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domingo, 16 de outubro de 2022

A Venda de Indulgências

O Papa Leão X subiu ao trono papal no ano de 1513. Ele era o terceiro filho de Lorenzo de' Medici, o Magnífico, e trouxe consigo para a corte pontifícia o estilo refinado, luxuoso e caro de sua família. Além disso, Michelangelo havia fornecido a ele o projeto finalizado da Basílica de São Pedro, que estava em andamento, o que aumentou muito suas despesas. A questão importante agora era: como conseguir dinheiro para completar a grande catedral e reabastecer o tesouro papal para os propósitos do pontificado de Leão? 

As cartas de Lutero a esse pontífice demonstram seu desconhecimento acerca do caráter de Leão. Embora Leão tenha a reputação de ser um dos homens mais polidos e cultos de sua época, ele estava longe de ser um homem moral. Sua corte era alegre, ele era dedicado ao prazer e totalmente descuidado com os deveres da religião. Comparado com seus predecessores imediatos – o dissoluto Alexandre VI, cujo nome é difícil mencionar sem repugnância – e o selvagem papa-guerreiro, Júlio II, cuja carreira tempestuosa encheu grande parte da Europa de sangue e massacres – comparado, digamos, a tais papas, a pessoa e a corte de Leão apresentam um contraste favorável; e Lutero, sem dúvida, dirigiu-se a ele com sua veneração supersticiosa pelo chefe da igreja, e por causa de sua fama de homem erudito. 

Para atender às várias e pesadas despesas do extravagante Leão, o clamor por dinheiro tornou-se cada vez mais alto. "Dinheiro, dinheiro!", era o clamor. "Foi o dinheiro", diz alguém, "não a caridade, que cobriu uma multidão de pecados". A necessidade sugeriu que o preço das indulgências deveria ser reduzido e que vendedores inteligentes deveriam ser empregados para impulsionar o comércio por toda a Europa. O plano foi adotado; mas Deus fez com que esse tráfico desavergonhado redundasse na posterior realização da Reforma e na derrubada do despotismo de Roma. Foi decidido que a Alemanha deveria ser o primeiro e especialmente favorecido lugar para a venda de indulgências, pois a posição geográfica do país poderia ter impedido muitos fiéis de colher as vantagens do Jubileu em Roma. 

A ideia original das indulgências parece ter sido nada mais do que uma redução da penitência externa imposta aos penitentes por meio do pagamento de uma multa, como temos constantemente decretado em nossos tribunais -- por exemplo: "Multado em cinquenta libras ou seis meses de prisão”. Se o dinheiro for pago, é colocado a crédito do criminoso, e ele é liberado e recebe sua quitação. Da mesma maneira, o pobre católico iludido supõe que a indulgência que ele compra é creditada a seu favor no livro de estatutos do céu, que faz pesar a balança contra ele por suas mentiras, calúnias, roubos, assassinatos e maldade de todos os tipos; ou, como alguns compararam, a uma carta de crédito a ser apresentada no céu, assinada pelo papa, em consideração ao valor recebido. Claro, se os pecados do delinquente são grandes e muitos, ele deve pagar caro por suas indulgências. 

Esse sistema de perdão se expandiu e foi tão trabalhado pelo sacerdócio que se tornou um meio de enorme riqueza para o papado. Obras dignas de arrependimento eram exigidas do pecador – e todos eram pecadores – obras como jejum, castigo, peregrinações e, depois da morte, tantos anos no purgatório. Mas o pecador foi lembrado de que o fardo dessas obras poderia ser removido, e os anos do fogo do purgatório encurtados, através do poder delegado por Cristo ao bem-aventurado Pedro e seus sucessores, sob certas condições. A mais fácil dessas condições para o penitente, e a mais conveniente para o papa, era: "Dinheiro! Dinheiro!"  

