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domingo, 6 de setembro de 2020

O Zelo Missionário dos Beneditinos

Os beneditinos, com o passar do tempo, conforme seu número aumentava, enviaram missionários para pregar o evangelho entre as nações, que ainda mergulhavam nas profundezas do paganismo. Estima-se que foram o meio de converter mais de trinta países e províncias à fé cristã ou, como seria melhor dizer, à igreja de Roma. Ainda assim, o Senhor, em Sua misericórdia, poderia, e sem dúvida o fez, usar a cruz de Cristo, mesmo da forma que era pregada, para a salvação. Um pouquinho da verdade sobre a cruz ou sobre o sangue de Cristo é capaz de converter a alma quando o Senhor a usa. Uma mudança notável ocorreu na história da Igreja, ou do Cristianismo, por meio da pregação dos beneditinos e da ordem de São Bento, que apenas mencionaremos e deixaremos para a reflexão dos mais pensativos.

Durante os primeiros três séculos da era cristã, os imperadores e todos os grandes da Terra perseguiram os fiéis seguidores de Cristo; mas, durante os séculos VI, VII, VIII e IX, muitos imperadores e reis renunciaram às suas coroas e tornaram-se monges da ordem beneditina; e também imperatrizes e rainhas se tornaram freiras da mesma ordem. *

{* Para uma lista dos nomes e países desses convertidos, com muitos detalhes, consulte English Monasticism, de O'Dell Travers Hill, p. 101. Consulte também a Encyclopedia Britannica, vol. 4, pág. 562. Os números não concordam em ambos, mas, como o English Monasticism foi publicado somente em 1867 (uma data contemporânea ao autor deste livro, que viveu no século XIX), aceitamos os números dados ali.}

Da reclusão das celas beneditinas, quarenta e oito papas foram levantados para ocupar a cátedra de São Pedro; duzentos cardeais, sete mil arcebispos, quinze mil bispos, quinze mil abades, quatro mil santos e mais de trinta e sete mil estabelecimentos religiosos, incluindo mosteiros, conventos, priorados, hospitais, etc. A ordem também produziu um vasto número de escritores eminentes e outros homens eruditos. Rábano estabeleceu a primeira escola na Alemanha, Alcuíno fundou a Universidade de Paris, Guido inventou a escala musical, Silvestre o órgão, e Dionísio Exíguo aperfeiçoou o cálculo de datas eclesiástico.

"Os abades eram frequentemente pouco inferiores aos príncipes soberanos: seu esplendor era maior na Alemanha, onde o abade de Angia, apelidado ‘o Rico’, tinha uma receita anual de sessenta mil coroas de ouro, e em seu mosteiro ninguém era recebido, exceto os filhos dos príncipes, condes e barões. Os abades de Weissenburg, de Fulda e de São Galo eram príncipes do império. O abade de São Galo entrou certa vez em Estrasburgo com um séquito de mil cavalos."* Por seiscentos anos todas as regras e as sociedades cederam ante a prevalência universal da ordem beneditina. Muitas outras seitas surgiram durante aquele período e, embora diferissem umas das outras em alguns pontos de disciplina ou vestuário, todas reconheciam a Regra de Bento. Os cartuxos, os cistercienses e outros inumeráveis ​​eram apenas ramos que cresciam a partir do tronco original.

{*Christian Sects, de Marsden.}

Esses celebrados resultados da regra do eremita solitário de Monte Cassino se estendem por um período de pelo menos setecentos anos, durante os quais os beneditinos, como todas as outras instituições humanas, experimentaram muitos reveses e muitos avivamentos, os quais não precisamos enumerar exaustivamente. Para complementar este assunto, é interessante notar ainda, que, de acordo com a história frequentemente contada, assim que os monges de São Bento se tornaram ricos e luxuosos, eles começaram a se afastar dos princípios de seu fundador e se entregaram à indolência e a todo tipo de vício. Eles se envolveram em assuntos civis e nas intrigas dos tribunais, buscando apenas promover a autoridade e o poder dos pontífices romanos.

