Mostrando postagens com marcador Estado. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Estado. Mostrar todas as postagens

sábado, 24 de dezembro de 2016

A Sanção de Zacarias à Conspiração de Pepino

A parte que Bonifácio e seu chefe, o papa, tiveram nessa revolução, e a moralidade dos procedimentos, têm sido assuntos de muita controvérsia. Os escritores papais têm dolorosamente tentado exonerar os inescrupulosos sacerdotes, e os escritores protestantes tentam criminalizá-los. Mas se compararmos a conduta deles com os princípios do Novo Testamento, não pode haver controvérsia. Cada princípio e sentimento correto, tanto humanos quanto divinos, foram prontamente sacrificados para assegurar a aliança de Pepino contra os gregos e lombardos. A violação dos direitos sagrados dos reis, a grande lei da sucessão hereditária, a rebelde ambição de um servo, a degradação do soberano legítimo, e a absolvição de súditos por suas infidelidades, são aqui todos sancionados pelo papado como sendo corretos aos olhos de Deus, uma vez que eles eram os meios pelos quais o papa seria elevado à uma soberania secular. Tal foi a ousada perversão e a terrível blasfêmia da Sé Romana na metade do século VIII. Que o estudante da história da igreja tome nota dessa ocorrência como característica do papado, e como um precedente para suas futuras pretensões. Este acontecimento é geralmente relatado como o primeiro exemplo de interferência do papa nos direitos dos príncipes e na fidelidade dos súditos. Mas os sucessores de Zacarias fizeram amplo uso desse precedente em anos posteriores. Eles afirmavam que os reis da França, a partir desse tempo, podiam ser coroados apenas pela autoridade do papa, e que a sanção papal era seu único título legal. Mal podiam Pepino ou Zacarias prever os imensos efeitos dessa negociação na história da igreja e do mundo. Foi o grande primeiro passo em direção ao futuro reinado do bispo de Roma -- o importante elo na cadeia de eventos.

domingo, 13 de novembro de 2016

O Imperador Justiniano

O nome de Justiniano é tão famoso na história, e tão conectado à legislação tanto civil quanto eclesiástica, que seria injusto para com nossos leitores passar por ele sem tomar uma nota, mesmo que ele não esteja imediatamente relacionado à igreja latina. Ele pertencia ao Oriente, e assim dificultava a ascensão do Ocidente.

No ano 527 Justiniano ascendeu ao trono de Constantinopla e o ocupou por quase quarenta anos. Ele delegou os assuntos políticos e militares do império a seus ministros e generais, e devotou seu tempo às coisas que ele pensava serem mais importantes. Ele gastou muito de seu tempo em estudos teológicos e na regulação dos assuntos religiosos de seus súditos, tais como prescrever o que os sacerdotes e o povo devia crer e praticar. Ele gostava de se misturar em controvérsias e de agir como legislador em assuntos religiosos. Sua própria fé -- ou melhor, sua servil superstição -- distinguia-se pela mais rígida ortodoxia, e uma grande porção de seu longo reinado foi gasto na extinção de heresias. Mas isto levou a muitos casos de perseguição, tanto públicas como privadas.

Nesse meio tempo Justiniano viu um novo campo se abrindo para suas energias em outra direção, e imediatamente voltou sua atenção a isto. Após a morte de Teodorico, o Grande, em 526, os assuntos da Itália caíram em uma condição muito confusa, e os novos conquistadores estavam longe de permanecerem firmemente assentados em seus tronos. Despertando a hostilidade dos romanos contra os bárbaros, o exército imperial tornou-se unido e determinado; e, conduzidos pelos capazes generais Belisário e Narses, as conquistas da Itália e África foram alcançadas em um espaço muito curto de tempo. Diante da visão das bem conhecidas águias, os soldados dos bárbaros se recusaram a lutar, e as nações lançaram fora a supremacia dos ostrogodos. Os generais imperiais buscaram então uma guerra de extermínio. Conta-se que durante o reinado de Justiniano a África perdeu cinco milhões de habitantes. O arianismo foi extinto naquela região, e na Itália supõe-se que o número dos que pereceram pela guerra, fome, ou por outros motivos, tenha excedido sua população atual {* N. do T.: Este livro foi escrito no Século XIX}. Os sofrimentos desses países, durante as revoluções desse período, foram maiores do que tinham suportado em qualquer outro, seja em tempos anteriores ou posteriores, de modo que tanto os eventos seculares do reinado de Justiniano quanto seus próprios esforços legislativos tiveram uma influência importante, porém muito infeliz, na história do cristianismo.