domingo, 2 de outubro de 2022

Lutero e Staupitz

Johann von Staupitz, a quem o Senhor enviou a Lutero com uma mensagem de misericórdia, foi vigário-geral dos agostinianos para toda a Alemanha. Os historiadores falam dele nos termos mais elevados. "Ele era realmente de descendência nobre", diz alguém, "mas era muito mais ilustre pelo poder de sua eloquência, pela extensão de seu conhecimento, pela retidão de seu caráter e pela pureza de sua vida"*. É motivo para ficarmos gratos, e digno de nota, encontrar um homem tão piedoso ocupando um cargo tão importante, mesmo no último estágio da degeneração papal. Sua influência foi grande e boa. Ele possuía a estima de Frederico, o Sábio, Eleitor da Saxônia, que fundou a universidade de Wittemberg sob sua direção..

{*Waddington, vol. 1, pág. 47.}

A visita desse bom homem — o vigário-geral — para inspecionar o mosteiro de Erfurt foi anunciada exatamente na época em que a angústia da mente de Lutero atingiu seu auge. O corpo perdido, a aparência melancólica, mas o olhar sério e resoluto do jovem monge atraiu a atenção de Staupitz. Pela experiência passada, ele conhecia bem a causa de seu desânimo, e muito gentilmente o instruiu e consolou. Ele assegurou a Lutero que estava totalmente enganado ao supor que poderia estar diante de Deus com base em suas obras ou seus votos, que ele só poderia ser salvo pela misericórdia de Deus, e que a misericórdia deveria fluir para ele através da fé no sangue de Cristo. "Deixe sua ocupação principal ser o estudo das Escrituras", disse Staupitz; e, juntamente com este bom conselho, ele presenteou Lutero com uma Bíblia, que de todas as coisas na Terra ele mais desejava.

Um raio de luz divina penetrou na mente obscura de Lutero. Suas conversas e correspondências com o vigário-geral o ajudaram muito, mas ele ainda era um estranho à paz com Deus. Sua saúde corporal novamente cedeu sob os conflitos de sua alma. Durante o segundo ano de sua residência no convento, ele ficou tão gravemente doente que teve que ser removido para a enfermaria. Todos os seus antigos terrores voltaram à vista da aproximação da morte. Ele ainda ignorava o valor da obra consumada de Cristo para o crente, assim como seus professores. A imagem assustadora de sua própria culpa e as exigências da santa lei de Deus o encheram de medo. Não sendo um homem comum e passando por uma experiência que os homens comuns não conseguiam entender, ele estava sozinho, não podia contar suas dores a ninguém.

Um dia, deitado, tomado pelo desespero, foi visitado por um velho monge, que lhe falou do caminho da paz. Conquistado pela bondade de suas palavras, Lutero abriu seu coração para ele. O venerável padre falou-lhe da eficácia da fé e repetiu-lhe aquele artigo do Credo Apostólico: "Creio na remissão dos pecados". Essas poucas palavras simples, com a bênção do Senhor, parecem ter desviado a mente de Lutero das obras para a fé. Ele estava familiarizado com a forma dessas palavras desde sua infância, mas ele as repetia apenas como uma forma de palavras, como milhares de cristãos nominais em todas as épocas. Agora elas enchiam seu coração de esperança e consolo. O velho monge, ouvindo-o repetir as palavras para si mesmo: "Creio na remissão dos pecados", como que para sondar sua profundidade, interrompeu-o dizendo que não era uma mera crença geral, mas pessoal. Eu creio no perdão, não apenas dos pecados de Davi, ou dos pecados de Pedro, mas dos meus pecados. Até os demônios têm uma crença geral, mas não pessoal. "Ouça o que diz São Bernardo", acrescentou o velho monge piedoso, "o testemunho do Espírito Santo ao seu coração é este: seus pecados estão perdoados." A partir deste momento, a luz divina entrou no coração de Lutero e, passo a passo, através do estudo diligente da Palavra e da oração, ele se tornou um grande e honrado servo do Senhor.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

