domingo, 8 de setembro de 2024

A Epístola à Igreja em Sardes - Parte 5

Ao renunciar aos erros do papado em relação ao poder da igreja, os reformadores foram levados a um erro oposto, ao atribuir demasiada importância à opinião individual. No princípio católico, a igreja faz o cristão; no princípio protestante, os cristãos fazem a igreja; e, consequentemente, na prática, Cristo perde Seu lugar correto em ambos. Um homem, diria o sacerdote, só pode receber benefício para sua alma por meio de sua conexão presente com a Santa Madre Igreja; no momento em que ele deixa de pertencer a ela, está perdido, sendo os sacramentos sagrados os únicos meios de perdão e salvação. Ser expulso da igreja é como ser lançado no inferno; claro, se houver arrependimento, ou alguma base para a absolvição sacerdotal, a alma pode ser libertada de seu destino terrível e restaurada ao favor da igreja, o qual é a vida eterna. Mas o lugar do homem no céu, na terra ou no inferno deve ser determinado e estabelecido pela igreja. Este é o grande princípio fundamental do catolicismo romano, e o que dá ao sacerdócio tal poder ilimitado sobre seus iludidos devotos. Mas esse tipo de influência não se restringe ao romanismo; ela prevalece, em maior ou menor medida, onde quer que o elemento sacerdotal seja reconhecido: e assim tem sido desde os primeiros dias dos pais da igreja.

Os resultados desse poder profano nas mãos do sacerdócio romano tornaram-se completamente intoleráveis para todas as classes da sociedade por volta do início do século XVI. Um protesto foi levantado; logo se espalhou por toda a Cristandade; recorreu-se à Bíblia como a autoridade suprema, e a justificação pela fé somente, sem as obras da lei, tornou-se o lema dos reformadores. O jugo opressor de Roma foi lançado fora. Esta foi a obra do Espírito de Deus, e a energia que realizou a Reforma foi inteiramente dEle. Um resultado dessa grande revolução, e o que a caracterizou, foi a transferência de poder e importância da igreja para o indivíduo. A ideia da igreja como a dispensadora de bênçãos foi rejeitada, e cada homem foi convocado a ler a Bíblia por si mesmo, examinar por si mesmo, crer por si mesmo, ser justificado por si mesmo, servir a Deus por si mesmo, assim como ele deve responder por si mesmo. Este foi o pensamento recém-nascido da Reforma — sempre correto, mas que havia sido negado por muito tempo pela usurpação do romanismo — a bênção individual primeiro, a formação da igreja depois, esta foi a nova ordem das coisas; mas, infelizmente, a verdadeira ideia da igreja de Deus foi então completamente perdida, e não foi recuperada até o século XIX, como veremos mais adiante, se o Senhor permitir.

Até então, os reformadores estavam certos. O Senhor edifica apenas pedras vivas sobre a fundação da rocha; mas, ao perder de vista o lugar e a obra próprios do Senhor na assembleia por meio do Espírito Santo, os homens começaram a se unir e a edificar igrejas, assim chamadas, segundo seus próprios pensamentos. Uma grande variedade de igrejas ou sociedades religiosas rapidamente surgiu em muitas partes da Cristandade; mas cada país realizou sua própria ideia de como a igreja deveria ser formada e governada: alguns achavam que o poder da igreja deveria ser investido nas mãos do magistrado civil; outros achavam que a igreja deveria reter esse poder em si mesma; e essa diferença de opinião resultou nas corporações nacionais e nas inúmeras dissidências que ainda vemos ao nosso redor. Mas a mente de Cristo quanto ao caráter e à constituição de Sua igreja, tão amplamente ensinada nas epístolas, parece ter sido completamente ignorada pelos líderes da Reforma. A fé individual como o grande princípio salvador para a alma foi enfatizada em toda parte, graças ao Senhor; e as almas dos homens foram salvas, e Deus foi assim glorificado; mas, isso garantido, os homens começaram a se unir e criar igrejas para satisfazer suas próprias vontades. Nada é mais evidente para o estudante da história da igreja, com seu Novo Testamento à frente, do que esse doloroso fato.

