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domingo, 29 de novembro de 2015

O Livro de Atos como um Livro Transicional entre Dispensações

Vamos aqui fazer uma pausa e contemplar por um momento nosso apóstolo como prisioneiro na cidade imperial. O evangelho tinha agora sido pregado de Jerusalém a Roma. Grandes mudanças tinham ocorrido nos modos dispensacionais de Deus [N. do T.: os modos como Deus trata com o ser humano]. O livro de Atos é transicional neste caráter. Os judeus, como vemos, são agora deixados de lado - ou melhor, eles mesmos se deixaram ficar de lado por rejeitarem aquilo que Deus estava fazendo. Os conselhos de Sua graça dirigidos a eles, sem dúvida, permanecem para sempre; mas, entretanto, eles são deixados de lado e outros vêm e tomam o lugar do bendito relacionamento com Deus. Paulo era uma testemunha da graça de Deus para com Israel. Ele mesmo era um israelita, mas também escolhido de Deus para introduzir algo inteiramente novo - a igreja, o corpo de Cristo, "do qual fui feito ministro... de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo, e demonstrar a todos qual seja a comunhão do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo" (Efésios 3:7-9). Esta nova coisa pôs de lado qualquer distinção entre judeu e gentio, como pecadores e na unidade desse corpo. A hostilidade dos judeus contra essas verdades nunca diminuíram, como temos sempre visto, assim como vemos os resultados desta inimizade. Os judeus desaparecem da cena inteiramente, e a igreja se torna o vaso do testemunho de Deus na terra, e Sua habitação pelo Espírito (Efésios 2:22). Indivíduos judeus, é claro, que creem em Jesus, são abençoados em conexão com um Cristo celestial e com o "um só corpo". Mas Israel, por um tempo, é deixado sem Deus, e sem a presente comunicação com Ele. As Epístolas aos Romanos e aos Efésios estabelecem plenamente essa doutrina (especialmente Romanos, capítulos 9, 10 e 11). Agora retornamos à ocupação de Paulo durante sua prisão.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Paulo Comparece Diante de Félix

Como alguns de nossos leitores podem ter observado, o caráter dos modos de Deus para com Seu servo de certa forma muda aqui. Pode ser interessante uma pausa por um momento para reverentemente investigar as aparentes causas dessa mudança. E, como muitos têm dado livremente suas opiniões quanto a esse difícil ponto, vamos aqui citar algumas linhas de alguém que parece ter captado a mente do Espírito.

"Eu creio que a mão de Deus estava nesta viagem de Paulo - que, em Sua soberana sabedoria, Ele desejou que Seu servo a empreendesse, tendo também a abençoado - mas que os meios empregados para conduzi-lo de acordo com essa sabedoria soberana foram as afeições humanas do apóstolo pelas pessoas que eram seus parentes segundo a carne; e que ele não foi conduzido a isso pela ação do Espírito Santo da parte de Cristo na igreja. Este apego a seu povo, esta afeição humana, resultou naquilo que acabou por colocá-lo em seu próprio lugar. Humanamente falando, foi um sentimento amável; mas não era o poder do Espírito Santo fundamentado na morte e ressurreição de Cristo. Aqui, não havia mais judeu ou gentio... a afeição de Paulo era boa em si mesma, mas como fonte de ação não chegava à altura da obra do Espírito que, da parte de Cristo, o tinha conduzido para longe de Jerusalém, para os gentios, de modo a revelar a igreja como Seu corpo unido a Ele no céu."

"Ele era o mensageiro da glória celestial, que trouxe à tona a doutrina da igreja composta por judeus e gentios, unidos sem distinção no um só corpo de Cristo, deixando de lado o judaísmo. Mas seu amor por sua nação o levou, repito, ao centro do judaísmo hostil - o judaísmo enfurecido contra a igualdade espiritual."

"Contudo, a mão de Deus estava, sem dúvida, nisso. Paulo, individualmente, estava realizado."

"Aquilo que Paulo disse levanta um tumulto, e o tribuno o tira do meio deles. Deus tem tudo à Sua disposição. Um sobrinho de Paulo, nunca antes mencionado, ouve falar de uma emboscada armada contra ele e o avisa. Paulo o envia ao tribuno, que agiliza a partida de Paulo sob guarda até Cesareia. Deus cuidava dele, mas tudo aqui está no nível dos modos humanos e providenciais. Não há um anjo como no caso de Pedro, nem um terremoto como em Filipos. Estamos sensivelmente em um terreno diferente"*

{* Trechos retirados de "Estudos sobre a Palavra de Deus", de J. N. Darby.}

Os acusadores de Paulo não tardaram em partir também para Cesareia. "E, cinco dias depois, o sumo sacerdote Ananias desceu com os anciãos, e um certo Tértulo, orador, os quais compareceram perante o presidente contra Paulo." (Atos 24:1). Em um breve discurso, cheio de bajulação e insinuação, Tértulo acusa Paulo de sedição [motim], heresia e profanação do templo.

