Mostrando postagens com marcador São Columba. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador São Columba. Mostrar todas as postagens

domingo, 13 de setembro de 2020

O Cristianismo na Escócia

Já vimos que o clero romano experimentou grande dificuldade em obter uma base permanente na Escócia.* Os Culdees -- a quem estamos dispostos a homenagear por causa de suas obras -- continuaram por séculos a resistir às invasões do papado e a manter sua posição, não obstante todos os esforços enviados pela igreja de Roma para esmagá-los e exterminá-los. Isto porque eles se apegaram à Palavra de Deus, assim como os reformadores de uma época posterior, como o único guia infalível e autoridade em todas as questões de fé e prática. Mesmo Beda, o monge historiador, admite com franqueza que "Columba e seus discípulos receberiam apenas as coisas que estão contidas nos escritos dos profetas, evangelistas e apóstolos, observando diligentemente as obras de piedade e virtude." Mas Roma finalmente triunfou: os fiéis Culdees, oprimidos por muito tempo, diminuídos em número, enfraquecidos em energia através das feitiçarias de Jezabel, desaparecem das páginas da história, e a Escócia é novamente envolta em trevas e superstição. Os mosteiros se ergueram rapidamente e logo obscureceram toda a terra; e como eles alcançaram um ápice de riqueza e poder, insuperável em qualquer outra parte da Europa, devemos fazer um breve exame sobre eles.

{* Consulte Quem Eram os Culdees? }

A grande mania de enriquecer igrejas começou com Carlos Magno: Alfredo, o Grande, imitou seu exemplo, e logo toda a cristandade foi infectada por essa superstição. Na pessoa de Margarida, a princesa saxã, viajou para o norte. A invasão e conquista da Inglaterra pelos normandos e o estabelecimento de uma nova dinastia naquele país produziram os efeitos mais importantes na história da igreja na Escócia. Muitos dos saxões fugiram para a Escócia para escapar de seus novos mestres; e entre outros Margarida, que se tornou a esposa do rei escocês Malcolm III, e a mãe de Alexandre I, um príncipe poderoso e vigoroso, e de David I, que era um defensor fanático do romanismo. A piedade, a caridade e a vida ascética de Margarida são celebradas com entusiasmo por seu confessor e biógrafo, Turgot, um monge de Durham e bispo de Santo André. Malcolm, animado pelo espírito devoto de sua amada esposa, fez algumas doações para a igreja; mas a munificência real de seu filho David na investidura de bispados e abadias foi recompensada com o elogio de todos os escritores monásticos, embora Tiago I fale dele como "um santo magoado da coroa". No entanto, sua extravagante superstição tendia não apenas a empobrecer a coroa, mas também à opressiva tributação do povo. "Ele fundou os bispados de Glasgow, Brechin, Dunkeld, Dunblane, Ross e Caithness... A mesma liberalidade piedosa deu origem a uma infinidade de abadias, priorados e conventos; e monges de todas as ordens e em todos os trajes se aglomeraram na terra."*

{* Para detalhes cuidadosamente coletados, veja Cunningham, vol. 1, pág. 106.}

A civilização superior dos refugiados anglo-saxões e seu apego à hierarquia inglesa tenderam grandemente ao seu estabelecimento na Escócia. Os missionários celtas estava decaindo, enquanto a corte assumia um tom e caráter ingleses. A partir desse período, somos informados que um fluxo de colonos saxões e normandos inundou a Escócia. Eles logo adquiriram os distritos mais férteis desde Tweed até Pentland Firth; e quase todas as famílias nobres da Escócia agora traçam deles sua descendência. Esses novos proprietários, seguindo o exemplo do monarca, esbanjaram suas riquezas na igreja. A paixão por fundar e endossar mosteiros tornou-se tão grande que, muito antes da Reforma, havia mais de cem mosteiros espalhados por todo o país e mais de vinte conventos para a recepção de freiras.

Um breve esboço de duas ou três dessas casas religiosas pode não ser desinteressante para o leitor; isso também mostrará o estado de coisas introduzido pela hierarquia romana naquele país outrora simples e primitivo. As estatísticas são tiradas da história do Sr. Cunningham.

O Cristianismo na Irlanda

Séculos se passaram desde que vimos pela última vez o estado de coisas nessa ilha. São Patrício deixou para trás, quando morreu em 492, um grupo de homens bem educados e devotos, que veneravam muito seu mestre e procuravam seguir seus passos. A fama da Irlanda por seus mosteiros, escolas missionárias e como sede do ensino puro das Escrituras cresceu tanto que recebeu o honroso título de "Ilha dos Santos". No testemunho de Beda, aprendemos que, por volta da metade do século VII, muitos dos nobres e clérigos anglo-saxões se dirigiram à Irlanda, seja para receber instrução ou para ter a oportunidade de viver em mosteiros de disciplina mais rígida.