Por exemplo, lemos em Efésios 4: "Há um só corpo e um só espírito", mas, segundo o protestantismo, deveríamos ler: "Há muitos corpos e um só espírito." Mas não pode haver mais de um corpo que seja de constituição divina. Além disso, lemos: "Procurando guardar a unidade do Espírito." Isso claramente significa a unidade formada pelo Espírito — o Espírito Santo sendo o poder formativo da igreja, que é o corpo de Cristo. Os cristãos são os indivíduos que o Espírito Santo agrupa formando uma perfeita unidade. Esta é a que devemos nos esforçar em "guardar", não em criar uma nova — devemos nos esforçar em manter, exibir e realizar na prática essa unidade já formada pelo Espírito. "Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também. Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito." (1 Coríntios 12:12-13).*

{*Veja este assunto tratado plenamente em dois comentários, sobre 1 Coríntios 12 e 14, por W. Kelly}

domingo, 25 de agosto de 2024

A Epístola à Igreja em Sardes - Parte 4

No antigo sistema católico, a salvação era uma questão, não apenas de fé em Cristo Jesus, mas de privilégio eclesiástico. Toda bênção dependia de se haver uma conexão com a igreja de Roma. Não havia perdão de pecados, nem paz com Deus, nem vida eterna em Cristo, nem salvação para a alma, fora de sua comunhão. Foi este dogma blasfemo e ousado que lhe deu tal poder enorme durante a Idade das Trevas, e que fez de suas excomunhões as punições mais insuportáveis que poderiam ser impostas a pessoas ou nações. Quando a igreja proferia sua voz de censura, a vítima de seus trovões não conhecia poder de resistência. Não havia um homem, do monarca mais altivo ao súdito mais humilde, que não tremesse onde o raio caísse. Guerra, fome, pestilência, eram toleráveis, sendo calamidades temporais; mas a maldição do papa arruinava a alma para sempre, e a condenava a um inferno sem fim. Não importava quão genuína fosse a fé e a piedade de um homem, se ele não pertencia à santa igreja católica e não desfrutava do benefício de seus sacramentos, a salvação era impossível. Essa doutrina temerosa, que então era crida, fez da igreja tudo — mestre, legisladora, salvadora — e a comunhão com ela o único caminho para o céu, qualquer que fosse o caráter individual. Ela também reivindicava o privilégio de dizer quem deveria ser chamado santo e quem não deveria; quem iria diretamente para o céu após a morte, e quem iria para o purgatório, e por quanto tempo deveriam ser retidos lá. O lugar e a importância de cada homem, tanto no tempo quanto na eternidade, só podiam ser decididos por aquela que se autodenominava a Igreja, a esposa de Cristo.

Mas esse mal monstruoso, que ficou oculto por séculos nas trevas mais congeniais, foi trazido à luz na Reforma. A massa amadurecida de corrupção não podia mais escapar da execração da humanidade. Muitos se levantaram em rebelião contra ela, declararam que todo o sistema do papado era a mentira de Satanás, e que o protesto de Lutero era a verdade de Deus. Mas os reformadores, em vez de confiarem em Cristo, que se apresenta à fé como superior a todas as circunstâncias, e fazendo d'Ele seu refúgio e força, caíram no laço de olhar para o magistrado civil como um braço protetor contra as perseguições de Roma, e como aquele que deveria regular os movimentos das sete estrelas. A autoridade eclesiástica — a nomeação de ministros — passou para as mãos dos poderes deste mundo. Este foi o fracasso do Protestantismo desde o início. Vejamos o testemunho de outro autor:

