domingo, 4 de outubro de 2015

Paulo no Templo

De acordo com a proposta de Tiago e dos anciãos, Paulo agora prossegue ao templo com "os quatro homens que fizeram voto" (Atos 21:23). Então lemos: "Então Paulo, tomando consigo aqueles homens, entrou no dia seguinte no templo, já santificado com eles, anunciando serem já cumpridos os dias da purificação; e ficou ali até se oferecer por cada um deles a oferta." (Atos 21:26). Na conclusão do voto do nazireado a lei requeria que certas ofertas fossem apresentadas no templo. Estas ofertas envolviam um preço considerável, como podemos ver em Números 6; e era considerado um ato de grande mérito e piedade para um irmão rico prover estas ofertas para um irmão pobre, e assim permitir que ele completasse seu voto. Paulo não era rico, mas ele tinha um grande e terno coração, e ele generosamente comprometeu-se a pagar os custos para os quatro pobres nazireus. Tal prontidão da parte de Paulo em agradar alguns e ajudar outros deveria ter pacificado e conciliado os judeus e, provavelmente, teria se tão somente estivessem presentes os que estavam associados a Tiago. Mas isto teve um efeito oposto nos inveterados zelotes: eles ficaram apenas mais furiosos contra ele. A celebração da festa atraía multidões à cidade santa, de modo que o templo estava repleto de adoradores de todos os lugares.

Dentre esses judeus estrangeiros estavam alguns da Ásia, provavelmente alguns dos velhos antagonistas de Paulo em Éfeso, que ansiavam por uma oportunidade de se vingarem dele, que tinha anteriormente os derrotado. Perto do fim dos sete dias em que os sacrifícios deveriam ser ofertados, estes judeus asiáticos viram Paulo no templo, e imediatamente caíram encima dele, "clamando: homens israelitas, acudi; este é o homem que por todas as partes ensina a todos contra o povo e contra a lei, e contra este lugar; e, demais disto, introduziu também no templo os gregos, e profanou este santo lugar... E alvoroçou-se toda a cidade, e houve grande concurso de povo; e, pegando Paulo, o arrastaram para fora do templo, e logo as portas se fecharam." (Atos 21:28,30). A cidade toda estava agora em polvorosa, e a multidão correu furiosamente ao ponto de ataque. A multidão estava à beira da loucura, e se não fosse pelo zelo deles em não derramar sangue no lugar santo, Paulo teria sido feito em pedaços no mesmo instante. O objetivo deles agora era levá-lo para fora do recinto sagrado. Mas antes que os planos assassinos deles fossem executados, a ajuda do Senhor chegou, e eles foram inesperadamente interrompidos.

As sentinelas nos portões sem dúvida comunicaram imediatamente a guarnição romana, situada defronte do templo, de que havia um tumulto próximo à corte. O tribuno, Cláudio Lísias, imediatamente correu ele mesmo ao local, levando com ele soldados e centuriões. Quando os judeus viram o tribuno e os soldados romanos se aproximando, eles pararam de espancar Paulo. O governador, percebendo que era ele a causa de toda a agitação, prontamente o mandou prender com duas correntes, ou por correntes entre dois soldados. Veja Atos 12:6.

Tendo feito isto, Lísias prosseguiu a fazer um inquérito quanto à real causa do distúrbio, mas, como nenhuma informação certa podia ser obtida da ignorante e agitada multidão, ele ordenou que Paulo fosse levado à fortaleza. A desapontada massa agora vai atrás de sua vítima com enorme ímpeto. Eles viram ele sendo tirado de suas mãos, e pressionaram tão violentamente os soldados que Paulo foi levado em seus braços até para cima das escadas do fortaleza. Enquanto isso, gritos ensurdecedores se erguiam da multidão enraivecida abaixo, como fizeram cerca de trinta anos antes: "Fora com ele, fora com ele".

Neste momento de grande interesse, o apóstolo preservou grande presença de espírito, e perfeitamente controlou a agitação de seus sentimentos. Ele age prudentemente sem comprometer a verdade. Assim que alcançaram a entrada da fortaleza, Paulo dirige-se da maneira mais cortês ao tribuno, e diz: "É-me permitido dizer-te alguma coisa?", e ele disse: "Sabes o grego? Não és tu porventura aquele egípcio que antes destes dias fez uma sedição e levou ao deserto quatro mil salteadores?".  Mas Paulo lhe disse: "Na verdade que sou um homem judeu, cidadão de Tarso, cidade não pouco célebre na Cilícia; rogo-te, porém, que me permitas falar ao povo." (Atos 21:37-39). Por incrível que pareça, esse pedido lhe foi concedido. Paulo já tinha ganhado o respeito do governador romano. Mas a mão do Senhor estava nisso, Ele estava vigiando sobre Seu servo. Paulo havia jogado a si mesmo nas mãos de seus inimigos ao procurar agradar os crentes judeus. Mas Deus estava com ele, e sabia como livrá-lo de seu poder, e usá-lo para a glória de Seu próprio grandioso nome. (Atos 21:26-40)

sábado, 3 de outubro de 2015

O Fim dos Trabalhos de Paulo em Liberdade

Chegamos agora a uma questão importante, e a um ponto de virada na história de Paulo daqui para a frente. Iria ele direto para o ocidente, em direção a Roma, ou iria passar por Jerusalém? Tudo depende disso. Jerusalém também estava em seu coração. Mas se Cristo o tinha enviado tão longe, para os gentios, poderia o Espírito, da parte de Cristo, conduzi-lo a Jerusalém? Foi apenas aqui, acreditamos, que foi permitido ao grande apóstolo seguir os desejos de seu próprio coração, cujos desejos eram corretos e belos em si mesmos, mas não estavam de acordo com a mente de Deus naquele momento. Ele amava profundamente sua nação, e especialmente os santos pobres em Jerusalém; e, tendo sido muito mal representado ali, ele esperava provar seu amor pelos pobres dentre seu povo levando as ofertas dos gentios pessoalmente. "Assim que", diz ele, "concluído isto, e havendo-lhes consignado este fruto, de lá, passando por vós, irei à Espanha." (Romanos 15:28). Certamente isto era amável e louvável! Sim, mas isto vinha de um lado apenas, e este era o lado da natureza - da carne - e não do Espírito. "E, achando discípulos, ficamos ali sete dias; e eles pelo Espírito diziam a Paulo que não subisse a Jerusalém." (Atos 21:4). Isto parece claro o bastante, mas Paulo naquele momento se inclinou para o lado de suas afeições "pelos pobres do rebanho" em Jerusalém. Será que poderia haver um erro mais perdoável que este? Impossível! Foi seu amor pelos pobres, e o prazer de levar a eles as ofertas dos gentios, que o conduziu a passar por Jerusalém em seu caminho a Roma. No entanto, foi um erro, e um erro que custou a Paulo sua liberdade. Seu trabalhos em liberdade acabam aqui. Ele permitiu liberdade à sua carne, e Deus permitiu que os gentios o prendessem em correntes. Esta era a expressão de puro amor do Mestre para com Seu servo. Paulo era muito precioso para que o Senhor o deixasse sem a justa disciplina nessa ocasião. Também provaria que nem Jerusalém nem Roma poderiam ser a metrópole do cristianismo. Cristo, a Cabeça da igreja, estava no céu, e lá é o único lugar em que a metrópole do cristianismo deve estar. Jerusalém perseguiu o apóstolo, Roma o aprisionou e martirizou. No entanto, o Senhor estava com Seu servo para o seu próprio bem, para o avanço da verdade, para a bênção da igreja, e para a glória de Seu próprio grandioso nome.

Aqui podemos tomar a permissão para mais uma reflexão. Em quantas histórias, desde a quinta visita de Paulo a Jerusalém, essa cena solene tem sido reproduzida! Quantos santos têm sido amarrados com correntes de diferentes tipos, mas quem pode dizer para quê, ou para quem? Todos nós teríamos dito - se não iluminados pelo Espírito - que o apóstolo não podia ter atuado por um motivo mais digno ao passar por Jerusalém em seu caminho a Roma. Mas o Senhor não havia dito para ele fazer isso. Tudo depende disso. Quão necessário é ver, em cada estágio de nossa jornada, que temos a palavra de Deus para nossa fé, o serviço de Cristo para nossos motivos, e o Espírito Santo para nossa direção. Retornemos agora ao relato dos eventos.

Deixamos Paulo sentado com os anciãos na casa de Tiago. Eles tinham sugerido a ele um modo de conciliar os crentes judeus, e de refutar as acusações de seus inimigos. Deslealdade para com sua nação e com a religião de seus pais era a principal acusação levantada contra ele. Mas sob a superfície dos eventos exteriores, e especialmente tendo a luz das epístolas derramada sobre eles, descobrimos a raiz de toda a questão na inimizade do coração humano contra a graça de Deus. De modo a entender isso, devemos observar que o ministério de Paulo tinha um duplo caráter: (1) Sua missão era pregar o evangelho "a toda criatura debaixo do céu" - não foi apenas além dos limites do judaísmo, como também estava em perfeito contraste com esse sistema; (2) Ele era também o ministro da igreja de Deus, e pregava sua exaltada posição, e seus benditos privilégios, como estando unida a Cristo, o Homem glorificado no Céu. Essas verdades benditas serão vistas erguendo a alma do crente muito acima da religião da carne, sempre tão penosa - sempre tão abundante em ritos e cerimônias. Votos de jejum, festas, ofertas, purificações, tradições e filosofia, são todas excluídas como nada dignas diante de Deus, e opostas à própria natureza do cristianismo. Isto exasperava o judeu religioso com suas tradições, e o grego incircunciso com sua filosofia; e ambos se uniram para perseguir o verdadeiro portador deste duplo testemunho. E assim tem sido sempre. O homem religioso com suas ordenanças, e o homem meramente natural com sua filosofia, por um processo natural, prontamente se uniram em oposição ao testemunho de um cristianismo celestial. Veja Colossenses 1 e 2.

Se Paulo tivesse pregado a circuncisão, a ofensa da cruz teria cessado, pois isto teria dado lugar, e a oportunidade, de ser alguma coisa e fazer alguma coisa, e até mesmo de tomar parte com Deus em Sua religião. Isto era o judaísmo, e isto dava ao judeu sua preeminência. Mas o evangelho da graça de Deus se dirige ao homem como já perdido - como "morto em delitos e pecados" - e não tem mais respeito para com os judeus do que para com os gentios. Assim como o sol no firmamento, ele brilha para todos. Nenhuma nação, tribo, língua ou povo é excluído de seus raios celestiais. "Pregar o evangelho a toda criatura que está debaixo do céu" é a divina comissão e a esfera mais ampla do evangelista; ensinar aqueles que acreditam neste evangelho sua perfeição em Cristo é o privilégio e dever de cada ministro do Novo Testamento.

Tendo assim limpado o terreno quanto aos motivos, objetivos e posição do grande apóstolo, vamos agora traçar brevemente o restante de sua vida agitada. Chegou o tempo em que ele seria levado diante dos reis e governantes, e até mesmo diante do próprio César, por causa do nome do Senhor Jesus.

sábado, 29 de agosto de 2015

A Quinta Visita de Paulo a Jerusalém (por volta de 58 d.C.)

O apóstolo e seus companheiros foram recebidos com agrado ao chegarem em Jerusalém. "E, logo que chegamos a Jerusalém", observa Lucas, "os irmãos nos receberam de muito boa vontade." (Atos 21:17). No dia seguinte, Paulo e seus companheiros visitaram Tiago, em cuja casa os anciãos estavam presentes. Paulo, como orador principal, declarou particularmente as coisas que Deus fizera entre os gentios por seu ministério. Mas embora estivessem muito interessados, e louvassem ao Senhor pelas boas notícias, eles evidentemente se sentiram desconfortáveis. Eles imediatamente chamaram a atenção de Paulo para o fato de que um grande número de judeus que criam em Jesus como o Messias eram observadores zelosos da lei de Moisés e eram fortemente preconceituosos contra Paulo.

