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domingo, 13 de setembro de 2020

Os Efeitos da Riqueza no Clero

Antes da Reforma, de acordo com os relatos mais confiáveis, mais da metade da riqueza da Escócia pertencia ao clero, e a maior parte dela estava nas mãos de alguns indivíduos. O efeito de tal estado de coisas, como sempre foi em todas as épocas e países, foi a corrupção de toda a ordem do clero e de todo o sistema religioso. "Avareza, ambição e amor à pompa secular reinavam entre as ordens superiores. Bispos e abades rivalizavam com a primeira nobreza em magnificência e os precediam em honras; eles eram conselheiros particulares e senhores de sessão, bem como do parlamento, e há muito ocupavam os principais cargos do estado. Um bispado ou abadado vago atraía competidores poderosos, que disputavam por ele como por um principado ou pequeno reino. Benefícios inferiores eram postos à venda abertamente ou concedidos a lacaios analfabetos e indignos da corte, a jogadores de dados, bardos ambulantes e filhos naturais de bispos. Os bispos nunca, em nenhuma ocasião, condescendiam em pregar; desde o estabelecimento do Episcopado Escocês regular até a era da Reforma, a história menciona apenas um exemplo de bispo pregando, e esse foi Dunbar, arcebispo de Glasgow, com o propósito de excluir o reformador, George Wishart."

A vida do clero, corrompida pela riqueza e pela ignorância, tornou-se um tal escândalo para a religião, e um tal ultraje à decência, que não podemos transferir para nossas páginas a descrição do historiador mais meticuloso. Mas todos os historiadores concordam, tanto católicos quanto protestantes, que os mosteiros e todas as casas religiosas se tornaram berçários de superstição e ociosidade e, em última análise, locais de lascívia e perversidade. Ainda assim, era considerado ímpio e sacrílego falar em reduzir seu número ou alienar seus fundos. "O reino fervilhava de monges ignorantes, ociosos e luxuriosos, que, como gafanhotos, devoravam os frutos da terra e enchiam o ar de infecções pestilentas; com frades, brancos, negros e cinzentos; cônegos regulares, carmelitas, cartuxos, cordeliers, dominicanos, conventuais franciscanos e observantes, jacobinos, premonstratenses, monges de Tyrone e de Vallis Caulium, e hospitalários ou Cavaleiros Sagrados de São João de Jerusalém, freiras de São Austin, Santa Clara, Santa Escolástica e Santa Catarina de Siena, com canonisas de vários clãs."*

{* Veja uma descrição gráfica do estado da religião na Escócia antes da Reforma, em Life of John Knox do Dr. McCrie, pp. 7 - 13.}

Sem um conhecimento adequado do estado da Cristandade antes da Reforma, seria impossível formar uma estimativa justa da necessidade e importância dessa revolução misericordiosa. Com o tempo que se passou e com um estado de sociedade tão mudado diante de nós, é difícil acreditar que abusos tão enormes prevaleceram na igreja. Das doutrinas do Cristianismo quase nada restou além do nome. Ao mesmo tempo, acreditamos firmemente que o Senhor tinha os que são Seus ocultos -- Suas verdadeiras testemunhas, que choraram sobre os maus caminhos e a intolerância do alto e dominante partido. O próprio Senhor, em Seu discurso a Tiatira, fala de um remanescente então separado das corrupções de Jezabel, e que suas boas obras aumentaram à medida que a escuridão se adensou. "Eu conheço as tuas obras, e o teu amor, e o teu serviço, e a tua fé, e a tua paciência, e que as tuas últimas obras são mais do que as primeiras" (Apocalipse 2:19). A vida, fé e obras desse remanescente foram sem dúvida reguladas pela palavra de Deus; mas esta mesma circunstância garantiu sua obscuridade e sua ausência das páginas da história. A linha prateada da graça soberana de Deus nunca poderia ser interrompida, e dezenas de milhares das eras mais tenebrosas refletirão a glória dessa graça para sempre. Em silêncio, eles cumpriram sua missão pacífica, e pacificamente saíram de cena, mas não deixaram nenhum registro de seus trabalhos de amor nas páginas do historiador. Não é assim com o orgulhoso, o ambicioso, o fanático, o hipócrita: todos esses se destacam nas páginas da história eclesiástica. Mas há outro tribunal, além do julgamento histórico pela posteridade, perante o qual ambos deverão comparecer e ser avaliados pelo próprio padrão de Deus.

