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domingo, 20 de setembro de 2020

Gregório IX e Frederico II

Gregório IX, um parente próximo de Inocêncio III, e um discípulo leal de sua escola, foi imediatamente elevado ao trono pontifício com aclamações unânimes e ruidosas. Sua coroação foi cheia de pompa. "Ele voltou da Basílica de São Pedro usando duas coroas, montado em um cavalo ricamente enfeitado e rodeado por cardeais vestidos de púrpura e um numeroso clero. As ruas estavam cobertas de tapeçarias, incrustadas de ouro e prata, as mais nobres produções do Egito e as cores mais brilhantes da Índia, e perfumadas com vários odores aromáticos."* Ele havia completado 81 anos quando subiu ao trono de São Pedro. Mas naquela idade extrema suas faculdades mentais não estavam prejudicadas. Diz-se que ele tinha a ambição, o vigor, e quase que a atividade da juventude; em propósito e ação, inflexível, em temperamento, caloroso e veemente.

{* Waddington, vol. 2, pág. 281.}

Frederico, deve-se lembrar, foi um protegido de Inocêncio III. As aventuras, perigos e sucessos do jovem rei, enquanto lutava para ascender ao seu trono hereditário na Sicília e à coroa imperial da Alemanha, são quase sem paralelo na história. Durante o pontificado de Honório, seu caráter estava se expandindo até a maturidade; ele tinha trinta e três anos quando o pontífice morreu. Naquela época, ele já estava na posse indisputável do império, com todos os seus direitos no norte da Itália, rei da Apúlia, Sicília e Jerusalém. Os historiadores competem entre si nas descrições de seu caráter e na enumeração de suas virtudes e vícios. Milman, em seu usual estilo poético, o descreve como o soberano magnífico, o cavaleiro valente, o poeta, o legislador, o patrono das artes, letras e ciência, cuja sabedoria perspicaz parecia antecipar algumas daquelas visões de justiça igualitária, das vantagens do comércio, do cultivo das artes da paz e da tolerância de religiões adversas, que mesmo em um filho mais zeloso da igreja sem dúvida teriam parecido algo como indiferença ímpia. Outros o descrevem como egoísta e generoso, placável e cruel, corajoso e sem fé; e que não se proibia das mais licenciosas indulgências. Suas realizações pessoais foram notáveis; ele podia falar fluentemente as línguas de todas as nações que eram faladas entre seus súditos: grego, latim, italiano, alemão, francês e árabe.

Tanto o papado quanto o império eram agora representados por líderes habilidosos e decididos de suas respectivas reivindicações. Frederico não suportaria alguém superior a ele, e Gregório também não. O imperador estava determinado a manter seus direitos monárquicos; o papa estava igualmente determinado a manter a dignidade papal acima da imperial. A luta mortal começou; foi a última disputa entre o império e o papado, mas os cruzados foram indispensáveis ​​para a vitória papal.

O idoso papa dedicou-se à sua obra. Seu primeiro e imediato ato após a coroação foi instar a renovação das Cruzadas nas várias cortes da Europa. Mas seus apelos foram dirigidos a ouvidos surdos. Lombardia, França, Inglaterra e Alemanha persistiram em sua hostilidade contra as Cruzadas e seus promotores. A queda de Damieta estava fresca em suas memórias. Nada, portanto, restou ao velho obstinado, a não ser forçar Frederico. Embora, por razões políticas, ele não estivesse disposto a deixar seus domínios, ainda assim, para agradar ao papa, ele reuniu um armamento considerável de homens e navios e embarcou de Brindisi. Mas uma peste estourou e levou muitos de seus soldados, e entre eles o landgrave da Turíngia e dois bispos. O próprio imperador, depois de três dias no mar, foi acometido pela doença e voltou à terra firme para se beneficiar dos banhos. Isso causou a dispersão do exército e o abandono temporário da expedição.