domingo, 30 de abril de 2017

Os Eslavônios Recebem o Evangelho

Por volta desse tempo, alguns esforços foram feitos para a conversão dos russos, húngaros, etc., mas a obra do evangelho parece ter feito pouco progresso nessas regiões até a conquista da Boêmia por Oto, no ano 950, ou talvez até o casamento de Vladimir, príncipe dos russos, com Ana, irmã de Basílio, o imperador grego. Ele abraçou a fé de sua rainha, viveu até uma idade bem avançada, e foi seguido em sua fé pelos seus súditos. A conversão do Duque da Polônia é também atribuída à influência de uma rainha cristã. Naqueles dias a crença do príncipe se tornava a regra de seu povo, tanto na fé como na prática, e a fé da rainha, geralmente falando, tornava-se a regra do rei. Daí a influência da esposa para o bem ou para o mal. Isto podemos já ter notado, especialmente nos dias de Clotilda e Clóvis.  "Há uma estranha uniformidade", diz Milman, "nos instrumentos usados na conversão dos súditos bárbaros. Uma mulher de classe e influência, um monge zeloso, alguma terrível calamidade nacional; logo que esses três coincidem, então a terra pagã abre-se ao cristianismo."

Bulgária. A introdução do cristianismo entres os búlgaros foi referenciada em nossas notas sobre os paulicianos. Eles eram um povo bárbaro e selvagem. Depois dos hunos, os búlgaros eram os mais odiosos e mais terríveis para os europeus invadidos. A irmã de Bóris, seu rei, tendo sido levada cativa pelos gregos em sua infância, tinha sido educada em Constantinopla na fé cristã. Após sua redenção e retorno ao lar, ela se sentiu muito incomodada pelos hábitos idólatras de seu irmão e de seu povo. Ela parece ter sido uma cristã fervorosa, mas todos os seus apelos em favor do cristianismo foram pouco atendidos, até que uma fome e uma praga devastaram a Bulgária. O rei foi finalmente persuadido a orar ao Deus dos cristãos. O Senhor, em grande misericórdia, fez cessar a praga. Bóris reconheceu a bondade e poder do Deus cristão e concordou que aos missionários fossem permitido pregar o evangelho ao seu povo.

Metódio e Cirilo, dois monges gregos, distintos por seu zelo e erudição, instruíram os búlgaros nas verdades e bênçãos do evangelho de Cristo. O rei foi batizado, e seu povo gradualmente seguiu seu exemplo. Conta-se que 106 perguntas foram enviadas pelo rei ao papa Nicolau I, abrangendo cada ponto da disciplina eclesiástica, da observância cerimonial e dos costumes. As respostas, conta-se, foram sábias e discretas, e adequadas para mitigar a ferocidade de uma nação selvagem.

A partir da Bulgária os zelosos missionários visitaram muitas das tribos eslavônias, e penetraram em regiões de genuíno barbarismo. O dialeto deles ainda não tinha escrita. Mas esses homens devotos dominaram a língua do país e pregaram o evangelho ao povo em sua língua nativa. Isso era algo completamente novo naqueles dias,  mas o cristianismo celestial traz em sua comitiva muitos dons preciosos. A prática comum da época era pregar e ensinar nas línguas eclesiásticas -- o grego e o latim; de fato, reclamações foram feitas ao papa sobre a novidade da adoração em uma língua bárbara, mas os escrúpulos do pontífice foram superados pelos argumentos  dos missionários, embora a controvérsia tenha sido renovada em dias póstumos, uma vez que alguns tolamente pensaram que seria uma profanação que os serviços da igreja fossem celebrados em uma língua bárbara. Conta-se que Cirilo inventou um alfabeto, ensinou o povo rude a usar as letras, e traduziu a liturgia e certos livros da Bíblia para o dialeto dos morávios. Quem pode dizer que efeito a obra de Cirilo pôde ter até o presente dia? O rei da Morávia foi batizado e, como de costume naqueles tempos, seus súditos seguiram seu exemplo. A província da Dalmácia, e muitas outras, até então em densas trevas, receberam o evangelho durante os séculos IX e X!