Após erigir a igreja* de Santa Sofia, e outras vinte e cinco outras igrejas* em Constantinopla, e após publicar um novo édito  de seu código, ele morreu em 565 d.C.**

{* N. do T.: Aqui provavelmente no sentido de construção religiosa, ou templo, e não no sentido bíblico de "igreja".}

{** Milman, vol. 1, p. 350; J. C. Robertson, vol. 1, p. 473; Milner, vol. 2, p. 336.}


Passemos então ao terceiro grande fundador do edifício papal.

domingo, 24 de julho de 2016

Reflexões Sobre os Grandes Eventos do Reinado de Constantino

Antes de prosseguirmos com nossa história geral, será interessante fazer uma pausa por um momento e considerar o significado das grandes mudanças que ocorreram, tanto na posição da igreja quanto no mundo, durante o reinado de Constantino, o Grande. Não seria demais dizer que a igreja passou pelas mais importantes crises de sua história, e que a queda da idolatria pode ser considerada como o evento mais importante em toda a história do mundo. Desde um período pouco após o dilúvio, a idolatria tinha prevalecido entre as nações da terra, e Satanás, por seus artifícios, tinha sido o objeto de adoração. Mas todo o sistema da idolatria foi condenado por todo o mundo romano, se não finalmente derrubado, por Constantino; de qualquer modo, ela tinha recebido sua ferida mortal.

A igreja, sem dúvida, perdeu muito por sua união com o Estado. Ela não mais existia como uma comunidade separada, e não era mais governada exclusivamente pela vontade de Cristo. Ela tinha abandonado sua independência, perdido seu caráter celestial, e se tornado inseparavelmente identificada com as paixões e interesses do poder governante. Tudo isso foi extremamente triste, e o fruto de sua própria incredulidade. Mas, por outro lado, o mundo ganhou muito com essa mudança. Isto não pode ser ignorado em nossas lamentações sobre o fracasso da igreja. O estandarte da cruz agora se erguia por todo o império; Cristo era publicamente proclamado como o único Salvador da humanidade; e as santas escrituras eram reconhecidas como a Palavra de Deus, o único guia seguro e certo para a bem-aventurança eterna. Antes mesmo de estar ligada ao poder civil, a igreja professa estava, sem dúvida, espiritualmente fraca, e assim deve ter pensado mais em seu bem-estar do que em sua missão de bênção para os outros; no entanto, Deus pôde agir por meio dessas novas oportunidades, e acelerar o desaparecimento das terríveis abominações da idolatria da face do mundo romano.

A legislação geral de Constantino ostenta evidências do trabalho silencioso dos princípios cristãos, e os efeitos dessas leis humanas seriam sentidas muito além do círculo imediato da comunidade cristã. Ele promulgou leis para a melhor observância do domingo; contra a venda de crianças como escravas, o que era comum entre os pagãos; e também contra o furto de crianças com o objetivo de vendê-las, assim como muitas outras leis, tanto de caráter social quanto moral, que nos são informadas pelas histórias já citadas. Mas o maior e mais influente evento de seu reinado foi o extermínio dos ídolos, e a elevação de Cristo. Dizem que os etíopes e ibéricos foram convertidos ao cristianismo durante esse reinado.