domingo, 6 de setembro de 2020

Os Beneditinos

Antes da morte de Bento, que ocorreu em 543, sua ordem havia sido estabelecida na França, na Espanha e na Sicília. Ela se espalhou rapidamente por toda parte. Para onde quer que os monges viajassem, eles convertiam o deserto em um país cultivado; eles derrubaram florestas, drenaram pântanos, criaram abadias majestosas com suas próprias mãos, civilizaram populações rudes, e buscaram a criação de gado e os trabalhos agrícolas de todas as formas. Eles também cultivavam o aprendizado e tinham escolas para os jovens. Mas embora os beneditinos logo se tornassem uma grande comunidade e se espalhassem por vários países, todos estavam sujeitos a uma mesma regra. A época em que essa ordem entrou na Inglaterra é bem conhecida. Santo Agostinho e seus monges eram beneditinos, além de Gregório, que os enviou. Mas embora geralmente seja atribuído a eles o crédito de reduzirem os resíduos utilizando-os na fertilização no cultivo, eles também têm o crédito de escolherem, quando tiveram a oportunidade, os melhores locais da terra para seus assentamentos. "Em cada vale rico", diz Milman, falando da Inglaterra, "ao lado de cada córrego claro e profundo, erguia-se uma abadia beneditina. O trabalho dos monges de plantar, cultivar, projetar jardins ensolarados ou encher as colinas de árvores podem ter adicionado muito à graça pitoresca desses cenários; mas, em geral, se for realizada uma pesquisa sobre algum distrito na Inglaterra, é bem provável que se descubra que o local mais conveniente, mais fértil e mais pacífico fora o local de um abadia beneditina."*

{*Latin Christianity, vol. 1, p. 426. English Monasticism, de Hill, p. 71. Faiths of the World, de Gardner, vol. 1, p. 318. Neander, vol. 3, p. 351.}

A primeira intenção de São Bento não era fundar uma ordem monástica, mas simplesmente prescrever regras para os monges italianos, de acordo com a prática dos anacoretas e reclusos da igreja primitiva. Mas os monges de Monte Cassino logo se tornaram famosos por sua inteligência superior, vida pacífica, hábitos corretos e zelo fervoroso. Em um país e em uma época em que a contenda, a rapina, a ignorância e os costumes dissolutos eram universais, o tranquilo e sagrado mosteiro representava um convidativo refúgio, onde, durante o breve período da vida, o homem poderia cumprir seus deveres religiosos e encerrar seus dias em paz com o céu e com a humanidade. O jovem espírito ardente que entrava no mundo tinha poucas opções de vida; praticamente se resumia a uma escolha entre uma vida de guerra, violência e maldade -- uma vida de alegrias e tristezas ferozes -- ou de reclusão, humildade, obediência e trabalho abnegado. As naturezas mais pensativas e tímidas deram as boas-vindas ao novo refúgio de descanso. Homens de todas as classes deixaram seu luxo ou pobreza e se juntaram à nova comunidade; e assim foi aumentando, até que sua riqueza e poder fossem incríveis. As estatísticas a seguir darão ao leitor uma idéia melhor da opulência dessas antigas abadias beneditinas do que meras descrições.

"A propriedade pertencente ao mosteiro pai de Monte Cassino, com o tempo, passou a incluir quatro bispados, dois ducados, trinta e seis cidades, duzentos castelos, trezentos territórios, trinta e três ilhas e mil seiscentos e sessenta e duas igrejas. O abade assumiu os seguintes títulos: Patriarca da Santa Fé; Abade do Santo Mosteiro de Cassino; Chefe e Príncipe de todos os Abades e Casas Religiosas; Vice-chanceler das Sicílias, de Jerusalém e da Hungria; Conde e Governador da Campânia e Savona e das Províncias Marítimas; Vice-Imperador; e Príncipe da Paz."*

{*Dictionary of Christian Churches and Sects, de Marsden, p. 635.}

domingo, 17 de março de 2019

Inocêncio e o Império

Antes do final do ano agitado em que estivemos viajando, Constança, a princesa siciliana e imperatriz germânica, morreu. Em 27 de novembro de 1198, ela deu seu último suspiro. Alguns supõem que sua morte foi acelerada pela preocupação maternal que ela tinha por seu filho pequeno, Frederico. Ele tinha, então, cerca de quatro anos de idade, tinha sido coroado rei da Sicília, e era herdeiro do império. Em seu testamento ela o legou à tutela do papa como seu suserano, e solicitou que trinta mil peças de ouro fossem pagas anualmente ao papa por sua piedosa proteção ao seu filho, e que todas as suas outras despesas fossem pagas por meio dos impostos arrecadados do país.