Mas voltemos ao nosso tema -- o estado da religião na Escócia antes da Reforma.

O Cristianismo na Escócia

Já vimos que o clero romano experimentou grande dificuldade em obter uma base permanente na Escócia.* Os Culdees -- a quem estamos dispostos a homenagear por causa de suas obras -- continuaram por séculos a resistir às invasões do papado e a manter sua posição, não obstante todos os esforços enviados pela igreja de Roma para esmagá-los e exterminá-los. Isto porque eles se apegaram à Palavra de Deus, assim como os reformadores de uma época posterior, como o único guia infalível e autoridade em todas as questões de fé e prática. Mesmo Beda, o monge historiador, admite com franqueza que "Columba e seus discípulos receberiam apenas as coisas que estão contidas nos escritos dos profetas, evangelistas e apóstolos, observando diligentemente as obras de piedade e virtude." Mas Roma finalmente triunfou: os fiéis Culdees, oprimidos por muito tempo, diminuídos em número, enfraquecidos em energia através das feitiçarias de Jezabel, desaparecem das páginas da história, e a Escócia é novamente envolta em trevas e superstição. Os mosteiros se ergueram rapidamente e logo obscureceram toda a terra; e como eles alcançaram um ápice de riqueza e poder, insuperável em qualquer outra parte da Europa, devemos fazer um breve exame sobre eles.

{* Consulte Quem Eram os Culdees? }

A grande mania de enriquecer igrejas começou com Carlos Magno: Alfredo, o Grande, imitou seu exemplo, e logo toda a cristandade foi infectada por essa superstição. Na pessoa de Margarida, a princesa saxã, viajou para o norte. A invasão e conquista da Inglaterra pelos normandos e o estabelecimento de uma nova dinastia naquele país produziram os efeitos mais importantes na história da igreja na Escócia. Muitos dos saxões fugiram para a Escócia para escapar de seus novos mestres; e entre outros Margarida, que se tornou a esposa do rei escocês Malcolm III, e a mãe de Alexandre I, um príncipe poderoso e vigoroso, e de David I, que era um defensor fanático do romanismo. A piedade, a caridade e a vida ascética de Margarida são celebradas com entusiasmo por seu confessor e biógrafo, Turgot, um monge de Durham e bispo de Santo André. Malcolm, animado pelo espírito devoto de sua amada esposa, fez algumas doações para a igreja; mas a munificência real de seu filho David na investidura de bispados e abadias foi recompensada com o elogio de todos os escritores monásticos, embora Tiago I fale dele como "um santo magoado da coroa". No entanto, sua extravagante superstição tendia não apenas a empobrecer a coroa, mas também à opressiva tributação do povo. "Ele fundou os bispados de Glasgow, Brechin, Dunkeld, Dunblane, Ross e Caithness... A mesma liberalidade piedosa deu origem a uma infinidade de abadias, priorados e conventos; e monges de todas as ordens e em todos os trajes se aglomeraram na terra."*

{* Para detalhes cuidadosamente coletados, veja Cunningham, vol. 1, pág. 106.}

A civilização superior dos refugiados anglo-saxões e seu apego à hierarquia inglesa tenderam grandemente ao seu estabelecimento na Escócia. Os missionários celtas estava decaindo, enquanto a corte assumia um tom e caráter ingleses. A partir desse período, somos informados que um fluxo de colonos saxões e normandos inundou a Escócia. Eles logo adquiriram os distritos mais férteis desde Tweed até Pentland Firth; e quase todas as famílias nobres da Escócia agora traçam deles sua descendência. Esses novos proprietários, seguindo o exemplo do monarca, esbanjaram suas riquezas na igreja. A paixão por fundar e endossar mosteiros tornou-se tão grande que, muito antes da Reforma, havia mais de cem mosteiros espalhados por todo o país e mais de vinte conventos para a recepção de freiras.