"Assim, o Protestantismo sempre este errado, eclesiasticamente, porque olhava para o governante civil como aquele em cujas mãos estava investida a autoridade eclesiástica; de modo que, se a igreja tinha sido, sob o papado, a governante do mundo, o mundo agora se tornou, no Protestantismo, o governante da igreja... Sardes descreve o que se seguiu à Reforma, quando o brilho e o fervor da verdade e o primeiro influxo de bênçãos haviam passado, e um formalismo frio havia se instalado... Em terras protestantes, sempre houve uma medida de liberdade de consciência. Mas o objetivo de Deus não é apenas libertar da maldade grosseira ou de meros detalhes, mas que a alma esteja correta para com Deus, e que permita ao Senhor ter Seu caminho e glória — liberdade para o Senhor trabalhar pelo Espírito Santo de acordo com Sua vontade. Quando Ele é colocado em Seu devido lugar, há o fruto abençoado disso em amor e liberdade santa. Não é a liberdade humana derivada do poder do mundo que queremos — embora Deus nos proíba de falar contra os poderes constituídos na própria esfera de atuação deles — mas a liberdade do Espírito Santo. É o pecado dos cristãos ter colocado os poderes constituídos em uma posição falsa. O Senhor Jesus toca a raiz de toda a questão na forma como Se apresenta à igreja de Sardes. Quer seja poder espiritual ou a autoridade externa que dele flui, o Senhor reivindica tudo como pertencente a Si... Quando há fé para olhar para Ele em Seu lugar como Cabeça da igreja, Ele certamente suprirá toda necessidade. Se Ele ouve o mais simples clamor de Seus cordeiros, não entraria Ele na necessidade mais profunda de Sua igreja, que sempre é Seu objeto mais amado? Ele assumiu Sua posição de Cabeça da igreja apenas na glória celestial, e Ele foi para lá não apenas para ser, mas para agir, como o Cabeça."*

{* Comentários sobre o Apocalipse - Sardes, por W. Kelly.}

A Epístola à Igreja em Sardes - Parte 3

Achamos quase desnecessário acrescentar, depois do que foi dito, que os títulos "estrela" e "anjo" não dão sanção à ideia de clericalismo ou ministros nomeados por homens. O sistema que prevaleceu desde a Reforma deixa uma porta larga para homens até mesmo não convertidos, desde que intelectuais. Mas como o sistema divino é diferente, como visto aqui! As "estrelas" têm um caráter de autoridade sob Cristo, e agem em Seu nome, que é o Cabeça do governo, e como "anjos" são representantes das igrejas, e as caracterizam aos olhos de Cristo. Que sublime imagem, podemos exclamar, de identificação moral com Cristo e com a igreja de Deus, esses títulos dão! E um mesmo homem era caracterizado por ambos. "As sete estrelas são os anjos das sete igrejas." Ele era a expressão de Cristo para a igreja em poder subordinado, e da igreja para Cristo em sua condição moral. Para ministros tão divinamente designados e divinamente qualificados, não poderia haver objeção em qualquer época ou em qualquer país. Por tais devemos nunca cessar de orar.

Agora que vimos, como cremos, a mente de Cristo quanto ao que Ele é em Si mesmo para Sua igreja em todas as eras e condições, estaremos mais aptos a compreender a posição das igrejas reformadas conforme prefiguradas pelo estado de coisas em Sardes.

A Epístola à Igreja em Sardes - Parte 2

As duas coisas — o espiritual e o eclesiástico — que vemos aqui unidas em Cristo, foram separadas pelos reformadores. Este foi o grande erro da Reforma. Eles nunca viram ou entenderam essa verdade. Em sua ansiedade para obter a completa libertação do poder ameaçador do papa, apoiado pelos príncipes católicos, os reformadores colocaram-se sob a proteção dos príncipes protestantes. Este foi seu fracasso; e desde a primeira Dieta de Espira em 1526, eles quase desapareceram do noticiário da história. Eles negligenciaram a grande verdade de que todo poder necessário para a igreja, tanto interior quanto exterior, espiritual e governamental, reside no Cabeça, e que nem a tirania de Roma, nem a fraqueza de alguns reformadores, enfraquecem o mínimo que seja essa bendita realidade. "Qualquer que seja o fracasso da igreja," diz alguém, "por mais que ela tenha se aliado ao mundo, isso permanece sempre verdadeiro, que a plena competência divina do Espírito Santo em seus vários atributos é sua porção, sob Aquele que é o Cabeça da igreja, que cuida, ama e vigia sobre ela."* Ele também tem as sete estrelas. Não é dito aqui como na mensagem a Éfeso, "Aquele que segura as sete estrelas em sua mão direita" (Ap 2:1, KJV), mas sim: "O que tem... as sete estrelas." Em Sardes, embora as estrelas não sejam vistas "em sua mão direita," o bendito Senhor não as entregou; isso Ele nunca poderia fazer, Ele ainda as tem debaixo de sua mão, podemos dizer, embora não nela. "Isto diz o que tem... as sete estrelas."