Félix então fez um sinal permitindo que Paulo respondesse por si. E agora, podemos dizer, o apóstolo dos gentios está mais uma vez no lugar certo. Mesmo humilhado pelas circunstâncias, ele é ainda o mensageiro de Deus para os gentios, e Deus está com Seu amado servo. Os judeus ficaram em silêncio, e Paulo, com sua maneira direta como de costume, rebateu as acusações.

Félix, aparentemente, sabia muito sobre essas coisas, e é evidente que uma forte impressão foi deixada em sua mente. Muitos anos antes, o cristianismo tinha penetrado no exército romano em Cesareia (Atos 10), de modo que ele provavelmente sabia algo sobre isso, e estava convencido da verdade das afirmações de Paulo, mesmo não dando o devido valor às suas convicções e de seu prisioneiro. Ele "adia" maiores investigações, com a desculpa de que estaria esperando a chegada de Lísias. Enquanto isso, no entanto, ele dá ordens para que Paulo fosse tratado com gentileza e consideração, e que seus amigos deveriam ter livre acesso a ele.

Não muitos dias depois, Félix entrou na sala de audiências com sua esposa Drusila, e mandou chamar Paulo. Eles estavam evidentemente curiosos para ouvi-lo falar "acerca da fé em Cristo" (Atos 24:24). Mas não seria Paulo quem iria gratificar a curiosidade de um romano libertino e de uma devassa princesa judia. O fiel apóstolo, ao pregar Cristo, falou de modo claro e ousado à consciência de seus ouvintes. Ele tinha, agora, uma oportunidade ao seu alcance que ele dificilmente poderia ter obtido. "E, tratando ele da justiça, e da temperança, e do juízo vindouro, Félix, espavorido..." (Atos 24:25). Não é de se estranhar. Se devemos acreditar nos historiadores de seus dias, como Josefo e Tácito, nunca um casal tão sem princípios e dissoluto havia se sentado diante de um pregador. Mas, embora com a consciência atingida, Félix continuou impenitente. Que temível condição! "Por agora vai-te", disse ele, "e em tendo oportunidade te chamarei." (Atos 24:25). Mas tal oportunidade jamais chegou, embora tenha visto o apóstolo com frequência mais tarde, sem dúvidas, dando a entender que queria fazer um suborno para garantir sua liberdade. O governador romano nem imaginava que sua mercenária justiça seria recordada no livro de Deus, e levada adiante para todas as gerações que se sucederam. Seu caráter é representado como mesquinho, cruel e dissoluto; capaz de qualquer impiedade, ele exerceu o poder de um rei com o temperamento de um escravo. "Mas, passados dois anos, Félix teve por sucessor a Pórcio Festo; e, querendo Félix comprazer aos judeus, deixou a Paulo preso." (Atos 24:27)

sábado, 6 de setembro de 2014

O Apostolado de Paulo

A lei e os profetas foram até João; após João o próprio Senhor, em Sua própria Pessoa, oferece o reino a Israel, mas "os Seus não O receberam". Eles crucificaram o Príncipe da vida, mas Deus O ressuscitou dentre os mortos, fazendo-O sentar à Sua direita nos lugares celestiais. Temos então os doze apóstolos. Eles são dotados com o Espírito Santo, e levam o testemunho da ressurreição de Cristo. Mas o testemunho dos doze é desprezado, o Espírito Santo é resistido, Estêvão é martirizado, a oferta final de misericórdia é rejeitada, e agora o tratamento de Deus com Israel como um povo é encerrado por um tempo. As cenas de Siló são encenadas novamente, Icabode é escrito em Jerusalém, e uma nova testemunha é convocada, como nos dias de Samuel. (Leia 1 Samuel 4)

Chegamos agora ao grande apóstolo dos gentios. Ele é como um nascido fora do tempo e fora de seu devido lugar. Seu apostolado não tinha nada a ver com Jerusalém ou com os doze. Era fora de ambos. Seu chamado era extraordinário e vindo direto do Senhor no Céu. Ele tem o privilégio de trazer a novidade: o caráter celestial da igreja - que Cristo e a igreja são um, e que o Céu é seu lar em comum (Efésios 1,2). Enquanto Deus estava tratando com Israel, essas benditas verdades estavam guardadas em segredo em Sua própria mente. "A mim,", diz Paulo, "o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo, e demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo." (Efésios 3:8-9)