A Conversão das Nações do Norte

A disseminação do evangelho em direção às extremidades ao norte da Europa, durante os séculos IX e X, tem sido tão detalhada nas histórias gerais que faremos pouco mais do que nomear os principais lugares e os principais atores em conexão com a boa obra. Mas nos regozijamos em traçar os passos daqueles missionários abnegados, no próprio coração do reino [ou trono] de Satanás, onde por séculos ele já tinha reinado imperturbável. Já vimos que a espada de Carlos Magno tinha aberto o caminho para os frísios, os saxões, os hunos, e outras tribos.

Na primeira parte do reinado de seu filho Luís, o evangelho foi introduzido entre os dinamarqueses e suecos. Disputas quanto ao trono da Dinamarca entre Haroldo e Godofredo levaram Haroldo a buscar a proteção de Luís. O piedoso imperador pensou que isso poderia ser uma oportunidade conveniente para a introduzir o cristianismo entre os dinamarqueses. Ele, portanto, prometeu ajuda a Haroldo na condição de que ele próprio abraçasse o cristianismo e admitisse pregadores do evangelho em seu país. O rei aceitou os termos e foi batizado em Mentz, no ano 826 d.C., junto a sua rainha e uma numerosa comitiva de súditos. Luís apadrinhou Haroldo, a imperatriz apadrinhou sua rainha, e Lotário o seu filho; e padrinhos de classes adequados foram encontrados para os membros de sua comitiva. Assim cristianizados, como pensava-se naqueles dias, ele voltou para casa, levando consigo dois mestres do cristianismo. E, embora Haroldo não tenha conseguido recuperar seu reino, Luís designou-lhe um território na Frísia.

Ansgarius e Aubert, os dois monges franceses que o acompanharam, trabalharam com grande zelo e sucesso; mas Aubert, um monge de nobre nascimento, morreu dois anos depois entre os trabalhos de missionário.

O infatigável Ansgarius, na morte de seu companheiro, foi para a Suécia. Ele foi igualmente feliz e bem-sucedido em sua obra lá. Em 831, Luís recompensou seus grandes labores tornando-o arcebispo de Hamburgo e de todo o norte. Ele frequentemente encontrou grande oposição, mas comumente desarmava seus perseguidores pela bondade de suas intenções e pela retidão de sua conduta. Ele viveu até o ano 865, e trabalhou principalmente entre os dinamarqueses, os cimbrianos e os suecos.

domingo, 23 de abril de 2017

A Propagação do Cristianismo (Século IX)

Capítulo 17: Europa (814 d.C. - 1000 d.C.)


É realmente um grande alívio para a mente, tanto do escritor quanto do leitor, afastar-se das regiões sombrias e poluídas de Roma, e traçar, por um momento, a linha prateada da graça salvadora de Deus na disseminação do evangelho e na devoção de muitos de Seus servos. Ao mesmo tempo, não podemos esperar muito de Cristo, ou do que é chamado de um evangelho puro, no testemunho dos missionários nesse período. O estado da Europa em geral no século IX, comparado ao século XIX {*N. do T.: e também ao século XX e XXI}, deve ser considerado se quisermos que nossos corações se elevem a Deus em gratidão pelo dia das coisas pequenas.

A preferência dada aos escritos humanos sobre as Escrituras era, então, um hábito, pelo menos onde a influência de Roma prevalecia. Os paulicianos, provavelmente, e outros que estavam separados da comunhão de Roma, mantinham a autoridade da Palavra de Deus. Mas os missionários romanos eram instruídos e obrigados a cumprir as decisões dos pais [apostólicos]. Apelava-se constantemente aos cânones dos concílios e aos escritos dos grandes doutores, de modo que o volume sagrado (as Escrituras) fosse completamente esquecido. Muito antes desse período, a Palavra de Deus já vinha sendo tratada como obscura, confusa e inadequada para a leitura geral. E assim tem sido considerada pelos católicos desde aqueles dias até hoje. Ainda assim, Deus estava, e está, acima de tudo, subjugando tudo isso para Sua própria glória, para a disseminação do cristianismo, e para a salvação dos pecadores. "Todo o que o Pai me dá", disse Jesus, "virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora", não importa o país, o período, a educação, ou a condição. (João 6:37)

