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domingo, 13 de setembro de 2020

O Alvorecer da Reforma se Aproxima

Capítulo 27: O Amanhecer da Reforma (1155-1386 d.C.)

Séculos antes de Lutero pregar suas teses na porta da igreja em Wittemburg, o Senhor estava preparando nações e indivíduos para a realização desta grande obra. O enfraquecimento do poder papal e a ousadia crescente das testemunhas predisseram o que se aproximava.

Em nossas contemplações de Roma, devemos sempre distinguir entre a igreja católica e o papado, ou o poder eclesiástico e o temporal. A igreja, embora caída e escravizada, ainda era a igreja; protestante de coração e fiel em medida a Cristo; mas aventurar-se em seus serviços piedosos além dos limites definidos pela ortodoxia romana sujeitava-a a sua severa disciplina. O papado jurou destruição a todos os invasores. A imoralidade e a irreligião podem até ser deixadas de lado, pelo menos com uma leve censura; mas a heresia ou a cisma -- em outras palavras, qualquer forma de dissidência da igreja romana, deve ser extirpada com fogo e espada, e todos os hereges condenados por sentença pontifícia à morte eterna.

Durante o longo reinado de terror papal, os verdadeiros santos de Deus testemunharam e profetizaram vestidos de saco. Mas a linha prateada da graça soberana foi preservada ininterruptamente desde os dias dos apóstolos, sob a proteção das asas do Deus vivo. Ele preservou Suas testemunhas do dragão devorador nos lugares secretos da Terra; em montanhas, vales e cavernas; e em muitos conventos tranquilos nas regiões remotas da cristandade.

Mas pode ser interessante, em primeiro lugar, renovar nosso conhecimento sobre o estado do cristianismo em alguns dos países que já observamos. Desta forma, iremos naturalmente entrar no assunto da nossa longa linha de testemunhas, que vai até os dias de Lutero. E, primeiro na ordem, vamos notar o estado do cristianismo na Irlanda.

domingo, 6 de setembro de 2020

A Origem e Caráter dos Dominicanos

Como pensamos ser mais satisfatório conhecer o início das coisas, vamos agora descrever brevemente a origem e o caráter desses dois grandes pilares do orgulhoso templo de Roma. Até esta época -- o início do século XIII -- os esforços dos papas foram quase inteiramente confinados à construção deste templo -- o estabelecimento de sua própria supremacia na Igreja e de sua autoridade secular sobre o Estado. Mas a crescente luz dos séculos XI e XII e a crescente depravação da igreja trouxeram ao campo do testemunho muitas nobres testemunhas de Cristo e de Seu evangelho. O templo começou a se abalar. O clero havia alienado os corações das pessoas comuns por seu poder opressor e ganancioso; e sua indolência, indulgência e imoralidades contrastavam desfavoravelmente com a laboriosidade, humildade, abnegação e consistência dos acusados ​​de heresia. Todo o tecido do catolicismo romano estava em perigo, pois esses heresiarcas estavam espalhados por todas as províncias e entre todas as classes da sociedade, até mesmo na própria Roma. O inimigo, percebendo as necessidades do momento, apressou-se em resgatar a hierarquia ameaçada. Os dois homens da época adaptados a essas exigências eram Domingos e Francisco.

Domingos nasceu em 1170, na aldeia de Calaroga, na Velha Castela. Seus pais eram de nome nobre, o de Gusmão, se não de sangue nobre. De acordo com alguns escritores, o efeito de sua ardente eloquência como pregador foi previsto por sua mãe em um sonho, no qual ela dera à luz um filhote carregando um tição de fogo na boca, com o qual ele incendiou o mundo. Mas quer tenha sido sua mãe ou seu monge historiador que teve tal visão, ele respondeu fielmente à semelhança. O aviso de "Cuidado com os cachorros" nunca teve uma aplicação tão verdadeira quanto em Domingos; e o fogo literal, não apenas o fogo de sua eloquência, foi seu agente de destruição escolhido e favorito desde o início de sua carreira. As chamas do inferno, como assim chamava Domingos e seus seguidores, eram reservadas para todos os hereges, e eles consideravam ser uma boa obra iniciar as queimadas eternas ainda aqui neste mundo. Desde a infância, sua vida foi rigidamente ascética (voltada ao monasticismo). Sua natureza, em um período inicial, mostrou sinais de ternura e compaixão, mas seu zelo religioso, com o passar do tempo, fortaleceu-o contra todo impulso bondoso da natureza. Suas noites eram, em sua maior parte, passadas em severos exercícios penitenciais; ele se açoitava todas as noites com uma corrente de ferro, uma vez por seus próprios pecados, uma vez pelos pecadores deste mundo e uma vez pelos do purgatório.

