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domingo, 16 de outubro de 2022

O Apelo Público de Lutero (1517 d.C.)

As coisas chegavam então a uma crise. Lutero, que estivera observando atentamente o progresso de Tetzel, deu um passo à frente; fez seu grande apelo ao bom senso e à consciência do povo alemão; pregou suas teses na porta da igreja em Wittemberg, e em noventa e cinco propostas desafiou toda a Igreja Católica a defender Tetzel e a venda de indulgências. 

O machado estava agora colocado na raiz da árvore. As sementes da Reforma estavam contidas nessas proposições. "A indulgência do papa", disse Lutero, "não pode tirar os pecados; somente Deus perdoa os pecados, e Ele perdoa aqueles que são verdadeiramente penitentes sem a ajuda das absolvições do homem. A igreja pode perdoar as penalidades que a própria igreja inflige. Somente neste mundo, não se estende além da morte. Quem é este homem que se atreve a dizer que por tantas coroas a alma de um pecador pode ser salva? Todo verdadeiro cristão participa de todas as bênçãos de Cristo, pela graça de Deus, e sem carta de indulgência." Tal era o estilo do nobre protesto de Lutero, embora misturado com muito que ainda tinha sabor de catolicismo. 

Lutero havia então entrado em campo contra a doutrina e os abusos da igreja de Roma. A universidade e toda a cidade de Wittemberg ficaram em comoção. Todos leram as teses; as proposições surpreendentes passaram de boca em boca; peregrinos de todos os quadrantes então presentes em Wittemberg, levaram consigo as famosas teses do monge agostiniano, espalhando a notícia por toda parte. "Esta foi a primeira faísca", diz Pfizer, "da tocha que foi acesa na pilha funerária do martirizado Huss, e, chegando ao canto mais remoto da terra, deu o sinal de poderosos eventos futuros". Em menos de quatorze dias, diz-se, essas teses foram lidas em todas as partes da Alemanha; e, antes que quatro semanas se passassem, elas se espalharam por toda a Cristandade, como se os anjos do céu tivessem sido os mensageiros para exibi-las ao olhar universal. 

Roma clamava pela fogueira. "As casas religiosas de toda a Alemanha", diz Froude, "eram como canis de cães uivando uns para os outros através do deserto espiritual. Se as almas não pudessem ser resgatadas do purgatório, sua ocupação desapareceria. Mas para os espíritos nobres por toda a Europa, Wittemberg tornou-se um farol de luz brilhando na escuridão universal." Se Lutero não tivesse sido guiado pela sabedoria de Deus, ele poderia ter sido arrebatado por sua repentina popularidade; mas de si mesmo, pela graça, ele pensou muito pouco, e permaneceu quieto em seu posto na igreja agostiniana em Wittemberg, esperando até que Deus em Seu próprio tempo e maneira o chamasse.  

Um Exemplar da Pregação de Tetzel

Tome os seguintes trechos como um espécime dos discursos blasfemos desse impostor ousado, e tudo sob a sanção do papa e do arcebispo do lugar. 

"As indulgências são o mais precioso e o mais nobre dos dons de Deus. Vinde, e vos darei cartas, todas devidamente seladas, pelas quais até os pecados que pretendestes cometer podem ser perdoados. Eu não trocaria meus privilégios pelos de São Pedro no céu, pois salvei mais almas com minhas indulgências do que o apóstolo com seus sermões. Não há pecado tão grande que uma indulgência não possa perdoar. Mas, mais do que isso, as indulgências valem não apenas para os vivos, mas também para os mortos. Sacerdote! nobre! comerciante! esposa! jovem! donzela! não ouves teus pais e teus outros amigos que estão mortos, e que choram do fundo do abismo? Sofremos horríveis tormentos! Podes dar, e não dareis! Oh, pessoas estúpidas e brutas, que não entendem a graça tão ricamente oferecida! Voa liberada para o céu. O Senhor nosso Deus não reina mais, Ele entregou todo o poder ao papa." 

Terminada o discurso selvagem do grosseiro monge berrante, a multidão aterrorizada e supersticiosa apressou-se a comprar o perdão de seus pecados e a libertação de seus amigos do fogo do purgatório. Da família real aos que viviam de esmolas, todos arranjaram de alguma forma dinheiro para comprar o perdão. O dinheiro entrou em abundância; o peito papal transbordou; mas ai! ai! Os efeitos morais eram temíveis. Os termos fáceis pelos quais os homens poderiam obter a licença do papa para todas as espécies de maldade, abriram o caminho para a mais grosseira imoralidade e insubmissão a toda autoridade. Até o próprio Tetzel foi condenado por adultério e conduta infame em Innsbruck, e sentenciado pelo imperador Maximiliano a ser colocado em um saco e jogado no rio; mas o Eleitor Frederico da Saxônia interferiu e obteve seu perdão. O imperturbável dominicano seguiu seu caminho como representante de Sua Santidade, o papa, como se nada tivesse acontecido.  