domingo, 11 de dezembro de 2016

O Zelo Missionário da Irlanda

Os benditos frutos dos trabalhos de São Patrício foram abundantemente manifestados em anos posteriores. A Irlanda, nessa época, é descrita como uma espécie de paraíso de paz e piedade; e sua fama pelo ensino puro das Escrituras se ergueu tão alto que chegou a receber a honorável denominação de "a ilha dos Santos". Os labores do clero irlandês, no entanto, não se confinavam em seu próprio país. Naturalmente apaixonados por viajar e vagar, e estando energizados por um amor pelas almas, muitos deixaram seu país natal, em grupos missionários, sob a liderança de um amado e devoto abade. Geralmente conta-se que os monastérios eram tão cheios de monges nessa época que não havia espaço suficiente em seu próprio país para o emprego de seu zelo, de modo que eles sentiam que era seu dever exercer suas atividades em outras terras. Assim vemos uma ampla linha prateada da graça de Deus naquele povo rude, mais distintamente marcado do que em qualquer outra parte da Cristandade. O nome do Senhor seja louvado. Mas tomemos um exemplo para observarmos estas obras.

domingo, 4 de dezembro de 2016

A Hierarquia Católica Romana Formada na Inglaterra

Gregório, ao ouvir sobre o grande sucesso de Agostinho, enviou-lhe mais missionários, que carregaram com eles um número de livros, incluindo os Evangelhos, utensílios cerimoniais, vestimentas, relíquias, e o pálio que deveria investir Agostinho como Arcebispo da Cantuária. Ele também orientou-lhe que consagrasse doze bispos em sua província; e, caso achasse vantajoso para a propagação da fé, que estabelecesse outro metropolita em York, que deveria então ter autoridade de nominar outros doze bispos para os distritos nortenhos da ilha. Tais foram os rudimentos da igreja inglesa; e tal era a exagerada impaciência de Gregório pela supremacia eclesiástica, que ele estabelecia um plano de governo para locais antes de terem sido visitados pelos evangelistas.

"Na visão eclesiástica do caso", diz Greenwood, "a igreja anglo-saxônica era a filha genuína de Roma. Mas, além dos limites desse estabelecimento, nenhum direito de parentesco pode ser atribuído a ela dentro das ilhas britânicas. Uma numerosa população cristã ainda existia nos distritos nortenhos e ocidentais, cujas tradições não davam apoio à alegação romana de maternidade. O ritual e disciplina das igrejas britânicas, galesas e irlandesas diferiam em muitos pontos daquelas de Roma e dos latinos em geral. Eles celebravam a festa da Páscoa em conformidade com a prática das igrejas orientais, e na forma de tonsura*, assim como no rito batismal, ele seguiam o mesmo modelo: diferenças que, por si só, parecem suficientes para excluir toda a probabilidade de um pedigree puramente latino".**

{* N. do T.: Corte circular, rente, do cabelo, na parte mais alta e posterior da cabeça, que se faz nos clérigos; cercilho, coroa. Novo Dicionário da Língua Portuguesa, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira.}