Mas a tranquilidade de Roma não estava assegurada por seus grandes sucessos. A guerra civil, com todos os seus horrores, foi renovada. O pontífice não perdeu tempo em dar a conhecer, em mais alta expressão aos nobres da Sicília, sua ascensão ao governo como regente, e encarregou um legado de administrar o juramento de lealdade. Marcovaldo, enquanto isso, ouvindo sobre a morte da imperatriz, apelou para seu título de senescal* do Império, e, por meio de um documento que professava ser a vontade do último imperador, reivindicou a regência da Sicília durante a minoridade do jovem rei. Para apoiar essas reivindicações, ele tinha reunido uma grande força de aventureiros, sitiou e obteve posse de uma das cidades papais, Germano, e quase se tornou o mestre do grande mosteiro de Monte Cassino, que foi defendido por oito anos por uma guarnição do papa; mas um novo suprimento de tropas e provisões de Roma fortaleceram a posição dos monges guerreiros, obrigando o grande duque a levantar o cerco. De acordo com as melhores autoridades, Inocêncio então assumiu a mais bélica atitude. Ele emitiu uma proclamação, convocando todo o reino de Nápoles e Sicília à guerra. Ele reuniu tropas da Lombardia, Toscana, Romanha e Campânia, pagando-as do tesouro papal. Marcovaldo e todos os seus cúmplices foram excomungados da forma mais solene todos os domingos, com o apagar de velas** e o soar das campainhas. Todo o reino foi devastado pelos exércitos do papa e pelos soldados do império. Mas a morte do chefe dos rebeldes, Marcovaldo, no ano de 1202, aliviou o papa de seu mais poderoso e bem-sucedido antagonista.

{*N. do T.: Um senescal era um oficial nas casas de nobres importantes durante a Idade Média. No sistema administrativo francês medieval, o senescal era também um oficial real, encarregado da aplicação da justiça e do controle da administração nas províncias do sul, equivalente ao '"bailio" do norte da França. Fonte: Wikipedia}

{**N. do T.: O apagar de velas representava a extinção das vidas representadas com a comunhão da igreja.}

Voltemos agora um pouco para observar o funcionamento dessa mesma mente poderosa nos complicados assuntos do império.

Um imperador infantil, agora um órfão; um trono vago, ferozmente contestado por príncipes rivais; isso tudo abriu um campo ainda mais amplo para a ambição papal.

O objetivo imediato da política de Inocêncio era separar o reino da Sicília do império. Enquanto ambos permanecessem debaixo das mesmas mãos, um soberano mais poderoso do que ele próprio poderia ser colocado no trono siciliano. A possibilidade de um vizinho tão poderoso deveria ser removida. A disputa então pela posse da coroa deu-lhe a oportunidade desejada. As tropas, sendo solicitadas em seus respectivos territórios, foram retiradas da Sicília, Apúlia e Cápua. As guarnições sendo assim reduzidas, o domínio germânico foi derrubado, os países separados do império, e a autoridade papal estabelecida pela força.

Imediatamente após a morte de Henrique, seu irmão, Filipe, duque da Suábia, tomou posse dos tesouros imperiais, declarou-se regente do reino e protetor dos interesses de seu jovem sobrinho. E até então ele parecia agir por um motivo correto. Mas um imperador infantil era algo contrário ao costume germânico, e inadequado para aqueles tempos difíceis. Um partido adverso rapidamente se ergueu, e se opôs fortemente à eleição do filho como rei. Os partidários da casa de Hohenstaufen pediram a Filipe que se tornasse representante de sua família, em oposição aos outros candidatos à coroa. Ele consentiu, tendo sido escolhido defensor do reino por um grande corpo de príncipes e prelados reunidos em Mulhausen.