Os Agentes do Papa - Johann Tetzel

A especulação do Papa Leão foi um grande sucesso comercial. Ele enviou agentes convenientes para diferentes partes da Europa com sacos de indulgências e dispensas. Por uma determinada quantia, uma dispensa poderia ser comprada para comer carne às sextas-feiras e dias de jejum, para casar-se com um parente próximo e para entregar-se a todos os prazeres proibidos. Os mascates seguiram em frente; exaltavam suas mercadorias com gritos e piadas; eles asseguraram ao povo que o perdão e a salvação de suas almas agora podiam ser comprados a preços muito reduzidos. Multidões de compradores se apresentaram e o dinheiro dos fiéis fluiu abundantemente. Por fim, eles apareceram na Saxônia. O arcebispo de Mainz e outros dignitários espirituais prometeram ao papa seu apoio nesse tráfico vergonhoso e iníquo, considerando que receberiam uma parte dos lucros; assim os negócios continuaram cada vez mais e ininterruptamente até que os ruidosos vendedores ambulantes se aproximaram de Wittemberg. 

Entre os muitos vendedores desta grande feira papal, um homem em particular atraiu a atenção dos espectadores; tratava-se do monge dominicano Johann Tetzel, nome que adquiriu uma odiosa notoriedade na história europeia. Esses negociantes percorriam o país em grande pompa, viviam em grande estilo e gastavam dinheiro livremente. Quando a procissão se aproximou de uma cidade, um deputado esperou o magistrado e disse: "A graça de Deus e do santo padre está às suas portas". Tal proclamação naqueles tempos de superstição era suficiente para levar as cidades mais silenciosas da Alemanha à maior agitação. O clero, padres, freiras, conselheiros da cidade e comerciantes com suas bandeiras, homens e mulheres, velhos e jovens, saíram ao encontro dos mercadores, trazendo velas acesas nas mãos e avançando ao som da música. As ruas por toda parte estavam repletas de bandeirolas; sinos eram repicados; freiras e monges caminhavam em procissão, gritando: "Comprai! comprai!" O próprio grande monge comerciante estava sentado em uma carruagem, segurando uma grande cruz vermelha na mão e com a bula papal em uma almofada de veludo à sua frente. As igrejas eram as salas de venda; o brasão do papa foi pendurado na cruz vermelha e colocados diante do altar. Tetzel então subiu ao púlpito e exaltou ruidosamente em rude eloquência a eficácia das indulgências.* 

{*Ver D'Aubigné, vol. 1, pág. 322. Short Studies, de Froude, vol. 1, pág. 96.}  

A Venda de Indulgências

O Papa Leão X subiu ao trono papal no ano de 1513. Ele era o terceiro filho de Lorenzo de' Medici, o Magnífico, e trouxe consigo para a corte pontifícia o estilo refinado, luxuoso e caro de sua família. Além disso, Michelangelo havia fornecido a ele o projeto finalizado da Basílica de São Pedro, que estava em andamento, o que aumentou muito suas despesas. A questão importante agora era: como conseguir dinheiro para completar a grande catedral e reabastecer o tesouro papal para os propósitos do pontificado de Leão? 

As cartas de Lutero a esse pontífice demonstram seu desconhecimento acerca do caráter de Leão. Embora Leão tenha a reputação de ser um dos homens mais polidos e cultos de sua época, ele estava longe de ser um homem moral. Sua corte era alegre, ele era dedicado ao prazer e totalmente descuidado com os deveres da religião. Comparado com seus predecessores imediatos – o dissoluto Alexandre VI, cujo nome é difícil mencionar sem repugnância – e o selvagem papa-guerreiro, Júlio II, cuja carreira tempestuosa encheu grande parte da Europa de sangue e massacres – comparado, digamos, a tais papas, a pessoa e a corte de Leão apresentam um contraste favorável; e Lutero, sem dúvida, dirigiu-se a ele com sua veneração supersticiosa pelo chefe da igreja, e por causa de sua fama de homem erudito. 

Para atender às várias e pesadas despesas do extravagante Leão, o clamor por dinheiro tornou-se cada vez mais alto. "Dinheiro, dinheiro!", era o clamor. "Foi o dinheiro", diz alguém, "não a caridade, que cobriu uma multidão de pecados". A necessidade sugeriu que o preço das indulgências deveria ser reduzido e que vendedores inteligentes deveriam ser empregados para impulsionar o comércio por toda a Europa. O plano foi adotado; mas Deus fez com que esse tráfico desavergonhado redundasse na posterior realização da Reforma e na derrubada do despotismo de Roma. Foi decidido que a Alemanha deveria ser o primeiro e especialmente favorecido lugar para a venda de indulgências, pois a posição geográfica do país poderia ter impedido muitos fiéis de colher as vantagens do Jubileu em Roma. 