Já observamos o trabalho do clero irlandês como missionário*. Os Culdees de Iona devem sua origem como comunidade cristã à pregação do apóstolo irlandês Columba. A Grã-Bretanha, a França, a Alemanha, os países baixos e diferentes partes do continente europeu ficaram em dívida principalmente com os missionários irlandeses por seu primeiro contato com a verdade divina. Carlos Magno, ele próprio um homem de letras, convidou para sua corte vários estudiosos eminentes de diferentes países, mas especialmente da Irlanda. Por muitas eras, ela manteve sua independência de Roma, rejeitou todo controle estrangeiro e reconheceu a Cristo somente como Cabeça da igreja. Mas a invasão dos dinamarqueses no início do século IX e a ocupação do país apagaram a luz e mudaram o caráter da "ilha dos santos". Essas hordas piráticas e predatórias devastaram seus campos, mataram seus filhos ou os despojaram de sua herança, demoliram seus colégios e se mantiveram no país com a crueldade e arrogância de usurpadores. Escuridão moral, espiritual e literária se seguiram e prepararam o caminho para o romanismo. Até então, as instituições religiosas e os trabalhos dos eclesiásticos constituíam os principais temas de sua história; mas desde então, guerras internas, turbulência, crime e desolação.

{* Veja Os Primeiros Pregadores do Cristianismo na Irlanda}

Várias tentativas foram feitas por pontífices romanos para sujeitar a Igreja Irlandesa à Sé de Roma, mas sem sucesso até o reinado do Papa Adriano IV. Ele era um inglês, conhecido pelo nome de Nicolas Breakspear; nascido na pobreza e na obscuridade, tornou-se um monge de Santo Albano, e depois elevou-se nos assuntos humanos até à dignidade pontifícia. Embora subitamente elevado da indigência à opulência, seu orgulho e arrogância eram extremos. Ele ficou muito ofendido com o imperador Frederico Barbarossa por não o apoiar e recusou-se a dar-lhe o beijo da paz. Frederico declarou que sua omissão era fruto da ignorância e, submetendo-se ao serviço como escudeiro de Sua Santidade, foi perdoado e recebeu o beijo.

Entre os primeiros atos desse “modesto” pontífice, estava a presunção de autoridade sobre a Irlanda e sua concessão a Henrique II, rei da Inglaterra. O fundamento sobre o qual o papa baseou seu direito de fazer esta concessão foi assim expresso: "Porque é inegável, e Vossa Majestade o reconhece, que todas as ilhas nas quais brilhou Cristo, o sol da justiça, e que receberam a fé cristã, pertencem de direito a São Pedro e à santíssima igreja romana." Em virtude desse “direito”, ele autoriza Henrique a invadir a Irlanda com o objetivo de ampliar a igreja, aumentar a religião e a virtude e erradicar o joio do vício do jardim do Senhor; com a condição de que um centavo seja pago anualmente de cada casa à Sé de Roma.

A partir desse período, em 1155, a igreja irlandesa passou a ser essencialmente romanista em suas doutrinas, constituição e disciplina. Muito antes da Reforma, "quase seiscentos estabelecimentos monásticos, pertencentes a dezoito ordens diferentes, estavam espalhados por toda a face do país. Frades fantasmagóricos, negros, brancos e cinzas, aglomeravam-se em incontáveis ​​multidões, praticando sua religião sobre um povo ignorante e iludido". Em 1172, Henrique completou sua conquista do país; uma assembleia do clero irlandês reunida em Waterford submeteu-se ao ditado papal, proclamou o título de Henrique ao domínio soberano da Irlanda e fez o juramento de fidelidade a ele e a seus sucessores. O rápido declínio agora marcava a igreja na Irlanda. Sua famosa espiritualidade e inteligência se foram. Antes ela tinha cerca de trezentos bispos; no alvorecer da Reforma, acreditamos que o número era inferior a trinta. Os ciúmes, contendas e rebeliões mancharam quase todas as páginas de sua história, tanto civil quanto eclesiástica, desde o século IX até o presente.*

{* Ver History of Ireland, de Froude; Faiths of the World, de Gardner, vol. 2, pág. 150; Variations of Popery, de Edgar, p. 153 e 192.}

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Quem Eram os Culdees?