Domingos tornou-se cônego na rigorosa casa de Osma e logo superou os demais em austeridades. Por causa de sua reputação, o bispo espanhol de Osma -- prelado de grande habilidade e forte entusiasmo religioso -- convidou Domingos a acompanhá-lo em uma missão na Dinamarca. Ele então havia atingido os trinta anos de idade e, embora fosse considerado brando para com os judeus e infiéis, ardia em ódio implacável pelos hereges. Tendo cruzado os Pirineus, o zeloso bispo e seu companheiro se encontraram no meio da heresia albigense; não conseguiam fechar os olhos para o estado vergonhoso do clero romano, para o desprezo em que haviam caído e para a prosperidade dos sectários. A missa não era celebrada em alguns lugares havia trinta anos. Também a comissão papal, que havia sido nomeada por Inocêncio III, por volta do ano 1200, foi encontrada em um estado muito abatido. Essa missão, deve-se lembrar, consistia em homens como Reinerius, Gui, Castelnau e o infame Arnaldo, todos monges cistercienses, a descendência espiritual de São Bernardo. Eles lamentaram amargamente sua falta de sucesso: a heresia era surda às suas advertências e ameaças; não respeitavam a autoridade do papa.

 Os legados papais, de acordo com o bom e velho estilo, marchavam por terra, de cidade em cidade, na mais hierárquica pompa, em ricos trajes, com seu séquito e uma vasta cavalgada. "Como esperar sucesso com essa pompa secular?", questionavam os espanhóis, que eram mais severos. "Semeai a boa semente como os hereges semeiam o mal. Jogai fora essas vestes suntuosas, renunciai àqueles palafréns ricamente adornados, andai descalços, sem bolsa e alforje, como os apóstolos; trabalhai duro, rápido, disciplinai esses falsos mestres." O bispo de Osma e seu fiel Domingos enviaram de volta seus próprios cavalos, vestiram-se com as roupas mais rudes de monge, e, assim, lideraram o exército espiritual.

Essa foi a profunda sutileza de Satanás. O poder do Espírito Santo era manifestado pelos homens dos vales e pelos Pobres Homens de Lyon, que se espalharam pelas províncias; e agora vem uma grande demonstração de falsa humildade e falso zelo, uma vil imitação dos dons e graças do Espírito Santo. Era apenas por meio de tais mentiras e hipocrisia que a autoridade de Roma poderia ser mantida, ou que o inimigo poderia esperar manter as nações da Europa no cativeiro.

Já falamos sobre os trabalhos de Domingos no território albigense. Lá ele passou dez anos se esforçando para erradicar a heresia. Formou-se então uma pequena fraternidade, cujos membros saíam de dois em dois, imitando a comissão do Senhor para os setenta. (Lucas 10; Mateus 10) As queimadas em Languedoque então começaram. Como cães de olfato agudo, os dominicanos iam de casa em casa em busca de presas para alimentar a espada de Monforte e as fogueiras que haviam acendido. As grandes realizações de Domingos garantiram-lhe o favor dos pontífices, Inocêncio III e Honório III, que o estabeleceu nos privilégios de um "Fundador". Ele morreu em 1221; mas, antes de abandonar o cenário de suas crueldades, não menos que sessenta mosteiros de sua ordem surgiram em várias regiões da cristandade. Ele foi canonizado por Gregório IX em 1233. O temível tribunal da Inquisição, direta ou indiretamente, sem dúvida, deve sua origem a Domingos, e os mais numerosos e impiedosos de seus oficiais pertenciam a sua irmandade. Mais alguns detalhes poderão ser mencionados ao falarmos sobre os franciscanos, pois tinham coisas em comum.