A ideia original das indulgências parece ter sido nada mais do que uma redução da penitência externa imposta aos penitentes por meio do pagamento de uma multa, como temos constantemente decretado em nossos tribunais -- por exemplo: "Multado em cinquenta libras ou seis meses de prisão”. Se o dinheiro for pago, é colocado a crédito do criminoso, e ele é liberado e recebe sua quitação. Da mesma maneira, o pobre católico iludido supõe que a indulgência que ele compra é creditada a seu favor no livro de estatutos do céu, que faz pesar a balança contra ele por suas mentiras, calúnias, roubos, assassinatos e maldade de todos os tipos; ou, como alguns compararam, a uma carta de crédito a ser apresentada no céu, assinada pelo papa, em consideração ao valor recebido. Claro, se os pecados do delinquente são grandes e muitos, ele deve pagar caro por suas indulgências. 

Esse sistema de perdão se expandiu e foi tão trabalhado pelo sacerdócio que se tornou um meio de enorme riqueza para o papado. Obras dignas de arrependimento eram exigidas do pecador – e todos eram pecadores – obras como jejum, castigo, peregrinações e, depois da morte, tantos anos no purgatório. Mas o pecador foi lembrado de que o fardo dessas obras poderia ser removido, e os anos do fogo do purgatório encurtados, através do poder delegado por Cristo ao bem-aventurado Pedro e seus sucessores, sob certas condições. A mais fácil dessas condições para o penitente, e a mais conveniente para o papa, era: "Dinheiro! Dinheiro!"  

O Ano Dourado

É difícil calcular com precisão os números, mas asseguram-nos os que assistiram à cerimónia, que sempre estiveram presentes na cidade cerca de duzentas mil pessoas, e que a quantidade total no ano foi fixada em dois milhões. A riqueza que fluiu desse jubileu para os cofres papais foi enorme. Supondo que cada indivíduo desse apenas uma pequena soma, que tesouro real deve ter sido coletado! As ofertas se empilhavam nos altares. Foi chamado pelos romanos de Ano Dourado. Uma testemunha ocular nos diz que viu dois sacerdotes com ancinhos nas mãos, ocupados dia e noite em varrer, sem contar, os montes de ouro e prata que foram colocados sobre os túmulos dos apóstolos. E esse tributo nem mesmo era dedicado a usos especiais, como provisões ou carregamentos para os exércitos -- como eram as ofertas ou subsídios para as cruzadas --, mas estava inteiramente à disposição livre e irresponsável do papa. Ainda assim, dos benefícios dessa indulgência deveriam ser excluídos os inimigos da igreja, ou melhor, os inimigos de Bonifácio. 

A Cristandade, com exceção de alguns notáveis rebeldes contra a Sé de Roma, havia recebido agora o dom do perdão e da vida eterna e, em troca, por sua própria vontade, amontoou aos pés do papa essa extraordinária riqueza. As autoridades haviam tomado medidas sábias e eficazes contra a fome para essas multidões acumuladas, mas muitos foram pisoteados e morreram sufocados. 

O experimento superou em muito as expectativas do papa e de seus partidários. Bonifácio havia proposto que o Jubileu fosse celebrado a cada cem anos, mas as vantagens para a igreja eram tão grandes que o intervalo acabou sendo naturalmente considerado muito longo. O Papa Clemente VI, portanto, repetiu o Jubileu em 1350, atraindo vastas multidões de peregrinos a Roma, e uma riqueza incrível. Os números eram quase tão grandes quanto em 1300. As ruas que levavam às igrejas que deveriam ser visitadas – de São Pedro, de São Paulo e de São João de Latrão -- ficaram tão cheias que não permitiam movimento, exceto com o fluxo das multidões. Preços altos eram cobrados pelos romanos por comida e hospedagem, muitos tinham que passar a noite nas igrejas e ruas, e não poucos dos pobres peregrinos iludidos pereceram. O Papa Urbano VI, em 1389, reduziu o intervalo para trinta e três anos, a suposta duração a que se estendia a vida de nosso Senhor na terra. Finalmente, o Papa Paulo II, em 1475, estabeleceu que a festa do Jubileu deveria ser celebrada a cada vinte e cinco anos, que continua até hoje a ser o intervalo em que se celebra a grande festa. 

Com as grandes imposturas religiosas da Idade das Trevas, e com o pecado de iludir um povo crédulo, já nos tornamos familiares; mas é verdadeiramente desolador descobrir que tais blasfêmias são cridas e praticadas em nossos dias, não obstante o estado de educação e o número de testemunhas da verdade da Palavra de Deus e da obra consumada de Cristo. O seguinte extrato de uma bula que foi emitida pelo papa em 1824, nomeando o Jubileu para o ano seguinte, explicará o que queremos dizer*.  