domingo, 17 de julho de 2016

A Controvérsia Ariana

Mal tinha a paz exterior da igreja sido assegurada pelo decreto de Milão e ela foi distraída por dissensões internas. Pouco após o rompimento da cisma donatista na província da África, a controvérsia ariana, que tinha sua origem no Oriente, se estendeu a todas as partes do mundo. Já falamos dessas raivosas contendas como o mais amargo fruto da união antibíblica da igreja com o Estado. Não que elas necessariamente surgiram a partir dessa união, mas pelo fato de Constantino ter se tornado o chefe declarado e ostensivo da igreja, e por ele presidir em suas assembleias solenes, questões de doutrina e prática produziam uma agitação por todo o corpo da igreja, e não apenas na igreja como também exerciam uma poderosa influência política sobre os assuntos do mundo. Sendo o império então cristão, ao menos em princípio, tais questões eram de interesse e importância mundial. A partir daí a controvérsia ariana foi a primeira que rasgou todo o corpo de cristãos, e dispôs em quase todas as partes do mundo os partidos hostis em implacável oposição.

Heresias de natureza semelhante à de Ário tinham aparecido na igreja antes de sua ligação com o Estado, mas sua influência raramente se estendia além da região e do período de seu nascimento. Após alguns debates ruidosos e palavras raivosas, a heresia caía em desonra, e era logo quase esquecida. Mas foi muito diferente com a controvérsia ariana. Constantino, que se sentava no trono do mundo e assumia ser a única cabeça da igreja, interpôs sua autoridade de modo a prescrever e definir os princípios precisos da religião que ele tinha estabelecido. A Palavra de Deus, a vontade de Cristo, o lugar do Espírito, as relações celestiais da igreja, foram todas perdidas de vista -- ou melhor, nunca tinham sido vistas pelo imperador. Ele tinha provavelmente ouvido algo sobre as numerosas opiniões pelas quais os cristãos se dividiam; mas ele viu, ao mesmo tempo, que eles eram uma comunidade que tinha continuado a avançar em vigor e magnitude; que eles eram realmente unidos em meio às heresias, e fortes sob a mão de ferro da opressão. Mas ele não podia ver, nem podia entender, que então, apesar de seu fracasso, ela estava olhando para o Senhor e inclinando-se apenas nEle neste mundo. Qualquer outra mão estava contra ela e era guiada pelo trabalho e pelo poder do inimigo. Mas, declaradamente, ela estava prosseguindo através do deserto, encostada em seu Amado, e nenhuma arma forjada contra ela podia prosperar.

O imperador, sendo completamente ignorante das relações celestiais da igreja, pode ter pensado que, como ele podia dar-lhe completa proteção da opressão externa, ele podia também, pela sua presença e poder, dar-lhe paz e descanso das dissensões internas. Mas ele mal sabia que, não obstante estas estarem muito além de seu alcance, a própria segurança, facilidade mundana e indulgência que ele tão generosamente concedia ao clero eram os principais meios que fomentavam discórdias e inflamavam as paixões dos disputantes. E assim aconteceu que ele era continuamente atacado pelas reclamações e acusações mútuas de seus novos amigos.

Constantino como o Árbitro das Diferenças Eclesiásticas

Novamente os donatistas suplicaram ao imperador pela causa deles, e nessa ocasião para levar a questão inteiramente por suas próprias mãos, ao que ele concordou, embora ofendido pela obstinação deles. Ele ouviu o caso em Milão no ano 316, onde proferiu a sentença em concordância com os concílios de Roma e Arles. Ele também emitiu decretos contra eles, aos quais ele mais tarde repeliu ao ver as perigosas consequências das medidas violentas. Mas o donatimo logo se tornou uma cisma feroz, generalizada e intolerante na igreja. Já em 330 eles tinham crescido tanto que um sínodo foi realizado por 270 bispos, e em alguns períodos de sua história houve sínodos de cerca de 400 bispos. Eles provaram ser uma grande aflição para as províncias da África por mais de 300 anos - na verdade, até a época da invasão maometana.