As Indulgências

O sistema das indulgências papais, que gradualmente se elevou a tais alturas e, finalmente, produziu seus efeitos, requer uma atenção cuidadosa, embora breve. Sempre foi a prática do gênio maligno de Roma introduzir de maneira sutil os maiores males que caracterizam sua história. Imperceptivelmente, a fina ponta da cunha é introduzida pelo espírito que governa sua política, e quando introduzida, toda a máquina do sistema romano é empregado para alcançar o fim pretendido. Por um aparente respeito à memória dos mortos, e uma consideração pelos sinais de sua afeição, a adoração aos santos e às relíquias foi introduzida, o que resultou na maior e mais evidente idolatria. E assim é também com todo o sistema de indulgências. A corrupção eclesiástica, uma vez admitida, foi estabelecida, aumentada, e espalhada de era em era até que toda a Cristandade estivesse tomada por sua iniquidade, e o senso moral e religioso de humanidade, tão insultado pelo infame tráfico de indulgências, resultou em um protesto erguido pela Reforma logo em seguida. 

A principal característica da nova doutrina de indulgências foi a descoberta de um suposto recurso ou tesouro na igreja, que podia ser usado para o perdão dos pecados, sem a necessidade de passar por um doloroso e humilhante processo de penitência, e sem a observância de sacramentos. Alegava-se a existência de um tesouro infinito de mérito em Cristo, na Virgem Maria e nos outros santos, que era mais do que o suficiente para eles próprios. Embora fosse dito que o próprio Salvador fosse a fonte de todos os méritos, muito também se falava sobre os méritos dos santos, e disto surgiu a nova ideia das obras superrogatórias. Pelas obras de penitência dos santos, e por seus sofrimentos não merecidos neste mundo, eles tinham feito mais do que era necessário para sua própria salvação, e por essas obras superrogatórias, juntamente com os superabundantes méritos de Cristo, formou-se um tesouro para o qual o papa possuía as chaves, às quais ele podia aplicar para o alívio dos ofensores, tanto nesta vida quanto no purgatório.  O poder das chaves foi, então, usado como substituição pela eficácia dos sacramentos.

Esta é a teoria papista das indulgências, mas seu caráter anti-bíblico trai seu autor. É claramente anti-bíblico, pois promete remissão de pecados sem arrependimento; e, mesmo em solo católico, sua perversidade é evidente. A indulgência supera o exercício penitencial do indivíduo; dissolve toda a disciplina da igreja; oferece por uma soma de dinheiro o perdão de todos os pecados cometidos, e uma licença por pecados a serem cometidos; dá uma garantia por escrito de libertação das dores do purgatório, e do próprio inferno. Encoraja a mais flagrante iniquidade com a profissão do Cristianismo; de fato, por esse dogma, a moralidade foi cortada da religião. Será que a depravação papal poderia ir mais longe que isso? Homens encorajados a soltar as rédeas dos vícios, a seguir seus próprios maus caminhos, e então simplesmente comprar o perdão eterno, sem quaisquer condições de arrependimento, por uma quantia de dinheiro! Que dia de acerto de contas espera a Jezabel de Roma, e a todos os filhos de sua sedução! Que o Senhor preserve Seu povo de suas seduções agora!