Como satisfazer os preconceitos desses judeus cristãos era agora a importante questão entre Paulo e os anciãos. Eles sabiam que multidões de judeus, convertidos e não convertidos, se ajuntariam quando ouvissem da chegada de Paulo. Por muito tempo eles acreditavam nas mais sérias e pesadas acusações contra ele - "e já acerca de ti foram informados de que ensinas todos os judeus que estão entre os gentios a apartarem-se de Moisés, dizendo que não devem circuncidar seus filhos, nem andar segundo o costume da lei." (Atos 21:21). O que deveria agora ser feito? Os anciãos propuseram que Paulo deveria se mostrar publicamente como alguém que era obediente à lei. Esta foi a mais dolorosa e desconcertante posição do apóstolo dos gentios. O que ele poderia fazer agora? Será que o mensageiro do evangelho da glória - o ministro do chamado celestial - se inclinaria às regras dos votos nazireus? Foi uma questão séria e solene. Se ele se recusasse a ceder à vontade deles, a suspeita dos judeus seria confirmada; se ele agisse de acordo com o desejo deles, ele deveria se humilhar - colocar seu elevado chamado em segundo plano, e se render à ignorância, preconceito e orgulho dos judaizantes. Mas o que mais podia fazer? Ele estava no centro de um judaísmo fanático, e desejava honestamente conquistar a igreja de Jerusalém para um cristianismo mais puro e mais nobre.
 
Alguns tomaram muita liberdade em seu criticismo sobre o apóstolo no decorrer desse tempo. Mas embora seja nosso privilégio humildemente examinar tudo o que o historiador sagrado escreveu, tememos que alguns se aventuraram longe demais em dizer coisas duras sobre o apóstolo. Podemos perguntar reverentemente quão longe o desejo e a afeição de Paulo o influenciaram nesta ocasião, além das advertências do Espírito através dos irmãos; mas certamente devemos nos manter entre os limites do que o Próprio Espírito Santo disse pelas Escrituras. Vamos agora cuidadosamente observar os fatos exteriores que conduziram o apóstolo a essa memorável época de sua vida.

Roma tinha estado por muito tempo em sua mente. Ele tinha um grande desejo de pregar o evangelho naquele lugar. Isto estava correto - estava de acordo com Deus - não era algo de si mesmo: ele era o apóstolo dos gentios. Deus vinha trabalhando em Roma de modo abençoado mesmo sem Paulo ou Pedro, pois ainda nenhum apóstolo tinha visitado Roma. Paulo tinha sido privilegiado por escrever uma epístola aos romanos, e nessa carta ele expressa o mais ardente desejo de vê-los, e de trabalhar entre eles. "Porque desejo ver-vos", diz ele, "para vos comunicar algum dom espiritual, a fim de que sejais confortados" (Romanos 1:11). Este era seu estado mental e o objetivo que tinha diante de si, o que também devemos ter em vista quando estudamos esta parte de sua história. Compare Romanos 1:7-15; 15:15-33.

sábado, 15 de agosto de 2015

Paulo em Mileto

O estágio mais importante dessa jornada é Mileto, embora os diferentes lugares em que eles passam sejam cuidadosamente notados pelo historiador sagrado. Paulo, estando cheio do Espírito, dá direções para a viagem. Seus companheiros, de bom grado, lhe obedecem, mas não como a um mestre, mas como a um que dirige na humildade do amor e na sabedoria de Deus. Ele decide não ir a Éfeso, embora fosse um lugar central, pois ele tinha o propósito no coração de ir a Jerusalém no dia de Pentecostes. Mas, como o navio viria a ser detido algum tempo em Mileto, ele envia uma carta aos anciãos da igreja em Éfeso para poderem se encontrar. Dizem que a distância entre os dois lugares é de cerca de 48 quilômetros, de modo que levaria dois ou três dias para ir e voltar. Mesmo assim, tiveram tempo suficiente para se reunirem antes do navio sair. Assim o Senhor pensa em Seus servos e faz com que todas as coisas cooperem para o bem e para Sua própria glória.
O discurso de despedida de Paulo aos anciãos de Éfeso é característico e representativo, exigindo nosso mais cuidadoso estudo. Ele põe diante de nós a profunda e tocante afeição do apóstolo, a posição da igreja naquele tempo, e a obra do evangelho entre as nações. Ele os exorta com incomum seriedade e ternura; ele sentia que estava se dirigindo a eles pela última vez; ele os lembra de seus trabalhos entre eles "servindo ao Senhor com toda a humildade, e com muitas lágrimas" (Atos 20:19). Ele os adverte contra os falsos mestres e heresias - os lobos cruéis que entrariam no meio deles, e os homens amantes de si mesmos que se ergueriam, falando coisas perversas, para atraírem os discípulos após si. "E, havendo dito isto, pôs-se de joelhos, e orou com todos eles. E levantou-se um grande pranto entre todos e, lançando-se ao pescoço de Paulo, o beijavam, entristecendo-se muito, principalmente pela palavra que dissera, que não veriam mais o seu rosto. E acompanharam-no até o navio." (Atos 20:36-38)

Como este pensamento sobre Paulo é da mais elevada importância, e marca uma época distinta na história da igreja, além de lançar luz divina sobre todos os sistemas eclesiásticos, podemos citar um pensamento abrangente e compreensivo de outro autor:

"A igreja estava consolidada sobre uma extensa área do território, e em vários lugares tinha tomado a forma de uma instituição comum. Anciãos eram estabelecidos e reconhecidos. O apóstolo podia chamá-los para ter com ele. Sua autoridade era também reconhecida por parte deles. Ele fala de seu ministério como algo passado - solene pensamento!... Assim, o que o Espírito Santo coloca diante de nós é que, agora, quando os detalhes de sua obra entre os gentios de plantar o evangelho são relatados como um panorama entre judeus e gentios, ele diz adeus ao trabalho. Isto para que pudesse deixar aqueles que ele havia reunido em uma nova posição e, em certo sentido, entregues a si mesmos. É um discurso que marca a cessação de uma fase da igreja - a dos trabalhos apostólicos - e a entrada de uma outra: a responsabilidade da igreja de manter-se firme agora que esses trabalhos tinham cessado; o serviço dos anciãos, a quem 'o Espírito Santo constituiu supervisores (bispos)' (Atos 20:28); e, ao mesmo tempo, os perigos e dificuldades que se seguiriam após o fim dos trabalhos apostólicos, complicando o trabalho dos anciãos, a quem a responsabilidade recairia especialmente.

"A primeira observação que decorre da consideração deste discurso é que a sucessão apostólica é inteiramente negada. Devido à ausência do apóstolo, várias dificuldades surgiriam, e não haveria ninguém em seu lugar para lidar ou prevenir estas dificuldades. Sucessor, portanto, ele não tinha. Em segundo lugar, parece que o fato de que esta energia, que freava o espírito do mal, uma vez que estivesse longe, faria erguer as cabeças dos lobos devoradores vindos de fora, e dos mestres de coisas perversas vindos de dentro, que atacariam a simplicidade e a felicidade da igreja. Esta seria assediada pelos esforços de satanás, uma vez que não possuía mais a energia apostólica para resistir-lhes. Em terceiro lugar, o que de primordial deveria ser feito para o impedimento do mal era alimentar o rebanho, e vigiar, quer sobre si mesmos ou sobre o rebanho, para aquele propósito. Ele então os encomenda - nem a Timóteo nem a algum bispo, mas de um modo que deixa de lado qualquer tipo de recurso oficial - a Deus e à palavra de Sua graça. Nesse ponto ele deixa a igreja. Os trabalhos em liberdade do apóstolo dos gentios estavam terminados. Ele tinha sido o instrumento escolhido de Deus para comunicar ao mundo Seus conselhos a respeito da igreja e para estabelecer na mente do mundo o precioso objeto de Suas afeições, unida a Cristo à Sua mão direita. O que seria dela aqui?" *

{* The Present Testemony [O Atual Testemunho], v. 8, p. 405-407.}

Atos 21. Com um vento justo, Paulo e sua companhia partiam de Mileto, enquanto os entristecidos anciãos de Éfeso se preparavam para sua viagem de volta. Em um curso reto eles velejaram a Cós, Rodes, e daí até Pátara e Tiro. A partir do que aconteceu lá - tão similar ao que houve em Mileto - é evidente que Paulo logo conquistou o coração dos discípulos. Embora ele tenha ficado apenas uma semana em Tiro, não conhecendo os cristãos dali, ele tinha ganhado suas afeições. "E seguimos nosso caminho, acompanhando-nos todos", diz Lucas, "com suas mulheres e filhos até fora da cidade; e, postos de joelhos na praia, oramos." (Atos 21:5). Parece também que um espírito de profecia foi derramado sobre esses afetuosos cristãos de Tiro, pois eles advertiram o apóstolo para que não fosse a Jerusalém. Após esperar ali por sete dias, foram a Ptolemaida, onde ficaram por um dia. Em Cesareia, ficaram hospedados na casa de Filipe, o evangelista, que era um dos sete. Ele também já é bem conhecido nosso, mas é interessante encontrá-lo novamente após um intervalo de mais de vinte anos. Agora ele tem quatro filhas virgens que profetizavam. Aqui Ágabo, o profeta, previu o aprisionamento de Paulo, e rogou-lhe que não fosse a Jerusalém. Todos os discípulos disseram o mesmo, e suplicavam-lhe com lágrimas para que não fosse. Mas embora o coração terno e sensível de Paulo deva ter se movido pelas lágrimas e suplicas de seus amigos e de seus próprios filhos na fé, ele decidiu não alterar sua resolução e não deixar de lado seu propósito. Ele se sentiu compelido em espírito a ir, e pronto a deixar todas as consequências à vontade do Senhor.

domingo, 2 de agosto de 2015

Paulo deixa Corinto

A obra do apóstolo tinha agora sido terminada em Corinto, e ele se prepara para ir embora. Sua mente se inclinava a ir a Roma, mas havia uma missão de caridade em seu coração a qual ele devia acatar primeiro. Somos favorecidos com suas próprias palavras sobre esses diferentes pontos: "Mas agora, que não tenho mais demora nestes sítios, e tendo já há muitos anos grande desejo de ir ter convosco, quando partir para Espanha irei ter convosco; pois espero que de passagem vos verei, e que para lá seja encaminhado por vós, depois de ter gozado um pouco da vossa companhia. Mas agora vou a Jerusalém para ministrar aos santos. Porque pareceu bem à macedônia e à Acaia fazerem uma coleta para os pobres dentre os santos que estão em Jerusalém." (Romanos 15:23-26). Quanto à sequência de nomes em Atos 20:4 - Sópater, Aristarco, Segundo, Gaio, Tíquico e Trófimo - supõe-se que sejam irmãos que tinham em mãos as coletas que tinham sido feitas nos diferentes lugares mencionados. Em vez de velejar direto para a Síria, ele rodeia a Macedônia, por causa dos judeus que estavam à espreita. Seus companheiros o esperavam em Trôade. Lá ele passou o dia do Senhor (domingo) e uma semana inteira, a fim de ver os irmãos.

Devemos observar brevemente o que aconteceu nesse estágio de sua jornada. Duas coisas, de imensa importância para os cristãos, estão ligadas a isso - o dia do Senhor e a Ceia do Senhor. O historiador, que estava com Paulo nesse tempo, entra com incomum minúcia sobre os detalhes daquele dia.

