sábado, 12 de dezembro de 2015

Epístolas que foram Escritas por Paulo Durante seu Aprisionamento

Não pode haver dúvida de que a Epístola a Filemom, aos Colossenses, aos Efésios e aos Filipenses foram escritas por volta dos últimos tempos de Paulo como prisioneiro em Roma. Ele se refere a suas "prisões" em todas essas cartas, e fala repetidamente sobre a expectativa de sua libertação (Compare Filemom 1:22; Colossenses 4:18; Efésios 3:1; 4:1; 6:20; Filipenses 1:7, 25; 2:24; 4:22). Além disso, ele deve ter estado por tempo o bastante em Roma para que as novidades sobre sua prisão chegassem aos afetuosos filipenses, e para que eles tivessem lhe enviado refrigério.

As três primeiras parecem ter sido escritas algum tempo antes da Epístola aos Filipenses. Paulo fala sobre um assunto urgente o qual teve de ser resolvido em sua epístola a eles: "De sorte que espero vo-lo enviar logo que tenha provido a meus negócios. Mas confio no Senhor, que também eu mesmo em breve irei ter convosco." (Filipenses 2:23,24). As três primeiras podem ter sido escritas por volta da primavera do ano 62 d.C., e enviadas por Tíquico e Onésimo; a última, no outono e enviada por Epafrodito.

Supõe-se também que a Epístola aos Hebreus tenha sido escrita por essa época, e cada justa consideração leva à conclusão de que Paulo foi o escritor. A expressão ao final da epístola "os da Itália vos saúdam" parecem decisivas quanto a onde o escritor estava quando a escreveu.  E as seguintes passagens parecem ser decisivas quanto à época: "Sabei que já está solto o irmão Timóteo, com o qual, se ele vier depressa, vos verei." (Hebreus 13:23,24). Compare isto com o que Paulo escreveu aos filipenses: "E espero no Senhor Jesus que em breve vos mandarei Timóteo... logo que tenha provido a meus negócios. Mas confio no Senhor, que também eu mesmo em breve irei ter convosco." (Filipenses 2:19,23,24). É difícil duvidar que essas passagens não tenham sido escritas pela mesma caneta por volta da mesma época, e que se referem aos mesmo movimentos pretendidos. Mas não iremos insistir nesse ponto. Uma coisa, no entanto, é evidente - que a epístola foi escrita antes da destruição de Jerusalém em 70 d.C., pois o templo ainda estava de pé, e a adoração no templo continuava inalterada. Compare Hebreus 8:4; 9:25; 10:11; 13:10-13.

O Escravo Foragido, Onésimo

De todos os convertidos que o Senhor deu ao apóstolo estando preso, nenhum deles parece ter ganho tão inteiramente seu coração como o pobre escravo fugitivo, Onésimo. Uma bela imagem de força, humildade e ternura do divino amor no coração que trabalha pelo Espírito, e docemente brilha em todos os detalhes da vida individual! O sucesso do apóstolo no palácio imperial não enfraquece seu interesse em um jovem discípulo da mais baixa condição da sociedade. Nenhuma porção da comunidade era mais depravada do que os escravos. Mas quem se associaria a um escravo fugitivo naquela devassa cidade? Mesmo assim, a partir destas profundezas, Onésimo é tirado pelas mãos invisíveis do amor eterno. Ele cruza o caminho do apóstolo, ouve-o pregar o evangelho, é convertido, dedica-se de uma vez por todas ao Senhor e a Seu serviço, e encontra em Paulo um amigo e irmão, assim como um líder e mestre. E agora resplandecem as virtudes e o valor do cristianismo, e as mais doces aplicações da graça de Deus para com um escravo pobre, sem amigos, destituído e foragido.

"O que é o cristianismo?", podemos perguntar, e qual sua origem, em vista de tais novidades em Roma. O que é o cristianismo no mundo? Será que foi aos pés de Gamaliel que Paulo aprendeu a amar assim? Não, querido leitor. Foi aos pés de Jesus. Que bom seria se o eloquente historiador de "O Declínio e a Queda do Império Romano" tivesse entrado nesta cena e aprendido o valor do cristianismo divino, em vez de ter se delongado em ridicularizá-lo com desdém! Se pensarmos por um momento nos trabalhos do apóstolo nesse tempo - sua idade - suas fraquezas - suas circunstâncias (para não falar dos assuntos elevados, e das imensas verdades fundamentais que então ocupavam sua mente) - podemos muito bem admirar a graça que podia entrar em cada detalhe do relacionamento de mestre e escravo, e isto com tal delicada consideração por cada pedido. A carta que ele enviou, com Onésimo, ao seu injuriado mestre Filemom, é claramente a mais tocante já escrita. Lendo-a por alto, perderemos o calor e seriedade de suas afeições, a delicadeza e equidade de seus pensamentos, ou a sublime dignidade que permeia por toda a epístola.

