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domingo, 29 de julho de 2018

O Purgatório

Conta-se que Agostinho, bispo de Hipona, foi o primeiro a sugerir a doutrina de um estado intermediário, mas suas opiniões são vagas e incertas. A ideia não foi formalmente recebida como um dogma da igreja de Roma até a época de Gregório, o Grande, no ano de 600. Ele tem a reputação de ter sido o descobridor do fogo do purgatório. Ao discutir a questão sobre o estado da alma após a morte, ele distintamente afirmou: "Devemos crer que, para algumas transgressões leves, existe um fogo purgatório antes do dia do juízo". Mas, como o crescimento dessa doutrina por centenas de anos é extremamente difícil de traçar, nos referiremos de uma vez ao Concílio de Trento, a grande e indiscutível autoridade sobre o assunto.

"Existe um purgatório", diz o concílio, "e as almas ali detidas são auxiliadas pelos sufrágios dos fiéis, mas especialmente pelo sacrifício aceitável da Missa. Este santo concílio ordena a todos os bispos que se esforcem diligentemente para que a sã doutrina no que diz respeito ao purgatório, entregue a nós pelos veneráveis pais e concílios sagrados, seja crida, mantida, ensinada, e pregada em todo o lugar pelos fiéis a Cristo... No fogo do purgatório, as almas dos homens justos são purificadas por uma punição temporária, para que sejam admitidos a sua morada eterna, na qual não entra nada que contamina... O sacrifício da Missa é oferecido por aqueles que estão mortos em Criso, mas não inteiramente expurgados."*

{* Council of Trent, de Paul, p. 750. Veja também, para detalhes, End of Controversy, de Milner, Carta 43.}

Os escritores católicos romanos tentam suportar esse terrível dogma a partir de várias passagens das Escrituras, mas principalmente dos apócrifos e da tradição. Com os dois últimos nada temos a tratar. Qualquer coisa que agrade aos homens pode ser provado com base em tais fontes incertas; mas nada pode ser mais ousado, e ao mesmo tempo mais fútil, do que a má aplicação das Escrituras sobre esse assunto. Veja dois textos que eles utilizam: 1. "Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil" (Mateus 5:26). Aqui, os católicos são inconsistentes com eles mesmos, pois se os pecados veniais* são perdoados no purgatório, a passagem fala do último centavo sendo pago. Certamente não podemos falar de um dívida sendo perdoada e, ao mesmo tempo, tendo que ser paga pelo indivíduo até o último centavo**. 2. "Vivificado pelo Espírito, no qual [claramente, 'em cujo Espírito'] também foi, e pregou aos espíritos em prisão" (1 Pedro 3:18,19). Esta passagem não pode fazer referência à suposta prisão do purgatório, pois de acordo com a própria doutrina católica, aqueles que são culpados de pecado mortal não vão para lá, o que é estranhamente inconsistente, visto que os antediluvianos (que são os espíritos em prisão mencionados; ver versículo 20) eram "incrédulos", culpados do pecado mortal. E, como vimos nos extratos citados anteriormente, o purgatório seria apenas para "aqueles que estão mortos em Cristo, mas não inteiramente expurgados". A passagem também ensina que Cristo não pregou em pessoa. Ele pregou pelo Espírito por meio de Noé aos antediluvianos que estão agora em prisão. Os alegados textos estão tão pouco em favor do purgatório, que católicos romanos mais pensativos se esforçam em suportar o dogma apenas pela autoridade da igreja.

{* N. do T.: Pecado venial, de acordo com o catolicismo romano, é um pecado menor que não resulta em uma separação completa de Deus e na condenação eterna no inferno (Fonte: Wikipedia). }

{** N. do T.: Além disso, devemos nos lembrar que todos os nossos pecados foram pagos na cruz, o que acaba com qualquer ideia de um salvo ter ainda que pagar por eles. Ver Romanos 8:1, João 5:24, 1 Pedro 2:24, Apocalipse 5:9, Isaías 53:6,11,12, etc.}

Há muita imprecisão nos escritores romanistas, e até mesmo no Concílio de Trento, quanto a onde está o purgatório e o que ele realmente é. A opinião geral parece ser de que ele estaria debaixo da terra e adjacente ao inferno -- que seria um lugar intermediário entre o céu e o inferno, no qual as almas passam através do fogo da purificação antes de entrarem no céu.