Culdees eram uma espécie de reclusos religiosos que viviam em lugares afastados. A comunidade cristã de Iona foi chamada de Culdees. E este é, provavelmente, o motivo pelo qual aquele ponto isolado foi fixado por Columba como o local de seu monastério. Embora totalmente livres das corrupções dos grandes monastérios no continente, a vida e as instituições de Columba eram estritamente monásticas. E, a partir de fragmentos de informação recolhidos da história, parece bem certo de que "eles se gloriavam em seus milagres, respeitavam relíquias, praticavam penitências, jejuavam às quartas e sextas-feiras, tinham algo bem similar às confissões auriculares, às absolvições e às missas para os mortos; mas é certo que eles nunca se submeteram aos decretos do papado em relação ao celibato". Muitos dos culdees eram homens casados. São Patrício era filho de um diácono e neto de um sacerdote.*

{* Cunningham, vol. 1, p. 94.}


Mas, embora esses homens bons e santos fossem tão infectados pela superstição dos tempos, a situação remota em que se encontravam, a simplicidade de seus modos, e a pobreza de seu país devem tê-los preservado muito das influências romanas e dos vícios predominantes dos monastérios mais opulentos. Prefiramos pensar no monastério deles como um seminário, nos quais homens eram treinados para a obra do ministério. Em anos posteriores os monges foram frequentemente perturbados, e algumas vezes abatidos, por piratas. No século XII passou a ser posse dos monges romanos. "Sue fé pura e primitiva", diz Cunningham, "havia partido; seu renome por causa da piedade e erudição se foi; mas a memória deles sobreviveu, e era então considerada com maior reverência supersticiosa do que nunca. Muito antes disso o monastério foi usada como sepulcro da realeza, numerosas peregrinações foram feitas até ele, e agora reis e chefes começaram a enriquecê-lo com doações de dízimos e terras. As paredes que então estavam desmoronando foram consertadas; e os viajantes podem apreciar essas veneráveis ruínas eclesiásticas se erguendo de um cais em meio ao vasto oceano com sentimentos parecidos com aqueles com os quais é possível considerar os templos de Tebas meio enterrados, mas ainda em pé, no meio das areias do deserto".

Vamos agora deixar de lado por um tempo as Ilhas Britânicas. A primeira introdução da cruz na Inglaterra, Escócia e Irlanda, e o triunfo final de Roma nesses países, são eventos do mais profundo interesse por si só; mas por terem acontecido em nosso próprio país* eles têm direito à nossa atenção especial. A partir desse momento poucas mudanças exteriores aconteceram na história da igreja, embora possam ter havido muitas lutas internas a partir dos numerosos abusos e das exigências audaciosas de Roma. 

{*N. do T.: o autor vivia na Inglaterra}

domingo, 18 de dezembro de 2016

Os Primeiros Pregadores do Cristianismo na Escócia

Cerca de 150 anos antes do famoso Columba ter desembarcado na ilha de Iona, São Niniano, "um homem muito santo da nação britânica", como Beda o chama, pregou o evangelho nos distritos do sul da Escócia. Este missionário, como quase todos os santos dos primeiros séculos, é declarado como tendo sangue real. Ele recebeu sua educação em Roma, ensinado pelo famoso Martinho de Tours, e, retornando à Escócia, fixou sua residência principal em Galloway.

Se podemos confiar nos seus biógrafos, devemos crer que ele foi por toda a parte pregando a Palavra, e que selvagens que viviam nus o ouviram, se maravilharam e foram convertidos. "Ele apressou-se sobre a obra para a qual tinha sido enviado pelo Espírito, sob o comando de Cristo, e tendo sido recebido em seu país, uma grande multidão se reuniu, com muita alegria em todos, e uma maravilhosa devoção e louvor a Cristo ressoou em todos os lugares; alguns o tomaram por profeta. Presentemente o extenuante lavrador entrou no campo de seu Senhor, começou a arrancar as coisas mal plantadas, para dispersar essa má colheita e destruir aqueles mal construídos". Milhares, conta-se, foram batizados e se uniram ao exército dos fiéis.

Ele começou a construir uma "igreja" de pedra nas margens do Solway mas, antes que fosse terminada, recebeu notícia sobre a morte de seu amigo e patrono São Martinho, e piedosamente dedicou a "igreja" a sua honra. Conta-se que esse foi o primeiro edifício de pedras erguido na Escócia e, por conta de sua aparência branca e brilhante comparada às cabanas de troncos e lama até então usados, atraiu grande atenção. Ela foi chamada em saxão de "giz derretido", e assim o é até os dias atuais.*

{* Cunningham, vol. 1, p. 52}

Não sabemos nada sobre os sucessores imediatos de São Niniano: até a missão de Columba a história do cristianismo na Escócia é pouco conhecida. Sem dúvidas o Senhor manteria vivo o fogo que ele tinha acendido, e preservou e disseminou a verdade do evangelho que tinha sido recebido por tantos. Dentre os pictos, ao sul de Grampians, Niniano parece ter trabalhado principalmente e com sucesso, mas com o celebrado Columba começa o período mais interessante nos anais eclesiásticos da Escócia.