Um breve esboço de duas ou três dessas casas religiosas pode não ser desinteressante para o leitor; isso também mostrará o estado de coisas introduzido pela hierarquia romana naquele país outrora simples e primitivo. As estatísticas são tiradas da história do Sr. Cunningham.

domingo, 7 de maio de 2017

Inglaterra, Escócia e Irlanda

Antes de encerrarmos nosso breve relato sobre as ações do Senhor nessa época, tomemos nota de alguns nomes que indicam o estado das coisas na Grã-Bretanha.

Da glória do reinado de Alfredo é desnecessário dizer muito. Para alguns historiadores ele chega à concepção de um soberano perfeito. Seja como for, podemos dizer que ele foi um verdadeiro rei cristão, e foi feito uma bênção tanto para a igreja quanto para o mundo. Sua bem-sucedida guerra contra os dinamarqueses; seu resgate da Inglaterra de um retorno à barbárie; seu encorajamento à educação e aos homens eruditos; seus próprios abundantes labores; sua fé e devoção cristã; tais coisas são bem conhecidas a todos familiarizados com a história da Inglaterra. Ele sucedeu seu pai em 871 com 21 anos de idade, e reinou por 30 anos. Assim o século IX, que se abriu com os grandes dias de Carlos Magno, encerrou com os ainda mais gloriosos dias de Alfredo, provavelmente o nome mais honrável na história medieval.

Clemente, um piedoso eclesiástico da igreja escocesa, apareceu no centro da Europa por volta da metade do século VIII como um pregador das doutrinas evangélicas*. A história fala dele como um defensor ousado e destemido da autoridade da Palavra de Deus, em oposição a Bonifácio, o paladino da tradição e das decisões dos concílios. Luz pode ser lançada sobre a condição da Cristandade e da história da igreja ao vermos esses dois missionários como representantes de dois sistemas: a grande organização humana de Roma; e o remanescente do cristianismo bíblico da Escócia.

{*N. do T.: Aqui no sentido de doutrinas condizentes com o evangelho, e não às atuais denominações ditas "evangélicas"}

Alarmado pela coragem de Clemente, Bonifácio, então arcebispo das igrejas germânicas, comprometeu-se a opor-se a ele. Ele confrontou o escocês com as leis da igreja romana, com as decisões dos vários concílios, e com os escritos dos mais ilustres pais da igreja latina. Clemente replicou que nenhuma lei da igreja, nenhuma decisão de concílios, ou escritos dos "pais, que fossem contrários às Sagradas Escrituras, tinham qualquer autoridade sobre os cristãos. Bonifácio apelou para a invencível unidade da igreja católica com seu papa, bispos, padres, etc., mas seu oponente sustentou que somente onde o Espírito Santo habita pode ser encontrada a esposa de Jesus Cristo.

Bonifácio ficou frustrado. Meios justos tinham falhado, então a punição devia ser aplicada. Clemente foi condenado como herege por um concílio reunido em Soissons em março de 744. Ele, mais tarde, pediu que fosse enviado a Roma sob uma guarda segura. O resto da história de Clemente é desconhecida, mas é fácil conjecturar qual deve ter sido seu fim.

Alguns dizem que Clemente mantinha noções estranhas quanto à descida do Senhor ao hades, quanto ao assunto do casamento, e quanto à predestinação, mas pouca confiança deve ser posta sobre as afirmações de seus inimigos. Bonifácio apareceu na corte como seu adversário, acusador e juiz. Esperemos que tenha sido um verdadeiro representante da antiga fé de seu país. Mas não devemos supôr que Clemente tenha sido o único que aparece em disputa com os missionários romanos nesse período da história. De tempos em tempos encontramos tais testemunhas da verdade testificando abertamente contra as pretensões de Roma. Alguns escoceses, que se chamavam de bispos, foram condenados em um concílio em Châlons, no ano 813. Vemos então que, por causa das formas clericais que tomavam o lugar da Palavra de Deus, homens iluminados e fiéis foram condenados como hereges.