"Resolvemos, em virtude da autoridade que nos foi dada do céu, abrir totalmente esse tesouro sagrado composto dos méritos, sofrimentos e virtudes de Cristo nosso Senhor, e de sua virgem mãe, e de todos os santos que o Autor da salvação humana confiou à nossa dispensação. Portanto, a vós, veneráveis irmãos, patriarcas, primazes, arcebispos, bispos, cabe explicar com perspicuidade o poder das indulgências; qual é a sua eficácia na remissão, não só da penitência canônica, mas também do castigo temporal devido à justiça divina pelos pecados passados; e que socorro é proporcionado deste tesouro celestial, dos méritos de Cristo e Seus santos, para aqueles que partiram verdadeiros penitentes no amor de Deus, mas antes que eles foram devidamente satisfeitos por frutos dignos de penitência, pelos pecados de omissão e comissão, e que agora estão se purificando no fogo do purgatório.”** 

{* O autor viveu no século XIX.} 

{** Faiths of the World, de Gardner, vol. 2, pág. 252.}  

O Primeiro Jubileu Papal

Capítulo 34: Lutero: A Reforma na Alemanha (1517-1521 d.C.)

A avareza do clero romano e a superstição do povo foram grandemente excitadas pelas Cruzadas. Por duzentos anos, elas foram a fonte de enorme riqueza e poder para a igreja, e de incalculável miséria, ruína e degradação para as nações da Europa. Nessas chamadas guerras santas, cerca de seis milhões de europeus morreram e cerca de duzentos milhões de dinheiro foram gastos; além disso, a propriedade de um cruzado era comumente colocada, durante a expedição, sob a proteção do bispo e, no caso de sua morte -- o que geralmente acontecia -- ficava em suas mãos. Mas felizmente aquilo que "está singularmente marcado no templo da história como um monumento do absurdo humano, de uma paixão unânime", chegou ao fim no final do século XIII. 

No ano de 1291, o Acre, o último posto militar ocupado pelos cristãos na Palestina, caiu nas mãos dos turcos. Os incrédulos ficaram então de posse do sepulcro de Cristo e de todos os lugares santos e objetos de peregrinação. Assim terminou o grande esquema papal e a alardeada glória das Cruzadas à Terra Santa. 

Duas questões graves surgiram então: Como o tesouro papal deveria ser nutrido e como o desejo do povo por indulgências deveria ser satisfeito? O papa quer dinheiro, o povo quer que seus pecados sejam perdoados e está disposto a pagar por isso. Para atender a esses dois importantes objetivos, o papa descobriu um novo e mais bem-sucedido caminho. “Chegamos ao último ano do século XIII”, disse o Papa Bonifácio, “que o primeiro ano do décimo quarto século seja ano de jubileu”. A Palestina estava irremediavelmente perdida; a cruz e o sepulcro do Salvador estavam nas mãos dos sarracenos; mas a cidade santa de Roma e os túmulos dos apóstolos estavam abertos aos peregrinos. Ao mudar habilmente o local de peregrinação de Jerusalém para Roma, o fim desejado foi alcançado. Nunca a superstição obteve tanto sucesso. 

Em 22 de fevereiro de 1299, foi emitida uma bula, prometendo indulgências de extraordinária plenitude a todos que, no ano seguinte, com a devida penitência e devoção, visitassem os túmulos de São Pedro e São Paulo -- os romanos uma vez por dia, por trinta dias sucessivos, e os estrangeiros por quinze. A bula foi imediatamente promulgada em toda a Cristandade. Afirmava que todos os que confessassem e lamentassem seus pecados, e fizessem devotamente uma peregrinação ao túmulo do "chefe dos apóstolos", receberiam uma indulgência plenária; ou, em outras palavras, uma remissão completa de todos os pecados, passados, presentes e futuros. Uma indulgência desse tipo até então estava limitada aos cruzados; a consequência foi que toda a Europa entrou em um frenesi de excitação religiosa. Multidões de todas as partes apressaram-se a Roma. O som de boas-vindas do Jubileu atraiu toda a Cristandade ocidental para esta vasta e pacífica cruzada. "Durante todo o ano, as estradas nas partes mais remotas da Alemanha, Hungria e Grã-Bretanha estavam cheias de peregrinos de todas as idades, de ambos os sexos, que procuravam expiar seus pecados, não por uma peregrinação armada e perigosa a Jerusalém, mas por uma menos dispendiosa, e menos perigosa, viagem a Roma."  

domingo, 1 de novembro de 2020

As Vitórias dos Taboritas

Venceslau, Rei da Boêmia, morreu exatamente nessa época de um ataque de apoplexia; e como ele não deixou nenhum herdeiro, a Boêmia foi herdada por seu irmão Sigismundo. Essa mudança foi o sinal para uma guerra aberta por parte dos reformadores. Sigismundo foi execrado como traidor por ter atraído Hus para Constança; ele o havia abandonado a seus inimigos impiedosos, os inimigos da verdadeira fé. Com a fúria do fanatismo religioso, eles demoliram e desfiguraram tudo o que trazia a marca da religião romana. O imperador, o mais rápido possível, voltou sua atenção especial para o reino recém-herdado, mas em lugar de uma recepção leal, sua soberania foi repudiada em todos os lugares. O primeiro exército cruzado foi derrotado pelo vitorioso Žižka, e Sigismundo foi obrigado a fugir das muralhas de Praga.