domingo, 3 de julho de 2016

Os Efeitos do Favor Real

Chegamos agora à consideração do que tem sido o grande problema histórico dos homens de todos os credos, nações e paixões: a saber, quem causou maior dano à igreja e ao povo de Deus na terra: o Estado, que procura o avanço do cristianismo pelos modos mundanos ao seu comando, ou o poder terreno que se opõe pela violência? Devemos admitir que muito pode ser dito quanto à grande bênção da tolerância imparcial, e das grandes vantagens da supressão legal de todos os costumes perversos para a sociedade; mas o favor da corte sempre foi causa de ruína para a verdadeira prosperidade da igreja de Deus. É uma grande graça não ser molestado, mas é maior ainda a graça de não ser patrocinado por príncipes. O verdadeiro caráter dos cristãos é de estrangeiros e peregrinos neste mundo. A posse de Cristo, e de Cristo no céu, mudou tudo para os cristãos na terra. Eles agora pertenciam ao céu, e agora eram estrangeiros na terra. Eles são os servos de Cristo no mundo, embora não sejam do mundo. O céu é seu lar; aqui eles não têm cidade permanente. O que a igreja deveria esperar de um mundo que crucificou o seu Senhor? Ou ainda, o que ela deveria aceitar deste mundo? Sua verdadeira porção aqui é o sofrimento e rejeição; como diz o apóstolo: "Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; Somos reputados como ovelhas para o matadouro." O Senhor pode poupar Seu povo, mas se a prova deve vir, não devemos pensar que algo estranho nos tenha acontecido. "No mundo tereis aflições" (Romanos 8:36, João 16:33)

sábado, 18 de junho de 2016

O Período de Pérgamo (313 - 606 d.C.)

Cremos que a epístola à igreja em Pérgamo descreve exatamente o estado das coisas na época de Constantino. Mas citaremos a carta inteira para a conveniência de nossos leitores, e então faremos a comparação: "E ao anjo da igreja que está em Pérgamo escreve: Isto diz aquele que tem a espada aguda de dois fios: Conheço as tuas obras, e onde habitas, que é onde está o trono de Satanás; e reténs o meu nome, e não negaste a minha fé, ainda nos dias de Antipas, minha fiel testemunha, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita. Mas algumas poucas coisas tenho contra ti, porque tens lá os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, para que comessem dos sacrifícios da idolatria, e fornicassem. Assim tens também os que seguem a doutrina dos nicolaítas, o que eu odeio. Arrepende-te, pois, quando não em breve virei a ti, e contra eles batalharei com a espada da minha boca. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao que vencer darei eu a comer do maná escondido, e dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe." (Apocalipse 2:12-17)

Em Éfeso vemos o primeiro passo da apostasia, ao deixarem seu "primeiro amor" - o coração escapando de Cristo e do desfrutar de Seu amor. Em Esmirna o Senhor permitiu que os santos fossem lançados na fornalha para que e o progresso do declínio estacionasse. Eles foram perseguidos pelos pagãos. Por meio dessas provas o cristianismo reviveu, o ouro foi purificado, os santos mantinham firmes o nome e fé de Cristo. Assim Satanás foi derrotado, e o Senhor determinou que os imperadores, um após o outro, nas mais humilhantes e mortificantes circunstâncias, publicamente confessassem sua derrota. Mas em Pérgamo o inimigo muda sua estratégia. Em vez da perseguição a partir de fora, agora vemos a sedução vinda de dentro. Sob Diocleciano ele é o leão que ruge, e sob Constantino ele é a serpente enganadora. Pérgamos é o cenário do poder lisonjeiro de Satanás: ele está dentro da igreja {* N. do T.: no sentido de profissão cristã}. O nicolaísmo é a corrupção da graça - a carne agindo na igreja de Deus. Em Esmirna ele está do lado de fora como um adversário, em Pérgamo ele está do lado de dentro como um sedutor. Foi exatamente isto que aconteceu sob o reinado de Constantino.