O partido que se opunha à família suábia era encabeçada por Adolfo de Altena, arcebispo de Colônia. Essa facção era principalmente composta de grandes clérigos do Reno. Tal era a principal ocupação dos prelados e clérigos naqueles dias. Eles estavam determinados a levantar um antagonista à casa de Hohenstaufen. Após vários príncipes terem recusado tornarem-se candidatos à dignidade imperial, os clérigos voltaram seus pensamentos à casa da Saxônia, a irreconciliável adversária da casa da Suábia. A escolha deles caiu sobre Otão IV, o segundo filho de Henrique, o Leão, duque da Saxônia.

Em consequência da família de seu pai ter caído sob o banimento do império, ele foi levado à corte da Inglaterra. Sua mãe Matilda era irmã do rei Ricardo Coração de Leão. O jovem cavaleiro tinha mostrado sinais de bravura que Ricardo admirava, e criou Otão como o primeiro conde de York e Poitou. Bem guarnecido com ouro inglês e com alguns poucos seguidores, ele partiu, chegou à Colônia, onde foi proclamado imperador do Império Romano-Germânico e defensor da igreja.

terça-feira, 5 de março de 2019

Inocêncio e as Propriedades da Igreja

A morte de Henrique, os ciúmes e rivalidades dos chefes germânicos, e o estado exasperado dos italianos, preparou o caminho para o pleno exercício dos grandes poderes da administração de Inocêncio. As crueldades do imperador Henrique para com seus súditos italianos haviam atiçado todo o país em busca de revolta. Eles estavam apenas aguardando um libertador do jugo germânico. Esse libertador era Inocêncio. Ele convocou Marcovaldo, o mais formidável dos tenentes imperiais no comando, para que entregasse a São Pedro todas as propriedades da igreja. Marcovaldo fez uma pausa: embora ele fosse um homem ousado e ambicioso, e possuidor de grande riqueza e poder, ele desejava evitar uma disputa aberta com o papa. Ele estava consciente do perigo que corria pelo ódio que o povo nutria contra o jugo estrangeiro; e assim esforçou-se em conseguir uma aliança com muitas promessas de serviço à igreja. Mas o papa permaneceu firme e resistiu a todas as suas ofertas, fossem de dinheiro ou de serviço. Ele exigiu a entrega incondicional e imediata de todos os territórios da igreja. Marcovaldo recusou. O povo se levantou para apoiar as reivindicações do papa. A guerra começou. As bandeiras germânicas foram rasgadas, cidade após cidade se ergueu em rebelião e lançou ao chão tudo o que fosse germânico. Marcovaldo, insultado e ardendo em ira, "vingou-se ao sair dos portões de Ravena, devastando toda a região, queimando, saqueando, destruindo propriedades e colheitas, castelos e igrejas. Inocêncio abriu os tesouros papais, pegou emprestado grandes somas de dinheiro, ergueu um exército, e lançou uma excomunhão contra o vassalo rebelde da igreja, na qual ele absolvia de seus juramentos todos os que tinham jurado lealdade a Marcovaldo"*.

{*Milman, vol. 4, p. 19}

A queda de Marcovaldo encheu os outros de consternação. Eles propuseram termos de paz e ofereceram pagar tributo, mas Inocêncio não queria aceitar nada. Ele reivindicou a posse dos domínios patrimoniais sem reservas, declarou-se herdeiro da doação da condessa Matilde, e soberano do ducado da Toscana. Mas nenhum evento, vindo em consequência à doença do Imperador, foi mais importante para o papado do que a conduta infiel da imperatriz Constança. Imediatamente após a morte de seu marido, embora tivesse deixado a guarda natural do reino, separou-se da causa germânica e retornou à Sicília com seu filho pequeno Frederico. Ela abraçou os interesses de sua terra natal, lançou-se nos braços da Santa Sé, fez com que seu filho fosse coroado em Palermo, e solicitou a investidura pontifícia do reino para seu filho como um feudo da sé papal. Inocêncio viu sua própria força, sua fraqueza, e fez seus próprios termos. A imperatriz e seu filho foram obrigados a reconhecer a superioridade feudal absoluta do papa sobre todo o reino de Nápoles e Sicília, e que pagassem um alto tributo anual. Os guerreiros germânicos foram obrigados a se retirarem para os castelos no continente, mas apenas para que meditassem em sua presente derrota e futura vingança.