{** Cathedra Petri, livro 3, p. 215.}


Agostinho, então à frente da hierarquia composta de doze bispos, imediatamente fez a ousada tentativa de trazer a antiga igreja britânica sob a jurisdição romana. Através da influência de Etelberto ele obteve uma conferência com alguns dos bispos britânicos em um lugar que, naquela época, foi chamado de "carvalho de Agostinho", em Severn. Ali o clero romano e o britânico se encontraram pela primeira vez; e a primeira e imperiosa exigência de Agostinho foi: "Reconheçam a autoridade do bispo de Roma". "Desejamos amar todos os homens", eles humildemente responderam, "e qualquer coisa que fizermos por vocês, faremos também a este a quem chamam de Papa". Surpresos e indignados com sua recusa, Agostinho os exortou a adotarem os costumes romanos quanto à celebração da Páscoa, à tonsura e à administração do batismo, para que uma uniformidade de disciplina e adoração pudesse ser estabelecida na ilha. A isto eles positivamente se recusaram. Tendo recebido o cristianismo, primeiramente, não de Roma, mas do Oriente, e nunca tendo reconhecido a igreja romana como sua mãe, eles viam-se como independentes da Sé de Roma. Um segundo e um terceiro concílio foi realizado, mas sem melhores resultados. A Agostinho foi claramente dito que a igreja britânica não reconheceria homem algum como supremo na vinha do Senhor. O arcebispo exigiu, argumentou, censurou, realizou milagres; mas tudo sem efeito -- os britânicos eram firmes. Por fim, lhe disseram que eles não podiam se submeter nem à soberba dos romanos, nem à tirania dos saxões. Despertado à irada indignação pela quieta firmeza deles, o zangado sacerdote exclamou: "Se vocês não receberem os irmãos que lhes trazem paz, vocês receberão inimigos que lhes trarão guerra. Se vocês não se unirem conosco para mostrar aos saxões o caminho da vida, vocês receberão deles o golpe da morte". O arrogante arcebispo retirou-se, e supõe-se que tenha morrido pouco tempo depois, em 605 d.C., mas sua profecia de mal agouro cumpriu-se logo após sua morte.

Edelfrido
, um dos reis anglo-saxões, ainda um pagão, juntou um numeroso exército e avançou em direção a Bangor, o centro do cristianismo britânico. Os monges fugiram em grande alarme. Cerca de 1250 deles se refugiaram em um local afastado, onde concordaram em continuar juntos em oração e jejum. Edelfrido se aproximou e, ao ver um número de homens desarmados, perguntou quem eram. Ao dizerem-lhe que eram os monges de Bangor que tinham vindo a orar pelo sucesso de seus conterrâneos: "Então", ele clamou, "embora não tenham armas, estão lutando contra nós"; e ordenou a seus soldados que caíssem sobre os monges em oração. Cerca de 1200, conta-se, foram mortos, e apenas cinquenta escaparam em fuga. Assim o domínio de Roma começou na Inglaterra, o que continuou por quase mil anos.

Se Agostinho tinha realmente algo a ver com o assassinato dos monges, parece difícil dizer. Aqueles que tomam uma forte visão protestante do caso afirmam claramente que seus últimos dias foram ocupados em fazer arranjos para o cumprimento de sua própria ameaça. Outros, que tomam uma visão oposta, negam que haja qualquer evidência de que ele influenciou os pagãos para a terrível tragédia. Mas, seja como for, uma suspeita tenebrosa deve sempre pairar sobre a política de Roma. As próprias palavras vingativas de Agostinho, e toda sua história, confirmam a suspeita. Tal era a natureza da intolerante Jezabel -- quando o argumento falhava, ela apelava para a espada. A partir de então o romanismo caracterizou-se pela arrogância e sangue. A antiga igreja da Britânia, que era limitada aos distritos montanhosos do País de Gales, gradualmente diminuiu e desapareceu.*

{* Gardner, vol. 1, p. 391.}

domingo, 20 de novembro de 2016

O Zelo Missionário de Gregório

Apesar do abatimento da igreja e de todas as classes da sociedade através das invasões dos bárbaros, o bendito Senhor zelava pela disseminação do evangelho em outros países. E certamente foi pela Sua misericórdia que as hostes de invasores que se espalharam pelas províncias do império foram logo convertidos ao cristianismo. Eles podem ter tido muito pouco entendimento sobre sua nova religião, mas isto abrandou muito sua ferocidade e mitigou os sofrimentos dos conquistados. Gregório era muito zeloso em seus esforços de estender o conhecimento do evangelho e trazer as nações bárbaras à fé católica. Mas seu plano favorito, e o que tinha estado a muito tempo em seu coração, era a evangelização dos anglo-saxões.