É evidente, a partir desta incidental observação, que era o estabelecido costume dos primeiros cristãos se reunirem no "primeiro dia da semana" com a compreendida finalidade do "partir o pão". Temos aqui o principal objetivo e o momento normal da reunião deles. "E no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão" (Atos 20:7; Veja também 1 Coríntios 16:2, João 20:19, Apocalipse 1:10). Mesmo o discurso do apóstolo, precioso como era, é mencionado como algo secundário. A lembrança do amor do Senhor ao morrer por nós, e tudo aquilo que Ele nos deu ao ressuscitar, era, e continua sendo, o principal. Se houver uma oportunidade também para o ministério da Palavra, assim como para reunir os pensamentos e afeições dos adoradores de Cristo, é bom que haja; mas o partimento do pão deve ser a primeira consideração, e o principal objetivo da assembleia. A celebração da Ceia do Senhor nessa ocasião foi à noite. No início, o partimento do pão também era observado em alguns lugares antes do amanhecer, e em outros, após o pôr do sol. Mas aqui os discípulos não eram obrigados a se reunirem em segredo. "E havia muitas luzes no cenáculo onde estavam juntos." (Atos 20:8). E Paulo continuou sua fala até a meia-noite, pois deveria partir no dia seguinte. Foi uma ocasião extraordinária, e Paulo aproveita a oportunidade de conversar com eles a noite toda. Ainda não havia chegado o tempo, como disse alguém, em que os ternos discursos do coração seriam cronometrados, quando a duração da ardente agonia do pregador pelas almas perdidas seria contada no relógio pela frieza dos meros professos, ou pela descuidada indiferença dos cristãos mundanos. Êutico, um rapaz, caiu no sono e "caiu do terceiro andar... e foi levantado morto." (Atos 20:9). Isto foi visto por alguns como um castigo pela sua falta de atenção, mas foi um milagre; o rapaz foi levantado de um estado de morte pelo poder e bondade de Deus através de Seu servo Paulo, e todos ficaram grandemente reconfortados.

sábado, 25 de julho de 2015

A Partida de Paulo de Éfeso para a Macedônia

Atos 20. Após o tumulto ter cessado, o perigo acabado e os manifestantes dispersos, Paulo se despede dos discípulos, os abraça, e parte para a Macedônia. Dois dos irmãos efésios, Tíquico e Trófimo, parecem tê-lo acompanhado, mantendo-se fiéis a ele em meio a todas as suas aflições. Eles são mencionados com frequência, e inclusive aparecem no último capítulo de sua última epístola, em 2 Timóteo 4.

O historiador sagrado é extremamente breve em seu registro sobre o proceder de Paulo neste momento. Toda a informação que ele dá é comprimida nas seguintes palavras: "Saiu para a macedônia. E, havendo andado por aquelas terras, exortando-os com muitas palavras, veio à Grécia. E, passando ali três meses..." (Atos 20:1-3). É geralmente suposto que essas poucas palavras abrangem um período de nove ou dez meses - do começo do verão de 57 d.C. até a primavera de 58 d.C. Mas esta falta de informação é, felizmente, suprida nas cartas do apóstolo. Aquelas que foram escritas durante essa jornada nos suprem com vários detalhes históricos e, o que é melhor, elas nos dão, da sua própria caneta, uma imagem viva dos profundos e dolorosos exercícios da mente e do coração pelas quais ele estava passando.

Parece que Paulo tinha combinado de se encontrar com Tito em Trôade, que lhe traria notícias direto de Corinto sobre o estado das coisas por lá. Mas semana após semana se passou, e Tito não aparecia. Sabemos alguma coisa sobre as obras dessa grande mente e coração nesse tempo pelo que ele mesmo diz: "Ora, quando cheguei a Trôade para pregar o evangelho de Cristo, e abrindo-se-me uma porta no Senhor, não tive descanso no meu espírito, porque não achei ali meu irmão Tito; mas, despedindo-me deles, parti para a macedônia." (2 Coríntios 2:12,13). Sua ansiedade pessoal, no entanto, não o impediu de ir em frente com a grandiosa obra do evangelho. Isto é evidente nos versículos de 14 a 17.

Finalmente o há muito esperado Tito chega à Macedônia, provavelmente em Filipos. E agora a mente de Paulo é aliviada e seu coração confortado. Tito lhe traz melhores notícias de Corinto do que ele esperava ouvir. A reação é manifesta: ele se enche de louvor a Deus: "Grande é a ousadia da minha fala para convosco", diz ele, "grande a minha jactância a respeito de vós; estou cheio de consolação; transbordo de gozo em todas as nossas tribulações. Porque, mesmo quando chegamos à macedônia, a nossa carne não teve repouso algum; antes em tudo fomos atribulados: por fora combates, temores por dentro. Mas Deus, que consola os abatidos, nos consolou com a vinda de Tito." (2 Coríntios 7:4-6)

Logo após isso, Paulo escreve sua Segunda Epístola aos Coríntios, que descobrimos ser dirigida não apenas a eles, mas a todas as igrejas em toda a Acaia. Todas elas podiam ter sido mais ou menos afetadas pela condição das coisas em Corinto. Tito é novamente o servo voluntário do apóstolo, não apenas como portador da segunda carta à igreja em Corinto, mas também tendo um papel especial nas coletas que eles faziam para os pobres. Paulo não apenas dá a Tito estritas instruções sobre as coletas, como também escreve dois capítulos sobre o assunto (capítulos 8 e 9), embora este fosse mais o trabalho de diáconos do que de apóstolos. Mas, como tinha dito ele em resposta à sugestão de Tiago, Cefas e João, de que ele deveria se lembrar dos pobres - "Recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos pobres, o que também procurei fazer com diligência." (Gálatas 2:10)

O espaço que o apóstolo dedica aos assuntos relacionados às coletas para os pobres é notável e merece nossa cuidadosa consideração. Pode ser que alguns de nós tenhamos ignorado este fato até agora. Observe, por exemplo, o que ele diz de uma igreja em particular. Temos boas razões para acreditar que os filipenses, desde o começo, se importavam com o apóstolo - eles o pressionaram a aceitar suas contribuições para ajudá-lo, desde sua primeira visita a Tessalônica até seu aprisionamento em Roma, além de sua generosidade para com os outros (2 Coríntios 8:1-4). Mas alguns podem imaginar, a partir disso, que eles eram uma igreja rica. Pelo contrário. Paulo nos diz: "Como em muita prova de tribulação houve abundância do seu gozo, e como a sua profunda pobreza abundou em riquezas da sua generosidade." (2 Coríntios 8:2). Eles doavam com tanta generosidade o que tinham de sua própria pobreza.

O que os filipenses são nas Epístolas, a viúva pobre é nos Evangelhos - duas moedinhas era tudo o que ela tinha. Ela podia ter dado uma e ficado com a outra; mas ela tinha um coração não dividido, e ela deu as duas. Ela, também, deu o que tinha de sua pobreza, e onde quer que o evangelho seja pregado por todo o mundo, essas coisas hão de ser contadas como um memorial da generosidade deles.

Após Paulo ter enviado a Tito e os que estavam com ele com a Epístola, ele permaneceu "naquelas partes" da Grécia fazendo a obra de um evangelista. Sua mente, no entanto, almejava fazer uma visita pessoal aos coríntios. Mas ele concedeu tempo para que sua carta produzisse seus próprios efeitos sob a bênção de Deus. Um dos objetivos do apóstolo era preparar o caminho para seu ministério pessoal entre eles. É comum o pensamento de que foi durante este período que ele pregou plenamente o evangelho de Cristo aos arredores até o Ilírico (Romanos 15:19). É provável que ele tenha alcançado Corinto no inverno, de acordo com sua expressa intensão: "E bem pode ser que fique convosco, e passe também o inverno" (1 Coríntios 16:6). Lá ele ficou por três meses.

Todos estão de acordo, podemos dizer, que foi durante esses meses de inverno que ele escreveu sua grande Epístola aos Romanos. Alguns dizem que ele também escreveu sua Epístola aos Gálatas neste mesmo período. Mas há grande diversidade de opiniões entre os cronologistas sobre este ponto. Pela ausência de nomes e saudações, como temos na Epístola aos Romanos, é difícil determinar sua data. Mas se ela não foi escrita neste tempo em particular, mesmo assim devemos mencioná-la mais cedo, e não mais tarde. O apóstolo ficou surpreso pelo antecipado abandono da verdade. "Maravilho-me", diz ele, "de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho" (Gálatas 1:6). Seu grande desapontamento é manifesto no calor do espírito no qual escreve essa Epístola.

Mas devemos retornar à história do nosso apóstolo: não nos adentraremos mais a fundo nas sutilezas da cronologia. Mas após compararmos as últimos escritos, relataremos o que acreditamos serem as datas mais confiáveis.

domingo, 12 de julho de 2015

O Tumulto em Éfeso

Um grande e abençoado trabalho tinha agora sido cumprido pela poderosa energia do Espírito de Deus, por meio de Seu servo escolhido, Paulo. O evangelho tinha sido pregado na capital da Ásia, e tinha sido espalhado por toda a província. O apóstolo agora sentia que seu trabalho tinha terminado ali, e planeja ir a Roma, a capital do Ocidente e metrópole do mundo. A Grécia e a Macedônia já tinham recebido o evangelho, mas ainda faltava Roma. "E, cumpridas estas coisas, Paulo propôs, em espírito, ir a Jerusalém, passando pela Macedônia e pela Acaia, dizendo: Depois que houver estado ali, importa-me ver também Roma." (Atos 19:21)

Mas enquanto Paulo fazia os arranjos para a próxima viagem, o inimigo planejava um novo ataque. Seus recursos ainda não tinham sido esgotados. Demétrio excita a multidão ignorante contra os cristãos. Um grande tumulto começa, sendo as paixões dos homens despertadas contra os instrumentos do testemunho de Deus. Os oficiais de Demétrio levantaram o clamor de que não somente a profissão deles corria perigo, como também que o templo da grande deusa Diana corria o risco de ser desprezado. Quando a multidão ouviu essas coisas, se encheram de raiva e gritaram, dizendo: "Grande é a Diana dos efésios." (Atos 19:28). A cidade inteira estava agora imersa em confusão, mas Paulo misericordiosamente - pelos seus irmãos, e por alguns dos principais governantes da Ásia que eram seus amigos - se abstém de comparecer ao teatro.

Os judeus evidentemente começaram a temer que a perseguição se voltasse contra eles, pois a maioria das pessoas não sabia com que propósito tinham ali se ajuntado. Eles, então, põem um certo Alexandre diante da multidão, provavelmente com a intenção de transferir a atenção para cima dos cristãos; mas no momento em que os pagãos descobriram que ele era um judeu, a fúria deles aumentou: o grito de guerra foi novamente levantado, e por duas horas inteiras as pessoas gritavam: "Grande é a Diana dos efésios.". Felizmente, para todas as partes, o escrivão da cidade era um homem de grande tato e admirável política. Ele acalmou e dissolveu a aglomeração. Mas, para a fé, era Deus usando a eloquência persuasiva de um oficial pagão para proteger Seus servos e Seus muitos filhos que estavam ali.