João Escoto Erígena, um nativo da Irlanda que residia principalmente na França e na corte de Carlos, o Calvo, foi, segundo Hallam, o homem mais notável da Idade das Trevas, em um sentido literário e filosófico. Mas ele foi mais um filósofo do que um teólogo, embora tenha escrito largamente sobre assuntos religiosos, e parece ter pertencido a alguma ordem do clero. Ele tinha estudado os primeiros "pais" e a filosofia platônica, e era também inclinado a favorecer a razão humana, até mesmo em relação à recepção da verdade divina. Mas, de acordo com D'Aubigne, parece ter havido verdadeira piedade em seu coração. "Ó Senhor Jesus", ele exclamou, "não Te peço outra felicidade além de entender, sem a mistura de teorias engenhosas, a palavra que Tu inspiraste pelo Teu Santo Espírito. Mostra-Te àqueles que procuram a Ti somente". Supõe-se que ele tenha morrido por volta do ano 852.

Os teólogos irlandeses no século VIII tiveram um caráter tão elevado pela erudição que os homens literários convidados por Carlos Magno a sua corte eram principalmente da Irlanda. Até o tempo de Henrique II, rei da Inglaterra, a igreja da Irlanda continuou a afirmar sua independência de Roma, e a manter sua posição como ramo ativo e vivo da igreja de Cristo, sem possuir um chefe terreno. Mas a partir desse período, a igreja da Irlanda original, com sua grande reputação, desaparece completamente.

domingo, 18 de dezembro de 2016

Os Missionários de Iona

Perto do fim do século VI, ou início do século VII, missionários começaram a sair dos claustros de Iona carregando a luz do cristianismo, não meramente a diferentes partes da Escócia, mas também à Inglaterra e ao continente. Agostinho [de Cantuária] e seus monges italianos chegaram em Kent um pouco antes do famoso Aidan de Iona e seus monges entrarem em Northumberland. Assim a igreja saxônica foi invadida por cristãos missionários em suas duas extremidades.

Osvaldo, então rei da Nortúmbria, era cristão. Ele tinha sido convertido, batizado e recebido à comunhão na igreja escocesa quando era um jovem e exilado nesse país. Ao recuperar o trono de seus ancestrais ele naturalmente desejou que seu povo fosse levado ao conhecimento do Salvador. A seu pedido, os anciãos de Iona lhe enviaram um grupo missionário chefiado pelo piedoso e fiel Aidan. O rei atribuiu-lhes a ilha de Lindisfarne por residência. Ali Aidan estabeleceu o sistema de Iona, e a comunidade viveu de acordo com o governo monástico. Muitos se uniram ao monastério, vindos tanto da Escócia quanto da Irlanda. O próprio rei zelosamente ajudou na disseminação do evangelho: às vezes pregando, e às vezes agindo como um interpretador, tendo aprendido a língua celta durante seu exílio. Beda, embora fortemente romano em suas afeições, dá um testemunho sincero às virtudes desses clérigos do Norte -- "Seu zelo, sua gentileza, sua humildade e simplicidade, seu estudo sério das Escrituras, sua liberdade de todo o egoísmo e avareza, sua honesta ousadia ao lidar com os grandes, sua ternura e caridade para com os pobres, sua vida estrita e abnegada."*

{* J. C. Robertson, vol. 2, p. 62}

A obra da conversão parece ter prosperado nas mãos de Agostinho [da Cantuária] e Aidan. Os monges italianos estendiam seus ensinamentos e influência sobre o sul e sudoeste do reino, enquanto os monges escoceses espalhavam a verdade de um evangelho mais puro e simples sobre as províncias do norte, do leste e da região central. Ao mesmo tempo, York, Durham, Lichfield e Londres se encheram de homens escoceses. Assim Roma e Iona se encontraram em solo inglês, uma colisão que era inevitável; quem se tornaria o mestre? Agostinho [de Cantuária], que tinha sido consagrado primaz da Inglaterra pelo papa, exigiu que os monges celtas se conformassem à disciplina romana: a isto eles se recuraram prontamente, e defenderam com grande firmeza sua própria disciplina e as regras de Iona. Sérias disputas então se levantaram. Roma não podia se submeter a nenhum rival, ela estava determinada a manter a Inglaterra sob seus domínios.