A bela história  do incidente que primeiramente dirigiu a mente de Gregório à conversão da Britânia é prazerosa demais para não merecer um espaço em nosso texto. Nos primeiros dias de sua vida monástica, pelo menos antes de sua elevação ao papado, certo dia chamou-lhe a atenção alguns meninos bonitos de cabelos claros expostos à venda no mercado. Conta-se que ocorreu a seguinte conversa neste lugar. Ele perguntou de que país eles vinham. "Da ilha da Britânia", foi a resposta. "Os habitantes dessa ilha são cristãos ou pagãos?" "Eles ainda são pagãos". "Que infelicidade", disse ele, "que o príncipe das trevas possua gente de tamanha graça! Que tal beleza de rosto possa desejar aquela melhor beleza da alma". Ele então perguntou por qual nome eram chamados. "Anglos", foi a resposta. Brincando com as palavras, ele disse: "Verdadeiramente eles são Anjos! De que província?" "Da província de Deira, na Nortúmbria". "Certamente eles devem ser resgatados 'de ira' -- da ira de Deus, e chamados à misericórdia de Cristo. Qual o nome do rei deles?" "Ella", foi a resposta. "Sim", disse Gregório, "Aleluias devem ser cantadas nos domínios desse rei."

"Ser o primeiro missionário desse belo povo", diz Milman, "e conquistar a ilha remota e bárbara, como um César cristão, para o reino de Cristo, tornou-se a santa ambição de Gregório. Ele conseguiu com muito esforço o consentimento do Papa, e tinha já partido e viajado por três dias, quando foi abordado por mensageiros enviados para chamá-lo de volta. Toda a Roma tinha se levantado em piedoso motim e compeliu o Papa a revogar sua permissão"*. Mas embora ele tenha sido assim prevenido de executar sua missão em pessoa, ele nunca perdeu de vista seu nobre objetivo. A partir desse momento ele não foi mais permitido a retornar ao seu monastério. Ele foi forçado a embarcar em assuntos públicos, primeiro como um diácono, e mais tarde como supremo pontífice. Mas tudo isso era uma dignidade compulsória para Gregório. Seu coração estava voltado para a salvação dos jovens de cabelo claro da Inglaterra e preferiria mil vezes ter embarcado em viagem à nossa ilha {*N. do T.: o autor do livro vivia na Inglaterra}, com todas as suas dificuldades e perigos desconhecidos, do que ser coroado com as honras do papado. Mas tal era o caráter de sua mente, que ele perseguia com incansável atenção e devoção qualquer plano de piedade que tivesse planejado anteriormente. Daí aconteceu que, após ter sido elevado à cadeira papal, foi-lhe permitido promover e enviar um grupo de quarenta missionários para as margens da Britânia. Mas antes de falarmos sobre o caráter e resultados dessa missão, será interessante olhar brevemente para a história da igreja nas Ilhas Britânicas desde o início.

{* Cristianismo Latino, vol. 1, p. 434}

domingo, 16 de outubro de 2016

Os Nestorianos

Como a seita chamada de nestoriana ocupa um lugar importante na história da igreja, vamos tomar nota brevemente de sua formação. Eles são, às vezes, chamados de sírios, uma vez que seu fundador foi um sírio. Cremos que são numerosos na Síria atualmente*, mas não receberam do governo turco a proteção a qual tinham direito, e assim foram expostos a constantes assaltos das tribos predatórias. Milhares de nestorianos nas montanhas do Curdistão, incluindo homens, mulheres e crianças, foram massacrados em 1843, e suas vilas totalmente destruídas pelas tribos curdas. Desde o ano 1834, uma interessante missão foi estabelecida entre eles pelo Conselho Americano de Missões Estrangeiras. O caráter e procedimentos da missão são muito comentados por Dr. Grant, um dos missionários que residiu entre os nestorianos por um tempo considerável, e que tinha estudado seus modos e costumes com grande minúcia e cuidado, e acabou publicando um tratado visando provar que essa interessante classe de pessoas são os descendentes das dez tribos perdidas de Israel. Mas suas conclusões, como outras sobre o mesmo assunto, podem muito bem ser postas em dúvida.**

{* N. do T.: este texto foi escrito no século XIX}
{** Veja Crenças do Mundo, de Gardner, vol. 2, p. 531}