Vamos agora ponderar por um momento sobre as epístolas escritas durante sua prisão.

sábado, 5 de dezembro de 2015

A Ocupação de Paulo Durante Sua Prisão

Embora um prisioneiro, ele foi autorizado a manter livre relação com seus amigos, e foi então cercado de muitos de seus mais antigos e fiéis companheiros. Das Epístolas aprendemos que Lucas, Timóteo, Tíquico, Epafras, Aristarco e outros estavam com o apóstolo durante esse tempo. Ainda assim, devemos nos lembrar que ele estava, como prisioneiro, preso em cadeias a um soldado e exposto ao rude controle de tal. Devido ao longo atraso de seu julgamento, ele permaneceu nessa condição por dois anos, durante o qual ele pregou o evangelho e abriu as escrituras às congregações que vinham ouvi-lo. Ele também escreveu várias epístolas para as igrejas em lugares distantes.

Tendo plena e fielmente cumprido o dever que tinha para com os judeus, o povo favorecido de Deus, ele agora se dirige aos gentios, embora não deixasse totalmente de lado os judeus. Sua porta estava aberta de manhã até a noite para todos que quisessem vir e ouvir as grandes verdades do cristianismo. E, em alguns aspectos, ele nunca teve oportunidade melhor, uma vez que, sob proteção dos romanos, os judeus não tinham permissão para incomodá-lo.

Os efeitos da pregação de Paulo através da bênção do Senhor logo foram manifestos. Os guardas romanos, a família de César, e pessoas de "todos os demais lugares" foram abençoados através dele. "E quero, irmãos, que saibais", escreve ele aos filipenses, "que as coisas que me aconteceram contribuíram para maior proveito do evangelho; de maneira que as minhas prisões em Cristo foram manifestas por toda a guarda pretoriana, e por todos os demais lugares". E depois, o apóstolo diz: "Todos os santos vos saúdam, mas principalmente os que são da casa de César." (Filipenses 1:12,13; 4:22). A bênção parece ter sido primeiramente manifesta ao pretório, ou entre os guardas pretorianos. "As minhas prisões em Cristo foram manifestas por toda a guarda pretoriana", isto é, no alojamento dos guardas e tropas. O evangelho da glória que Paulo pregava foi ouvido por todos eles. Até mesmo o gentil prefeito romano Burrus, com seu amigo íntimo Sêneca, tutor de Nero, pode ter ouvido o evangelho da graça de Deus. Os modos corteses de Paulo, e suas grandes habilidades, tanto naturais quanto adquiridas, eram bem adequadas para atrair tanto o estadista quanto o filósofo. Sua estadia ali por dois anos lhe trouxe muitas oportunidades.

Ele deve ter ficado conhecido, podemos dizer, entre quase todos os guardas. Com cada mudança de guarda, a porta para o evangelho se abria cada vez mais. Estando constantemente preso a um dos soldados como sentinela, e sendo tal sentinela constantemente substituído, ele então se familiarizou com muitos; e com que amor, fervor e ardente eloquência ele deve ter falado com eles sobre Jesus e sobre a necessidade que tinham dEle! Mas devemos esperar até a manhã da primeira ressurreição para vermos os resultados da pregação de Paulo naquele lugar. O dia o declarará, e Deus terá toda a glória.

