O papa ficou furioso; tratou a história da doença de
Frederico como um pretexto vazio, e, sem esperar ou pedir explicações, lançou a
sentença de excomunhão contra o pária perjurado, Frederico da Suábia. Isso
aconteceu seis meses depois de sua elevação à Sé, e daquele dia em diante
Frederico encontrou pouco descanso neste mundo até tê-lo encontrado em seu
túmulo. Em vão enviou bispos para pleitear sua causa e testemunhas da realidade
de sua doença: a única resposta do papa foi: "Fingiste estar doente de
maneira fraudulenta e voltaste para seus palácios para desfrutar das delícias do
ócio e do luxo"; e ele renovou a excomunhão vez após vez, exigindo que
todos os bispos a publicassem.
Mas em vez de Frederico ser humilhado e levado perante
Gregório IX, assim como Henrique IV foi levado diante de Gregório VII em
Canossa, ele denuncia com ousadia todo o sistema do papado. "Seus
predecessores", escreveu ele a Gregório, "nunca cessaram de invadir
os direitos de reis e príncipes; eles os despojaram de suas terras e territórios
e os distribuíram entre os asseclas e favoritos da corte deles; eles ousaram
absolver súditos de seus juramentos de lealdade; eles até mesmo introduziram
confusão na administração da justiça, ao ligar e desligar conforme sua própria
vontade, e persistirem nisso, sem levar em conta as leis do país. A religião
era o pretexto para todas as ofensas ao governo civil; mas o verdadeiro motivo
era o desejo de subjugar governantes e súditos a uma tirania intolerável --
extorquir dinheiro, e enquanto conseguissem isso, pouco se importavam se toda a
estrutura da sociedade fosse abalada até seus alicerces." Muitas outras
coisas de natureza semelhante Frederico ousou dizer, o que mostra o estado
enfraquecido do poder papal. Ao mesmo tempo, ele foi um bom rei católico em
muitos aspectos, promulgando leis severas contra os hereges; mas ele queria
colocar o papa em seu próprio lugar para que governasse a igreja e o deixasse
governar o império. Ele estava disposto a aceitar que o papa fosse apenas o
chefe clerical, e que ele próprio deveria ser o secular.
{* Veja uma longa carta a Henrique III da Inglaterra,
escrita pelo imperador Frederico II, no qual ele censura justa e severamente a
igreja romana. História de Waddington, vol. 2, pág. 281.}
O grande crime de Frederico, na mente do fanático pontífice,
foi sua relutância em ir para a Terra Santa. Ele tinha preferido os interesses
de seu império às ordens da Santa Sé. Esta prudente decisão foi seu pecado
imperdoável. Ele não via sentido em sacrificar homens, dinheiro e navios sem
uma perspectiva razoável de sucesso. Ele estava decidido, porém, a cumprir seu
voto e provar sua sinceridade como soldado da cruz.
No final de junho de 1228, ele partiu novamente de Brindisi.
Muito da animosidade mortal contra os muçulmanos que animara os cruzados mais
antigos havia desaparecido. Frederico tinha relações amigáveis com o sultão;
de modo que, em vez de buscar, pelo fogo e pela espada, o extermínio dos
seguidores de Maomé, o imperador propôs um tratado de paz. O generoso Kamul entrou
no acordo, e um tratado foi celebrado em 18 de fevereiro de 1229, pelo qual
Jerusalém seria entregue aos cristãos, com exceção do templo, que, embora
estivesse aberto a eles, era para permanecer sob os cuidados dos muçulmanos.
Nazaré, Belém, Sidom e outros lugares deveriam ser deixados de lado. Com esse
tratado, os cruzados ganharam mais do que por muitos anos se aventuraram a
esperar.*
{* J.C.
Robertson, vol. 3, pág. 393.}
Mas essa vitória sem derramamento de sangue, obtida por um
monarca excomungado, exasperou o venerável pontífice ao frenesi. Ele denunciou,
em termos de furioso ressentimento, a presunção inédita de alguém banido da
igreja ousar colocar o pé profano no solo sagrado da paixão e ressurreição do
Salvador; e lamentou a poluição que a cidade e os lugares sagrados haviam
contraído com a presença do imperador. Mas Deus sobrepujou este evento notável,
em Sua providência, para revelar a toda a humanidade o vazio do suposto
entusiasmo de Gregório pela libertação da Terra Santa. Sua própria dignidade
papal e pessoal era mil vezes mais cara para ele do que o local do nascimento
de Cristo. Recorreu a todos os artifícios que sua malícia inventiva e de seus
conselheiros poderiam sugerir para conseguir o fracasso da expedição e a ruína
de Frederico. Seus frades minoritários foram enviados às ordens patriarcas e
militares de Jerusalém a fim de lançar todos os obstáculos possíveis no
caminho, com a intenção expressa de que Frederico encontrasse um túmulo ou uma
masmorra na Palestina. Uma trama foi feita por alguns templários para
surpreender Frederico em uma expedição para se banhar no Jordão; mas,
descoberta a trama, os templários ficaram a ver navios. O velho vingativo,
porém, ainda não havia terminado. Ele reuniu uma força considerável e, liderado
por João de Brienne, invadiu os domínios apulianos do imperador. As notícias
desses movimentos trouxeram de volta Frederico a toda a pressa do Oriente. Os
exércitos papais fugiram com sua aproximação, e todo o país foi rapidamente
recuperado pela influência de sua presença.
