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sábado, 13 de fevereiro de 2016

A Perseguição na Ásia (ano 167 d.C)

Na Ásia Menor, a perseguição irrompeu com grande violência, como nunca se viu antes. O cristianismo era agora tratado como um crime direto contra o Estado. Isto mudou a face de tudo. Contrariamente ao documento oficial de Trajano e à conduta dos imperadores mais amenos, Adriano e Antonino, os cristãos deviam ser procurados como criminosos comuns. Eles eram arrancados de suas casas pela violência do povo, e submetidos às mais severas torturas. Se eles se recusassem obstinadamente a sacrificar aos deuses, eles eram condenados. Animais selvagens, a cruz, as estacas e o machado eram as formas cruéis de morte que os fiéis do Senhor encontravam em todo lugar.

O prudente e honrado Melito, bispo de Sardes, ficou tão comovido por tais barbaridades inéditas que compareceu perante o imperador como defensor dos cristãos. Seu discurso lança muita luz tanto sobre a lei quanto sobre a conduta das autoridades públicas, como segue: - "A estirpe dos adoradores de Deus neste país é perseguida como nunca antes, pelos novos decretos; pois os desavergonhados bajuladores, gananciosos pelas posses dos outros - uma vez que tais éditos lhes deram a oportunidade de fazê-lo - saqueiam vítimas inocentes de dia e de noite. E que assim seja certo se for feito sob seu comando, uma vez que um imperador justo nunca resolverá algo sob nenhuma medida de injustiça, assim como alegremente iremos levar o honrável quinhão de tal morte. Ainda assim, gostaríamos de enviar este único pedido, de que o senhor deveria se informar a respeito do povo que excita a contenção, e que deveria decidir imparcialmente se eles merecem a punição e a morte, ou a liberdade e a paz. Mas se essa resolução, e esse novo decreto - um decreto que não deveria ser emitido nem mesmo contra bárbaro hostis - vier de você, oramos mais para que não nos deixe expostos a tais roubos públicos."*

{* História Eclesiástica, de Neander, vol.1, p. 142}

Tememos que não haja motivo para acreditar que esse nobre apelo tenha trazido qualquer alívio direto aos cristãos. O caráter e modos de Aurélio têm deixado perplexos os historiadores. Ele era um filósofo da seita dos estoicos, naturalmente humano, benevolente, gentil e piedoso, até mesmo infantil em sua disposição, dizem alguns, pela influência da educação materna; ainda assim ela foi um implacável perseguidor dos cristãos por quase vinte anos. E a perplexidade aumenta quando olhamos para a Ásia, pois o procônsul, nessa época, não era pessoalmente oposto aos cristãos. Mesmo assim ele cedeu à fúria popular e às demandas da lei. Mas a fé vê além dos imperadores, governadores e do povo. A fé vê o príncipe das trevas governando esses homens ímpios, e o Senhor Jesus sobrepondo-se a todos. "Conheço as tuas obras, e tribulação... Nada temas das coisas que hás de padecer.... Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida... O que vencer não receberá o dano da segunda morte." (Apocalipse 2:9-11)

Aurélio, com toda a sua filosofia, era um total estranho à doçura e poder do Nome que, sozinho, pode atender e satisfazer os anseios do coração humano. Todas as especulações e vanglórias da filosofia nunca foram capazes de fazer isso. Daí a inimizade do coração humano contra o evangelho. Auto-suficiência, que leva ao orgulho e à presunção, é o assunto principal da religião estoica. Com essa visão não poderia haver humilhação, nem senso de pecado, e nem ideia de um Salvador. E quanto mais seriamente ele levasse sua própria religião, mais amarga e veementemente ele seria contra o cristianismo.

Em uma carta circular escrita pela igreja de Esmirna para outras igrejas cristãs temos um relato detalhado dos sofrimentos dos fiéis até a morte. "Eles tornaram isso evidente para todos nós", diz a igreja, "de que no meio desses sofrimentos eles estavam ausentes do corpo, ou melhor, que o Senhor estava com eles, e andava no meio deles, e permanecendo na graça de Cristo, eles desafiaram os tormentos do mundo." Alguns, com um estranho entusiasmo momentâneo, se apressando com auto-confiança ao tribunal, se declararam cristãos; mas quando os magistrados os pressionavam, manipulando seus medos ao mostrar a eles os animais selvagens, eles cediam e ofereciam incenso aos deuses. "Nós, portanto", acrescenta a igreja, "não louvamos aqueles que voluntariamente se entregaram, pois o evangelho não nos ensina isso." Nada menos que a presença do Senhor Jesus poderia fortalecer a alma para suportar com tranquilidade e compostura os mais agoniantes tormentos, e as mais terríveis mortes. Mas milhares levaram com brandura, e até mesmo com alegria, o máximo que o poder das trevas e da quarta besta de Daniel poderia fazer. Os espectadores pagãos eram frequentemente levados a sentir pena pelos sofrimentos dos cristãos, mas nunca podiam entender a serenidade da mente, amor pelos seus inimigos, e prontidão para morrer.