Os seguidores de Žižka, sendo principalmente camponeses, a princípio não tinham outras armas de guerra além de seus implementos agrícolas, como manguais, clavas, forcados e foices; de modo que Sigismundo os chamou zombeteiramente de debulhadores; mas ele logo sentiu o poder irresistível deles e as feridas mortais que infligiram. Žižka os ensinou a carregar seus implementos com ferro e a conduzir suas carroças rústicas no campo de batalha de modo a servir ao propósito dos antigos carros de guerra. Martinho V, agora seguro em Roma, ouviu à distância sobre Žižka carregando fogo e espada em todas as direções -- massacrando clérigos e monges, queimando e demolindo igrejas e conventos, se vingando dos inimigos da verdadeira fé e erradicando a idolatria, como sua missão divina. Uma bula foi emitida a pedido do imperador, convocando os fiéis a se levantarem para a extirpação do wycliffismo, hussismo e outras heresias, e prometendo indulgências completas para aqueles que participassem do empreendimento pessoalmente ou por procuração. Um exército estimado em cem mil a cento e cinquenta mil foi reunido em quase todos os países europeus.

O espírito dos hussitas foi fortalecido em todas essas ocasiões, seguindo o exemplo da colina de Tabor. Eles celebraram a comunhão, jurando gastar seus bens e seu sangue ao máximo em defesa da chamada Reforma. O cálice eucarístico não era apenas representado nas bandeiras dos taboritas, mas também carregado por seu clero à frente de seus exércitos. Sigismundo entrou na Boêmia à frente das hostes de cruzados, e, determinado a subjugar os rebeldes à obediência, queimou sem escrúpulos os professores hereges, e arrastou outros nas caudas de seus cavalos. Mas a hora da vingança estava próxima. Ardendo de indignação e entusiasmo religioso, Žižka e seus seguidores exasperados surpreenderam os cruzados e os derrotaram com grande massacre em uma colina perto de Praga, que ainda leva seu nome. Uma segunda campanha viu o exército imperial se separar e, em pânico, fugir diante do renomado Žižka. Uma terceira e uma quarta vez o imperador invadiu o país à frente de vastas forças -- em um caso, dizem, duzentos mil homens, mas todas as vezes os exércitos da igreja fugiram em confusão e desgraça diante dos invencíveis taboritas. Em alguns casos, eles perseguiram e massacraram, em vez de simplesmente derrotar, os inimigos de Deus e da verdadeira fé. A crueldade de ambos os lados tornou-se excessiva. Os taboritas que por acaso caíram nas mãos de seus inimigos foram queimados vivos ou vendidos como escravos. Foi uma guerra de vingança, de extermínio, e foi considerado o mais sagrado dos deveres tomar a propriedade e derramar o sangue dos inimigos de Deus.


domingo, 18 de outubro de 2020

Comoções Civis

Mesmo sendo um homem bom, Jan Hus havia negligenciado o conselho benéfico do apóstolo. Ele primeiro se envolveu em uma disputa universitária quanto aos privilégios dos alunos; e novamente sua oposição a Gregório XII ofendeu profundamente o arcebispo da Boêmia, que se aliou ao antipapa*. Decretos proibitivos foram emitidos contra Hus, mas, sendo um grande favorito na corte e com o povo, nada foi feito. Ele obteve permissão para continuar sua pregação na língua vernácula. Mas em poucos meses surgiram circunstâncias que reacenderam as chamas das contendas religiosas na Boêmia.

{* N. do T.: Isso ocorreu durante a grande cisma papal, conforme já relatado em seções anteriores deste mesmo capítulo, durante o qual Gregório XII era um dos papas (ou antipapas) que contendiam entre si pelo trono pontifício.}

Um dos primeiros atos de João XXIII ao tomar posse da cátedra papal foi enviar seus emissários para pregar uma cruzada contra Ladislau, rei de Nápoles, e oferecer as indulgências usuais. Os vendedores dessas indulgências, enquanto discursavam ao povo sobre o valor de suas mercadorias*, foram interrompidos e expostos ao insulto e à indignação. Os magistrados interferiram; alguns dos manifestantes foram apreendidos e executados em particular; mas o sangue que correu da prisão para a rua traiu o destino dos prisioneiros. As mulheres mergulhavam seus lenços no sangue para guardá-los como uma relíquia preciosa; as paixões da multidão foram estimuladas ao máximo; a prefeitura foi invadida, os corpos sem cabeça desses jovens foram carregados pelo povo em procissão solene pelas várias igrejas, entoando hinos sacros. Por fim, foram enterrados na capela de Belém, com as ofertas aromáticas que eram frequentemente depositadas nos túmulos dos mártires. Os três jovens eram agora mencionados em sermões e escritos como santos e mártires, e assim o movimento aumentou ainda mais.