Após a morte do piedoso e generoso Osvaldo, o trono foi preenchido por seu irmão Oswiu, que também tinha se convertido ao cristianismo e foi batizado na Escócia durante seu cativeiro. Mas sua princesa aderiu aos costumes de Roma, e a família seguiu a mãe. Uma forte influência foi assim exercida contra os monges escoceses; e, cansados das contínuas provocações e da conduta inescrupulosa dos agentes do pontífice, tanto eclesiásticos quanto seculares, os firmes presbíteros ficaram determinados a deixar a Inglaterra e retornarem a Iona. De longe, a maior e mais importante parte do país tinha sido convertida ao cristianismo por meio de seus labores; mas o triunfo de Roma na conferência de Whitby em 664, através da sutileza do padre Wilfred, os desencorajou tanto que eles silenciosamente se retiraram do campo após a ocupação de cerca de trinta anos. "Por mais santo que tenha sido o teu Columba", disse o astuto Wilfred, "prefere-o ao príncipe dos apóstolo, a quem Cristo disse 'Tu és Pedro, e te darei as chaves do reino dos céus'?". O Rei Oswiu estava presente, e professou obediência a São Pedro. "Receio", disse ele, "que quando eu chegar ao portão do céu, não haverá ninguém para abri-lo para mim". O povo logo seguiu seu príncipe, e em um curto período de tempo toda a Inglaterra tornou-se subserviente de Roma. Mas nem argumentos, intimidação, nem o escárnio, tinham qualquer efeito sobre os presbíteros do Norte. Eles se recusaram a reconhecer que deviam fidelidade ao bispo de Roma. A Escócia ainda era livre. Os padres, como de costume, puseram-se a trabalhar com os príncipes. Isto foi realizado como descrito a seguir.

Os Primeiros Pregadores do Cristianismo na Escócia

Cerca de 150 anos antes do famoso Columba ter desembarcado na ilha de Iona, São Niniano, "um homem muito santo da nação britânica", como Beda o chama, pregou o evangelho nos distritos do sul da Escócia. Este missionário, como quase todos os santos dos primeiros séculos, é declarado como tendo sangue real. Ele recebeu sua educação em Roma, ensinado pelo famoso Martinho de Tours, e, retornando à Escócia, fixou sua residência principal em Galloway.

Se podemos confiar nos seus biógrafos, devemos crer que ele foi por toda a parte pregando a Palavra, e que selvagens que viviam nus o ouviram, se maravilharam e foram convertidos. "Ele apressou-se sobre a obra para a qual tinha sido enviado pelo Espírito, sob o comando de Cristo, e tendo sido recebido em seu país, uma grande multidão se reuniu, com muita alegria em todos, e uma maravilhosa devoção e louvor a Cristo ressoou em todos os lugares; alguns o tomaram por profeta. Presentemente o extenuante lavrador entrou no campo de seu Senhor, começou a arrancar as coisas mal plantadas, para dispersar essa má colheita e destruir aqueles mal construídos". Milhares, conta-se, foram batizados e se uniram ao exército dos fiéis.

Ele começou a construir uma "igreja" de pedra nas margens do Solway mas, antes que fosse terminada, recebeu notícia sobre a morte de seu amigo e patrono São Martinho, e piedosamente dedicou a "igreja" a sua honra. Conta-se que esse foi o primeiro edifício de pedras erguido na Escócia e, por conta de sua aparência branca e brilhante comparada às cabanas de troncos e lama até então usados, atraiu grande atenção. Ela foi chamada em saxão de "giz derretido", e assim o é até os dias atuais.*

{* Cunningham, vol. 1, p. 52}

Não sabemos nada sobre os sucessores imediatos de São Niniano: até a missão de Columba a história do cristianismo na Escócia é pouco conhecida. Sem dúvidas o Senhor manteria vivo o fogo que ele tinha acendido, e preservou e disseminou a verdade do evangelho que tinha sido recebido por tantos. Dentre os pictos, ao sul de Grampians, Niniano parece ter trabalhado principalmente e com sucesso, mas com o celebrado Columba começa o período mais interessante nos anais eclesiásticos da Escócia.