Não podia haver dúvidas sobre o caráter do chamado do apóstolo quanto à sua autoridade divina. "Não da parte dos homens, nem por homem algum", como diz ele em sua Epístola aos Gálatas, "mas por Jesus Cristo, e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos" (Gálatas 1:1). Isto é,  não era "da parte dos homens", quanto à sua fonte, nem de qualquer Sínodo* de homens oficiais. "Nem por homem algum", foi como veio sua comissão. Ele não era apenas um santo, mas um apóstolo por chamado: e esse chamado era por Jesus Cristo, e por Deus Pai, que O ressuscitou dentre os mortos. Em alguns aspectos, seu apostolado foi ainda de mais alta ordem do que o dos doze. Estes tinham sido chamados por Jesus quando na Terra; aquele tinha sido chamado pelo Cristo ressuscitado e glorificado no Céu. E, sendo seu chamado vindo do Céu, não necessitava nem da sanção nem do reconhecimento dos outros apóstolos. "Mas, quando aprouve a Deus ... revelar seu Filho em mim, para que o pregasse entre os gentios, não consultei a carne nem o sangue, nem tornei a Jerusalém, a ter com os que já antes de mim eram apóstolos, mas parti para a Arábia, e voltei outra vez a Damasco." (Gálatas 1:15-17)

A forma como Saulo foi chamado para apóstolo é digna de nota especial, pois bate de frente com a raiz do orgulho judaico, e pode também ser vista como o golpe mortal à vã noção de sucessão apostólica. Os apóstolos, a quem o Senhor tinha escolhido e nomeado quando estava na Terra, não eram nem a fonte nem o canal, de maneira alguma, da nomeação de Paulo. Eles não lançaram sortes para ele, como fizeram no caso de Matias (Atos 1). Ali eles estavam apenas em terreno judeu, o que pode explicar sua decisão por sorteio. Era um antigo costume, em Israel, descobrir a vontade divina por esses modos. Mas estas enfáticas palavras: "Paulo, apóstolo, não da parte dos homens, nem por homem algum, mas por Jesus Cristo", excluem completamente a intervenção do homem sob qualquer forma. A sucessão apostólica é descartada. Somos santos por chamado e servos por chamado. E tal chamado deve vir do Céu. Paulo está diante de nós como um verdadeiro padrão para todos os pregadores do evangelho, e para todos os ministros da Palavra. Nada pode ser mais simples que o terreno que ele toma como pregador, sendo o grande apóstolo que era. "E temos, portanto, o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também, por isso também falamos." (2 Coríntios 4:13)

Imediatamente após ser batizado e fortalecido, ele começou a confessar sua fé no Senhor Jesus e a pregar nas sinagogas de que Ele era o Filho de Deus. Isto é algo novo. Pedro pregava que Ele tinha sido exaltado à destra de Deus - que Ele tinha sido feito tanto Senhor quanto Cristo, mas Paulo prega uma doutrina mais elevada sobre Sua glória pessoal - "que Ele é o Filho de Deus". Em Mateus 16, Cristo é revelado pelo Pai aos discípulos como "o Filho do Deus vivo". Mas agora Ele é revelado, não apenas a Paulo, mas em Paulo. "Aprouve a Deus ... revelar seu Filho em mim" (Gálatas 1:15-16), disse ele. Mas quem é suficiente para falar dos privilégios e bênçãos daqueles a quem o Filho de Deus é, pois, revelado? A dignidade e segurança da igreja descansa sobre essa bendita verdade, e também sobre o evangelho da glória, que foi especialmente confiado a Paulo, e que ele chama de "meu evangelho".