Nestório, um monge sírio, tornou-se um presbítero da igreja em Antioquia. Ele era estimado e celebrado por conta da rígida austeridade de sua vida, e do impressionante fervor de sua pregação. Ele atraiu grandes e atentas audiências, e logo se tornou um grande favorito do povo. No ano 428 ele foi consagrado bispo de Constantinopla. Mas a disciplina do claustro tinha lhe preparado mal para uma posição tão importante na vida pública. Tão logo ele foi promovido a esse nível, ele começou a demonstrar um zelo intemperado contra as várias descrições dos hereges, o que devia-se mais ao fanatismo do monge do que ao espírito tolerante e suave do cristianismo genuíno. Em seu discurso inaugural, dirigindo-se ao imperador Teodósio, o jovem, ele se pronunciou com estas violentas expressões: "Dá-me um país purgado de todos os hereges, e em troca por isto eu lhe darei o céu. Me ajude a subjugar os hereges, e eu lhe ajudarei a subjugar os persas". Mas não demorou muito até que o próprio Nestório fosse também acusado de heresia.

O novo bispo logo em seguida pronunciou sua declaração de guerra contra os hereges por meio de atos de violência e perseguição. Ele excitou tumultos entre o povo: os arianos foram atacados, sua casa de reuniões foi queimada, e outras seitas foram perseguidas. Tais procedimentos, no entanto, logo levantaram contra Nestório, até mesmo dentre os ortodoxos, uma numerosa hoste de inimigos, que buscaram e logo conseguiram sua queda. Aconteceu assim... (continua no próximo tópico).

domingo, 2 de outubro de 2016

A Conversão dos Bárbaros

É sempre interessante e edificante identificar a mão do Senhor ao tornar a ira do homem em instrumento para Seu próprio louvor, e ao trazer o maior bem ao Seu próprio povo em meio ao que parecia ser sua mais pesada calamidade. No reinado de Galieno, por volta de 268, um grande número de provinciais Romanos tinham sido levados em cativeiro pelos bandos góticos; muitos desses cativos eram cristãos, e vários pertenciam à ordem eclesiástica. Eles foram dispersos por seus mestres como escravos nos vilarejos: mas também como missionários pelo Senhor. Eles pregaram o evangelho ao povo bárbaro, e muitos foram convertidos. Seu aumento e ordem podem ser inferidos do fato de que eles foram representados no concílio de Niceia por um bispo chamado Teófilo.

Ulfilas, que é comumente chamado "o Apóstolo dos Godos", mereceu a grata lembrança da posteridade, mas especialmente dos cristãos. Por volta da metade do século IV, ele inventou um alfabeto e traduziu as Escrituras para a linguagem gótica, com a exceção do livro de Samuel e de Reis, por receio de que seu conteúdo belicoso (cheio de guerras) pudesse parecer favorável à ferocidade dos bárbaros. A princípio eles parecem ter sido simples e ortodoxos em sua fé, mas mais tarde se tornaram profundamente manchados com o arianismo, especialmente após os ministros arianos, que foram expulsos de suas "igrejas" por Teodósio, terem trabalhado diligentemente entre eles.

Alarico e seus godos eram cristãos professos. Eles dirigiam sua ira contra os templos pagãos, mas reverenciavam muito as "igrejas". Esta foi a grande misericórdia de Deus para Seu povo. Muitos fugiam para as "igrejas", onde encontravam um santuário. A fé fervorosa e o zelo infatigável de Ulfilas, juntamente com sua vida irrepreensível, tinha ganhado o amor e confiança do povo. Eles receberam na fé as doutrinas do evangelho, que ele pregava e praticava: de modo que os primeiros invasores do império tinham previamente aprendido, em sua própria terra, a professar, ou ao menos respeitar, a religião dos conquistados. E aqui vemos a verdade, ou melhor, o cumprimento das palavras do Apóstolo em sua Epístola aos Romanos: "O evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego"; e depois: "Eu sou devedor, tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes." Os cidadãos cultos do Império Romano e os rudes habitantes da Cítia e da Germânia foram, do mesmo modo, colocados sob o poder salvador do evangelho. 

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