Mas como o fogo material pode purificar um espírito, os escritores católicos têm sido cuidadosos em não definir. Aqueles no estado intermediário -- diz o Concílio de Florença de 1439 -- estão em um lugar de tormento, "mas se é fogo, ou tempestade, ou qualquer outra coisa, sobre isso não contendemos". Ainda assim, parece que a voz geral é de que o purgatório é uma prisão, na qual a alma é detida e torturada assim como purificada, e que, não por angústia ou remorso mental, mas por um fogo real, ou pelo que o fogo produz. E ainda assim tão variadas são as opiniões de seus melhores teólogos, que alguns já representaram os tormentos como uma repentina transição do calor extremo ao frio extremo. Mas as especulações vagas de Agostinho, e os aventurosos dogmas de Gregório, foram logo "autenticados" por sonhos e visões. Na idade das trevas, houve muitos viajantes para aquelas regiões subterrâneas, que inspecionaram e relataram os segredos do purgatório. Tomemos um dos relatos como exemplo, o mais suave e menos ofensivo que podemos escolher.

domingo, 4 de junho de 2017

Reflexões sobre o Espírito Missionário de Roma

Temos visto, ao traçar a boa obra do evangelho em diferentes países, a atividade, energia e o caráter agressivo da igreja de Roma. E embora houvesse uma terrível quantidade de tradição humana e muitas tolices absurdas misturadas ao "evangelho de Deus", ainda assim o nome de Jesus Cristo era proclamado, e a salvação por meio dEle, embora, infelizmente, não por Ele somente. No entanto, Deus em graça podia usar esse bendito nome e dar os olhos de fé para ver sua preciosidade em meio ao lixo da superstição romana. O evangelho de Cristo pleno e claro tinha se perdido completamente. Não era mais Cristo apenas, mas Cristo e mil outras coisas. Eles eram eloquentes em pregar boas obras, mas, ao mesmo tempo, obscureciam a fé da qual toda a boa obra deveria emanar. "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo"; "Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro"; "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei"; "O que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora". (João 1:29, Isaías 45:22, Mateus 11:28, João 6:37). Textos como esses dão uma ideia de um evangelho que traz almas para o Próprio Cristo, pela fé somente; não a Cristo e aos ritos e cerimônias inumeráveis, antes da alma poder ser salva. Ser convertido ao Próprio Cristo é a melhor de todas as conversões. Descansar sobre a infalível eficácia do sangue de Cristo é salvação certa e segura para a alma, e perfeita paz com Deus.

Havia, sem dúvida, muitos homens bons e sinceros no campo missionário, cujo estado espiritual poderia ter sido muito melhor do que sua posição eclesiástica, e a quem Deus poderia ter usado para ganhar almas preciosas para Si. Mas não pode haver dúvida de que o espírito dos missionários de Roma eram mais de proselitismo para a igreja de Roma do que para a fé e obediência a Cristo. O batismo e a implícita e inquestionável sujeição à autoridade do papa era a exigência feita a todos os convertidos, fossem governadores ou súditos. Não buscava-se a fé em Cristo. A ambição da Sé Romana era abraçar o mundo todo e, no que diz respeito à Europa, toda confissão pública de cristianismo que professasse independência da dominação romana deveria ser imediatamente suprimida, e totalmente destruída.

Exatamente nessa época, um monge de origem humilde, mas do mais extraordinário caráter, apareceu em cena. Nele foram cumpridos todos os sonhos de domínio da mente humana. Até então a missão do papado nunca tinha sido totalmente cumprida. Mas como nunca houve um papa assim até então, e nunca mais houve um assim desde então, devemos esboçar brevemente sua incomparável carreira.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Os Escritos dos Pais e as Escrituras Sagradas

Mas, embora Inácio possa ser digno de honra como um homem santo de Deus, e como um nobre mártir de Cristo, devemos nos lembrar que suas cartas não são a Palavra de Deus. Elas podem nos interessar e nos instruir, mas não podem comandar nossa fé. Esta pode apenas se firmar no sólido fundamento da Palavra de Deus, e nunca no frágil solo da tradição. "As Escrituras permanecem à parte", disse alguém, "em majestoso isolamento, preeminente em instrução, e separado por uma excelência inigualável de tudo o que foi escrito pelos pais apostólicos: de modo que esses que seguiram de perto os apóstolos nos deixaram escritos que são mais para nossa advertência do que para nossa edificação". Ao mesmo tempo, esses primeiros escritores cristãos têm todo direito ao respeito e veneração com os quais a antiguidade os investiu. Eles eram contemporâneos dos apóstolos, eles desfrutaram do privilégio de ouvir seus ensinos, compartilhavam com eles os labores do evangelho, e conversaram livremente com eles no dia a dia. Paulo fala de um Clemente - um que é conhecido como pai apostólico - como um de seus "cooperadores, cujos nomes estão no livro da vida", e o que ele diz de Timóteo pode ter sido pelo menos em parte verdade para muitos outros: "Tu, porém, tens seguido a minha doutrina, modo de viver, intenção, fé, longanimidade, amor, paciência, perseguições e aflições." (Filipenses 4:3, 2 Timóteo 3:10,11)