terça-feira, 24 de março de 2020

Os Procedimentos Internos da Inquisição

Sob a chefia do papado, como todos sabemos agora, os atos mais sombrios, as mais irresponsáveis tiranias e crueldades desumanas que já enegreceram os anais da humanidade puderam ser escritas. Mas longos detalhes, por mais dolorosamente interessantes, ficariam fora do escopo deste livro. Portanto, nos contentaremos com algumas breves declarações e extratos. Nenhum tribunal -- podemos seguramente afirmar -- tão alheio à justiça, humanidade e a qualquer relacionamento sagrado da vida jamais existiu nem mesmo nos domínios do paganismo ou islamismo.

Quando uma pessoa era levemente suspeita de heresia, os espiões, chamados Familiares da Inquisição, eram empregados para vigiá-la com o objetivo de descobrir a menor acusação possível que permitisse entregá-la ao tribunal do Santo Ofício. O homem podia até ser um bom católico, pois Llorente nos garante que nove décimos dos prisioneiros eram fiéis à fé católica, mas que, talvez, fossem suspeitos de manter opiniões liberais, ou por talvez terem demonstrado em suas conversas que conheciam mais de teologia do que os monges iletrados, ou porque discordavam deles em algum ponto da doutrina. Qualquer uma dessas coisas seria suficiente para criar suspeitas, pois nada era mais temido do que uma nova luz ou verdade; tal pessoa era então marcada e denunciada pelos Familiares.

À meia-noite, ouve-se uma batida, e o suspeito é ordenado a acompanhar os mensageiros do Santo Ofício. Sua esposa e família sabem o que isso significa; a angústia deles é grande; eles devem agora se despedir do amado marido e do amado pai. Nem uma palavra de súplica ou remorso se atreve a respirar. Assim, repentina e inesperadamente, essa instituição assustadora atacava suas vítimas. As esposas deixavam seus maridos; os maridos, as mulheres; os pais, os filhos; e os mestres, seus servos, sem uma pergunta ou murmúrio sequer. O terror constituía o grande elemento de seu poder. Ninguém, do monarca ao escravo, sabia quando a batida poderia chegar à sua porta. Um sigilo impenetrável caracterizava todos os procedimentos dessa instituição. Esse sentimento de insegurança e as maquinações da imaginação ajudaram a exagerar a terrível realidade. Nem a classe, nem a idade, nem o sexo ofereceriam qualquer defesa contra sua vigilância incessante e sua severidade impiedosa.

O prisioneiro, a vítima indefesa, está agora dentro dos portões da Inquisição; e poucos que já entraram de lá saíram absolvido e quites; diz-se que não mais do que um em mil. Certas formalidades eram tomadas com o objetivo de questionar a suposta culpa do acusado, mas todas não passavam de uma grosseira zombaria à justiça. "O tribunal se sentava em profundo segredo, nenhum advogado podia comparecer perante o tribunal, nenhuma testemunha era confrontada com o acusado; ninguém sabia quem eram os informantes, quais eram as acusações, a não ser a vaga acusação de heresia. O suspeito herege era convocado, pela primeira vez, para declarar sob juramento que falaria a verdade, toda a verdade, sobre todas as pessoas vivas ou mortas e sobre ele próprio, sob suspeita de heresia ou valdensianismo. Se recusasse, seria lançado em uma masmorra, a mais sombria, a mais suja, a mais barulhenta, naqueles tempos sombrios. Nenhuma falsidade era tão falsa, nenhuma artimanha tão astuta, nenhum truque tão baixo, do que essa tortura moral deliberada e sistemática que era torcer da pessoa mais confissões contra ela própria e denúncias contra os outros. Era o objetivo deliberado dos inquisidores esmagar o espírito das pessoas; a comida dada ao prisioneiro era diminuída lenta e gradualmente até que o corpo e a alma se prostrassem. Ele era então deixado na escuridão, na solidão e no silêncio." A próxima parte do procedimento do Santo Ofício nessas prisões secretas era a aplicação de tortura corporal. A vítima indefesa era acusada de ocultar e negar a verdade. Em vão a pessoa afirmava que havia respondido a todas as perguntas de maneira plena e honesta, na extensão máxima de seu conhecimento; ela era instada a confessar se alguma vez tinha tido algum pensamento maligno em seu coração contra a Igreja, ou contra o Santo Ofício, ou contra qualquer outra coisa que escolhessem nomear. Não importava a resposta que desse, a pessoa era denunciada como um herege obstinado. Após algumas expressões hipócritas quanto ao amor pela alma da pessoa e quanto ao sincero desejo deles de libertá-la do erro, para que a pessoa pudesse obter a salvação, um vasto aparato de instrumentos de tortura lhe era mostrado; a tortura agora deveria ser aplicada para fazer a pessoa confessar seu pecado.