Já vimos Columba e sua colônia de monges estabelecendo-se em Iona. Ali ele construiu seu monastério, tal como era. E tão famoso se tornou o colégio de Iona que foi considerado, por muitos anos, se não por séculos, a luz do mundo ocidental. Homens, eminentes pela erudição e piedade, foram enviados para fundar bispados e universidades em cada canto da Europa. Por 34 anos Columba viveu e trabalhou naquela rocha solitária. Ocasionalmente ele visitava o continente, fazendo a obra de um evangelista entre os bárbaros escoceses e pictos, plantando igrejas e exercendo uma imensa influência sobre todas as classes; mas seu grande objetivo era treinar homens para a obra do evangelho no país e no exterior. Sem dúvida manter-se-ia uma ligação estreita e amigável entre o Norte da Irlanda e o Oeste da Escócia; de fato, naquela época ambas as regiões eram consideradas idênticas e eram conhecidas pela denominação geral de escoceses.

As Características de um Monge Superior

Cria-se que um proficiente na piedade mística daqueles dias podia operar milagres, proferir profecias e desfrutar de visões divinas. Ele era tão cercado por uma espécie de santidade temerosa que ninguém ousava tocar no homem de Deus. Ele saía de sua cela como se viesse de um outro mundo, com ele mesmo e suas vestes cobertas de poeira e cinzas. Ele ousadamente repreendia os vícios dos reis, confrontava os mais cruéis tiranos, ameaçava o derrube de dinastias, e assumia um tom elevado de superioridade sobre todas as dignidades seculares.

Assim era Columbano. Com uma colônia de monges ele partiu de barco da Irlanda por volta do ano 590. Ele pretendia pregar o evangelho para além dos domínios francos, mas aportou na Gália. A fama de sua piedade chegou aos ouvidos de Guntram, rei da Borgonha, que o convidou a se estabelecer naquele país. Recusando a oferta do rei, o abade solicitou permissão para se retirar a algum ermo inacessível. Ele se estabeleceu nos Vosges. Por um tempo os missionário tiveram que suportar grandes dificuldades. Eles frequentemente tinham, por dias, nenhuma outra comida além de ervas selvagens, cascas de árvores e, provavelmente, peixes do córrego. Mas, gradualmente, eles causaram uma impressão favorável sobre as pessoas dos arredores. Todas as classes olhavam para eles com reverência. Provisões lhes eram enviadas, especialmente por aqueles desejosos de lucrar pelas orações daqueles homens santos. O suprimento era descrito como miraculoso. A piedade e poderes maravilhosos do abade logo reuniram muitos ao seu redor. Monastérios se ergueram em diferentes locais, e os devotos se aglomeravam para enchê-los.

Columbano presidiu como abade sobre todas essas instituições. Seu modo de governo foi provavelmente o mesmo que tinha em Bangor, na Irlanda. Embora seu deleite sempre fosse vagar pelos bosques selvagens, ou habitar por dias em sua caverna solitária, ele ainda exercia uma estrita superintendência sobre todos os monastérios que ele tinha formado. O trabalho, a dieta, a leitura, o tempo para oração, e o estabelecimento das punições eram todos ditados por ele mesmo. Com o tempo, ele caiu em disputas com seus vizinhos quanto ao dia de guardar a Páscoa. Ele escreveu sobre o assunto ao Papa Gregório e a Bonifácio, colocando a igreja de Jerusalém acima da de Roma, como sendo o local da ressurreição do Senhor. Ele também trabalhou em Meltz, Suíça e Itália. Após fundar muitos monastérios, ele morreu em Roma no ano 610.

O mais celebrado seguidor do grande abade foi seu conterrâneo São Galo, que o acompanhara em todo o seu destino; mas, ficando doente quando seu mestre passava pela Itália, não pôde mais segui-lo e foi deixado em Helvétia. Mais tarde, ele pregou ao povo em sua própria língua, fundou o famoso monastério que leva seu nome, e é honrado como o apóstolo da Suíça. Ele morreu por volta do ano 627. Da época de São Patrício até a metade do século XII a igreja na Irlanda continuou a afirmar sua independência de Roma, e a manter sua posição como um ramo vivo e ativo da igreja, sem possuir qualquer chefe (ou cabeça) terreno*. Vamos nos voltar agora para a Escócia.

