Alemanha devem ser traçadas como provenientes da obstinação inflexível do Papa Inocêncio III"*.

{* Latin Christianity, vol. 4, p. 33.}

domingo, 17 de junho de 2018

Os Abusos de Roma na Inglaterra (1162 d.C.)

Capítulo 22: Inglaterra (1162 - 1174 d.C.)


Abordaremos agora um período em nossa história que deve despertar peculiar interesse na mente do leitor inglês*. O governo anglo-saxão estava dando lugar ao governo anglo-normando, tanto na igreja quanto no Estado. A completa condição do país, ou estava mudada, ou estava em processo de mudança. Mas o padre italiano estava longe de estar satisfeito com o estabelecimento que eles tinham conseguido sob o reinado dos normandos. A florescente vinha de Nabote (ver 1 Rs 21) era cobiçada e precisava ser possuída, quer por meios justos ou imundos. A Inglaterra, com todo o seu orgulho, riqueza e poder, deveria ser reduzida a um estado de subserviência à Sé Romana. Esse era seu propósito estabelecido e necessário para a realização de seu plano. Observaremos, primeiramente, a posição dos antagonistas, e então a natureza e o fim da feroz batalha.

{*N. do T.: O autor do livro era inglês.}

Durante o reinado de Alexandre III, um pontífice capaz, sutil e vigilante, uma grande disputa surgiu na Inglaterra entre Henrique II e Tomás Becket, arcebispo da Cantuária, que atraiu e absorveu toda a mente da Europa por muitos anos. Isso lembra, em suas principais características, a longa guerra entre Henrique IV e Gregório VII, porém, se é que isso é possível, perseguida com maior amargor e obstinação, e terminando ainda mais tragicamente. Uma colisão tão violenta entre os poderes espirituais e seculares não tinha ocorrido desde os dias de Constantino. O caráter pessoal e a posição dos líderes, sem dúvida, atraíram a atenção do interesse mundial ao conflito. Mas era muito mais que um assunto pessoal: toda a questão do poder de Roma na Inglaterra, a prerrogativa do Soberano e a responsabilidade do assunto, tudo isso estava envolvido nessa nova guerra. Henrique, de verdadeiro sangue normando, estava determinado a se tornar rei e a governar de acordo com as leis e costumes do reino; Becket, um violento eclesiástico, estava igualmente determinado a manter, de acordo com os supostos infalíveis decretos de Roma, que a hierarquia eclesiástica era uma casta separada e privilegiada na comunidade, com direito à isenção de julgamento pelo processo civil, e sujeita apenas a sua própria jurisdição.

O leitor inglês do século XIX ficaria surpreso ao saber que um decreto do vaticano, enviado pelo legado do papa com o propósito de mudar as leis e costumes da Inglaterra, fosse ouvido sequer por um momento. Mas era assim na época; e os mais poderosos monarcas na Europa foram obrigados a se curvarem em humilhante submissão aos pés do pontífice. Mas qual o motivo desse terrível medo de Roma? Nada mais do que a ignorância e superstição do povo em geral. "O sistema romanista, com todas as suas insolentes pretensões, ainda estava envolto em uma auréola sangrenta de reverência supersticiosa, que espantava o pensamento ou o apagava pelo medo da morte temporal e eterna". O astuto padre podia alegar esfregar as chaves de São Pedro na cara de seu oponente, e ameaçar trancá-lo do lado de fora do céu e confiná-lo no inferno, se não obedecesse à igreja. Era sua declarada santidade e sua iníqua perversão das Escrituras que lhe davam tal poder sobre os ignorantes e supersticiosos.

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

As Cruzadas

Capítulo 20: As Cruzadas (1093 d.C. - 1213 d.C.) 


O inimigo {* N. do T.: o diabo} agora muda de tática. O papa ganhou pouco ou nada por meio de suas longas guerras contra o império, e o senso comum da humanidade tinha sido insultado por sua insolência sem igual. Meios mais plausíveis, mais enganadores e mais piedosos deveriam ser inventados. Como poderia o poder espiritual ganhar ascendência completa sobre o secular era ainda uma questão a ser resolvida pelo inimigo.