O apóstolo também nos faz saber que o evangelho tinha penetrado no próprio palácio. Havia santos na casa de César. O cristianismo foi plantado dentro das paredes imperiais, "e por todos os demais lugares". Sim, "por todos os demais lugares", disse o historiador sagrado. Não apenas Paulo estava trabalhando dentro dos recintos imperiais, como também seus companheiros, a quem ele chama de "cooperadores", estavam sem dúvidas pregando o evangelho "por todos os demais lugares", dentro e fora da cidade imperial, de modo que o sucesso do evangelho pudesse ser atribuído aos esforços de outros, assim como aos incansáveis esforços do grande apóstolo em seu cativeiro.

domingo, 29 de novembro de 2015

O Livro de Atos como um Livro Transicional entre Dispensações

Vamos aqui fazer uma pausa e contemplar por um momento nosso apóstolo como prisioneiro na cidade imperial. O evangelho tinha agora sido pregado de Jerusalém a Roma. Grandes mudanças tinham ocorrido nos modos dispensacionais de Deus [N. do T.: os modos como Deus trata com o ser humano]. O livro de Atos é transicional neste caráter. Os judeus, como vemos, são agora deixados de lado - ou melhor, eles mesmos se deixaram ficar de lado por rejeitarem aquilo que Deus estava fazendo. Os conselhos de Sua graça dirigidos a eles, sem dúvida, permanecem para sempre; mas, entretanto, eles são deixados de lado e outros vêm e tomam o lugar do bendito relacionamento com Deus. Paulo era uma testemunha da graça de Deus para com Israel. Ele mesmo era um israelita, mas também escolhido de Deus para introduzir algo inteiramente novo - a igreja, o corpo de Cristo, "do qual fui feito ministro... de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo, e demonstrar a todos qual seja a comunhão do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo" (Efésios 3:7-9). Esta nova coisa pôs de lado qualquer distinção entre judeu e gentio, como pecadores e na unidade desse corpo. A hostilidade dos judeus contra essas verdades nunca diminuíram, como temos sempre visto, assim como vemos os resultados desta inimizade. Os judeus desaparecem da cena inteiramente, e a igreja se torna o vaso do testemunho de Deus na terra, e Sua habitação pelo Espírito (Efésios 2:22). Indivíduos judeus, é claro, que creem em Jesus, são abençoados em conexão com um Cristo celestial e com o "um só corpo". Mas Israel, por um tempo, é deixado sem Deus, e sem a presente comunicação com Ele. As Epístolas aos Romanos e aos Efésios estabelecem plenamente essa doutrina (especialmente Romanos, capítulos 9, 10 e 11). Agora retornamos à ocupação de Paulo durante sua prisão.

A Chegada de Paulo a Roma

Ao longo da Via Ápia, muito provavelmente, Paulo e seus companheiros viajaram até Roma. Ao chegarem, "o centurião entregou os presos ao capitão da guarda*; mas a Paulo se lhe permitiu morar por sua conta à parte, com o soldado que o guardava." (Atos 28:16). Embora ele não tenha sido libertado do constante aborrecimento de estar acorrentado a um soldado, todas as indulgências permitidas a um prisioneiro lhe foram concedidas.

{* O sábio e humano Burrus era prefeito da guarda pretoriana quando Júlio chegou com seus prisioneiros. Ele era um romano virtuoso e sempre tratou Paulo com grande consideração e gentileza. - Dicionário de Biografias do Dr. Smith }

Paulo tinha agora o privilégio "de anunciar o evangelho aos que estavam em Roma" (Romanos 1:15); e prosseguiu sem demora a agir de acordo com sua regra divina: "primeiro aos judeus". Ele chama os principais dos judeus e explica a eles sua verdadeira posição. Ele lhes assegura que não tinha cometido ofensa alguma contra sua nação, ou contra os costumes dos pais, mas que ele tinha sido trazido a Roma para responder a certas acusações feitas contra ele pelos judeus na Palestina: e tão infundadas eram acusações, que até mesmo o governador romano estava disposto a libertá-lo, mas os judeus se opunham à sua liberdade. De fato era, como ele disse, que "pela esperança de Israel estou com esta cadeia". (Atos 28:20). Seu único crime tinha sido sua firme fé nas promessas de Deus a Israel através do Messias.

Os judeus romanos, em resposta, asseguraram a Paulo que nenhum relato sobre os preconceitos sofridos tinha chegado a Roma, e que eles desejavam ouvir dele mesmo uma declaração de sua fé; e além disso, que em toda parte se falava mal dos cristãos. Um dia foi então marcado para um encontro em seu próprio aposento. Na hora marcada muitos vieram, "aos quais declarava com bom testemunho o reino de Deus, e procurava persuadi-los à fé em Jesus, tanto pela lei de Moisés como pelos profetas, desde a manhã até à tarde." (Atos 28:23). Mas os judeus em Roma, assim como em Antioquia e Jerusalém, foram tardios de coração em crer. "E alguns criam no que se dizia; mas outros não criam." (Atos 28:24). Mas quão séria e incansavelmente ele trabalhava para ganhar seus corações para Cristo! De manhã até à tarde ele não apenas pregava a Cristo, mas procurava convencê-los a respeito dEle. Ele procurou, podemos estar certos, persuadi-los a respeito da Divindade e humanidade do Senhor - Seu perfeito sacrifício - Sua ressurreição, ascensão e glória. Que lição e que assunto para o pregador em todas as épocas. Persuadir homens a respeito de Jesus desde a manhã até à tarde.