domingo, 24 de novembro de 2019

Os Henricianos

3. O fogo que queimou Pedro de Bruys nunca desencorajou nem silenciou seus seguidores. Um deles, chamado Henrique, um monge de Cluny, que também era diácono, tornou-se um pregador mais ousado e mais poderoso do que Pedro. Ao retirar-se do monastério, dedicou-se ao estudo do Novo Testamento, e, tendo ganhado um conhecimento do cristianismo direto da Palavra de Deus pura, desejava ir ao mundo proclamar a verdade aos seus semelhantes. Sua aparência pessoal e sua educação se combinavam para tornar sua pregação ainda mais poderosa e despertadora. A rápida mudança em seu semblante é comparada a um mar tempestuoso; sua estatura era elevada, seus olhos estavam revirados e inquietos; sua poderosa voz, seus pés descalços e aparência negligenciada atraíam a atenção, e eram marcadas pela fama de sua erudição e santidade.

Durante anos ele era apenas um jovem, mas seus tons profundos, sua eloquência maravilhosa, com sua aparência notável, horrorizavam o clero e encantavam o povo. Em um espírito similar ao de João Batista, ele chamava o povo ao arrependimento para que se convertessem ao Senhor, e não poucas vezes atacava os vícios já impopulares do clero.

Mas a oposição do clero que Henrique enfrentava apenas atraía mais o povo para si. Multidões, tanto das classes mais pobres quanto das mais ricas, o recebiam como guia espiritual em todas as coisas. A primeira vez que se ouviu falar dele, historicamente, foi em Lausana, mas atravessou o sul da França desde Lausana até Bordéus; e, como observa Neander, "ele atraía o povo para si, e os enchia de desprezo e ódio contra o alto clero -- dizendo que não deveriam ter nada a ver com eles. Eles deixavam de participar do serviço religioso, e o clero se achou exposto a insultos por parte da população, tendo que solicitar a proteção ao poder civil". O prudente bispo de Le Mans, vendo a influência que ele tinha conquistado sobre o povo, contentou-se em simplesmente direcionar Henrique a outro campo de trabalho. O zeloso monge retirou-se silenciosamente e apareceu em Provença, onde Pedro de Bruys tinha trabalhado antes dele. Ali ele desenvolveu ainda mais claramente sua oposição aos erros da igreja de Roma, e atraiu para si a mais amarga hostilidade da hierarquia clerical.

Henrique foi preso pelo arcebispo de Arles, sendo condenado como herege pelo Concílio de Pisa, que ocorreu em 1134, e sentenciado ao confinamento em uma cela. Em pouco tempo, ele escapou e retornou a Languedoque. Conta-se que deserções de igrejas e um total desprezo para com o clero seguiam o eloquente heresiarca por onde passava. Um legado chamado Alberico foi enviado pelo papa Eugênio III para subjugar a revolta, mas não foi proveitoso. "Henrique é um antagonista", disse ele, "que só pode ser derrubado pelo conquistador de Abelardo e de Arnaldo de Bréscia."