{* Faiths of the World, de Gardner, vol. 1, p. 150.}

A Missão de Columba

Columba, um homem piedoso, de descendência real e cheio de boas obras, ficou profundamente impressionado com a importância de se levar o evangelho a outras terras. Ele pensava na Escócia, e determinou-se a visitar o país do famoso Succath. Tendo comunicado sua intenção a alguns de seus companheiros cristãos, que concordaram em acompanhá-lo, a missão foi acordada. Por volta do ano 565 Columba, acompanhado por doze companheiros, navegou das margens da Irlanda em um barco aberto de vime coberto de peles e, após experimentar muita dificuldade em sua pequena e rude embarcação, o nobre grupo missionário chegou às Ilhas Ocidentais -- um conglomerado de ilhas ao largo da costa oeste da Escócia chamado de Hébridas. Eles desembarcaram perto da rocha estéril de Mull, ao sul das cavernas basálticas de Staffa, e fixaram sua morada em uma pequena ilha, mais tarde conhecida como Iona, ou Icolmkill. Lá ele fundou seu monastério, mais tarde tornado tão famoso na história da igreja. A tradição preservou um ponto na costa onde desembarcaram por meio de um montículo artificial, vagamente semelhante a um barco invertido, modelado segundo o padrão dos currach, no qual os piedosos monges navegaram através do mar.*

{* Para detalhes interessantes, veja "The Church History of Scotland from the commence­ment of the Christian era to the present time", de John Cunningham, ministro de Crieff A. and C. Black Edinburgh. 1859.}

Pensa-se que um bom número de cristãos já tinha encontrado um refúgio naquela rocha estéril. Naquele tempo ela devia ser quase completamente isolada das moradas dos homens. As águas das Hébridas são tão tempestuosas que a navegação em barcos abertos deve ter sido extremamente perigosa. O nome Iona significa "A Ilha das Ondas". Além de suas ondas transversais, suas correntes e seus recifes, a pesada maré do Atlântico rola sobre as suas praias. A respeito dos monges de Iona, falaremos de cada um; mas ainda não terminamos com a Irlanda.

Columbano, outro monge de grande santidade, parece ter deixado sua cela cerca de sessenta anos após Columba. Ele nasceu em Leinster, e treinou no grande monastério de Bangor na costa de Ulster. Uma sociedade de 3000 monges, sob o governo de seu fundador, Comgal, foi gerada nesse convento. A igreja na Irlanda ainda era livre; não tinha sido ainda escravizada pela igreja de Roma. Eles eram simples e sinceros em seu cristianismo comparado às formas sem vida e ao elemento sacerdotal do papado. Nem mesmo as construções religiosas desse período se assemelham aos conventos papistas de épocas posteriores. Mesmo assim, eles já tinham viajado para muito além da simplicidade do cristianismo apostólico.

A Palavra de Deus não era o único guia deles. O cristianismo não tinha existido no mundo por 600 anos sem ter contraído muitas corrupções. Ele passou através de muitos eventos de grande importância na história da igreja. O gnosticismo, o monasticismo, o arianismo e o pelagianismo eram gigantescos males naqueles dias; mas o monasticismo era a instituição popular ao final do século VI.

domingo, 11 de dezembro de 2016

A Disseminação do Cristianismo na Europa

Capítulo 14: Europa (372 d.C. - 814 d.C.)


O sistema eclesiástico que os monges italianos introduziram na Inglaterra rapidamente se disseminou, e finalmente triunfou. Em cerca de 100 anos após a chegada de Agostinho [de Cantuária], esse sistema era professado e crido por toda a Britânia anglo-saxônica. A igreja inglesa, assim fundada sobre o modelo romano, não podia falhar em manter uma posição especialmente dependente de Roma. Esta união em um período inicial foi promovida e fortalecida pelos monges, freiras, bispos, nobres e príncipes ingleses, que faziam frequentes peregrinações ao túmulo de São Pedro em Roma. O clero britânico, embora ainda aderente aos antigos modos, e dispostos a resistir à presunção estrangeira, foram obrigados a isolarem-se nas extremidades do país. O romanismo agora prevalecia sobre toda a Inglaterra.

A Escócia e a Irlanda parecem ter sido abençoadas com o cristianismo por volta da mesma época que a Britânia. Por meio de soldados, marinheiros, missionários e cristãos perseguidos vindos do sul, o evangelho foi pregado e muitos creram. No entanto, o início da história religiosa desses países é coberto de lendas, portanto vamos nos referir apenas aos nomes e eventos que possuem boa autenticidade.

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