O tão afamado templo de Diana foi contado pelos antigos como uma das maravilhas do mundo; o sol, diziam, não via nada em seu curso mais magnífico que o templo de Diana. Era construído com o mais puro mármore, e levou 220 anos para ser terminado. Mas com a disseminação do cristianismo, se afundou em decadência, e quase nada dele agora sobrou para nos mostrar como era. O comércio de Demétrio era a confecção de pequenos modelos em prata do santuário da deusa. Estes eram colocados nas casas, guardados em memoriais e carregados em viagens. Mas como a introdução do cristianismo necessariamente afetou as vendas desses modelos, os artesãos pagãos foram instigados por Demétrio a levantar um clamor popular em favor de Diana contra os cristãos.

sábado, 4 de julho de 2015

A Terceira Viagem Missionária de Paulo (por volta de 54 d.C.)

Capítulo 6

A Terceira Viagem Missionária de Paulo (por volta de 54 d.C.)

 

Tendo passado "algum tempo" na Antioquia, Paulo deixa o centro gentio e parte para outra viagem missionária. Nada é dito sobre seus companheiros nesta ocasião. Ele "passou sucessivamente pela província da Galácia e da Frígia, confirmando a todos os discípulos" (Atos 18:23), e também dando instruções para a coleta em favor dos santos pobres em Jerusalém (1 Coríntios 16:1,2). Em pouco tempo ele chegou ao centro de sua obra na Ásia.

Éfeso. Nesta época era a maior cidade da Ásia Menor, e a capital da província. Devido à sua posição central, era o ponto de encontro comum de várias personagens e classes de homens. Por esta altura, Apolo tinha partido para Corinto, mas ainda havia outros doze discípulos de João em Éfeso. Paulo fala com eles sobre seu estado e posição. Devemos tomar uma rápida nota do que ocorreu.

O batismo de João requeria o arrependimento, mas não a separação da sinagoga judaica. O evangelho ensina que o cristianismo é fundamentado na morte e ressurreição. O batismo cristão é um símbolo significativo e expressivo dessas verdades. "Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos." (Colossenses 2:12) Como esses homens eram inteiramente ignorantes sobre as verdades fundamentais do cristianismo, supomos que eles nunca tinham se misturado com cristãos. O apóstolo, sem dúvida, explicou para eles sobre a eficácia da morte e ressurreição de Cristo, e sobre a descida do Espírito Santo. Eles creram na verdade e receberam o batismo cristão. Então Paulo, por sua capacitação apostólica, impõe suas mãos sobre eles, e eles são selados com o Espírito Santo, "e falavam línguas, e profetizavam" (Atos 19:6).

Imediatamente após a menção desse importante acontecimento, nossa atenção é direcionada às obras do apóstolo na sinagoga. Durante três meses ele pregou a Cristo ousadamente lá, disputando e persuadindo seus ouvintes "acerca do reino de Deus." (Atos 19:8). Os corações de alguns "se endureceram", enquanto outros se arrependeram e creram; mas enquanto muitos dos judeus tomaram o lugar dos adversários, e "falaram mal do Caminho perante a multidão" (Atos 19:9), Paulo age da forma mais definitiva possível. Ele "separou os discípulos" da sinagoga judaica e deles formou uma nova assembleia, se reunindo com eles "diariamente na escola de um certo Tirano" (Atos 19:9). Este é um ato profundamente interessante e instrutivo por parte do apóstolo, mas ele age conscientemente no poder e na verdade de Deus. A igreja em Éfeso é agora perfeitamente distinta, tanto em relação aos judeus quanto em relação aos gentios. Aqui vemos ao que o apóstolo, em outro lugar, se refere em sua exortação: "Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus." (1 Coríntios 10:32). Onde esta importante distinção não é vista haverá grande confusão de pensamento tanto quanto à Palavra quanto aos caminhos de Deus.

O apóstolo agora aparece como o instrumento do poder de Deus de forma notável e marcante. Ele comunica o Espírito Santo aos doze discípulos de João, separa os discípulos de Jesus e formalmente funda a igreja em Éfeso. Seu testemunho ao Senhor Jesus é ouvido em toda a Ásia, tanto pelos judeus quanto pelos gregos; milagres extraordinários são operados por suas mãos e enfermidades fugiam de muitos apenas ao tocar a borda de suas vestes. O poder do inimigo desaparece diante do poder que está em Paulo; as consciências dos pagãos são alcançadas, e o domínio do inimigo sobre eles se vai. O medo caiu sobre muitos que "seguiam artes mágicas", e eles mesmos queimaram seus livros de magia que, no total, custariam hoje em dia cerca de R$1.300.000,00. "Assim a palavra do Senhor crescia poderosamente e prevalecia." (Atos 19:20). Assim o poder do Senhor foi demonstrado na pessoa e na missão de Paulo, e seu apostolado estabelecido de forma inquestionável.

O apóstolo havia agora passado cerca de três anos de incessante trabalho em Éfeso. E ele mesmo diz, ao se dirigir aos anciãos em Mileto: "Portanto, vigiai, lembrando-vos de que durante três anos, não cessei, noite e dia, de admoestar com lágrimas a cada um de vós." (Atos 20:31). É também suposto que, durante este período, ele tenha feito uma rápida visita e tenha escrito a Primeira Epístola aos Coríntios.

terça-feira, 30 de junho de 2015

O Retorno de Paulo à Antioquia

Após uma jornada que se estendeu em um espaço de três ou quatro anos, nosso apóstolo retorna à Antioquia. Ele tinha viajado um longo circuito, e disseminado o cristianismo em muitas cidades prósperas e populosas, quase que inteiramente por seus próprios esforços. Se o leitor deseja manter interesse na história de Paulo, deve notar clara e distintamente as grandes épocas na vida de Paulo, e os principais pontos em suas diferentes jornadas. Mas antes de começar com Paulo em sua terceira jornada missionária, pode ser interessante tomar nota de um outro grande pregador do evangelho que aparece exatamente neste momento, e cujo nome, ao lado do apóstolo, é talvez o mais importante na história do início da igreja (N. do T., tirando o nome do próprio Senhor).

Apolo era um judeu de nascença, natural da Alexandria. Ele era um "homem eloquente e poderoso nas Escrituras ... conhecendo somente o batismo de João" (Atos 18:24,25). Ele era devoto, sincero e reto, publicamente confessando e pregando aquilo que conhecia, e o poder do Espírito Santo era manifesto nele. Não parece que ele tenha recebido qualquer designação, ordenação ou sanção de qualquer tipo, nem dos doze nem de Paulo. Mas o Senhor, que está acima de todos, o chamou, e estava agindo nele e por ele. Vemos assim, no caso de Apolo, a manifestação do poder e liberdade do Espírito Santo, sem a intervenção humana. É interessante observar isto. A ideia de um clericalismo exclusivo é a negação prática da liberdade do Espírito em agir por quem Ele quer. Mas embora ardente em zelo e um locutor poderoso, Apolo conhecia apenas o que João (o batista) tinha ensinado a seus discípulos. O Senhor sabia disto, e proveu mestres para ele. Dentre aqueles que ouviam a seus fervorosos apelos, dois dos bem instruídos discípulos de Paulo foram conduzidos a tomar um interesse especial por ele. E embora ela fosse ensinado e eloquente, ele era humilde o bastante para ser instruído por Áquila e Priscila. Eles o convidaram à sua casa e, sem dúvida, em espírito humilde, "lhe declararam mais precisamente o caminho de Deus" (Atos 18:26). Que simples! Que natural! E que belo! Tudo é do Senhor. Ele ordenou que Áquila e Priscila fossem deixados em Éfeso - que Apolo deveria vir e animar o povo em Éfeso antes da chegada de Paulo; e, após ser instruído, que deveria ir a Corinto e ajudar na boa obra naquele lugar, obra esta iniciada por Paulo. Apolo regou o que Paulo tinha plantado, e Deus deu um aumento abundante. Tais são os benditos caminhos do Senhor em Seu pensativo amor e carinhoso cuidado por Seus servos, e por todas as Suas assembleias.

sábado, 20 de junho de 2015

A Quarta Visita de Paulo a Jerusalém

Não nos são fornecidas quaisquer informações, pelos historiadores sagrados, sobre o que ocorreu em Jerusalém naquela ocasião. Apenas nos é dito que Paulo "subiu a Jerusalém e, saudando a igreja, desceu a Antioquia." (Atos 18:22). Mas seu intenso desejo de fazer esta visita pode nos assegurar sua grande importância. Ele pode ter sentido que  tinha chegado a hora quando os judeus cristãos, reunidos na festa, deveriam ouvir um relato completo da recepção do evangelho entre os gentios. Colônias romanas e capitais gregas tinham sido visitadas, e uma grande obra de Deus tinha sido cumprida. Tudo isto teria sido perfeitamente natural e correto, mas desejamos não remover o véu que o Espírito Santo colocou sobre essa visita.

Paulo desce de Jerusalém à Antioquia, visitando todas as assembleias que ele tinha inicialmente formado; e assim, de certo modo, unindo sua obra: Antioquia e Jerusalém. Até onde sabemos, foi a última visita de Paulo à Antioquia. Já vimos como novos centros de vida cristã tinham sido estabelecidos por ele nas cidades gregas do Egeu. O curso do evangelho segue cada vez mais para o Ocidente, e a parte inspirada da biografia do apóstolo, após um curto período de profundo interesse na Judeia, finalmente se centraliza em Roma.

A Rápida Visita de Paulo a Éfeso

O momento chegou em que Paulo achou por bem deixar Corinto e revisitar Jerusalém. Ele tinha um grande desejo de estar na próxima festa. Mas antes de partir, recebeu uma solene despedida da jovem assembleia, prometendo (o Senhor permitindo) retornar.

Acompanhado de Áquila e Priscila, ele deixa Corinto em paz. Mas quando no porto, antes da partida, aconteceu uma cerimônia que levantou não pouca discussão. Paulo, estando sob um voto, raspa sua cabeça em Cencreia. Em sua própria mente, e como um que era guiado pelo Espírito, temos certeza de que ele estava muita acima e além de uma religião de festas e votos, mas mesmo assim, inclinou-se, em graça, aos costumes de sua nação. Aos judeus ele se torna um judeu. A constante oposição dos judeus à sua doutrina e a violenta perseguição nunca enfraqueceram as afeições do apóstolo para com seu amado povo: certamente tal proceder vinha de Deus. Enquanto ele procurava, na energia do Espírito, pregar o evangelho aos gentios, ele nunca esquecia, em fidelidade à palavra de Deus, de pregar aos judeus primeiro. Assim ele é para nós como a viva expressão da graça de Deus para com os gentios, e de suas remanescentes afeições para com os judeus.

A equipe missionária chega a Éfeso. Paulo vai à sinagoga e debate com os judeus. Eles parecem inclinados a ouvi-lo, mas ele tem um forte desejo de subir a Jerusalém e celebrar a festa que se aproxima. Assim ele "se despediu deles, dizendo: É-me de todo preciso celebrar a solenidade que vem em Jerusalém; mas querendo Deus, outra vez voltarei a vós. E partiu de Éfeso." (Atos 18:21)

sábado, 13 de junho de 2015

A Visita de Paulo a Corinto

A conexão de Corinto com a história, com os ensinos e com os escritos de nosso apóstolo é quase tão íntima e importante quanto Jerusalém ou Antioquia. Corinto pode ser considerada seu centro na Europa. Aqui Deus teve "muito povo" (Atos 18:10), e aqui Paulo "ficou um ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra de Deus." (Atos 18:11). Foi também em Corinto que ele escreveu suas duas primeiras cartas apostólicas - as duas Epístolas aos Tessalonicenses.