O poderoso abade de Claraval escreveu ao príncipe de Provença para que se preparasse para sua chegada, já adiantando o objetivo de sua vinda. "As igrejas", ele escreveu, "estão sem povo; o povo sem padres; os padres sem honra; e os cristãos sem Cristo. As igrejas não são mais tidas como santas, nem os sacramentos, nem as festas são celebradas. Os homens morrem em seus pecados -- almas são levadas às pressas ao terrível tribunal -- sem penitência ou comunhão; o batismo é recusado aos bebês, que são assim impedidos da salvação." O abade fez milagres, como se acreditava; o povo se maravilhava e se admirava; Henrique fugiu; Bernardo o perseguiu, purificando os lugares infectados pela pestilência da heresia. Por fim, o herege foi preso e levado acorrentado ao bispo de Toulouse, que o condenou à prisão, onde logo depois morreu repentinamente. Ele foi, então, libertado de todos os seus perseguidores no ano de 1148 e entrou em seu descanso.

domingo, 6 de novembro de 2016

Leão I, Apelidado de "O Grande"

Podemos prosseguir, sem interrupção, do nome de Inocêncio para o de Leão, que ascendeu à cadeira de São Pedro no ano 440, e a ocupou por 21 anos. Ele era notável por suas habilidades políticas, erudição teológica e grande energia eclesiástica. Ele sustentava, com a arrogância de romano e com o zelo de clérigo, que todas as pretensões e todas as práticas em sua igreja eram questões para a contínua sucessão apostólica. Contudo, parece que ele era firme na fé quanto à salvação, e zelosamente oposto a todos os hereges. As igrejas orientais tinham perdido o respeito da Cristandade pelas suas longas e vergonhosas controvérsias. Poder, e não sutilezas, era a ambição de Roma. Leão condenou toda a raça de hereges, desde Ário a Eutiques; mas mais especialmente a heresia maniqueísta.

Por seus grandes esforços e extraordinário gênio ele levantou as reivindicações do bispo romano como sendo o representante de São Pedro a uma altura nunca antes vista. "O apóstolo", diz ele, "foi chamado Petra, a pedra, por cuja denominação ele é constituído o fundamento... Em sua cadeira habita a sempre viva, a super-abundante, autoridade. Que os irmãos, portanto, reconheçam que ele é o primaz de todos os bispos, e que Cristo, que não nega a ninguém seus dons, ainda assim não os concede a ninguém exceto por meio dele."*

{* Cathedra Petri, de Greenword, vol. 1, p. 348.} 

Tomando devida consideração pelo caráter dos tempos e pelas opiniões oficiais e inerentes, cremos que Leão era sincero em suas convicções, e provavelmente um cristão. De coração ele cuidava do povo de Deus, e mais de uma vez, por suas orações e sagacidade política, salvou Roma dos bárbaros. Quando Átila, o mais terrível dos conquistadores estrangeiros, com suas incontáveis hostes, pairava sobre a Itália, pronto para cair sobre a indefesa capital, Leão foi adiante o "Destruidor" no nome do Senhor, e como o chefe espiritual de Roma, e tão fervorosamente orou por seu povo que as paixões selvagens do huno se acalmaram e, para espanto de todos, ele concordou com os termos pelos quais a cidade foi salva do caos e abate. Mas o principal objetivo da vida de Leão, e a que ele cumpriu plenamente, foi estabelecer as bases da grande monarquia espiritual de Roma. Durante seu pontificado ele foi o nome mais conhecido no império, se não em toda a Cristandade. Ele morreu no ano 461.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

O Credo Niceno

A celebrada confissão de fé geralmente chamada de "O Credo Niceno" foi o resultado das longas e solenes deliberações da assembleia. Eles decidiram contra as opiniões arianas, e firmemente mantiveram as doutrinas da Santíssima Trindade, da verdadeira Divindade de Cristo, e de Sua unidade com o Pai em poder e glória. O próprio Ário foi levado perante o concílio e questionado quanto à sua fé e doutrina; ele não hesitou em repetir, como sua crença, as falsas doutrinas que tinham destruído a paz da igreja. Enquanto ele avançava com suas blasfêmias, os bispos concordemente taparam os ouvidos e clamaram que tais opiniões ímpias eram dignas de anátema juntamente com seu autor. Santo Atanásio, embora fosse no momento apenas um diácono, chamou a atenção de todo o concílio por seu zelo em defesa da verdadeira fé, e por sua penetração em desvendar e expor os artifícios dos heréticos. Veremos mais sobre o nobre Atanásio mais adiante.

