sábado, 10 de maio de 2025

A Controvérsia Sacramentária

Capítulo 37 - A Controvérsia Sacramentária (1529 d.C.)

A doutrina da presença real de Cristo na Eucaristia fora estabelecida na Igreja Romana desde o quarto Concílio de Latrão, no ano de 1215. Por trezentos anos, a missa e a transubstanciação constituíram os principais baluartes de Roma, bem como sua maior blasfêmia. A ideia da presença corpórea de Cristo na santa ceia lançava sobre esta uma auréola de importância sagrada, despertava a imaginação do povo e nela enraizava profundamente suas afeições. Foi a origem de muitas cerimônias e superstições, fonte de imensa riqueza e domínio para o clero, e atribuía-se ao pão consagrado a realização dos mais estupendos milagres, tanto entre os vivos quanto entre os mortos. Assim, tornou-se a pedra angular do edifício papal.

Lutero, como sacerdote e monge, cria firmemente neste mistério de iniquidade, e jamais, ao longo de toda a sua carreira, dele se libertou inteiramente. Pecou contra Deus e contra sua própria consciência ao aceitar a ordenação sacerdotal, e desde então parece ter recaído sobre sua mente uma cegueira judicial quanto ao suposto poder do sacerdote sobre os elementos. A transubstanciação — ou seja, a real conversão do pão e do vinho no verdadeiro corpo e sangue de Cristo pela consagração sacerdotal — era então, como ainda o é, uma doutrina reconhecida pela Igreja de Roma. Aqueles que disso duvidassem eram denunciados como infiéis.

Como reformador, Lutero abandonou o termo “transubstanciação” e adotou, se é que isso seja possível, outro ainda mais inexplicável: “consubstanciação”. Renunciou à ideia papal de que, após a consagração, o pão e o vinho deixavam de existir, sendo convertidos na substância material do corpo e sangue de Cristo. Sua estranha concepção era que o pão e o vinho permaneciam exatamente como eram — pão verdadeiro e vinho verdadeiro — mas que, juntamente com eles, encontrava-se também presente a substância corpórea do corpo humano de Cristo. Nenhuma invenção humana — podemos afirmar sem receio — jamais igualou esta doutrina papista em absurdidade, inconsistência e contradições irreconciliáveis. “As mãos do sacerdote”, disse o Pontífice Urbano num grande Concílio romano, “são elevadas a uma dignidade não concedida sequer aos anjos: a de criar Deus, o Criador de todas as coisas, e de oferecê-Lo em sacrifício para a salvação de todo o mundo. Tal prerrogativa, ao elevar o papa acima dos anjos, torna execrável qualquer submissão pontifícia aos reis.” A tudo isso, o sagrado sínodo respondeu com a máxima unanimidade: Amém. Com efeito, este parece ser o último teste da credulidade humana, e a consumação da blasfêmia humana.*

{* Para a autoridade histórica sobre essa blasfêmia inacreditável, consulte o livro Variations of Popery, p. 384, de Samuel Edgar.}

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