As conquistas de Inocêncio tinham sido rápidas e estavam aparentemente completas. Em menos de um ano após sua ascensão ao trono papal, ele era virtualmente o rei da Sicília, e mestre de seus próprios grandes territórios. Por meio de seus legados, ele fez sua presença ser sentida e forçou obediência em todos os seus recém adquiridos domínios. Mas, como sempre, a besta na qual monta a mulher tornou-se ainda mais obstinada. Os territórios, fortalezas, cidadelas e terras, que tinham sido recuperadas dos germânicos, foram reivindicadas pela sé papal como sendo sua possessão. Mas, como tais exigências fossem tanto injustas quanto ilegais, a resistência da parte dos cidadãos e dos governadores imperiais foi a consequência natural, e por anos a Sicília e suas províncias foram palco de anarquia, violência, derramamento de sangue e incessantes intrigas. E ainda assim, nessa mesma época, Inocêncio lembrou aquelas cidades que se opunham a entregar-lhe o total benefício de sua duramente adquirida libertação, da terrível natureza do poder a que eles ousaram se opôr. A falta de confiança deles para com o papa era considerado um crime contra o próprio Senhor Jesus, cujo sucessor era ele, "alguém em que não havia pecado algum, nem na sua boca se achou engano". Podia a blasfêmia ser mais ousada, ou mais descarada? Poderia haver uma tentativa mais perversa de unir o dragão e o cordeiro?

domingo, 24 de fevereiro de 2019

Inocêncio e o Reino da Sicília

Mas a cidade imperial, nesse momento, estava cercada por muitos vizinhos perigosos. Livrar-se deles foi, então, a primeira e importante questão com a qual Inocêncio tinha de lidar. As mais belas províncias da centro e do sul da Itália, até os portões de Roma, assim como o reino da Sicília, estavam sob o jugo feroz de temíveis aventureiros alemães. Aconteceu da seguinte maneira:

Henrique VI, o Severo, o Imperador Romano-Germânico, no ano de 1186 casou-se com Constança, herdeira legítima da coroa da Sicília, tomando o senhorio de todas as províncias normandas do sul da Itália.

A evidente vantagem dessa união com o Imperador, e a ameaça igualmente evidente ao papado, alarmou o atual pontífice, Lúcio III, o que o levou a tomar medidas de prevenção contra tal casamento. No entanto, ele morreu de repente, não conseguindo cumprir seu propósito. Seu sucessor, Urbano III, também não conseguiu romper o noivado, e o casamento foi celebrado no dia 27 de janeiro de 1186. Mas, como de costume, um pretendente à coroa da Sicília foi encontrado e apoiado pelo papado, o que levou a uma guerra cruel e desoladora que durou muitos anos. Henrique invadiu os território italianos com o propósito declarado de se apossar da herança de sua esposa. A expedição foi completamente bem-sucedida. Província após província caiu em suas mãos, e em pouco tempo todo o sul da Itália e o reino da Sicília se submeteram ao impiedoso tirano, o marido impiedoso de Constança. Antes de deixar os territórios conquistados, diz Greenwood: "Todos os grandes comandos militares foram concedidos aos mais distintos oficiais de seu exército. Castelos, terras, rendimentos, grandes poderes e dos mais diferentes tipos, foram despejados sobre a multidão de aventureiros e mercenários, cujo único objetivo era saquear, e cuja ganância não tinha o mais remoto respeito pelos direitos ou pelo bem-estar daqueles a quem foram designados a governar.