Vamos agora concluir esse relato geral da perseguição na Ásia, e observar particularmente as duas pessoas mais eminentes que sofreram a morte nessa época: Justino e Policarpo.

domingo, 22 de março de 2015

A Visita de Paulo a Atenas

A aparição do apóstolo em Atenas é um evento de grande importância em sua história. Atenas era, em certos aspectos, a capital do mundo, e a sede da cultura e filosofia grega; mas era também o ponto central da superstição e idolatria.

É muito interessante observar que o apóstolo não tinha pressa de começar seu trabalho nesse lugar. Ele concedeu tempo à reflexão. Pensamentos profundos, e o pesar de tudo na presença de Deus e à luz da morte e ressurreição de Cristo, encheram sua mente. Sua primeira intenção era esperar pela chegada de Silas e Timóteo. Ele tinha enviado uma mensagem para Bereia para que eles fossem ter com ele o mais rápido possível. Mas quando ele se viu rodeado de templos, e altares, e estátuas, e adoração idólatra, ele não podia mais ficar em silêncio. Como de costume, ele começa com os judeus, mas também disputa diariamente com os filósofos no mercado: cristianismo e paganismo então se confrontam abertamente entre si; e, vale observar, o apóstolo do cristianismo estava sozinho em Atenas, enquanto o lugar fervilhava de apóstolos do paganismo; e tão numerosos eram os objetos de adoração, que um satirista uma vez observou: "É mais fácil encontrar um deus que um homem em Atenas".

Alguns, com desprezo, ridicularizavam o que ouviam, e outros ouviam e desejavam ouvir mais. "E alguns dos filósofos epicureus e estóicos contendiam com ele; e uns diziam: Que quer dizer este paroleiro? E outros: Parece que é pregador de deuses estranhos; porque lhes anunciava a Jesus e a ressurreição." (Atos 17:18). Estas palavras tinham causado grande impressão, e permaneceram claramente em suas mentes. Que novidade, e que bendita realidade para as almas! A Pessoa de Cristo; não uma teoria: o fato da ressurreição; não uma sombria incerteza quanto ao futuro. O ministro de Cristo desnuda aos estudados atenienses a temerosa condição em que se encontravam sob a visão do verdadeiro Deus. No entanto, eles desejavam uma exposição mais plena e mais deliberada sobre esses misteriosos assuntos, e levaram Paulo ao Areópago. 

Desse lugar, o Areópago, é dito que era o mais conveniente e apropriado para um discurso. A mais solene corte da justiça havia sentado desde tempos imemoriais na colina do Areópago. Os juízes se sentavam ao ar livre sobre assentos escavados na rocha. Nesse local, muitas questões solenes tinham sido discutidas, e muitos casos solenes decididos: começando com o lendário julgamento de Marte, o que deu ao lugar o nome de "colina de Marte".

Foi nesse cenário que Paulo dirigiu-se à multidão. Não há um momento sequer na história do apóstolo, ou na história do começo do cristianismo, mais profundamente interessante ou mais conhecido que este. Inspirado por sentimentos para a honra de Deus, e cheio do conhecimento sobre a condição do homem à luz da cruz, o que deve ter ele sentido enquanto estava na colina de Marte? Para onde quer que voltasse os olhos, os sinais da idolatria em suas milhares de formas se levantavam diante dele. Ele poderia ter sido traído, diante das circunstâncias, a falar com exagerada ousadia; mas ele dominou seus sentimentos, e absteve-se de uma linguagem intemperada. Considerando a fervência de seu espírito, e a grandeza de seu zelo pela verdade, foi um notável exemplo de auto-negação e auto-controle. Mas seu Senhor e Mestre estava com ele, embora para o olho humano ele estivesse sozinho diante dos atenienses e dos muitos estrangeiros que se reuniam naquela universidade do mundo.