Este famoso credo foi assinado por todos os bispos presentes, com a exceção de uns poucos arianos. Sendo a decisão do concílio apresentada perante Constantino, ele imediatamente reconheceu a aprovação unânime do concílio como obra de Deus, e a recebeu com reverência, declarando que todas as pessoas que se recusassem a se submeter a ela deveriam ser banidas. Os arianos, ouvindo isso, impelidos pelo medo assinaram a fé estabelecida pelo concílio. Eles, portanto, colocaram-se numa posição em que podiam ser acusados de serem homens desonestos. Apenas dois bispos, Segundo e Teonas, ambos egípcios, continuaram a aderir a Ário, e foram banidos com ele para a Ilíria. Eusébio da Nicomédia e Teognis de Niceia foram condenados cerca de três meses depois, e sentenciados pelo imperador ao banimento. Várias penalidades foram então denunciadas contra os seguidores de Ário: todos os seus livros foram sentenciados a serem queimados, e era até mesmo considerada ofensa capital esconder qualquer de seus escritos. Tendo concluído o trabalho, os bispos se dispersaram para suas respectivas províncias. Além da solene declaração da opinião deles sobre a doutrina em questão, eles finalmente definiram também sobre a questão relacionada a celebração da Páscoa* e estabeleceram alguns outros assuntos que foram levados diante deles.

{* As igrejas orientais, desde o princípio, observavam a festa da Páscoa em comemoração à crucificação de Cristo, o que correspondia à Páscoa Judaica, no décimo quarto dia do mês. Isto pode ter surgido a partir do fato de que no Oriente havia muito mais judeus convertidos. As igrejas ocidentais observavam a festa em comemoração à ressurreição. A diferença quanto ao dia deu origem a uma longa e acirrada controvérsia. Mas, após muita contenda entre as igrejas orientais e ocidentais, foi ordenado pelo concílio de Niceia que fosse observada em comemoração à ressurreição em toda a cristandade. Assim, a Páscoa Cristã ficou estabelecida no domingo que segue o décimo quarto dia da lua pascal, que ocorre próximo ao dia 21 de março: de modo que, se o referido 14º dia fosse um domingo, não seria naquele domingo, mas no próximo, podendo cair em qualquer domingo das cinco semanas que começam em 22 de março e terminam em 25 de abril.}

sábado, 26 de março de 2016

O Efeito da Nova Ordem Clerical

Pode ser justo supor que aqueles bons homens, por quem uma nova ordem de coisas foi trazida para a igreja, tendo excluído o livre ministério do Espírito Santo nos membros do corpo, desejavam de coração o bem-estar da igreja. É evidente que Inácio, por esses meios, esperava evitar "divisões". Mas, por mais bem intencionados que fossem seus motivos, é o cúmulo da loucura humana - se não pior - interferir com, ou procurar mudar, a ordem de Deus. Este foi o erro de Eva, e todos conhecemos muito bem as consequências. Foi também o pecado original da igreja, pelo qual ela tem sofrido por estes últimos 18 séculos {* N. do T.: este livro foi escrito no século XIX}.

O Espírito Santo enviado do céu é o único poder de ministério, mas o Senhor tem a liberdade de escolher e empregar Seus próprios servos. Os arranjos e nomeações humanas necessariamente interferem com a liberdade do Espírito. Elas extinguem o Espírito Santo: apenas Ele sabe onde está a capacidade, e onde, quando e como dispensar os dons. Falando da igreja como era nos dias dos apóstolos, é dito: "Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer." Também lemos: "Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil." (1 Coríntios 12:4-7,11). Aqui tudo está nas mãos divinas. O Espírito Santo dispensa o dom. Este deveria ser exercido no reconhecimento do senhorio de Cristo; e Deus dá eficácia ao ministério. Quão maravilhoso é ter o Espírito, o Senhor, e Deus como a fonte, o poder e o caráter do ministério! Quão grande, e quão triste, é a mudança disto para o rei, os sacerdotes e o povo! Não é isso apostasia? Mas enquanto nos opomos à mera nomeação humana ao ofício, seja qualificado ou não, contenderíamos mais seriamente pelo ministério da Palavra tanto para santos* quanto para pecadores.