A condição dos judeus é agora posta diante de nós pela última vez. O juízo pronunciado por Isaías estava para cair sobre eles em todo o seu poder fulminante - um juízo sob o qual permanecem até hoje - um juízo que deve continuar até que Deus se interponha para dar-lhes arrependimento, e para livrá-los por Sua graça à glória de Seu próprio nome. Mas, em meio a tudo isso, "a salvação de Deus é enviada aos gentios, e eles a ouvirão." (Atos 28:28), e, como sabemos - bendito seja Seu nome - eles ouviram, e nós mesmos somos testemunhas disso. *

{* Veja Estudos Introdutórios ao Livro de Atos, por W. Kelly}
"E Paulo ficou dois anos inteiros na sua própria habitação que alugara, e recebia todos quantos vinham vê-lo; pregando o reino de Deus, e ensinando com toda a liberdade as coisas pertencentes ao Senhor Jesus Cristo, sem impedimento algum." (Atos 28:30,31)

Estas são as últimas palavras de Atos. A cena na qual as cortinas se fecham é bastante sugestiva - a oposição da incredulidade judaica quanto às coisas relacionadas à salvação de suas almas sugerem, infelizmente, o que em breve se abateria sobre eles. E aqui, também, acaba a história desse precioso servo de Deus, até onde nos foi diretamente revelada. A voz do Espírito da verdade sobre este assunto torna-se silenciosa. O conhecimento que temos sobre a subsequente história de Paulo deve agora ser coletado quase que exclusivamente de suas próximas epístolas. E delas aprendemos mais que mera história: elas nos dão um bendito vislumbre dos sentimentos, conflitos, afetos e simpatias do grande apóstolo, e da condição da igreja de Deus em geral, até o momento de seu martírio.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Paulo em Malta

Atos 28. Os habitantes da ilha receberam os náufragos estrangeiros com muita gentileza, e imediatamente acenderam um fogo para aquecê-los. O historiador sagrado nos pinta um quadro vivo de toda a cena. Vemos as pessoas descritas se movendo nela: o apóstolo recolhendo lenha para o fogo - a víbora mordendo sua mão - os nativos pensando, a princípio, que ele fosse um assassino, e depois que fosse um deus, pelo fato de ter escapado ileso da mordida. Públios, o principal líder da ilha, os recebeu com cortesia por três dias, e seu pai, que estava de cama com febre, foi curado por Paulo ao impor suas mãos sobre ele e orar. Permitiram que o apóstolo obrasse muitos milagres durante sua estadia na ilha, e toda companhia, por causa dele, foram tidos com muita honra. Vemos que Deus está com Seu amado servo, e que ele exercita, como de costume, seu poder entre os habitantes. Como a parte final da viagem de Paulo a Roma é bastante próspera, havendo poucos incidentes registrados, vamos tomar nota brevemente:

Após uma estadia de três meses em Malta, os soldados e seus prisioneiros partiram em um navio de Alexandria para a Itália. Eles passaram por Siracusa, onde ficaram por três dias: e em Régio, a partir de onde tiveram um vento bom até Potéoli. Aqui eles "acharam alguns irmãos", e enquanto passavam alguns dias com eles, desfrutando do ministério do amor fraternal, as novidades sobre a chegada de Paulo chegaram aos ouvidos dos cristãos de Roma. Eles logo enviaram alguns dos seus, que se encontraram com Paulo e seus amigos na Praça de Ápio e nas Três Vendas. Um belo exemplo e ilustração da comunhão dos santos. Quais deveriam ter sido os sentimentos de nosso apóstolo nessa primeiro encontro com os cristãos da igreja em Roma! Seu desejo há muito acalentado estava finalmente cumprido. Seu coração estava cheio de louvor. "Ele deu graças a Deus", como diz Lucas, "e tomou ânimo." (Atos 28:15)

sábado, 21 de novembro de 2015

O Naufrágio

O naufrágio não estava muito distante. "E, quando chegou a décima quarta noite, sendo impelidos de um e outro lado no mar Adriático, lá pela meia-noite suspeitaram os marinheiros que estavam próximos de alguma terra. E, lançando o prumo, acharam vinte braças; e, passando um pouco mais adiante, tornando a lançar o prumo, acharam quinze braças." (Atos 27:27,28). Por quatorze dias e noites o pesado vendaval continuou sem parar, tempo durante o qual o sofrimento deles deve ter sido além de qualquer descrição.