{* N. do T.: as mercadorias são as indulgências, isto é, os perdões de pecados que eram oferecidos pela Igreja Católica em troca de dinheiro ou bens.}

Jan Hus, sabendo que era suspeito e acusado de ser o principal motor por trás disso tudo, sabiamente retirou-se da cidade por um tempo. Ele foi convocado, mas sem efeito, para comparecer perante o tribunal do Vaticano. Hus foi então declarado como estando sob o banimento da excomunhão, e o local de sua residência sob interdito papal. Apesar das censuras da igreja, ele continuou pregando por todo o país. As mentes das pessoas, já bastante agitadas, eram facilmente suscitadas à maior indignação contra o clero. Quase todo o reino estava do seu lado, pelo menos contra os abusos da hierarquia.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

A História das Indulgências

Assim prevaleceu o sistema das indulgências em cada vez maior extensão à medida que avançava o tempo; e embora, como consequência de seus gritantes abusos, alguns dos melhores escolásticos não hesitassem em expressar suas objeções ao comércio que estava ocorrendo na venda de indulgências, outros escreviam em favor, e os homens em geral temiam sofrer um longo período de severa penitência e de desagradáveis austeridades, quando podiam obter absolvição imediata por meio de pagamentos pecuniários, ou dando esmola às igrejas e clérigos. Desde o início foi a prática da igreja de Roma impôr obras ou sofrimentos dolorosos sobre os ofensores quando estes eram submetidos com humildade ao que eles chamavam de satisfações; mas quando a penitência era abreviada ou inteiramente remida por alguma consideração em dinheiro ou boas obras, eles chamavam de indulgência. O preço era regulado de acordo com a natureza do crime e as circunstâncias do comprador.

O seguinte curioso evento, citado por Milner do relato de Burnet, dará ao leitor uma ideia melhor da extensão desse notável comércio do que qualquer coisa que pudéssemos dizer sobre o assunto, e isto aconteceu em uma época em que, devido à Reforma, a venda tinha diminuído consideravelmente: "Burnet nos informa que a escandalosa venda de perdões e indulgências não havia cessado completamente, de maneira alguma, nos países papistas, como é comumente aceito. Ele diz que na Espanha e em Portugal há, em todo o lugar, um comissário que gerencia a venda com as circunstâncias mais infames imagináveis. Na Espanha, o rei, por meio de um acordo com o papa, retém os lucros. Em Portugal, o rei e o papa dividem os lucros.

"No ano de 1709 os corsários de Bristol tomaram de assalto um galeão, no qual acharam quinhentos fardos com indulgências papais... e dezesseis resmas estavam em um fardo, de modo que podia-se contar um total de três milhões e oitocentos e quarenta mil indulgências. Estas eram impostas ao povo e vendidas, a mais barata por três moedas de ouro, mas algumas eram mais caras. Todos eram obrigados a comprá-las durante a Quaresma. Além do relato dado sobre essa viagem, recebi um testemunho em particular sobre isso do Capitão Dampier".*

{* Milner, vol. 3, p. 439}

Mas o leitor estará mais preparado para essa quase incrível afirmação se prosseguirmos até a história do período em que isso ocorreu. Por enquanto, vimos o suficiente para dar ao leitor uma ideia correta do fundamento, caráter e efeitos do tráfico. O sacramento do matrimônio terá um espaço tão importante para nós que precisaremos dar a ele um capítulo especial mais tarde. Assim, deixamos por enquanto o doloroso e interessante assunto sobre a teologia romana, lamentando profundamente as práticas da Cristandade papal, e retornemos a nossa história geral.*

{*Para mais detalhes sobre os sacramentos por escritores católicos, veja Concílio de Trento, de Paulo II, O Catecismo Do Concílio De Trento, de Donovan, End of Controversy, de Milner; e para críticas bastante afiadas sobre essas doutrinas, veja Variations of Popery, de Edgar, assim como os livros de história em geral.}

As Indulgências

O sistema das indulgências papais, que gradualmente se elevou a tais alturas e, finalmente, produziu seus efeitos, requer uma atenção cuidadosa, embora breve. Sempre foi a prática do gênio maligno de Roma introduzir de maneira sutil os maiores males que caracterizam sua história. Imperceptivelmente, a fina ponta da cunha é introduzida pelo espírito que governa sua política, e quando introduzida, toda a máquina do sistema romano é empregado para alcançar o fim pretendido. Por um aparente respeito à memória dos mortos, e uma consideração pelos sinais de sua afeição, a adoração aos santos e às relíquias foi introduzida, o que resultou na maior e mais evidente idolatria. E assim é também com todo o sistema de indulgências. A corrupção eclesiástica, uma vez admitida, foi estabelecida, aumentada, e espalhada de era em era até que toda a Cristandade estivesse tomada por sua iniquidade, e o senso moral e religioso de humanidade, tão insultado pelo infame tráfico de indulgências, resultou em um protesto erguido pela Reforma logo em seguida. 