Corinto, a capital romana da Grécia, era uma grande cidade mercantil, em conexão imediata com Roma e com o oeste do Mediterrâneo, com Tessalônica e Éfeso no Mar Egeu, e com a Antioquia e Alexandria a leste. Assim, por meio de seus dois notáveis portos, a cidade recebia embarcações tanto dos mares ocidentais quanto dos mares orientais. *

{* Para detalhes geográficos mais completos e detalhados, veja A Vida e as Epístolas de São Paulo, de Conybeare e Howson. Também acrescentamos que essa é nossa principal fonte no que diz respeito às datas. É provavelmente o melhor e mais abrangente livro sobre a história do grande Apóstolo, com exceção das próprias Escrituras}

Paulo parece ter viajado sozinho a Corinto. Se Timóteo foi ter com ele quando em Atenas (1 Tessalonicenses 3:1), ele foi enviado de volta a Tessalônica, lugar pelo qual, como veremos em breve, Paulo tinha grande afeição no coração. Logo após sua chegada ele inesperadamente encontrou dois amigos e companheiros na obra: Áquila e sua esposa Priscila. Nesta época em particular deveria haver um número maior de judeus em Corinto do que o normal, "pois Cláudio tinha mandado que todos os judeus saíssem de Roma." (Atos 18:2) O Senhor usou, assim, o banimento de Áquila e Priscila para fornecer um lugar para Seu solitário servo ficar. Eles eram da sua terra (Israel), do seu mesmo ramo de negócio, e do mesmo coração e espírito. "E, como era do mesmo ofício, ficou com eles, e trabalhava; pois tinham por ofício fazer tendas." (Atos 18:3)

Quão graciosos e maravilhosos são os caminhos do Senhor para Seu servo. Em uma cidade de riqueza e comércio cercada de gregos nativos, colonos romanos, e judeus vindos de todos os cantos, ele trabalha silenciosamente em seu próprio comércio de modo a não ser um incômodo para nenhum deles. Aqui temos, de certo modo, um exemplo da mais profunda e elevada espiritualidade combinada com o trabalho diligente nas coisas comuns desta vida. Que exemplo! E que lição! Sua labuta diária não gerava impedimento à sua comunhão com Deus. Nunca ninguém conheceu tão bem, ou sentiu tão profundamente, o valor do evangelho que ele carregava consigo: as questões da vida e da morte estavam ligadas a isso, e mesmo assim ele podia se entregar ao trabalho comum. Mas isto ele fez, assim como a pregação, para o Senhor e para Seus santos. Ele frequentemente se refere a isto em suas Epístolas, e fala disso como um de seus privilégios: "E em tudo me guardei de vos ser pesado, e ainda me guardarei. Como a verdade de Cristo está em mim, esta glória não me será impedida nas regiões da Acaia." (2 Coríntios 11:9,10 *)

{* Como alguns têm supervalorizado essa passagem, e outros a têm subestimado, pode ser interessante observar o que cremos ser seu verdadeiro significado. A decisão do apóstolo de não ser pesado aos santos, como aqui tão fortemente expressa, se aplica principalmente, se não exclusivamente, à igreja de Corinto. Um importante princípio estava envolvido, mas foi um princípio de particular aplicação ao caso, e não geral. Ele reconhece as dádivas das outras igrejas da maneira mais grata possível (Filipenses 4) e, ao escrever aos coríntios mais tarde, ele diz: "Outras igrejas despojei eu para vos servir, recebendo delas salário; e quando estava presente convosco, e tinha necessidade, a ninguém fui pesado. Porque os irmãos que vieram da macedônia supriram a minha necessidade" (2 Coríntios 11:8,9). O apóstolo, sem dúvida, tinha a melhor das razões para recusar, dessa maneira, a comunhão com a igreja em Corinto. Sabemos que havia "falsos apóstolos" e muitos inimigos lá, e que muitas perturbações graves e sérias tinham sido permitidas entre eles, as quais ele fortemente repreendeu e procurou corrigir. Sob tais circunstâncias, para que seus motivos não fossem mal interpretados, o apóstolo preferiu trabalhar com suas próprias mãos do que receber apoio da igreja em Corinto. E, "Por quê?", ele pergunta, "Porque não vos amo? Deus o sabe. Mas o que eu faço o farei, para cortar ocasião aos que buscam ocasião, a fim de que, naquilo em que se gloriam, sejam achados assim como nós” (2 Coríntios 11:11-12). }

Há outra coisa relacionada a esta característica do percurso do apóstolo que é de grande interesse. Acredita-se, em geral, que ele tenha escrito suas duas epístolas aos tessalonicenses mais ou menos nessa época, e alguns pensam que também a Epístola aos Gálatas. Estas permanecem diante de nós como verdadeiras testemunhas de sua proximidade com Deus e sua comunhão com Ele, enquanto se mantinha com o trabalho de suas próprias mãos. Mas quando chega o sábado de descanso, a oficina é fechada, e Paulo vai à sinagoga. Este era seu hábito. "E todos os sábados disputava na sinagoga, e convencia a judeus e gregos" (Atos 18:4). Mas enquanto Paulo estava ocupado, tanto nos dias de semana quanto nos sábados, Silas e Timóteo chegaram da Macedônia. É evidente que eles trouxeram consigo alguma ajuda que iria ajudar a suprir as necessidades do apóstolo naquele tempo, e assim aliviá-lo de tal trabalho constante.

A chegada de Silas e Timóteo parece ter encorajado e fortalecido o apóstolo. Seu zelo e energia no evangelho são evidentemente fortalecidos. Ele "foi impulsionado no espírito, testificando aos judeus que Jesus era o Cristo." (Atos 18:5), mas eles se opuseram à sua doutrina e blasfemaram. Isto levou Paulo a tomar seu curso com grande ousadia e decisão. Ele sacode a roupa, como sinal de estar limpo do sangue deles, e declara que dali em diante passará a tratar com os gentios. Em tudo isto ele foi conduzido por Deus, e agiu de acordo com Sua mente. Enquanto era possível, ele pregava na sinagoga; mas quando ele não mais podia estar lá, foi compelido a usar o lugar mais conveniente que ele podia encontrar. Em Éfeso, ele pregou na escola de um tal de Tirano; em Roma, ele "ficou dois anos inteiros na sua própria habitação que alugara, e recebia todos quantos vinham vê-lo;" (Atos 28:30); e aqui, em Corinto, um prosélito chamado Justo abriu sua casa ao rejeitado apóstolo.

Nessa particular crise na história do apóstolo ele foi favorecido com outra revelação especial do próprio Senhor. "E disse o Senhor em visão a Paulo: Não temas, mas fala, e não te cales; porque eu sou contigo, e ninguém lançará mão de ti para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade. E ficou ali um ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra de Deus." (Atos 18:9-11). Porém, novamente, seus implacáveis inimigos se enfurecem. O grande sucesso do evangelho entre os pagãos excitou a raiva dos judeus contra Paulo, que procuraram usar a vinda de Gálio, um novo governador, para realizar suas más intenções.

Gálio foi o irmão de Sêneca, o filósofo, e, como tal, era muito bem instruído. Ele era sábio, justo e tolerante como governador, embora desdenhoso em seu tratamento com as coisas sagradas. Mas o Senhor, que estava com Seu servo como Ele mesmo tinha dito, usou a incrédula indiferença de Gálio para derrotar os maliciosos desígnios dos judeus, e para virar suas falsas acusações contra eles mesmos. Como estavam frustrados em seus propósitos malignos, o apóstolo tinha maior liberdade e menos aborrecimento ao levar em frente a obra do evangelho. Seus benditos frutos logo se manifestaram por toda a província da Acaia (1 Tessalonicenses 1:8,9)

domingo, 22 de março de 2015

A Visita de Paulo a Atenas

A aparição do apóstolo em Atenas é um evento de grande importância em sua história. Atenas era, em certos aspectos, a capital do mundo, e a sede da cultura e filosofia grega; mas era também o ponto central da superstição e idolatria.

É muito interessante observar que o apóstolo não tinha pressa de começar seu trabalho nesse lugar. Ele concedeu tempo à reflexão. Pensamentos profundos, e o pesar de tudo na presença de Deus e à luz da morte e ressurreição de Cristo, encheram sua mente. Sua primeira intenção era esperar pela chegada de Silas e Timóteo. Ele tinha enviado uma mensagem para Bereia para que eles fossem ter com ele o mais rápido possível. Mas quando ele se viu rodeado de templos, e altares, e estátuas, e adoração idólatra, ele não podia mais ficar em silêncio. Como de costume, ele começa com os judeus, mas também disputa diariamente com os filósofos no mercado: cristianismo e paganismo então se confrontam abertamente entre si; e, vale observar, o apóstolo do cristianismo estava sozinho em Atenas, enquanto o lugar fervilhava de apóstolos do paganismo; e tão numerosos eram os objetos de adoração, que um satirista uma vez observou: "É mais fácil encontrar um deus que um homem em Atenas".

Alguns, com desprezo, ridicularizavam o que ouviam, e outros ouviam e desejavam ouvir mais. "E alguns dos filósofos epicureus e estóicos contendiam com ele; e uns diziam: Que quer dizer este paroleiro? E outros: Parece que é pregador de deuses estranhos; porque lhes anunciava a Jesus e a ressurreição." (Atos 17:18). Estas palavras tinham causado grande impressão, e permaneceram claramente em suas mentes. Que novidade, e que bendita realidade para as almas! A Pessoa de Cristo; não uma teoria: o fato da ressurreição; não uma sombria incerteza quanto ao futuro. O ministro de Cristo desnuda aos estudados atenienses a temerosa condição em que se encontravam sob a visão do verdadeiro Deus. No entanto, eles desejavam uma exposição mais plena e mais deliberada sobre esses misteriosos assuntos, e levaram Paulo ao Areópago. 

Desse lugar, o Areópago, é dito que era o mais conveniente e apropriado para um discurso. A mais solene corte da justiça havia sentado desde tempos imemoriais na colina do Areópago. Os juízes se sentavam ao ar livre sobre assentos escavados na rocha. Nesse local, muitas questões solenes tinham sido discutidas, e muitos casos solenes decididos: começando com o lendário julgamento de Marte, o que deu ao lugar o nome de "colina de Marte".

Foi nesse cenário que Paulo dirigiu-se à multidão. Não há um momento sequer na história do apóstolo, ou na história do começo do cristianismo, mais profundamente interessante ou mais conhecido que este. Inspirado por sentimentos para a honra de Deus, e cheio do conhecimento sobre a condição do homem à luz da cruz, o que deve ter ele sentido enquanto estava na colina de Marte? Para onde quer que voltasse os olhos, os sinais da idolatria em suas milhares de formas se levantavam diante dele. Ele poderia ter sido traído, diante das circunstâncias, a falar com exagerada ousadia; mas ele dominou seus sentimentos, e absteve-se de uma linguagem intemperada. Considerando a fervência de seu espírito, e a grandeza de seu zelo pela verdade, foi um notável exemplo de auto-negação e auto-controle. Mas seu Senhor e Mestre estava com ele, embora para o olho humano ele estivesse sozinho diante dos atenienses e dos muitos estrangeiros que se reuniam naquela universidade do mundo.

Pela sabedoria, prudência, raciocínio claro e perfeita habilidade, o discurso de Paulo se destaca nos anais da história da humanidade. Ele não começou atacando seus falsos deuses, ou denunciando a religião deles como uma ilusão satânica e objeto de seu ódio absoluto. O zelo sem conhecimento teria feito assim, e teria ficado satisfeito com sua própria fidelidade. Mas no discurso que temos diante de nós temos um exemplo da melhor maneira de se aproximar das mentes e corações de pessoas ignorantes e preconceituosas de qualquer idade. Que o Senhor possa dar sabedoria a todos Seus servos para seguir este exemplo!