Historicamente, foi quando a violência da perseguição tinha passado - quando os homens tinham se cansado de sua própria raiva, e quando eles viram que seus esforços nada mais faziam além de tornar os sofredores menos preocupados com as coisas do mundo e mais devotos ao cristianismo -- enquanto até mesmo a quantidade de cristãos parecia aumentar -- foi então que Satanás tenta um outro velho artifício, um que já tinha sido tão bem sucedido contra Israel (Números 25). Quando ele não pôde obter a permissão do Senhor para amaldiçoar Seu povo Israel, ele os seduziu até sua ruína por meio de alianças ilícitas com as filhas de Moabe. Como um falso profeta, ele estava agora na igreja de Pérgamo, seduzindo os santos a uma aliança ilícita com o mundo - o lugar de seu trono e autoridade. O mundo para de perseguir, e grandes vantagens são concedidas aos cristãos pelo estabelecimento civil do cristianismo. Constantino professava ser convertido, e atribui seus triunfos às virtudes da cruz. Infelizmente, a armadilha é bem-sucedida, a igreja é lisonjeada por seu patrocinador, aperta as mãos com o mundo, e afunda até sua posição, "que é onde está o trono de Satanás". Tudo estava agora perdido quanto ao seu testemunho corporativo adequado, e assim o caminho até o papado se escancarou. Todas as vantagens mundanas foram sem dúvida adquiridas, mas, infelizmente, foi à custa da honra e glória de seu celestial Senhor e Salvador.

A igreja, devemos lembrar, é um chamado para fora (Atos 15:14) - chamados, para fora, dentre os judeus e gentios, para testemunhar que ela não é deste mundo, mas do céu - que ela está unida a um Cristo glorificado, e não é deste mundo, assim como Ele não é deste mundo. Assim Ele mesmo diz: "Não são do mundo, como eu do mundo não sou. Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade. Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo." (João 17:16-18)

A missão dos cristãos é do mesmo princípio e do mesmo caráter da missão de Cristo. "Assim como o Pai me enviou", Ele diz, "também eu vos envio a vós." (João 20:21). Eles foram enviados, por assim dizer, do céu para o mundo pelo bendito Senhor, para fazer Sua vontade, para cuidar por Sua glória, e para voltar para o lar quando o trabalho terminasse. Assim o cristão deveria ser a testemunha celestial da verdade de Deus, especialmente das verdades referentes à total ruína do homem, e sobre o amor de Deus em Cristo para um mundo a perecer; e, portanto, deveria buscar recolher almas para fora do mundo, para que sejam salvas da ira vindoura. Mas quando perdemos de vista nosso elevado chamado e nos associamos com o mundo como se pertencêssemos a ele, nos tornamos falsas testemunhas; causamos ao mundo uma grande lesão, e a Cristo uma grande desonra. Isto, como podemos verificar, foi o que a igreja fez quanto à sua posição e ação corporativa. Sem dúvidas, houve muitos casos de fidelidade individual em meio ao declínio generalizado. O Próprio Senhor fala do Seu fiel Antipas, que foi martirizado. O céu toma especial nota da fidelidade individual, e se lembra do fiel pelo nome.

Mas o olho e o coração do Senhor tinha seguido Sua pobre e infiel igreja até onde ela tinha caído. "Conheço as tuas obras", diz Ele, "e onde habitas, que é onde está o trono de Satanás". Que palavras solenes são estas, vindas dos lábios de seu desonrado Senhor! Nada era oculto a Seus olhos. "Eu sei", Ele diz, "eu tenho visto o que aconteceu". Mas o que, infelizmente, tinha agora acontecido? Por que a igreja, como um corpo, tinha aceitado os termos do imperador, e estava agora unida ao Estado, indo habitar no mundo? Isto era a Babilônia, espiritualmente - cometer fornicação com os reis da terra. Mas aquEle que anda no meio dos castiçais de ouro julga suas ações e sua condição. "E ao anjo da igreja que está em Pérgamo escreve: Isto diz aquele que tem a espada aguda de dois fios". Ele toma o lugar de alguém armado com uma espada divina - o penetrante e incisivo poder da palavra de Deus. A espada é o símbolo do poder pelo qual as questões são resolvidas; seja ela a espada carnal das nações ou "a espada do Espírito, que é a palavra de Deus" (Efésios 6:17).