Desses que tinham tão alto privilégio deveríamos naturalmente esperar a sã doutrina apostólica - uma fiel repetição das verdades e instruções que foram entregues a eles pelos apóstolos inspirados. Mas, infelizmente, este não é o caso! Inácio foi um dos primeiros pais apostólicos. Ele se tornou um bispo de Antioquia, a metrópole da Síria, por volta do ano 70. Ele era um discípulo do apóstolo João, e morreu apenas cerca de 7 anos após a morte de João. Certamente de alguém assim poderíamos esperar uma estreita semelhança com os ensinos do apóstolo, mas isso não acontece. As afirmações definitivas e absolutas das Escrituras, vindas diretamente de Deus para a alma, são muito diferentes dos escritos de Inácio e de todos os Pais. Nosso único guia seguro e certo é a Palavra de Deus. Quão conveniente, então, é a palavra na Primeira Epístola de João: "Portanto, o que desde o princípio ouvistes permaneça em vós. Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, também permanecereis no Filho e no Pai." (1 João 2:24). Esta passagem evidentemente se refere mais especialmente à pessoa de Cristo, e consequentemente às Escrituras do Novo Testamento, nas quais temos a revelação do Pai no Filho, feito conhecido a nós pelo Espírito Santo. Nas Epístolas de Paulo, temos mais plenamente revelados os conselhos de Deus relacionados à igreja, a Israel e aos gentios, de modo que podemos ir mais longe do que "os Pais" para encontrar o verdadeiro fundamento da fé; devemos voltar àquilo que existia desde "O Princípio". Nada tem autoridade divina direta para o crente além daquilo que era "desde o princípio". Isto por si só assegura que continuemos "no Filho e no Pai".

As epístolas de Inácio têm sido muito estimadas pelos episcopais como a principal autoridade no sistema da igreja inglesa {*N. do T.: e certamente para muitas outras seitas cristãs}, e essa é a nossa desculpa para se referir tanto a este "pai" {*N. do T.: O escritor deste livro vivia na Inglaterra no século XIX}. Quase todos os fundamentos do anglicanismo em favor do episcopado vêm de suas cartas. Ele bate tanto a tecla na submissão à autoridade episcopal, e tanto a exalta, que muitos têm sido induzidos a questionar completamente sua autenticidade, e outros têm suposto que essas cartas devem ter sido bastante alteradas para servir aos interesses do clero. Mas quanto a essas controvérsias não temos nada a tratar em nosso livro.*

{* Veja As Genuínas Epístolas de Clemente, Policarpo, Inácio e Barnabé, por Ab. Wake, 6ª ed. Bagster.}

Vamos agora continuar nossa história a partir da morte de Trajano no ano 117, e olhar brevemente para a condição da igreja durante os reinados de Adriano e dos Antoninos.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Capítulo 4: Os Primeiros Missionários da Cruz

Em vez de passar por cima dos capítulos restantes de Atos, achamos que pode ser mais interessante e igualmente instrutivo para nossos leitores considerá-los em conexão com a história dos apóstolos, especialmente com a história dos dois grandes apóstolos. O livro de Atos é quase inteiramente ocupado com os atos de Pedro e de Paulo, embora, é claro, sob a direção do Espírito Santo: o primeiro como o grande apóstolo dos judeus, e o segundo como o grande apóstolo dos gentios. Mas seria também de interesse abraçar a presente oportunidade para observar brevemente os primeiros companheiros e missionários pessoalmente escolhidos por nosso bendito Senhor - os doze apóstolos.

Mas, antes de tentarmos um esboço dessas interessantes vidas, parece bem declarar qual objetivo temos em vista ao fazê-lo. Estamos saindo um pouco do curso que estávamos seguindo. Em nenhuma das publicações sobre a história da igreja que conhecemos a vida dos apóstolos é apresentada de forma ordenada, e é estranho que os grandes fundadores da igreja não achem seus lugares em sua história. 

Ao mesmo tempo, no que diz respeito aos apóstolos, temos que ter em mente que, além da narrativa sagrada, há bem pouco material sobre o qual possamos nos apoiar. O tradicional e o bíblico, o certo e o incerto, são quase desamparadamente misturados nos escritos dos Pais da Igreja. Cada raio de luz histórico distinto é de grande valor, mas são somente as Escrituras que podemos tomar por totalmente corretas. Ainda assim, as poucas notas que temos ali espalhadas, de alguns dos apóstolos, quando reunidas, podem dar ao leitor uma ideia da pessoa e individualidade de cada um. Outros, também notamos, além dos apóstolos, aparecerão em conexão com eles, especialmente com Paulo. Assim nossos leitores terão, de maneira conveniente, um breve resumo de quase todos os nobres pregadores, professores, confessores e mártires do Senhor Jesus que são mencionados no Novo Testamento.

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