Suas palavras de abertura são, ao mesmo tempo, vencedoras e reprobatórias: "Homens atenienses, em tudo vos vejo um tanto supersticiosos." (Atos 17:22). Ele, então, começa reconhecendo que eles tinham sentimentos religiosos, mas que estavam na direção errada; e então fala de si como sendo um que estava disposto a conduzi-los ao conhecimento do verdadeiro Deus: "Esse, pois, que vós honrais, não o conhecendo, é o que eu vos anuncio." (Atos 17:23). Ele sabiamente seleciona, para seu texto, a inscrição: "AO DEUS DESCONHECIDO" (Atos 17:23). Isto lhe dá a oportunidade de começar do mais baixo degrau da escada da verdade. Ele fala da unicidade de Deus, o Criador, e da relação do homem com Ele. Mas ele logo deixa o argumento contra a idolatria e procede pregando o evangelho. E ainda assim ele tem o cuidado de não introduzir o nome de Jesus em seu discurso público. Ele tinha tinha feito isso totalmente em suas ministrações mais particulares: mas, estando cercado pelos discípulos e admiradores de nomes como Sócrates, Platão, Zeno e Epícuro, ele sagradamente guarda o santo nome de Jesus do risco de uma comparação com tais. Ele bem sabia que o nome do humilde Jesus de Nazaré era "loucura (bobagem) para os gregos" (1 Coríntios 1:23). No entanto, é fácil observar que, próximo ao fim de seu discurso, a atenção de toda a audiência está concentrada no homem Cristo Jesus, embora Seu nome não seja mencionado em todo o discurso. Então ele procede: "Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam; porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos." (Atos 17:30-31). Aqui a paciência de sua audiência acabou - seu discurso foi interrompido. Mas a última impressão deixada em suas mentes era de eterno peso e importância. O apóstolo inspirado se dirigiu às consciências, e não à curiosidade intelectual dos filósofos. A menção da ressurreição dos mortos e do julgamento do mundo, com tal poder e autoridade, não podia deixar de perturbar aqueles orgulhosos e auto-indulgentes homens. O princípio essencial, ou o maior objetivo, do filósofo epicureu, era satisfazer a si mesmo; o do estoico era uma orgulhosa indiferença ao bem e ao mal, ao prazer e a dor.

Que dúvidas podemos ter de que essa notável assembleia se desfaria em meio ao escárnio desdenhoso de alguns e à gélida indiferença de outros? Mas, apesar de tudo, o cristianismo tinha ganhado sua primeira e nobre vitória sobre a idolatria e, quaisquer que tenham sido os resultados imediatos do discurso de Paulo, sabemos que tem sido de bênção para muitos desde então, e que ainda trará muitos frutos em muitas almas, e continuará a dar frutos para a glória de Deus sempre e sempre.

Paulo agora se afasta do meio deles. Ele não parece ter sido expulso por qualquer tumulto ou perseguição. O bendito Senhor lhe concedeu provar de Sua própria alegria e da alegria dos anjos quando alguns pecadores contritos o buscaram: "entre os quais foi Dionísio, areopagita, uma mulher por nome Dâmaris, e com eles outros." (Atos 17:34). Mas na cidade militar de Filipos, e nas cidades mercantis de Tessalônica e Corinto, o número de conversões parece ter sido muito maior do que na altamente educada e civilizada cidade de Atenas. Isto é profundamente humilhante para o orgulho do homem, e para os vangloriosos poderes da mente humana. Uma Epístola foi escrita aos filipenses, duas aos tessalonicenses, e duas aos coríntios: mas não temos nenhuma carta escrita por Paulo aos atenienses, e não lemos de ter ele outra vez visitado Atenas.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Paulo em Tessalônica e Bereia

Paulo e Silas agora dirigem seu percurso até Tessalônica. Timóteo e Lucas parecem ter ficado para trás em Filipos por um tempo. Tendo passado através de Anfípolis e Apolônia, Paulo e Silas chegam a Tessalônica. Ali eles encontram uma sinagoga. Era uma cidade comercial de grande importância, onde muitos judeus residiam. "Paulo, como tinha por costume, foi ter com eles; e por três sábados disputou com eles sobre as Escrituras." (Atos 17:2). Os corações de muitos foram tocados por suas pregações, e uma grande multidão de devotos gregos e mulheres da alta sociedade creram. Mas o velho inimigo de Paulo aparece novamente. "Os judeus desobedientes, movidos de inveja, tomaram consigo alguns homens perversos, dentre os vadios e, ajuntando o povo, alvoroçaram a cidade, e assaltando a casa de Jasom, procuravam trazê-los para junto do povo. E, não os achando, trouxeram Jasom e alguns irmãos à presença dos magistrados da cidade, clamando: Estes que têm alvoroçado o mundo, chegaram também aqui; os quais Jasom recolheu; e todos estes procedem contra os decretos de César, dizendo que há outro rei, Jesus." (Atos 17:5-7). Estes versículos devem bastar para nos dar uma ideia do caráter universal dos judeus contra o evangelho e contra Paulo, seu principal ministro.

O apóstolo tinha, evidentemente, pregado aos tessalonicenses a verdade a respeito da exaltação de Cristo e Sua vinda na glória: "Dizendo que há outro rei, Jesus." Daí a constante alusão à vinda do Senhor, e ao "dia do Senhor", nas Epístolas de Paulo àquela igreja. Pelo que diz Paulo em sua primeira Epístola, aprendemos que seus trabalhos foram muito abundantes e grandemente reconhecidos e abençoados pelo Senhor para muitas almas. (1 Tessalonicenses 1:9-10; 2:10-11)

O apóstolo agora procede para a Bereia. Ali os judeus eram mais nobres. Eles examinavam o que ouviam pela Palavra de Deus. Houve uma grande bênção ali também. Muitos creram, mas os judeus, como caçadores após sua presa, apressaram-se de Tessalônica para a Bereia, e levantaram um tumulto que forçou Paulo a deixar o lugar quase imediatamente. Acompanhado por alguns dos bereianos convertidos, ele direcionou seu curso para Atenas. Silas e Timóteo ficaram para trás.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

O Efeito da Pregação de Paulo em Filipos

A quantidade de judeus em Filipos aparentemente era pequena, já que não havia sinagoga no lugar. Mas o apóstolo, como de costume, vai a eles primeiro, mesmo quando se trata de umas poucas mulheres reunidas à margem do rio (Atos 16). Paulo prega a elas, Lídia é convertida, a porta é aberta, e outras também creem. Foi nesse lugar despretensioso, e àquelas poucas mulheres piedosas, que o evangelho foi pregado pela primeira vez na Europa, e onde a primeira casa foi batizada*. Mas o silencioso início e seus triunfos pacíficos logo foram perturbados pela malícia de Satanás e pela cobiça do homem. O evangelho não avançaria em meio ao paganismo com facilidade e conforto, mas com grande oposição e sofrimento.

{* A ação do Espírito quanto à família parece ter sido marcante entre os gentios; entre os judeus, até onde sabemos, não ouvimos falar disso. Encontramos, também, distritos entre os judeus, e também entre os samaritanos, que foram poderosamente impressionados (para dizer o mínimo) pelo evangelho. Mas entre os gentios, famílias parecem ter sido particularmente visitadas pela graça divina, como registrado pelo Espírito. Tome por exemplo Cornélio, o carcereiro e Estéfanas; de fato, encontramos isso vez após vez. Isto é extremamente encorajador - especialmente para nós. - Extraído de Leituras Introdutórias dos Atos dos Apóstolos, etc., por W. Kelly}

Enquanto o apóstolo e seus companheiros iam ao oratório, ou lugar de oração, uma jovem possuída por um espírito maligno os seguia, e clamava, dizendo: "Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo." (Atos 16:17). Da primeira vez, Paulo não deu atenção. Ele foi em frente com sua própria bendita obra de pregação de Cristo, e de ganhar almas para Ele. Mas a pobre e obsessiva escrava persistia em segui-los, e em proferir a mesma exclamação. Foi uma tentativa maliciosa do inimigo para impedir a obra de Deus ao prestar um testemunho aos ministros da Palavra. Deve ser observado que ela não presta testemunho a "Jesus", ou ao "Senhor", mas aos Seus "servos", e ao "Deus Altíssimo". Mas Paulo não queria um testemunho para ele mesmo, nem um testemunho vindo de um espírito maligno, e ele, "perturbado, voltou-se e disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo, te mando que saias dela. E na mesma hora saiu." (Atos 16:18)

Como a moça não podia mais praticar suas artes de adivinhação, seus mestres viram-se privados dos ganhos que eles tinham derivado daquela fonte. Enfurecidos pela perda de sua propriedade, e movendo as multidões ao seu favor, prenderam Paulo e Silas e os arrastaram perante os magistrados. Como eles estavam bem conscientes de que não tinham nenhuma acusação verdadeira para trazê-los perante eles, levantaram o velho clamor da "perturbação da paz" - de que eles estavam tentando introduzir práticas judaicas na colônia romana, e ensinar costumes que eram contrários às leis romanas. E, como tem sido muitas vezes, o clamor da multidão foi aceito no lugar da evidência, exame e deliberação. Os magistrados, sem perguntar mais nada, ordenou-lhes que fossem açoitados e lançados na prisão. E assim foi, aqueles benditos servos de Deus, feridos, sangrando e fracos foram entregues a um cruel carcereiro, que aumentou ainda mais o sofrimento deles ao prender-lhes os pés no tronco. Mas Paulo e Silas, em vez de ficarem deprimidos por seus sofrimentos no corpo e pelas sombrias paredes da prisão, alegraram-se por terem sido considerados dignos de sofrer vergonha e dor por causa de Cristo; e em vez do silêncio da meia-noite ser quebrado com os suspiros e gemidos dos prisioneiros, eles "oravam e cantavam hinos a Deus, e os outros presos os escutavam." (Atos 16:25)

Se a Satanás não lhe falta recursos para continuar sua obra ruim, a Deus não Lhe falta recursos para continuar Sua boa obra. Ele agora faz uso de tudo que aconteceu para direcionar o progresso da obra do evangelho, e para cumprir os propósitos do Seu amor. O carcereiro deve ser convertido, a igreja deve ser reunida, e um testemunho criado para o Senhor Jesus Cristo na própria fortaleza do paganismo. À meia-noite, enquanto Paulo e Silas estavam cantando e os prisioneiros estavam ouvindo ao som incomum, ocorre um grande terremoto. Deus entra em cena em majestade e graça. Ele levanta Sua voz e a terra treme: as paredes da prisão são chacoalhadas, as portas se abrem, e os grilhões de todo homem caem. E agora, o que são cadeias e prisões? O que são legiões romanas? O que é todo o poder do inimigo? A voz de Deus é ouvida na tempestade: mas a violência da tempestade é sucedida pela voz mansa e delicada do evangelho e da paz do Céu.

Logo despertado pelo terremoto, os primeiros pensamentos do carcereiro foram em relação a seus prisioneiros. Alarmado por ver as portas da prisão abertas, e supondo que os presos tinham fugido, ele pega sua espada para se matar. "Mas Paulo clamou com grande voz, dizendo: Não te faças nenhum mal, que todos aqui estamos." (Atos 16:28). Estas palavras de amor quebraram o coração do carcereiro. A calma serenidade de Paulo e Silas - sua recusa em valer-se da oportunidade de escapar - sua carinhosa preocupação para com ele - tudo combinado para fazê-los aparecer aos olhos do espantado carcereiro como seres de uma ordem superior. Ele deixou de lado sua espada, pediu por luz, saltou para dentro da prisão e, tremendo, caiu aos pés do apóstolo. Sua consciência foi, agora, alcançada, seu coração foi quebrantado, e havia algo como a violência de um terremoto agitando toda sua alma. Ele toma o lugar de um pecador perdido, e clama: "Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar?" (Atos 16:30). Ele não fala como o doutor da lei em Lucas 10:25: "Mestre, que farei para herdar a vida eterna?" O que estava em questão para o carcereiro não era sobre fazer algo para a vida, mas sobre a salvação para o perdido. O doutor da lei, como muitos outros, não conhecia a si mesmo como um pecador perdido, portanto ele não fala sobre salvação.