{* Comentários sobre as cartas às Sete Igrejas - J. N. Darby}

Mas pode ser necessário, para explicar as estrelas, antes de prosseguirmos, dizer algumas palavras.

"As sete estrelas são os anjos das sete igrejas." (Ap 1:20) Em toda a Escritura, "estrelas" simbolizam poder subordinado, assim como o sol simboliza poder supremo; e os "anjos" dão a ideia de representação. "E diziam: É o seu anjo", ou o representante de Pedro, que acreditavam estar na prisão; e certamente o anjo com quem Jacó lutou era o anjo de Jeová, pois Jacó chamou o lugar de "a face de Deus". (Atos 12; Gênesis 32) A instrução, então, que colhemos do significado dessas duas palavras, é perfeitamente clara e de suma importância; ou seja, que o anjo da igreja deveria ser a demonstração de poder espiritual, representando Cristo na terra. A responsabilidade da igreja professa é assim colocada sob o ponto de vista mais solene. Qualquer que seja a condição das coisas na igreja professa, o Senhor Jesus é aquele que tem os sete Espíritos de Deus, e que tem as sete estrelas; ou, em outras palavras, todo o poder do Espírito e toda a autoridade eclesiástica. Isso é o que Cristo é em sua própria plenitude de bênçãos para a igreja e também para o cristão individual; e certamente deveríamos ser uma justa expressão d'Ele, que é nossa vida, nossa sabedoria e nosso poder neste mundo. Que possamos ser mantidos mais no espírito de obediência e dependência — mais perto d'Ele, em sua mão direita.

A Epístola à Igreja em Sardes - Parte 1

(Veja antes a introdução ao estudo da epístola à igreja em Sardes aqui)

Como de costume nessas epístolas, o caráter que o Senhor assume é divinamente adequado à condição daqueles a quem Ele está se dirigindo. "Isto diz o que tem os sete espíritos de Deus, e as sete estrelas." Aqui o Senhor se apresenta como possuindo, para a fé, toda a plenitude do Espírito Santo, e toda autoridade no governo, sendo sete o símbolo de perfeição. E essa plenitude de bênção espiritual que está em Cristo e à sua disposição permanece para sempre inalterada pelo fracasso ou ruína externa da igreja, de modo que tanto o corpo corporativo quanto os cristãos individuais estão sem desculpa se buscarem ajuda em recursos meramente humanos.

Mas, infelizmente, esse foi o laço no qual os reformadores caíram. Foi isso o que aconteceu, e como ainda vemos ao nosso redor os efeitos desse erro, faremos bem em examiná-lo cuidadosamente.

A Epístola à Igreja em Sardes - Introdução

"E ao anjo da igreja que está em Sardes escreve: Isto diz o que tem os sete espíritos de Deus, e as sete estrelas: Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives, e estás morto. Sê vigilante, e confirma os restantes, que estavam para morrer; porque não achei as tuas obras perfeitas diante de Deus. Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, e guarda-o, e arrepende-te. E, se não vigiares, virei sobre ti como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei. Mas também tens em Sardes algumas poucas pessoas que não contaminaram suas vestes, e comigo andarão de branco; porquanto são dignas disso. O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas." (Apocalipse 3:1-6)

Já vimos o estado geral e as atitudes do papado durante a Idade Média: agora devemos contemplar um período inteiramente novo na história da igreja e uma nova ordem de coisas como resultado da grande Reforma. Muitas das características morais dos períodos anteriores, sem dúvida, existem em Sardes, mas seu caráter é suficientemente distinto para marcá-lo como uma nova época na história eclesiástica e civil.