Muitas vezes se ouve falar que sempre há uma conexão marcante e instrutiva entre o modo como Cristo Se apresenta, e o estado da igreja a qual Ele está se dirigindo. Isto é muito verdadeiro na carta em questão. A Palavra de Deus evidentemente tinha perdido seu lugar de direito na assembleia de Seus santos; ela não era mais a autoridade suprema nas coisas divinas. Mas o Senhor Jesus tem o cuidado de mostrar que ela não tinha perdido seu poder, ou lugar, ou autoridade em Suas mãos. "Arrepende-te, pois, quando não em breve virei a ti, e contra eles batalharei com a espada da minha boca". Observe que ele não diz "batalharei contra vocês", mas "contra eles". Ao exercer disciplina na igreja, o Senhor age com discriminação e com misericórdia. A posição pública da igreja era agora uma posição falsa. Havia associação aberta com o príncipe deste mundo, no lugar de fidelidade a Cristo, o Príncipe dos céus. Mas aquele que tivesse um ouvido para ouvir o que o Espírito disse à igreja tinha uma secreta comunhão com aquEle que sustenta a alma fiel com o maná escondido. "Ao que vencer darei eu a comer do maná escondido, e dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe". A deserção geral, sem dúvida, isolaria os poucos fiéis - um remanescente. A eles a promessa é dada.

O maná, como aprendemos em João 6, representa o Próprio Cristo, como aquEle que desceu do céu para dar vida a nossas almas. "Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre" (João 6:51). Como aquEle que tomou o lugar de humilhação neste mundo, Ele é nossa provisão para o andar diário através do deserto. O maná devia ser colhido diariamente, fresco, das gotas de orvalho todas as manhãs. O "maná escondido" refere-se ao pote de ouro de maná que foi colocado na arca como um memorial diante do Senhor. É a bendita recordação de Cristo, que foi o Homem humilhado e sofredor neste mundo, e que é o eterno deleite de Deus e dos fiéis no céu. Não só a comunhão de verdadeiro coração dos santos com Cristo exaltado nas alturas, mas com Ele como aquele Jesus que uma vez foi humilhado aqui embaixo. Mas isso não pode ser se estivermos ouvindo as lisonjas e aceitando os favores do mundo. Nossa única força contra o espírito do mundo é andar com o Cristo rejeitado, e alimentarmo-nos dEle como nossa porção, mesmo agora. Nosso alto privilégio é comer, não apenas do maná, mas do "maná escondido". Mas quem pode falar da bem-aventurança de tal comunhão, ou da perda daqueles que deixam seus corações escaparem de Cristo para se estabelecerem no mundanismo?

A "pedra branca" é uma marca secreta do favor especial do Senhor. Como a promessa é dada na carta a Pérgamo, isto pode significar a expressão da aprovação de Cristo quanto à maneira com que os "vencedores" testemunharam e sofreram por Ele, quando tantos foram levados pelas seduções de Satanás. Isto dá a ideia geral de uma promessa secreta de completa aprovação. Mas é difícil explicar. O coração pode entrar em sua bem-aventurança e ainda assim sentir-se incapaz de descrevê-la. Felizes aqueles que assim a conhecem em si mesmos. Há alegrias que são comuns a todos, mas há uma alegria, uma alegria especial, que será nossa própria alegria peculiar em Cristo, que durará para sempre. Isto será verdade para todos. "E na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe". Que fonte indescritível de calmo repouso, doce paz, verdadeiro contentamento, e força divina, encontramos na "pedra branca", e no "novo nome", escrito por Suas próprias mãos. Outros podem nos interpretar mal, muitos podem pensar que estamos errados, mas Ele sabe tudo, e o coração pode aquietar-se, seja o que for que estiver acontecendo em nossas vidas. Ao mesmo tempo, devemos julgar tudo, inclusive nós próprios, pela Palavra de Deus - a espada afiada de dois gumes.
"Lá, no pão escondido
De Cristo - uma vez aqui humilhado -
Guardado por Deus - para sempre alimentar
Minh'alma, por seu amor, se animará.