"Sobre o Filho assim revelado", disse alguém docemente, "paira tudo o que é peculiar ao chamado e glória da igreja - suas santas prerrogativas - aceitação no Amado com perdão dos pecados por meio de Seu sangue - entrada para os tesouros da sabedoria e do conhecimento, de modo a tornar conhecido, a nós, o mistério da vontade de Deus - herança futura nEle e com Ele, no qual todas as coisas nos céus e na Terra serão congregadas - e o presente selo e penhor dessa herança, o Espírito Santo. Tal brilhante sequência de privilégios é escrita pelo apóstolo desta maneira: "bênçãos espirituais nos lugares celestiais"; e assim são elas; bênçãos através do Espírito fluindo e nos ligando a Ele, que é o Senhor nos céus." * (Efésios 1:3-14)

{* Veja mais detalhes sobre esse assunto em John Gifford Bellet, Christian Witness [Testemunho cristão], v. 4, p. 221; William Kelly, Introductory Lectures on Galatians [Estudos introdutó­rios sobre Gálatas], cap. 1}

Mas a doutrina da igreja - o mistério do amor, da graça e do privilégio - não tinha sido revelada até Paulo a ter declarado. O Senhor tinha falado dela quanto ao efeito que teria a presença do Consolador, dizendo: "Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós." (João 14:20). E novamente, quando Ele diz aos discípulos após a ressurreição: "Eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus." (João 20:17). Dessa "sequência brilhante" de bênçãos Paulo foi, especial e caracteristicamente, o apóstolo.

Devemos agora deixar um pouco de lado a história de Saulo e voltar a Pedro, que ocupa o campo até que Paulo comece seu ministério público em Atos 13.

sábado, 23 de agosto de 2014

A Conversão de Saulo de Tarso

Nenhum evento no progresso da história da igreja a afeta tão profundamente, ou tão felizmente, quanto a conversão de Saulo de Tarso. De principal dos pecadores ele se tornou o principal dos santos - do mais violento opositor de Cristo ele se tornou o mais zeloso defensor da fé - como inimigo e perseguidor do nome de Jesus na Terra, ele era o "principal"; todos os outros, em comparação a ele, eram subordinados (Atos 9; 1 Timóteo 1).

É bastante evidente, a partir do que ele fala sobre si mesmo, que ele acreditava que o judaísmo era não só divino, mas a perpétua e imutável religião de Deus para o homem. Seria difícil explicar a força de seus preconceitos judaicos sobre qualquer outro princípio. Portanto, todas as tentativas de pôr de lado a religião dos judeus, e de introduzir outra, ele considerava como sendo algo do inimigo, devendo ser arduamente combatidas. Ele tinha ouvido o nobre discurso de Estêvão - ele tinha testemunhado sua morte triunfante - mas sua subsequente perseguição aos cristãos mostrou que a glória moral daquela cena não o havia impressionado de maneira séria em sua mente. Ele foi cegado pelo zelo; mas o zelo pelo judaísmo agora era um zelo contra o Senhor. Neste exato momento ele estava "respirando ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor" (Atos 9:1).

Ouvindo que alguns dos santos perseguidos haviam encontrado um abrigo em Damasco, uma antiga cidade da Síria, ele se convenceu a ir até lá e trazê-los de volta a Jerusalém como criminosos. Para este fim, ele recebeu cartas do sumo sacerdote e do conselho de anciãos, de que ele poderia trazê-los presos a Jerusalém para serem punidos (Atos 22, 26). Ele, então, se torna o próprio apóstolo da malícia judaica contra os discípulos de Jesus - ignorantemente, sem dúvida, mas ele se fez o missionário voluntário deles.

Com sua mente forjada até o tom mais violento do zelo perseguidor, ele segue em sua memorável jornada. Inabalável em seu apego fervoroso pela religião de Moisés, e determinado a punir os convertidos ao cristianismo como apóstatas da fé de seus ancestrais, ele se aproxima de Damasco. Mas lá, na plena energia de sua louca carreira, o Senhor Jesus o detém. Uma luz dos céus, mais forte que a luz do sol, brilha em torno dele, e o subjuga com seu brilho ofuscante. Ele cai por terra - com a vontade quebrada, a mente subjugada, o espírito humilhado, e completamente mudado. Seu coração é agora sujeito à voz que fala com ele. Raciocínio, extenuação e auto-justificação não têm lugar na presença do Senhor.

Uma voz da magnífica glória disse-lhe: "Saulo, Saulo, por que me persegues? E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues." (Atos 9:4-5). Então o Senhor Jesus, mesmo estando no Céu, declara que Ele próprio é ainda identificado com Seus discípulos na Terra. A unidade da igreja com Cristo, sua Cabeça nos céus, a semente da bendita verdade do "um só corpo", é resumida nessas poucas palavras: "Saulo, Saulo, por que me persegues? ... Eu sou Jesus, a quem tu persegues." Estar em guerra contra os santos é o mesmo que estar em guerra contra o próprio Senhor. Que bendita verdade para o crente, mas quão solene para o perseguidor!