A história coloca a primeira indulgência formal emitida pela igreja católica de Roma na primeira parte do século XI, mas o sistema foi colocado em pleno funcionamento pelas cruzadas. O papa Urbano II, em Clermont, no ano de 1095, proclamou uma indulgência plenária e remissão dos pecados para todos os que participassem da guerra santa. Tornou-se costume, após esse período, conceder indulgências de menor grau. A absolvição de cem anos ou mais de purgatório podia ser adquirida de um bispo ao reparar ou ampliar os edifícios da igreja, ao construir uma ponte ou pela colocação de uma cerca ao redor de um bosque; e também por meio de deveres religiosos extras, como recitar um certo número de orações diante de um determinado altar, peregrinações a relíquias, e coisas parecidas. O papa, de acordo com a teoria do Vaticano, é o dispenseiro soberano do tesouro da igreja, e esse poder ele dispensa aos bispos em suas respectivas dioceses. O papa podia conceder indulgências a todos os cristãos; o poder do bispo é limitado a sua própria diocese.

sábado, 9 de julho de 2016

O Batismo e Morte de Constantino

O batismo de Constantino deu origem a quase tanta especulação quanto sua conversão. Apesar do grande zelo que ele demonstrava em favor do cristianismo, ele adiou seu batismo e, consequentemente, sua recepção na igreja, até a aproximação de sua morte. Muitos motivos, tanto políticos quanto pessoais, foram sugeridos por diferentes escritores como as razões do adiamento; mas tememos que o verdadeiro era pessoal. A superstição já tinha, nessa época, ensinado os homens a conectarem o perdão dos pecados ao rito do batismo. Sob esse terrível engano Constantino parece ter adiado seu batismo até que não pudesse mais desfrutar de suas honrarias imperiais e saciar suas paixões nos prazeres do mundo. É impossível conceber qualquer indulgência papal mais destrutiva para a alma, mais desonrosa para o cristianismo, e mais perigosa para toda a virtude moral. Era uma licença para que pessoas como Constantino perseguissem os grandes objetos de sua ambição por meio dos tenebrosos caminhos de sangue e crueldade, uma vez que colocava em suas mãos maneiras de conseguir um perdão fácil quando fosse conveniente. Mas, por outro lado, podemos pensar que tenha sido uma grande misericórdia do Senhor que alguém cuja vida privada e doméstica -- assim como sua carreira pública -- fosse tão manchada de sangue, não professasse publicamente o cristianismo ao receber o batismo e participar da ceia do Senhor.

Os bispos, a quem ele chamou ao palácio da Nicomédia em sua última doença, ouviram sua confissão, se deram por satisfeitos e o abençoaram. Eusébio, bispo da Nicomédia, o batizou! Ele agora professava, pela primeira vez, que se Deus poupasse sua vida ele se uniria à assembleia de Seu povo, e que, tendo usado as vestes brancas do neófito, ele jamais usaria novamente o púrpura do imperador. Mas essas decisões foram feitas tarde demais: ele morreu pouco tempo depois de seu batismo, no ano 337.*

{* Vida de Constantino, de Eusébio, p. 147}


Helena, a mãe do imperador, merece uma breve menção. Ele abraçou a religião professada por seu filho. Sua devoção, piedade e generosidade eram grandes. Ela viajou por vários lugares, visitando os lugares sagrados que tinham sido cenários dos principais eventos da história das Escrituras, e ordenou que o templo de Vênus, que Adriano tinha construído no local do santo sepulcro, fosse demolido, e deu instruções para que uma "igreja", que deveria exceder todas as outras em esplendor, fosse construída no local. Ela morreu em 328 d.C.

Já vimos, infelizmente com tanta clareza, a verdade dolorosa das palavras do Senhor, de que a igreja estava habitando onde estava o trono de Satanás. Constantino a deixou lá. Ele a encontrou aprisionada em minas, masmorras e catacumbas, e afastada da luz do céu, e a colocou no trono do mundo. Mas o quadro ainda não está completo: devemos tomar nota de outras características na história, recorrendo à semelhança na epístola.

O reinado de Constantino foi marcado não apenas pela igreja sendo retirada de seu lugar correto através dos enganos de Satanás, mas também pelos amargos frutos dessa mudança degradante. As sementes do erro, da corrupção e da dissensão se espalharam rapidamente, e agora apareciam publicamente perante os tribunais do mundo, e em alguns casos diante do mundo pagão. 

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