Pela sabedoria, prudência, raciocínio claro e perfeita habilidade, o discurso de Paulo se destaca nos anais da história da humanidade. Ele não começou atacando seus falsos deuses, ou denunciando a religião deles como uma ilusão satânica e objeto de seu ódio absoluto. O zelo sem conhecimento teria feito assim, e teria ficado satisfeito com sua própria fidelidade. Mas no discurso que temos diante de nós temos um exemplo da melhor maneira de se aproximar das mentes e corações de pessoas ignorantes e preconceituosas de qualquer idade. Que o Senhor possa dar sabedoria a todos Seus servos para seguir este exemplo!

Suas palavras de abertura são, ao mesmo tempo, vencedoras e reprobatórias: "Homens atenienses, em tudo vos vejo um tanto supersticiosos." (Atos 17:22). Ele, então, começa reconhecendo que eles tinham sentimentos religiosos, mas que estavam na direção errada; e então fala de si como sendo um que estava disposto a conduzi-los ao conhecimento do verdadeiro Deus: "Esse, pois, que vós honrais, não o conhecendo, é o que eu vos anuncio." (Atos 17:23). Ele sabiamente seleciona, para seu texto, a inscrição: "AO DEUS DESCONHECIDO" (Atos 17:23). Isto lhe dá a oportunidade de começar do mais baixo degrau da escada da verdade. Ele fala da unicidade de Deus, o Criador, e da relação do homem com Ele. Mas ele logo deixa o argumento contra a idolatria e procede pregando o evangelho. E ainda assim ele tem o cuidado de não introduzir o nome de Jesus em seu discurso público. Ele tinha tinha feito isso totalmente em suas ministrações mais particulares: mas, estando cercado pelos discípulos e admiradores de nomes como Sócrates, Platão, Zeno e Epícuro, ele sagradamente guarda o santo nome de Jesus do risco de uma comparação com tais. Ele bem sabia que o nome do humilde Jesus de Nazaré era "loucura (bobagem) para os gregos" (1 Coríntios 1:23). No entanto, é fácil observar que, próximo ao fim de seu discurso, a atenção de toda a audiência está concentrada no homem Cristo Jesus, embora Seu nome não seja mencionado em todo o discurso. Então ele procede: "Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam; porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos." (Atos 17:30-31). Aqui a paciência de sua audiência acabou - seu discurso foi interrompido. Mas a última impressão deixada em suas mentes era de eterno peso e importância. O apóstolo inspirado se dirigiu às consciências, e não à curiosidade intelectual dos filósofos. A menção da ressurreição dos mortos e do julgamento do mundo, com tal poder e autoridade, não podia deixar de perturbar aqueles orgulhosos e auto-indulgentes homens. O princípio essencial, ou o maior objetivo, do filósofo epicureu, era satisfazer a si mesmo; o do estoico era uma orgulhosa indiferença ao bem e ao mal, ao prazer e a dor.

Que dúvidas podemos ter de que essa notável assembleia se desfaria em meio ao escárnio desdenhoso de alguns e à gélida indiferença de outros? Mas, apesar de tudo, o cristianismo tinha ganhado sua primeira e nobre vitória sobre a idolatria e, quaisquer que tenham sido os resultados imediatos do discurso de Paulo, sabemos que tem sido de bênção para muitos desde então, e que ainda trará muitos frutos em muitas almas, e continuará a dar frutos para a glória de Deus sempre e sempre.

Paulo agora se afasta do meio deles. Ele não parece ter sido expulso por qualquer tumulto ou perseguição. O bendito Senhor lhe concedeu provar de Sua própria alegria e da alegria dos anjos quando alguns pecadores contritos o buscaram: "entre os quais foi Dionísio, areopagita, uma mulher por nome Dâmaris, e com eles outros." (Atos 17:34). Mas na cidade militar de Filipos, e nas cidades mercantis de Tessalônica e Corinto, o número de conversões parece ter sido muito maior do que na altamente educada e civilizada cidade de Atenas. Isto é profundamente humilhante para o orgulho do homem, e para os vangloriosos poderes da mente humana. Uma Epístola foi escrita aos filipenses, duas aos tessalonicenses, e duas aos coríntios: mas não temos nenhuma carta escrita por Paulo aos atenienses, e não lemos de ter ele outra vez visitado Atenas.

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