A visão que Saulo tinha visto e a terrível descoberta que ele tinha feito o absorveram completamente. Ele fica cego por três dias, e não pode comer nem beber. Então ele entra em Damasco, cego, quebrantado e humilhado pelo solene juízo do Senhor! Quão diferente daquilo que ele pretendia! Ele agora se une à companhia daqueles que ele tinha resolvido exterminar. No entanto, ele entra pela porta, e humildemente toma seu lugar entre os discípulos do Senhor. Ananias, um discípulo fiel, é enviado para confortá-lo. Ele recebe sua vista de volta, é cheio do Espírito Santo, é batizado, e então é alimentado e fortalecido.

Alguns pensam que o Senhor dá, na conversão de Paulo, não somente uma amostra de Sua longanimidade, como em todo o pecador que é salvo, mas também um sinal da futura restauração de Israel. Paulo nos conta, ele próprio, ter obtido misericórdia porque ele fez tudo aquilo em ignorante incredulidade - e tal será a mesma situação de Israel nos últimos dias quando receber misericórdia. Como nosso próprio Senhor orou por eles: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lucas 23:34). Pedro também diz: "E agora, irmãos, eu sei que o fizestes por ignorância, como também os vossos príncipes" (Atos 3:17)

Mas, como o apostolado de Paulo difere, em muitos aspectos, do apostolado dos doze, será necessário observá-lo mais um pouco. A menos que essa diferença seja compreendida, o verdadeiro caráter da presente dispensação poderá não ser apreendida de maneira tão consistente.

domingo, 3 de agosto de 2014

Jerusalém e Samaria Unidas pelo Evangelho

O amargo ciúme que existia entre judeus e samaritanos tinha sido, por muito tempo, proverbial; tanto que lemos: "os judeus não se comunicam com os samaritanos". Mas agora, em conexão com o Evangelho da paz, essa raiz de amargura desaparece. No entanto, na sabedoria dos caminhos de Deus, os samaritanos devem esperar pela mais elevada bênção do Evangelho até que os crentes judeus - os apóstolos da igreja em Jerusalém - impusessem suas mãos sobre eles, e oferecessem orações por eles. Nada pode ser mais profundamente interessante do que esse fato, quando tomamos em consideração a rivalidade religiosa que tinha sido, por tanto tempo, manifesta por ambos. Se Samaria não tivesse recebido essa lição oportuna de humildade, ela poderia ter sido descartada, mais uma vez, por manter sua orgulhosa independência de Jerusalém. Mas o Senhor não teria deixado assim. Os samaritanos tinham crido, se regozijado, e foram batizados, mas ainda não tinham recebido o Espírito Santo. "Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, ouvindo que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João. Os quais, tendo descido, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo (porque sobre nenhum deles tinha ainda descido; mas somente eram batizados em nome do Senhor Jesus). Então lhes impuseram as mãos, e receberam o Espírito Santo." (Atos 8:14-17)

Identificação é a grande ideia da imposição de mãos, e unidade é a consequência do dom/dádiva do Espírito Santo. Esses são fatos importantes em conexão com o progresso da igreja. Samaria é, então, trazida à feliz associação com seu antigo rival, e feita uma só com a igreja em Jerusalém. Não há, na mente de Deus, pensamentos sobre uma assembleia ser independente da outra. Se elas tivessem sido abençoadas separada e independentemente, sua rivalidade poderia se tornar maior que nunca. Mas não deveria mais ser assim: "Nem neste monte nem em Jerusalém" (João 4:21), mas uma só Cabeça no Céu, um só corpo na Terra, um só Espírito, uma só família redimida adorando a Deus em espírito e em verdade, porque o Pai procura os que assim O adoram*.

{* Veja Lecture 6 de Atos 2, 8, 10, 19. Lectures on the New Testament Doctrine of the Holy Spirit, por W. Kelly. }

Para saber mais sobre a origem da mistura de povos e sobre a adoração de Samaria, leia 2 Reis 17. Eles eram apenas "metade" judeus, apesar de se gabarem por sua relação com Jacó. Eles consideravam os cinco livros de Moisés sagrados, mas subestimavam o restante da Bíblia. Eles eram circuncidados, guardavam a lei de maneira não muito fiel, e esperavam a vinda de um Messias. A visita pessoal do bendito Senhor a Samaria é do mais profundo e tocante interesse (João 4). Da fonte na qual Ele descansou diz-se que "ficava em um vale entre as duas famosas montanhas Ebal e Gerizim, onde foi lida a lei. Sobre este último estava o templo rival dos samaritanos, que por tanto tempo afligiu os judeus mais zelosos por sua ousada oposição ao único santuário escolhido, no Monte Moriá."

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