Em resposta à mais importante pergunta que os lábios humanos podem fazer, "O que devo fazer para ser salvo?", o apóstolo direciona a mente do carcereiro para Cristo - "Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa." (Atos 16:31). Deus deu a bênção, e toda sua família creu, se alegrou, e foi batizada. E agora tudo está mudado: o carcereiro leva os prisioneiros à sua própria casa - sua crueldade é transformada em amor, simpatia e hospitalidade. Na mesma hora da noite, lavou-lhes os vergões - lhes ofereceu comida - regozijou-se, crendo em Deus com toda sua casa. Que noite agitada! Que mudança em poucas horas! E que manhã alegre clareou sobre aquela feliz casa! O Senhor seja louvado!

Como o rei Dário, os magistrados parecem ter sido perturbados durante a noite. A notícia do terremoto, ou de que Paulo e Silas eram cidadãos romanos, parece tê-los alcançado. Mas assim que amanheceu, mandaram dizer ao carcereiro que "soltassem aqueles homens". Ele, imediatamente, fez conhecer a ordem a Paulo e Silas, e desejou-lhes que partissem em paz. Mas Paulo se recusou a aceitar sua liberdade sem algum reconhecimento público do erro de que haviam sido vítimas. Ele agora também torna conhecido o fato de que ele e Silas eram cidadãos romanos. As famosas palavras de Cícero tinham se tornado um provérbio, e tinham um imenso peso onde quer que fosse: "Acorrentar um cidadão romano é um ultraje, açoitá-lo é um crime". Os magistrados tinham, evidentemente, violado as leis romanas; mas Paulo só exigiu que, como eles tinham sido publicamente tratados como culpados, os magistrados fossem a público e declarassem que eram inocentes. Isto eles fizeram prontamente, vendo o erro que tinham cometido. "E, vindo, lhes dirigiram súplicas; e, tirando-os para fora, lhes pediram que saíssem da cidade. E, saindo da prisão, entraram em casa de Lídia e, vendo os irmãos, os confortaram, e depois partiram." (Atos 16:39-40) *

{* Veja os artigos evangelísticos sobre as principais personagens deste capítulo em Things New and Old, vol. 12, páginas 29-97.}


Antes de deixarmos este memorável capítulo, devemos apenas acrescentar algo que é muito agradável de se encontrar: na Epístola de Paulo aos Filipenses, as provas de um vínculo que os unia, e que continuou desde "o primeiro dia" até mesmo depois do aprisionamento de Paulo em Roma. Sua afeição pelos amados filipenses era maravilhosa. Ele se dirigiu a eles como "meus amados e mui queridos irmãos, minha alegria e coroa, estai assim firmes no Senhor, amados." (Filipenses 4:1). E ele reconhece, sem poder conter a alegria, sua comunhão incansável com eles no evangelho, e as muitas provas práticas do amável cuidado e carinhosa simpatia que eles tinham por ele. Já em sua residência em Tessalônica eles se lembravam das necessidades do apóstolo. "Porque também uma e outra vez me mandastes o necessário a Tessalônica." (Filipenses 4:16)

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Paulo leva o Evangelho para a Europa

Isto marca uma época distinta na história da igreja, na história de Paulo, e no progresso do cristianismo. Paulo e seus companheiros agora levam o evangelho Europa adentro. E aqui creio que podemos fazer uma pausa, por um momento, para lembrarmos as várias e interessantes associações históricas dos conquistadores e conquistas da Macedônia, e para habitarmos por um momento sobre a planície de Filipos, também famosa na história romana. Aqui a grande luta entre a república e o império tinha terminado. Para comemorar esse evento, Augusto fundou uma colônia em Filipos. Esta foi a primeira cidade na qual Paulo chegou em sua entrada para a Europa. Ela é chamada "a primeira cidade desta parte da Macedônia, e é uma colônia." (Atos 16:12) Uma colônia romana, como nos é relatado, era caracteristicamente uma lembrança em miniatura de Roma; e Filipos era mais apta que qualquer outra cidade no império para ser considerada representativa da Roma Imperial.

Para muitos de nossos jovens e questionadores leitores, esta breve digressão, temos certeza, não será desinteressante. Além disso, um conhecimento sobre tais histórias são úteis ao estudante da profecia, uma vez que se tratam do cumprimento da visão de Daniel, especialmente do capítulo 7. A cidade de Filipos era, por si própria, um monumento ao crescente poder da Grécia, que deveria esmagar o poder em declínio da Pérsia. Alexandre, o Grande, filho de Filipe, foi o conquistador do grande rei Dário; quando o "Leopardo" da Grécia venceu o "Urso" da Pérsia. *

{* Veja Notas sobre o Livro de Daniel, por W. Kelly.}

Ao olharmos para trás a partir do tempo em que Paulo partiu da Ásia para a Europa, quase quatrocentos anos tinham passado desde que Alexandre partiu da Europa para a Ásia. Mas quão diferentes eram seus motivos e objetivos - seus conflitos e suas vitórias! O entusiasmo de Alexandre foi despertado pela lembrança de seus grandes antepassados, e por sua determinação em derrubar as grandes dinastias do Oriente; mas, embora não intencional e inconscientemente, ele estava cumprindo os propósitos de Deus. Paulo tinha cingido sua armadura para outro propósito, e para ganhar maiores e mais duradouras vitórias. Ele foi enviado pelo Espírito Santo, não apenas para subjugar o Ocidente, mas para trazer o mundo inteiro a cativar pela obediência de Cristo. O cristianismo não é apenas para uma nação ou um povo, mas para o homem universalmente; até mesmo o próprio Paulo expressa isto em Colossenses 1:23: "A toda criatura que há debaixo do céu". Esta é a missão do evangelho, e esta é sua esfera.

Mas há outra coisa que devemos observar aqui antes de procedermos com a viagem de Paulo.

Lucas, "o médico amado", historiador e evangelista parece ter se unido a Paulo neste momento particular. No versículo 10 ele escreve na primeira pessoa do plural: "Procuramos partir para a Macedônia". Supõe-se que ele era um gentio de nascença e convertido em Antioquia. Ele parece ter permanecido como um fiel companheiro do apóstolo até o fim de seus trabalhos e aflições (2 Timóteo 4:11).

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

A Segunda Viagem Missionária de Paulo (por volta de 51 d.C.)

Depois de Paulo e Barnabé terem ficado algum tempo com a igreja em Antioquia, outra viagem missionária foi proposta. "Tornemos", disse Paulo, "a visitar nossos irmãos por todas as cidades em que já anunciamos a palavra do Senhor, para ver como estão. E Barnabé aconselhava que tomassem consigo a João, chamado Marcos. Mas a Paulo parecia razoável que não tomassem consigo aquele que desde a Panfília se tinha apartado deles e não os acompanhou naquela obra. E tal contenda houve entre eles, que se apartaram um do outro. Barnabé, levando consigo a Marcos, navegou para Chipre. E Paulo, tendo escolhido a Silas, partiu, encomendado pelos irmãos à graça de Deus. E passou pela Síria e Cilícia, confirmando as igrejas." (Atos 15:36-41)

Com uma jornada tão importante, tão cheia de provações, que exigia coragem e perseverança - segundo a opinião de Paulo - ele não podia confiar em Marcos como companheiro; ele não podia facilmente desculpar aquele cujos laços familiares o tornaram infiel no serviço ao Senhor. O próprio Paulo deixava de lado todas as considerações e sentimentos pessoais quando a obra de Cristo estava em questão, e ele desejava que os outros fizessem o mesmo. A afeição natural, nesta ocasião, pode ter traído Barnabé a, novamente, pressionar seu sobrinho ao serviço; mas uma severa seriedade caracterizava Paulo. Os laços dos relacionamentos naturais e dos apegos humanos ainda tinham grande influência sobre o caráter cristão ameno de Barnabé. Isto é evidente pela sua conduta em Antioquia na ocasião da fraca complacência de Pedro para com os judaizantes de Jerusalém (Gálatas 2). A disseminação do evangelho no mundo gentio era sagrada demais aos olhos de Paulo para admitir experimentos. Marcos tinha preferido Jerusalém à obra, mas Silas preferiu a obra a Jerusalém. Isto pesou na decisão de Paulo, embora, sem dúvida, ela tenha sido guiado pelo Espírito.

Barnabé leva Marcos, seu parente, e navega para Chipre, sua terra natal. E aqui nos despedimos de Barnabé, aquele amado santo e precioso servo de Cristo! Seu nome não é mais mencionado em Atos. Essas palavras, "parente" e "terra natal" devem ser deixadas a falar por elas mesmas ao coração de cada discípulo que lê estas páginas. Se estivéssemos meditando sobre essa cena dolorosa, em vez de dar um mero esboço de uma grande história, poderíamos ter muito o que dizer sobre o assunto; mas o deixamos com duas felizes reflexões: 1) Isto foi direcionado de modo que redundou em benção para os pagãos; as águas da vida agora fluíam em duas correntes no lugar de uma só. Isso, no entanto, é a bondade de Deus, e não dá sanção à divisão entre cristãos. 2) Paulo, mais tarde, fala de Barnabé com inteira afeição, e deseja que Marcos vá até ele, tendo-o achado útil para o ministério (1 Coríntios 9:6; 2 Timóteo 4:11). Não temos dúvida de que a fidelidade de Paulo se tornou uma benção para ambos. Mas o mel das afeições humanas nunca poderão ser aceitas no altar de Deus.

Tendo sido encomendados pelos irmão à graça de Deus, eles iniciam sua jornada. Tudo é maravilhosamente simples. Nenhum desfile é feito pelos seus amigos ao vê-los partir, e nenhuma grande promessa é feita por eles quanto ao que eles estavam determinados a fazer. "Tornemos a visitar nossos irmãos", são as poucas, simples e despretensiosas palavras que nos levam à segunda grande viagem missionária de Paulo. Mas o Mestre estava pensando em Seus servos e provendo para eles. Eles não precisavam ir longe até encontrar um novo companheiro em Timóteo de Listra, um que havia de suprir o vazio causado pela ausência de Barnabé. Se Paulo perdeu o companheirismo de Barnabé como amigo e irmão, ele encontrou em Timóteo, como seu próprio filho na fé, uma simpatia e um companheirismo que só combinava com a vida do apóstolo. "Paulo quis que este fosse com ele", mas antes de partirem, Paulo "o circuncidou, por causa dos judeus que estavam naqueles lugares; porque todos sabiam que seu pai era grego." Paulo, nesta ocasião, inclina-se ao preconceito dos judeus, e circuncisa Timóteo por segurança.