A principal característica da nova doutrina de indulgências foi a descoberta de um suposto recurso ou tesouro na igreja, que podia ser usado para o perdão dos pecados, sem a necessidade de passar por um doloroso e humilhante processo de penitência, e sem a observância de sacramentos. Alegava-se a existência de um tesouro infinito de mérito em Cristo, na Virgem Maria e nos outros santos, que era mais do que o suficiente para eles próprios. Embora fosse dito que o próprio Salvador fosse a fonte de todos os méritos, muito também se falava sobre os méritos dos santos, e disto surgiu a nova ideia das obras superrogatórias. Pelas obras de penitência dos santos, e por seus sofrimentos não merecidos neste mundo, eles tinham feito mais do que era necessário para sua própria salvação, e por essas obras superrogatórias, juntamente com os superabundantes méritos de Cristo, formou-se um tesouro para o qual o papa possuía as chaves, às quais ele podia aplicar para o alívio dos ofensores, tanto nesta vida quanto no purgatório.  O poder das chaves foi, então, usado como substituição pela eficácia dos sacramentos.

Esta é a teoria papista das indulgências, mas seu caráter anti-bíblico trai seu autor. É claramente anti-bíblico, pois promete remissão de pecados sem arrependimento; e, mesmo em solo católico, sua perversidade é evidente. A indulgência supera o exercício penitencial do indivíduo; dissolve toda a disciplina da igreja; oferece por uma soma de dinheiro o perdão de todos os pecados cometidos, e uma licença por pecados a serem cometidos; dá uma garantia por escrito de libertação das dores do purgatório, e do próprio inferno. Encoraja a mais flagrante iniquidade com a profissão do Cristianismo; de fato, por esse dogma, a moralidade foi cortada da religião. Será que a depravação papal poderia ir mais longe que isso? Homens encorajados a soltar as rédeas dos vícios, a seguir seus próprios maus caminhos, e então simplesmente comprar o perdão eterno, sem quaisquer condições de arrependimento, por uma quantia de dinheiro! Que dia de acerto de contas espera a Jezabel de Roma, e a todos os filhos de sua sedução! Que o Senhor preserve Seu povo de suas seduções agora!

A história coloca a primeira indulgência formal emitida pela igreja católica de Roma na primeira parte do século XI, mas o sistema foi colocado em pleno funcionamento pelas cruzadas. O papa Urbano II, em Clermont, no ano de 1095, proclamou uma indulgência plenária e remissão dos pecados para todos os que participassem da guerra santa. Tornou-se costume, após esse período, conceder indulgências de menor grau. A absolvição de cem anos ou mais de purgatório podia ser adquirida de um bispo ao reparar ou ampliar os edifícios da igreja, ao construir uma ponte ou pela colocação de uma cerca ao redor de um bosque; e também por meio de deveres religiosos extras, como recitar um certo número de orações diante de um determinado altar, peregrinações a relíquias, e coisas parecidas. O papa, de acordo com a teoria do Vaticano, é o dispenseiro soberano do tesouro da igreja, e esse poder ele dispensa aos bispos em suas respectivas dioceses. O papa podia conceder indulgências a todos os cristãos; o poder do bispo é limitado a sua própria diocese.

domingo, 29 de julho de 2018

Os Usos do Purgatório

Historicamente, o uso que foi feito dessa superstição satânica pelo sacerdócio católico foi o de agir sobre o medo e as afeições da humanidade. O que a jovem senhora mencionada na seção anterior, ou seus queridos pais, não dariam para se salvarem de seus 500 anos de tormento naquela terrível morada? Rezar para que as almas saiam do purgatório, pelas Missas feitas em seu favor, tornou-se uma fonte de tesouro incalculável para a igreja. Com um homem rico moribundo, que não podia levar consigo sua riqueza e que temia os tormentos do purgatório, o padre podia fazer tudo nos seus próprios termos. Além disso, a partir dessa superstição, surgiu o escandaloso comércio de indulgências papais para mitigar as dores da passagem intermediária.