Chamado por aquele nome secreto
De deleite não revelado
Bendita resposta ao opróbrio e vergonha -
Gravada na pedra branca."
       (tradução livre da poesia constante da edição original em inglês)
Tendo assim brevemente estudado a epístola a Pérgamo, seremos mais capazes de entender a mente do Senhor quanto à conduta dos cristãos sob o reinado de Constantino. A igreja professa e o mundo juntaram as mãos, e estavam agora se divertindo juntos. Como o mundo não poderia se erguer ao elevado nível da igreja, ela caiu ao baixo nível do mundo. Foi exatamente isto que aconteceu. No entanto, a forma justa do cristianismo foi mantida, e não há dúvidas de que havia muitos que mantiveram firmes a fé e o nome de Jesus. Retornemos agora à conversão e história de Constantino, o Grande.

sábado, 16 de abril de 2016

O Tratamento do Clero pelo Senhor

Mal as novas "igrejas" foram construídas, e os bispos recebidos na corte, e a mão do Senhor se voltou contra eles. Aconteceu dessa maneira:

Maximino, um rude camponês da Trácia, subiu ao trono imperial. Ele tinha sido o principal instigador da morte, se não o verdadeiro assassino, do virtuoso Alexandre. Ele começou seu reinado mandando prender e matar todos os amigos do último imperador. Aqueles que tinham sido seus amigos ele tornou seus próprios inimigos. Ele ordenou que os bispos, e particularmente aqueles que tinham sido amigos íntimos de Alexandre, fossem executados. Sua vingança caiu mais ou menos sobre todas as classes de cristãos, mas principalmente sobre o clero. Não era, no entanto, pelo cristianismo que eles sofreram nessa ocasião, uma vez que Maximino não se importava com qualquer religião, mas por causa da posição que eles tinham alcançado no mundo. Pode haver reflexão mais dolorosa do que esta?

Por volta dessa época destrutivos terremotos em várias províncias reacenderam o ódio popular contra os cristãos em geral. A fúria do povo sob tal imperador era irrestrita e, encorajados por governantes hostis, incendiaram as recém-construídas "igrejas" e perseguiram os cristãos. Mas, felizmente, o reinado desse selvagem imperador teve curta duração. Ele se tornou intolerável pelas pessoas. O exército se amotinou e o matou no terceiro ano de seu reinado, e uma época mais favorável para os cristãos retornou.

O reinado de Gordiano I, de 238 a 244 d.C., e o de Filipe, de 244 a 249, foram amigáveis para com a igreja. Mas repetidamente percebemos que um governo favorável aos cristãos era imediatamente seguido por outro que os oprimia. Foi particularmente o caso nessa época. Sob os sorrisos e o patrocínio de Filipe, o Árabe, a igreja desfrutou de grande prosperidade exterior, mas estava na véspera de uma perseguição mais terrível e mais generalizada do que qualquer outra que já tinha se passado.

Uma das causas que podem ter contribuído para isso foi a ausência dos cristãos nas cerimônias nacionais que comemoravam o milésimo ano de Roma, em 247 d.C. Os jogos seculares foram celebrados com grandiosidade sem precedentes por Filipe, mas como ele era favorável aos cristãos, eles escaparam da fúria dos sacerdotes pagãos e do populacho. Os cristãos eram agora um corpo reconhecido no Estado, e por mais cuidado que tivessem de evitar se misturar às facções políticas ou às festividades populares, eles eram considerados inimigos de prosperidade do Estado e a causa de todas as calamidades. Chegamos agora a uma mudança completa de governo - um governo que afligiu toda a igreja de Deus.

Postagens populares