"Filipe, o irmão de Henrique, duque da Suábia, foi encarregado do governo da Itália central, incluindo os estados da Condessa Matilda e o ducado da Toscana. Markwald, um cavalheiro de Alsácia, o favorito do Imperador, foi feito duque de Ravena e Romanha. Conrado de Lutzenberg, um cavaleiro suábio, como duque de Espoleto, tomou posse daquela cidade e de seu domínio. Assim foram os estados pontifícios rodeados por uma cadeia hostil de fortalezas por todos os lados. A comunicação com o mundo exterior foi rompida. Mas a mão-mestre que era necessária para dirigir e controlar as diferentes guarnições foram repentinamente retiradas.

"Henrique morreu em Messina, em 28 de setembro de 1197, cerca de três meses antes da ascensão de Inocêncio."*

{*Cathedra Petri, livro 13, capítulo 1, p. 339}

Nos referimos, assim, rapidamente à ocupação militar do país quando Inocêncio tomou em suas mãos as rédeas do governo. Para mais detalhes, os livros de história podem ser consultados. Mas, como nosso objetivo neste capítulo é mostrar como o poder eclesiástico triunfou completamente sobre o poder civil, sentimos ser necessário mostrar a forte posição deste. E agora Inocêncio tinha um problema a resolver. Como poderia um único homem, por uma única palavra, subverter a força física do império, e compelir tanto o príncipe quanto o povo a se submeterem a um despotismo espiritual? O poder invisível para isso, sem dúvida, vem das profundezas do inferno. A mistura do cordeiro e do dragão, ou do homem de pecado, em um único poder, ou sistema, prova sua origem. (Ap. 13:11-18)

domingo, 28 de maio de 2017

O Reavivamento das Letras pelos Árabes

Encontramo-nos agora com um fenômeno um tanto curioso e inesperado na história da literatura durante essa Idade das Trevas, e embora possa não dizer respeito propriamente à linha de nossa história da igreja, é interessante e importante demais para ser ignorado. Os professos mestres da Cristandade estavam, nessa época, como é bem conhecido, mergulhados nas profundezas da ignorância. Mas descobrimos que os sarracenos tinham se levantado para ser os estudantes e os mestres da literatura nacional da Grécia. E este era o marcante estado das coisas no início do século XI.

Já vimos que no século VII os companheiros e sucessores de Maomé desolaram a face da terra com seus exércitos, e a obscureceu pela sua ignorância e pelos atos de barbárie atribuídas a eles -- tais como o incêndio da biblioteca de Alexandria, o que atestava seu desprezo pelo aprendizado, e a aversão pelos monumentos que destruíam. No século VIII eles parecem ter se estabelecido nos países que subjugaram e, com as vantagens de um clima mais agradável e um solo mais rico, começaram a estudar as ciências e os conhecimentos úteis. "No século IX", diz o decano Waddington, "sob o favor de um sábio e magnânimo califa, eles aplicaram o mesmo ardor pela busca de literatura que tinham até então pelos exércitos e armas. Amplas escolas foram fundadas nas principais cidades da Ásia, Bagdá, e Cufa, e Bassora; numerosas bibliotecas foram formadas com cuidado e diligência, e homens de erudição e ciência foram solicitamente convidados para a esplêndida corte de Almamunis. A Grécia, que tinha civilizado a república romana, e estava destinada, em eras posteriores, a iluminar as extremidades do Ocidente, foi então chamada a tornar o fluxo de seu conhecimento em direção ao seio estéril da Ásia; pois a Grécia ainda era a única terra que possuía uma literatura original. Suas produções mais nobres foram então traduzidas para a língua dominante do Oriente, e os árabes tiveram prazer em perseguir as especulações, ou a se submeter às regras, de sua filosofia.

"O impulso assim dado ao gênio e indústria da Ásia foi comunicado com inconcebível rapidez ao longo das margens do Egito e da África até as escolas de Sevilha e Córdova; e o choque não foi menos sentido por aqueles que o receberam por último. Dali em diante o gênio da erudição acompanhava até mesmo os exércitos dos sarracenos. Eles conquistaram a Sicília; desde a Sicília invadiram as províncias ao sul da Itália e, como que para completar a excêntrica revolução da literatura grega, a sabedoria de Pitágoras foi restaurada na terra de sua origem pelos descendentes dos guerreiros árabes."*

{* História, de Waddington, vol. 2, p. 44}

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