Já vimos Columba e sua colônia de monges estabelecendo-se em Iona. Ali ele construiu seu monastério, tal como era. E tão famoso se tornou o colégio de Iona que foi considerado, por muitos anos, se não por séculos, a luz do mundo ocidental. Homens, eminentes pela erudição e piedade, foram enviados para fundar bispados e universidades em cada canto da Europa. Por 34 anos Columba viveu e trabalhou naquela rocha solitária. Ocasionalmente ele visitava o continente, fazendo a obra de um evangelista entre os bárbaros escoceses e pictos, plantando igrejas e exercendo uma imensa influência sobre todas as classes; mas seu grande objetivo era treinar homens para a obra do evangelho no país e no exterior. Sem dúvida manter-se-ia uma ligação estreita e amigável entre o Norte da Irlanda e o Oeste da Escócia; de fato, naquela época ambas as regiões eram consideradas idênticas e eram conhecidas pela denominação geral de escoceses.

A Missão de Columba

Columba, um homem piedoso, de descendência real e cheio de boas obras, ficou profundamente impressionado com a importância de se levar o evangelho a outras terras. Ele pensava na Escócia, e determinou-se a visitar o país do famoso Succath. Tendo comunicado sua intenção a alguns de seus companheiros cristãos, que concordaram em acompanhá-lo, a missão foi acordada. Por volta do ano 565 Columba, acompanhado por doze companheiros, navegou das margens da Irlanda em um barco aberto de vime coberto de peles e, após experimentar muita dificuldade em sua pequena e rude embarcação, o nobre grupo missionário chegou às Ilhas Ocidentais -- um conglomerado de ilhas ao largo da costa oeste da Escócia chamado de Hébridas. Eles desembarcaram perto da rocha estéril de Mull, ao sul das cavernas basálticas de Staffa, e fixaram sua morada em uma pequena ilha, mais tarde conhecida como Iona, ou Icolmkill. Lá ele fundou seu monastério, mais tarde tornado tão famoso na história da igreja. A tradição preservou um ponto na costa onde desembarcaram por meio de um montículo artificial, vagamente semelhante a um barco invertido, modelado segundo o padrão dos currach, no qual os piedosos monges navegaram através do mar.*

{* Para detalhes interessantes, veja "The Church History of Scotland from the commence­ment of the Christian era to the present time", de John Cunningham, ministro de Crieff A. and C. Black Edinburgh. 1859.}

Pensa-se que um bom número de cristãos já tinha encontrado um refúgio naquela rocha estéril. Naquele tempo ela devia ser quase completamente isolada das moradas dos homens. As águas das Hébridas são tão tempestuosas que a navegação em barcos abertos deve ter sido extremamente perigosa. O nome Iona significa "A Ilha das Ondas". Além de suas ondas transversais, suas correntes e seus recifes, a pesada maré do Atlântico rola sobre as suas praias. A respeito dos monges de Iona, falaremos de cada um; mas ainda não terminamos com a Irlanda.

Columbano, outro monge de grande santidade, parece ter deixado sua cela cerca de sessenta anos após Columba. Ele nasceu em Leinster, e treinou no grande monastério de Bangor na costa de Ulster. Uma sociedade de 3000 monges, sob o governo de seu fundador, Comgal, foi gerada nesse convento. A igreja na Irlanda ainda era livre; não tinha sido ainda escravizada pela igreja de Roma. Eles eram simples e sinceros em seu cristianismo comparado às formas sem vida e ao elemento sacerdotal do papado. Nem mesmo as construções religiosas desse período se assemelham aos conventos papistas de épocas posteriores. Mesmo assim, eles já tinham viajado para muito além da simplicidade do cristianismo apostólico.

A Palavra de Deus não era o único guia deles. O cristianismo não tinha existido no mundo por 600 anos sem ter contraído muitas corrupções. Ele passou através de muitos eventos de grande importância na história da igreja. O gnosticismo, o monasticismo, o arianismo e o pelagianismo eram gigantescos males naqueles dias; mas o monasticismo era a instituição popular ao final do século VI.

Postagens populares