Mas a espada papal estava então desembainhada -- a espada da
luta e da discórdia implacáveis. Durante um longo reinado, Frederico, o maior
da casa da Suábia, "foi excomungado por não tomar a cruz, excomungado por
não partir para a Terra Santa, excomungado por partir para a Terra Santa,
excomungado na Terra Santa, excomungado por retornar, depois de ter feito uma
paz vantajosa com os muçulmanos", foi deposto de seu trono e seus súditos
absolvidos de seus juramentos de fidelidade. Mas sem tentar descrever mais a
fundo as aventuras militares do império, ou traçar a política infiel do papado,
apenas acrescentaremos que o miserável velho pontífice morreu aos 99 anos de
idade, em meio às hostilidades e de um ataque de furiosa agitação. Ele foi
sucedido por Inocêncio IV, que seguiu os passos de Inocêncio III e Gregório IX.
A causa de Frederico não ganhou em nada com a mudança de pontífices. Viveu até
o ano de 1250, quando, aos 56 anos de idade e no vigésimo sétimo ano de seu
reinado, morreu nos braços de seu filho, Manfredo, tendo confessado e recebido a
absolvição do fiel arcebispo de Palermo.
Com a morte de Frederico, poderíamos supor que as
hostilidades papais teriam pelo menos uma pausa; mas foi muito longe disso. O
ódio que o acompanhou até o túmulo, e muito além dele, perseguiu seus filhos,
até que se extinguiu no sangue do último rebento de sua casa sobre um palanque em
Nápoles. A guerra foi travada entre os chamados exércitos guelfos e gibelinos, isto
é, as facções papais e imperiais. O papa Clemente IV convidou o cruel conde
Carlos de Anjou, irmão de Luís IX, a apressar-se em ajudar o exército guelfo,
com a promessa da coroa da Sicília. "Ele aceitou", diz Greenwood,
"a comissão papal com a avidez de um aventureiro e com o espírito imprudente
de um cruzado. Ele foi um dos mais talentosos dos tiranos que figuram na
história do mundo: crueldade, avidez, luxúria, e corrupção foram perfeitamente manifestadas
sob seu comando." Com um grande exército, formado para o resgate da Terra
Santa, ele entrou na Itália. Alguns dos mais bravos da cavalaria e da baixa
nobreza da França estavam neste "exército da cruz". Mas, em vez de ir
ajudar seus irmãos na Palestina contra os muçulmanos, o papa os absolveu de seu
voto, prometeu-lhes o perdão dos pecados e a bem-aventurança eterna, para que
virassem as armas contra seus irmãos da casa e os seguidores do falecido
imperador. Este foi o “zelo” e a “honestidade” papal pela libertação do santo
sepulcro.
Tendo sido Carlos de Anjou coroado rei da Sicília, os
peregrinos receberam uma permissão para matar e saquear as regiões indicadas
pelo papa, e sob a direção dele invadiram as porções mais belas dos domínios do
imperador. Mas o imperador estava em seu túmulo, e a força que tinha seu nome
se foi. Seus filhos se apressaram em reunir aventureiros à medida que suas
finanças os capacitassem a reunir; a competição por um tempo foi duvidosa, mas a
bravura bem disciplinada da França finalmente superou os bandos mal treinados
dos jovens príncipes. Manfredo caiu em batalha, Conrado foi cortado repentinamente
pela morte, e o jovem Conradino, com seu jovem primo, o príncipe Frederico da
Baviera, foram feitos prisioneiros e decapitados por Carlos na praça pública de
Nápoles.
A Cristandade ouviu com estremecimento a notícia dessa
atrocidade sem igual. Por nenhum outro crime senão lutar por seu trono
hereditário contra o pretendente do papa, Conradino, o último herdeiro da casa
da Suábia, foi executado como criminoso e rebelde em um palanque público. O
papa foi acusado de participação no assassinato de um filho e herdeiro de reis;
ele havia colocado a espada nas mãos do tirano e deve comparecer ao tribunal do
julgamento divino e humano, manchado com o sangue de Conradino. No final do mês
seguinte, o detestado papa acompanhou sua vítima até a sepultura, além da qual
não nos convêm ir, mas temos certeza de que o Juiz de toda a terra fará o que é
certo, e que do trono da justiça divina ele ouvirá a sentença da justiça
eterna, que não admite mudança nem sombra de variação. O fogo é eterno, o bicho nunca morre, a corrente nunca pode ser quebrada, as paredes nunca podem ser
escaladas, os portões nunca podem ser abertos, o passado nunca pode ser
esquecido, as censuras da consciência nunca podem ser silenciadas -- tudo se
combina para encher a alma com as agonias do desespero, e isso para todo o
sempre. Quem não desejaria, acima de tudo, ser perdoado e salvo pela fé no
Senhor Jesus Cristo, que morreu para salvar o principal dos pecadores? (Marcos 9:44-50)