Mas há ainda um outro ponto de iniquidade conectado a esse dogma, que nos faz admirar que o coração do homem ou de Satanás tenha sido capaz de conceber: a autoridade do padre sobre sua vítima após estar morto e enterrado. Ele faz a alma que parte acreditar que ainda estará dependente de sua influência, sua intervenção; de que ele tem a chave do purgatório, e que sua condenação depende da palavra vinda dos lábios do padre. Certamente estas são as profundezas de Satanás -- trememos ao buscarmos perscrutá-las. Mas todas não passam de mentiras, e é a mais terrível blasfêmia para qualquer homem dizer que as chaves do céu, do inferno e do purgatório lhe foram confiadas.

"Não temas", disse o bendito Senhor a João, "tenho as chaves da morte e do inferno [hades]". Somente Ele tem poder e autoridade sobre o mundo invisível, e as Escrituras deixam totalmente claro para a fé que Deus "nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor". Aqui é ensinado claramente que o crente não está apenas perdoado e salvo, como também está agora liberto de todo o reino das trevas, e agora transportado ao reino do querido Filho de Deus. A linguagem é inconfundível: "quem nos tirou" -- não quem tirará, ou quem pode tirar -- mas "quem nos tirou", é verdadeiro agora, e a verdade deve ser desfrutada agora. Não há poder senão nas mãos do Senhor ressurreto, e nenhum purgatório* além de Seu precioso sangue, a menos que seja também o lavar da água pela Palavra. "Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais branco do que a neve" (Apocalipse 1:17,18; Colossenses 1:13; Salmos 51:7; João 13, 15; 1 João 5)

{* N. do T.: Purgatório tem o sentido de purificação, o que na verdade foi feito pelo sangue de Jesus.}

As igrejas gregas abissínias e as igrejas armênias rejeitam a doutrina de nome "purgatório", mas a mantém em sua essência. Orações e missas são feitas para os mortos, e incenso é queimado sobre as sepulturas dos mortos.*

{* Faiths of the World, de Gardner, p. 721. Milman, vol. 6, p. 428.}

domingo, 17 de julho de 2016

A Controvérsia Ariana

Mal tinha a paz exterior da igreja sido assegurada pelo decreto de Milão e ela foi distraída por dissensões internas. Pouco após o rompimento da cisma donatista na província da África, a controvérsia ariana, que tinha sua origem no Oriente, se estendeu a todas as partes do mundo. Já falamos dessas raivosas contendas como o mais amargo fruto da união antibíblica da igreja com o Estado. Não que elas necessariamente surgiram a partir dessa união, mas pelo fato de Constantino ter se tornado o chefe declarado e ostensivo da igreja, e por ele presidir em suas assembleias solenes, questões de doutrina e prática produziam uma agitação por todo o corpo da igreja, e não apenas na igreja como também exerciam uma poderosa influência política sobre os assuntos do mundo. Sendo o império então cristão, ao menos em princípio, tais questões eram de interesse e importância mundial. A partir daí a controvérsia ariana foi a primeira que rasgou todo o corpo de cristãos, e dispôs em quase todas as partes do mundo os partidos hostis em implacável oposição.

Heresias de natureza semelhante à de Ário tinham aparecido na igreja antes de sua ligação com o Estado, mas sua influência raramente se estendia além da região e do período de seu nascimento. Após alguns debates ruidosos e palavras raivosas, a heresia caía em desonra, e era logo quase esquecida. Mas foi muito diferente com a controvérsia ariana. Constantino, que se sentava no trono do mundo e assumia ser a única cabeça da igreja, interpôs sua autoridade de modo a prescrever e definir os princípios precisos da religião que ele tinha estabelecido. A Palavra de Deus, a vontade de Cristo, o lugar do Espírito, as relações celestiais da igreja, foram todas perdidas de vista -- ou melhor, nunca tinham sido vistas pelo imperador. Ele tinha provavelmente ouvido algo sobre as numerosas opiniões pelas quais os cristãos se dividiam; mas ele viu, ao mesmo tempo, que eles eram uma comunidade que tinha continuado a avançar em vigor e magnitude; que eles eram realmente unidos em meio às heresias, e fortes sob a mão de ferro da opressão. Mas ele não podia ver, nem podia entender, que então, apesar de seu fracasso, ela estava olhando para o Senhor e inclinando-se apenas nEle neste mundo. Qualquer outra mão estava contra ela e era guiada pelo trabalho e pelo poder do inimigo. Mas, declaradamente, ela estava prosseguindo através do deserto, encostada em seu Amado, e nenhuma arma forjada contra ela podia prosperar.

O imperador, sendo completamente ignorante das relações celestiais da igreja, pode ter pensado que, como ele podia dar-lhe completa proteção da opressão externa, ele podia também, pela sua presença e poder, dar-lhe paz e descanso das dissensões internas. Mas ele mal sabia que, não obstante estas estarem muito além de seu alcance, a própria segurança, facilidade mundana e indulgência que ele tão generosamente concedia ao clero eram os principais meios que fomentavam discórdias e inflamavam as paixões dos disputantes. E assim aconteceu que ele era continuamente atacado pelas reclamações e acusações mútuas de seus novos amigos.

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