As quatro primeiras igrejas do Apocalipse, que já examinamos, descrevem o estado das coisas antes da Reforma; as últimas três representam o aspecto geral do corpo professante após os dias de Lutero. Mas devemos ter cuidado para distinguir entre aquela obra positiva do Espírito de Deus através dos reformadores e o formalismo sem vida que tão logo apareceu nas igrejas luteranas e reformadas, e que claramente corresponde à triste condição de Sardes. Mal haviam provado as bênçãos da libertação da opressão de Roma, quando caíram em um estado de servidão aos governos do mundo e, consequentemente, em um estado de morte espiritual. O Senhor Jesus faz uma referência tocante a esse estado de coisas em sua mensagem: "Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives, e estás morto." Esta é a condição do que é conhecido como Protestantismo após os dias dos primeiros reformadores. Os verdadeiros cristãos, é claro, não estão mortos, sua "vida está escondida com Cristo em Deus" (Cl 3:3), mas os sistemas nos quais se encontram, o Senhor declara aqui como sendo sem vitalidade. Um credo ortodoxo, aparência exterior de corretude, um nome de algo novo e cheio de vida, o espírito imundo do papado expulso, a casa varrida e adornada, caracterizam o Protestantismo; mas aquela terrível palavra dos lábios de Jesus — tu estás morto — carimba seu verdadeiro caráter como visto por Ele. Os diversos sistemas denominacionais do meio protestante e evangélico são descritos por aquela palavra fatal, "mortos" — a realidade viva se foi.

Mas um olhar para as diferentes partes da Epístola a Sardes nos permitirá compreender mais plenamente a avaliação do Senhor sobre os diversos sistemas protestantes que nos cercam.

sábado, 24 de agosto de 2024

O Protestantismo

Capítulo 36: Protestantismo: Alemanha (1526 d.C. - 1529 d.C.)

O Protesto dos Reformadores na Segunda Dieta de Espira, em 1529, marca uma época distinta na história da Reforma e da Igreja. Ao mesmo tempo, devemos lembrar que o Protestantismo não é uma novidade. A antiguidade da religião Católica Romana é uma das vãs ostentações de seus defensores. Dizem que o Papado é fruto da antiguidade, mas que o Protestantismo é filho de ontem — de Lutero e Calvino. O termo, podemos admitir, em sua acepção no século XVI, era uma novidade, mas não aquilo que ele representava. A verdade de Deus e sua autoridade sobre a consciência eram o que os Protestantes defendiam. Nesse sentido, o Protestantismo é tão antigo quanto o Cristianismo; e sempre existiu, embora sufocado, desde o tempo de Constantino até o século XVI, em meio a uma massa de erros e superstições sempre crescentes.

Durante esse período sombrio e desolador, encontramos muitos Protestantes. O despotismo e o erro reinando, a fidelidade e a verdade de Deus existindo, necessariamente trouxeram à tona os princípios do Protestantismo. Além dos Paulicianos, Nestorianos e Armênios no Oriente, temos nossos conhecidos amigos no Ocidente — os Valdenses, os Albigenses, os Wyclifitas e os Boêmios. Havia outros distinguidos por várias designações, como os Cátaros, Leonistas, etc.; mas aqueles eram os quatro grandes ramos do nobre tronco de testemunhas de Cristo e Seu evangelho; e, embora chamados por diferentes nomes, tinham uma origem comum e uma fé comum.

O Protestantismo com o qual agora tratamos, historicamente, data da Segunda Dieta de Espira, em 1529. Então ele deu seu primeiro suspiro. Mas em pouco tempo ele foi incorporado à constituição nacional da Alemanha, e estava armado em defesa, se necessário, da religião e da liberdade. Esse foi o Protestantismo em sua forma política, que, infelizmente, não refletia o Cristianismo, ou a Igreja de Deus, o corpo de Cristo.

Mas aqui devemos pausar por um momento e meditar sobre o discurso do Senhor à igreja em Sardes. O início da parte protestante da Cristandade é o momento certo para introduzi-lo. Lá temos a avaliação, não da caneta parcial ou preconceituosa do historiador, mas do próprio Senhor. Isso é profundamente solene, mas inefavelmente precioso. Que Ele nos conceda ver Sua própria mente sobre esse grande assunto!


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