O gênio maligno de Roma que presidia em seus concílios sugere uma guerra santa com o propósito de resgatar o sepulcro de Cristo das mãos dos turcos incrédulos. O papa Urbano imediatamente abraça a sugestão e torna-se o líder do empreendimento. O Vaticano inteiro concordou. Era perfeitamente evidente que, por essas longas expedições à Palestina, o sangue da Europa deveria ser drenado, sua força exaurida, e seus tesouros desperdiçados. Não se pensava em tentar converter os incrédulos para a fé de Cristo -- a verdadeira missão do cristianismo -- mas em enfraquecer o poder dos monarcas seculares, para que os pontífices pudessem reinar sobre eles. O papado é, em essência, infiel. "Venerado seja entre todos o matrimônio" (Hebreus 13:4) -- entre todos, diz a Palavra de Deus. Não, diz Gregório, é concubinato no sacerdócio -- um pecado condenatório. Mas a Palavra de Deus permanece inalterada e inalterável. O casamento é venerável entre todos -- não apenas entre alguns, mas entre todo. Foi instituído pelo Próprio Deus que "formou uma mulher, e trouxe-a a Adão (o homem)" (Gênesis 2:22), foi sancionado por Cristo, e proclamado "venerável entre todos" pelo Espírito Santo. "Pregai o evangelho a toda criatura" é a comissão do Salvador a todos os que O tem como Salvador e Senhor. 'Não', diz Urbano, 'matem os incrédulos sem misericórdia. Esta é a obra que Deus exige em sua mão. Que o joio seja arrancado pela raiz, e lançado no fogo para que sejam queimados. Mas isso não é tudo. O poder das nações deve ser reduzido para que o pontífice possa triunfar sobre eles'. Os resultados logo mostrarão que tais eram os conselhos do gênio maligno do papado.

domingo, 27 de agosto de 2017

A Penitência do Rei

O final do mês de janeiro se aproximava; o ano da graça para o rei estava quase expirando, e Henrique resolveu aceitar as condições do papa. Ele estava determinado a fazer e suportar tudo para que pudesse desapontar os complôs de seus súditos rebeldes e reter o império.

"Em uma triste manhã de inverno", diz Milman, "com o chão coberto de neve, ao rei, o herdeiro de uma longa linhagem de imperadores, foi permitido que entrasse no interior de duas das três paredes que cingiam o castelo de Canossa. Ele tinha deixado de lado toda marca de realeza ou de posição distinta, e vestia-se apenas com o fino vestido branco do penitente, e ali, jejuando, aguardou em humilde paciência a presença do papa. Mas os portões não se fecharam. Ele ficou por mais um dia, no frio, faminto e ridicularizado em vã esperança. E ainda um terceiro dia se passou, de manhã até a noite, sobre a cabeça desprotegida do rei descoroado. Todo coração moveu-se, exceto o do "representante de Jesus Cristo". Mesmo na presença de Gregório havia murmúrios baixos e profundos contra seu orgulho e desumanidade nada dignos de alguém que se proclamava um apóstolo. A paciência de Henrique não conseguia mais aguentar. Ele tomou refúgio em uma capela adjacente de São Nicolau, para implorar, em lágrimas, mais uma vez pela intercessão do já idoso abade de Cluny. Matilde estava presente, e seu coração feminino estava derretido; ela se juntou a Henrique em suas súplicas ao abade. "Tu somente podes fazê-lo", disse o abade à condessa. Henrique caiu de joelhos e, extravasando de tristeza, suplicou por sua interferência misericordiosa. Diante das súplicas femininas de Matilde, Gregório com o tempo cedeu, com desagrado, permissão para que o rei viesse a sua presença. Com os pés descalços, ainda em trajes de penitência, ficou o rei, um homem singularmente alto e nobre, com um semblante acostumado a emitir ordens e terrores sobre seus adversários, perante o papa, um homem grisalho, de baixa e nada imponente estatura e curvado pelo peso dos anos."*

{* Cristianismo Latino, de Milman, vol. 3, p. 168.}


Os termos impostos sobre Henrique eram característicos de um tirano implacável e inexorável; o papa agiu nesse assunto mais como um demônio encarnado do que como um ser humano. Constatando que o penitente real tinha sido trazido de maneira tão humilhada, e que portanto aceitaria quaisquer termos, ele forçou-o a beber as mais amargas borras de humilhação. Não precisamos incomodar o leitor com suas extensas estipulações. Tais exigências jamais tinham sido feitas ou ouvidas antes nos anais da humanidade. Mas seu grande objetivo era a consolidação de seu próprio elaborado esquema de autoridade papal. Tendo colocado seus pés sobre o pescoço do maior monarca do mundo, ele tentou o estabelecimento do direito do pontífice, diante de toda a Europa, de julgar reis, depôr reinos e absolver súditos de seus juramentos de fidelidade a reis excomungados. Isto deu ao papa um enorme poder sobre todo o mundo, e constituiu a rebelião contra um soberano legítimo um dever sagrado à igreja e a Deus.

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