Timóteo era filho de um daqueles casamentos mistos que sempre foram fortemente condenados tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. Seu pai era um gentio, mas seu nome nunca é mencionado; sua mãe era uma piedosa judia. Dada a ausência de qualquer referência ao pai, tanto em Atos quanto nas Epístolas, supõe-se que ele possa ter morrido pouco tempo depois do filho ter nascido. Timóteo foi, evidentemente, deixado na infância ao único cuidado de sua mãe Eunice e de sua avó Lóide, que o ensinou, desde criança, a conhecer as Sagradas Escrituras. E, das muitas alusões nas Epístolas de Paulo ao carinho, sensibilidade, e às lágrimas de seu amado filho na fé, podemos acreditar que ele manteve por toda a vida as impressões daquele gentil, amável e santo cuidado doméstico. O maravilhoso amor de Paulo por Timóteo, e suas afáveis lembranças de sua casa em Listra, e seu treinamento inicial ali, ditaram  algumas das mais tocantes passagens dos escritos do grande apóstolo. Quando já um homem idoso - na prisão, passando necessidades, e com o martírio diante de si - ele escreve: "A Timóteo, meu amado filho: Graça, misericórdia, e paz da parte de Deus Pai, e da de Cristo Jesus, Senhor nosso. Dou graças a Deus, a quem desde os meus antepassados sirvo com uma consciência pura, de que sem cessar faço memória de ti nas minhas orações noite e dia; desejando muito ver-te, lembrando-me das tuas lágrimas, para me encher de gozo; trazendo à memória a fé não fingida que em ti há, a qual habitou primeiro em tua avó Lóide, e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também habita em ti." (2 Timóteo 1:2-5). Ele insiste e repete seu urgente convite a Timóteo para ir e vê-lo. "Procura vir ter comigo depressa" - "Procura vir antes do inverno" (2 Timóteo 4:9,21). Podemos permitir-nos a crer que um filho tão ternamente amado pôde chegar a tempo de acalmar as últimas horas de seu pai em Cristo, de receber seu último conselho e bênção, e de testemunhá-lo terminando sua carreira com alegria.

Silas, ou Silvano, aparece pela primeira vez como um mestre na igreja em Jerusalém; e provavelmente ele era tanto um helenista quanto um cidadão romano, como o próprio Paulo (Atos 16:37). Ele foi apontado como responsável por acompanhar Paulo e Barnabé em seu retorno a Antioquia com os decretos do concílio. Mas, como muitos detalhes tanto da vida de Timóteo quanto de Silas naturalmente aparecerão ao traçarmos o caminho do apóstolo, não precisamos dizer nada mais sobre eles no presente momento. Procedamos com a viagem.

Paulo e Silas, com seu novo companheiro, percorrem as cidades, ordenando-lhes a manter os decretos ordenados pelos apóstolos e anciãos em Jerusalém. Os decretos foram deixados com as igrejas, de modo que os judeus tinham a própria decisão de Jerusalém de que a lei não era para ser imposta aos gentios. Após visitar e confirmar as igrejas já plantadas na Síria e Cilícia, eles procederam para a Frígia e Galácia. Aqui fazemos uma pausa e nos deteremos nestas palavras: "pela Frígia e pela província da Galácia" (Atos 16:6). A Frígia e a Galácia não eram meras cidades, mas províncias, ou grandes distritos do país. E ainda assim o historiador sagrado usa apenas essas poucas palavras ao recordar a grande obra feita lá. Quão diferente é a energia condensada do Espírito comparada ao estilo inflado do homem! Aprendemos da história, segundo Neander, que somente na Frígia, no sexto século, havia sessenta e duas cidades. E parece que Paulo e os que estavam com ele tinham percorrido todas as que existiam naquela época.

As mesmas observações quanto ao trabalho se aplica à Galácia. E aprendemos pela Epístola de Paulo aos Gálatas que, nessa época, ele estava sofrendo no corpo. "E vós sabeis que primeiro vos anunciei o evangelho estando em fraqueza da carne" (Gálatas 4:13). Mas o poder da sua pregação contrasta de maneira tão impressionante com a fraqueza da sua carne que os gálatas foram movidos até mesmo a extravasar em simpatia e sentimentos generosos. "E não rejeitastes, nem desprezastes isso que era uma tentação na minha carne, antes me recebestes como um anjo de Deus, como Jesus Cristo mesmo. Qual é, logo, a vossa bem-aventurança? Porque vos dou testemunho de que, se possível fora, arrancaríeis os vossos olhos, e mos daríeis." (Gálatas 4:14-15). Aprendemos pela história que os gálatas eram de origem celta, impulsivos e de caráter instável.* A Epístola inteira é uma triste ilustração da instabilidade deles, e dos tristes efeitos do elemento judaizante entre eles. "Maravilho-me de", disse Paulo, "que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho; o qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo." (Gálatas 1:6-7). Mas retornemos à história narrada em Atos.

(* Veja História do Novo Testamento, de Smith)

O caráter e os efeitos do ministério de Paulo, como relatados nos capítulos 16 a 20, são realmente maravilhosos. Eles deveriam até se destacar nas páginas de toda a história. Todo servo de Cristo, e especialmente o pregador, deveria estudá-los cuidadosamente e lê-los com frequência. "O vaso do Espírito", disse alguém de maneira tão bela, "brilha com uma luz celestial através de toda a obra do evangelho; ele condescende em Jerusalém; trovoa na Galácia quando almas estão sendo pervertidas, guia os apóstolos a decidirem pela liberdade dos gentios, e usa, ele mesmo, de toda a liberdade de ser um judeu de judeus, e como um sem lei para aqueles que não tinham a lei, como não estando debaixo da lei, mas sempre sujeito a Cristo. Ele também 'procurava sempre ter uma consciência sem ofensa' (Atos 24:16). Nada que havia dentro dele dificultava sua comunhão com Deus, de onde ele tirou suas forças para ser fiel entre os homens. Ele podia dizer, e [talvez, N. do T.] ninguém além dele: 'sede meus imitadores, como também eu de Cristo' (1 Coríntios 11:1). Assim também ele podia dizer: 'Tudo sofro por amor dos escolhidos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna.' (2 Timóteo 2:10)"*

(* Sinopse dos Livros da Bíblia, por J. N. Darby.)


Os modos do Espírito para com o apóstolo nesses capítulos são também dignos de nota. Ele, e somente Ele, dirige o apóstolo em seu maravilhoso caminho, e o sustêm em meio a muitas provas e circunstâncias opostas. Por exemplo, Ele proíbe Paulo de pregar a Palavra na Ásia - Ele não o deixa ir à Bitínia, mas o direciona por meio de uma visão à noite para que ele fosse à Macedônia. "E Paulo teve de noite uma visão, em que se apresentou um homem da Macedônia, e lhe rogou, dizendo: Passa à Macedônia, e ajuda-nos. E, logo depois desta visão, procuramos partir para a Macedônia, concluindo que o Senhor nos chamava para lhes anunciarmos o evangelho. E, navegando de Trôade, fomos correndo em caminho direito para a Samotrácia e, no dia seguinte, para Neápolis; e dali para Filipos, que é a primeira cidade desta parte da Macedônia, e é uma colônia." (Atos 16:9-12)


segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

A Terceira Visita de Paulo a Jerusalém (por volta de 50 d.C.)

Quando eles chegaram a Jerusalém, encontraram a mesma coisa [fanatismo dos crentes judeus pela guarda da lei pelos gentios, N. do T.], não apenas nas mentes de alguns poucos irmãos inquietos, mas no próprio seio da igreja. A fonte da confusão estava lá, não entre judeus incrédulos, mas entres aqueles que professavam o nome de Jesus. "Alguns, porém, da seita dos fariseus, que tinham crido, se levantaram, dizendo que era mister circuncidá-los e mandar-lhes que guardassem a lei de Moisés." (Atos 15:5). Esta declaração clara trouxe toda a questão diante da assembleia, e suas importantes deliberações começaram. O Capítulo 15 de Atos contém o relato do que ocorreu e como a questão foi resolvida. Os apóstolos, anciãos, e todo o corpo da igreja em Jerusalém não estavam apenas presentes, mas também tomaram parte na discussão. Os apóstolos nem assumiram nem exercitaram poder exclusivo sobre o assunto. Este é geralmente chamado "O primeiro Concílio da Igreja", mas pode também ser chamada de último concílio da igreja que podia dizer: "Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós" (Atos 15:28).

Muitos, de acordo com noções modernas de "essencial e não-essencial", sem dúvida diriam que a mera cerimônia de circuncidar ou não circuncidar uma criança não tinha muita importância. Mas não é assim de acordo com a mente de Deus. Era uma questão vital. Afetava o próprio fundamento do cristianismo, os profundos princípios da graça, e toda a questão sobre a relação do homem com Deus. A Epístola de Paulo aos Gálatas é um comentário sobre a história dessa questão.

Não havia rito ou cerimônia que o judeu convertido fosse tão averso a deixar para trás como a circuncisão. Era o sinal e o selo do seu próprio relacionamento com Jeová, e das hereditária bênçãos da aliança com seus filhos. É da opinião de alguns em todas as eras que o "batismo de crianças" foi introduzido pela igreja para atender ao forte preconceito judaico. Mas se isto tivesse sido a pretensão do Senhor, o concílio em Jerusalém seria o próprio lugar para anunciá-lo. Isto acabaria com toda a dificuldade, e resolveria a questão diante deles, e restauraria a paz e unidade entre os duas "igrejas-mãe" [a igreja em Jerusalém, sendo a primeira igreja onde predominavam os judeus, e a igreja em Antioquia, sendo a primeira igreja onde predominavam os gentios, N. do T.]. Mas nenhum dos apóstolos ou dos outros aludiram a isto.

Antes de deixarmos essa importante e sugestiva parte da história do nosso apóstolo, pode ser bom observar certos fatos trazidos em Gálatas 2, mas que não são mencionados em Atos. Foi nesta ocasião que Paulo subiu, por revelação, a Jerusalém com Tito. Em Atos temos a história de Paulo vista de fora, cedendo aos motivos, desejos e objetivos do homem; nas Epístolas temos algo mais profundo - aquilo que governava o coração do apóstolo. Mas Deus sabe como combinar essas circunstâncias externas com a direção interna do Espírito. A liberdade cristã ou a servidão da lei estavam em debate: se a lei de Moisés - em particular, o rito da circuncisão - deveria ser imposta aos gentios convertidos. Paulo, guiado por Deus, sobe a Jerusalém, e leva com ele Tito. Perante a face dos doze apóstolos, e de toda a igreja, ele traz a Tito, que era grego, e que não tinha sido circuncidado. Isto foi um passo ousado - introduzir um gentio, e incircunciso, no próprio centro de um judaísmo intolerante! Mas o apóstolo foi lá por revelação. Ele tinha comunicações positivas, vindas de Deus, sobre o assunto. Foi a maneira divina de decidir a questão, de uma vez por todas, entre ele mesmo e os cristãos judaizantes. Este passo era necessário, como ele diz: "E isto por causa dos falsos irmãos que se intrometeram, e secretamente entraram a espiar a nossa liberdade, que temos em Cristo Jesus, para nos porem em servidão; aos quais nem ainda por uma hora cedemos com sujeição, para que a verdade do evangelho permanecesse entre vós." (Gálatas 2:4-5)

O apóstolo, então, tendo atingido seu principal objetivo, e tendo comunicado seu evangelho aos de Jerusalém, vai embora, com Barnabé, e retorna aos cristãos gentios em Antioquia. Os dois representantes, Judas e Silas, carregando os decretos do concílio, os acompanham. Quando a multidão de discípulos se reuniu e ouviu a epístola lida, se alegraram e foram consolados.

Assim termina o primeiro concílio apostólico, e a primeira controvérsia apostólica. E, pelo que aprendemos desses assuntos em Atos, podemos concluir que a divisão entre os cristãos judeus e gentios tinha sido completamente curada pela decisão da assembleia; mas sabemos, pelas Epístolas, que a oposição do partido judaizante contra a liberdade dos cristãos gentios nem sequer cochilava. Logo começava de novo, e Paulo tinha que, constantemente, confrontar e lutar contra a questão.

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