No fim do décimo quarto dia, "lá pela meia-noite", os marinheiros ouviram um som que indicava que eles estavam se aproximando da terra. O som, sem dúvidas, vinha das ondas de arrebentação, que se quebram nos rochedos. O tempo não podia ser desperdiçado, então eles imediatamente lançaram quatro âncoras da popa, e ansiosamente esperaram pelo amanhecer. Aqui houve uma tentativa natural, porém mesquinha, dos marinheiros para salvarem suas próprias vidas. Eles baixaram o bote com o professo propósito de lançar as âncoras da proa, porém com a intenção de abandonar o navio a afundar. Paulo, vendo isso, e conhecendo seus verdadeiros desígnios, imediatamente "disse ao centurião e aos soldados: Se estes não ficarem no navio, não podereis salvar-vos. Então os soldados cortaram os cabos do batel (bote), e o deixaram cair." (Atos 27:31,32). Assim, o conselho divino do apóstolo foi o meio de salvar todos a bordo. "Se estes não ficarem no navio, não podereis salvar-vos." (Atos 27:31). Já não mais o capitão do navio ou sua tripulação eram procurados para buscar sabedoria e segurança. Todo olho se voltava para Paulo, o prisioneiro - o homem da fé - o homem que acredita e age de acordo com a revelação de Deus. Circunstâncias frequentemente enganam quando olhamos para sua direção; a palavra de Deus é nosso único guia seguro, seja em clima calmo ou desagradável.

Durante o ansioso intervalo que se manteve até o amanhecer do dia, Paulo teve uma oportunidade de levantar sua voz a Deus, e para o encorajamento de toda a companhia. Que cena de intenso interesse deve ter sido! A noite escura e tempestuosa - o navio em perigo de afundar ou de se despedaçar nos rochedos. Mas havia alguém a bordo que estava perfeitamente feliz em meio a tudo isto. O estado do navio, as águas rasas e o alarmante som das ondas não surtiam terror nele. Ele estava feliz no Senhor, e em plena comunhão com Seus próprios pensamentos e propósitos. Tal é o lugar do cristão em meio a toda tempestade, embora comparativamente poucos tomam esse lugar: somente a fé pode alcançá-lo. Esta foi a última exortação de Paulo à companhia do navio.

"E, entretanto que o dia vinha, Paulo exortava a todos a que comessem alguma coisa, dizendo: É já hoje o décimo quarto dia que esperais, e permaneceis sem comer, não havendo provado nada. Portanto, exorto-vos a que comais alguma coisa, pois é para a vossa saúde; porque nem um cabelo cairá da cabeça de qualquer de vós. E, havendo dito isto, tomando o pão, deu graças a Deus na presença de todos; e, partindo-o, começou a comer. E, tendo já todos bom ânimo, puseram-se também a comer." (Atos 27:33-36)

O único desejo deles agora era chegar com o navio em terra e escapar. Embora não tivessem ainda conhecido a terra, "enxergaram uma enseada que tinha praia" e se determinaram a encalhar o navio ali. Então eles lançaram âncoras, largaram as amarras do leme, içaram a vela maior e dirigiram-se para a praia. O navio, assim, conduzido, com a proa encravada na praia, permaneceu imóvel, mas a popa se quebrou em pedaços pela violência das ondas.

O navio de Paulo tinha agora alcançado a costa, e mais uma vez o homem da fé foi necessário para a salvação das vidas de todos os prisioneiros. O centurião, grandemente influenciado pelas palavras de Paulo, e temendo por sua segurança, previne que os soldados matem os prisioneiros, e ordena que aqueles que sabiam nadar deveriam se lançar primeiro ao mar e chegar à terra, e que o resto deveria seguir em tábuas ou pedaços do navio disponíveis. "E assim aconteceu que todos chegaram à terra a salvo." (Atos 27:44). O salvamento deles foi completo, como Paulo tinha predito que seria.

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