{N. do T.: lembrando que "santos" na Novo Testamento refere-se àqueles salvos por Cristo, justificados (tornados justos) gratuitamente pela fé em Jesus. "Chamados santos" (Rm 1:7).}

Infelizmente a igreja logo descobriu que o impedimento do ministério, do modo como nos é apresentado na Palavra de Deus, e a introdução de uma nova ordem de coisas não impediu que divisões, heresias e falsos mestres se manifestassem. É verdade que a carne, até no mais verdadeiro e dotado cristão, pode se manifestar; mas quando o Espírito de Deus está agindo em poder, e a autoridade da Palavra é mantida, o remédio está em mãos: o mal será julgado em humildade e fidelidade a Cristo. A partir dessa época - o início do segundo século, e até mesmo um pouco antes disso - a igreja foi muito perturbada por heresias; e com o passar do tempo, as coisas nunca melhoraram, mas sempre pioraram.

Irineu, um cristão de grande fama, que sucedeu Potino como bispo de Lion em 177 d.C., nos deixou muita informação sobre o assunto das primeiras heresias. Supõe-se que tenha escrito, no ano 183, seu grande livro "Contra as Heresias", no qual dizem conter uma defesa da santa fé católica, e um exame e refutação das falsas doutrinas defendidas pelos principais hereges.*

{* Irineu contra as Heresias. Clarke, Edinburgo.}

domingo, 27 de abril de 2014

Os Erros dos Historiadores em Geral

Alguns historiadores, infelizmente, não levaram em consideração esta triste mistura dos vasos bons e ruins - dos verdadeiros e falsos cristãos. Eles mesmos não eram homens com mentes espirituais. Portanto fizeram, e ainda fazem, de seu objetivo principal, registrar os vários caminhos anticristãos e perversos dos meros professos. Eles se delongam minuciosamente nas heresias que perturbaram a igreja, nos abusos que a desgraçaram, e nas controvérsias que a distraíram. Nós, pelo contrário, nos esforçaremos para perscrutar pelas longas páginas escuras da história em busca da linha prateada da graça de Deus nos verdadeiros cristãos, embora muitas vezes a liga seja tão predominante que o minério puro é quase imperceptível.

Deus nunca deixou a Si mesmo sem um testemunho. Ele sempre manteve Seus amados e queridos, mesmo que ocultos, em todas as eras e em todos os lugares. Nenhum olho a não ser o dEle poderia enxergar os sete mil em Israel que não tinham se curvado à imagem de Baal, nos dias de Acabe e Jezabel. E não há dúvida que dezenas de milhares, mesmo nas épocas mais sombrias do Cristianismo, serão encontrados, afinal, na "gloriosa igreja", que Cristo apresentará a Si mesmo, no tão esperado dia de Sua alegria nupcial. Muitas pedras preciosas encontradas em meio ao lixo da "idade média" refletirão Sua graça e glória naquele dia sem par.

Que bendito pensamento! Mesmo agora enche a alma de júbilo e deleite. Senhor, apresse aquele dia tão feliz por amor de Teu próprio nome!

Diferente de muitos falsos, os verdadeiros crentes são humildes por instinto. Eles são geralmente reservados, e a maioria são pouco conhecidos. Não há humilhação tão profunda e real como aquela que o conhecimento da graça produz. Tais pessoas modestas e ocultas encontram pouco espaço nas páginas históricas. Mas o convincente e zeloso herege, e o barulhento e visionário fanático, são barulhentos demais para escapar à vista. Por isso, também, que os historiadores vêm recordando tão cuidadosamente os tolos e insensatos princípios e as más práticas de tais homens.

Vamos agora mudar um pouco de assunto, e tomar uma visão geral da primeira parte de nosso assunto: as sete cartas às igrejas da Ásia.

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