domingo, 8 de janeiro de 2017

O Segundo Decreto é Publicado

O segundo decreto era tão avassalador que os oficiais do império, conta-se, foram até mesmo além de suas ordens. As mais sacras estátuas e imagens foram, em todo lugar, impiedosamente quebradas, rasgadas em pedaços, ou publicamente lançadas nas chamas debaixo dos olhos dos enfurecidos adoradores. "Correndo risco de morte", diz Greenwood, "homens, mulheres e até crianças correram para a defesa dos objetos como se fossem tão queridos para eles como a própria vida. Eles atacavam e matavam os oficiais do império envolvidos na obra de destruição; estes, apoiados pelas tropas regulares, retaliavam com igual ferocidade; e as ruas da metrópole exibiam tal cena de indignação e abate como só pode ser proveniente de paixões religiosas envenenadas. Os líderes do tumulto foram, a maior parte, condenados à morte no local; as prisões se encheram totalmente; e multidões, após sofrerem várias punições corporais, foram transportadas a lugares de exílio".*

{* Cathedra Petri, de Greenwood, vol. 3, p. 474}

O populacho ficou então excitado à fúria; mesmo a presença do imperador não os intimidava. Os oficiais do império tinham ordens de destruir uma estátua do Salvador que ficava sobre o Portão de Bronze do palácio imperial, e que era conhecida pelo nome de Segurança. Esta imagem era famosa por seus milagres, e recebia grande veneração do povo. Multidões de mulheres de reuniram em torno do lugar e ansiosamente suplicaram ao soldado que poupasse sua imagem favorita. Mas ele subiu na escada, e com seu machado atingiu o rosto que elas tão frequentemente contemplavam, e que, pensavam elas, benignamente olhava para elas. Os céus não interferiram, como esperavam; mas as mulheres tomaram a escada, derrubaram o ímpio oficial, e o cortaram em pedaços. O imperador enviou uma guarda armada para suprimir o tumulto; a multidão se uniu às mulheres e um assustador massacre se sucedeu. "A Segurança" tinha sido derrubada, e seu lugar foi preenchido com uma inscrição na qual o imperador dava vazão a sua inimizade contra as imagens.*

{* J. C. Robertson, vol. 2, p. 83; Milman, vol. 2, p. 156.}

A execução das ordens imperiais foram rejeitadas em todos os lugares, tanto na capital quanto nas províncias; o entusiasmo popular era tão grande que só poderia ser debelada pelos mais fortes esforços do poder civil e militar. Paixões se acendiam dos dois lados, que naturalmente resultaram na mais ousada rebelião e na mais violenta perseguição.

As Tentativas de Leão de Abolir a Adoração de Imagens (por volta de 726 d.C.)

O imperador Leão III, de sobrenome Isáurico, um príncipe de grandes habilidades, teve a ousadia de empreender, em face de tantas dificuldades, a purificação da igreja de seus detestáveis ídolos. Como os escritos do partido vencido foram cuidadosamente suprimidos ou destruídos, a história é silente quanto aos motivos do imperador: mas estamos dispostos a acreditar que o novo credo e o sucesso de Maomé influenciaram muito Leão. Além disso, havia um sentimento bastante generalizado entre os cristãos no Oriente de que a crescente idolatria da igreja era o que tinha trazido sobre eles o castigo de Deus pela invasão maometana. Os cristãos constantemente ouviam tanto dos judeus quanto dos islâmicos o odioso nome dos idólatras. A grande controvérsia evidentemente surgiu a partir dessas circunstâncias.

Leão subiu ao trono do Oriente no ano 717 e, após assegurar o império contra os inimigos estrangeiros, começou a se preocupar com os assuntos religiosos. Ele em vão pensou que podia mudar e melhorar a religião de seus súditos por seu próprio comando imperial. Por volta do ano 726, ele emitiu um decreto contra o uso supersticioso de imagens -- não sua destruição. Não podemos supôr que Isáurico estava agindo por temor ao verdadeiro Deus, mas sim que seus motivos eram puramente egoístas. Sendo chefe do império e ainda ostensivamente o chefe da igreja, ele sem dúvidas pensou que por seus decretos poderia cumprir a abolição total e simultânea da idolatria por todo o império, e estabelecer uma autocracia eclesiástica. Mas Leão superestimou demais seu poder secular nos assuntos espirituais. Havia passado o tempo de decretos imperiais mudarem a religião do império. Ele ainda tinha que aprender, para sua profunda mortificação, o desdenhoso, insolente e arrogante orgulho e poder dos pontífices, e o apego religioso do povo a suas imagens.

O primeiro decreto meramente interditou a adoração de imagens, e ordenou que fossem removidos a tal ponto que não poderiam ser tocados ou beijados. Mas o momento que a ímpia mão do imperador tocou nos ídolos, a excitação foi imensa e universal. A proibição afetou todas as classes: instruídos e não instruídos, sacerdotes e camponeses, monges e soldados, clérigos e leigos, homens, mulheres, e até crianças, se envolveram nessa nova agitação. O efeito do decreto imediatamente ocasionou uma guerra civil tanto no Oriente quanto no Ocidente. A influência dos monges foi especialmente forte. Eles arranjaram um novo pretendente ao trono, armaram a multidão e apareceram em uma frota mal equipada perante Constantinopla. Mas o fogo grego desbaratou os assaltantes desordenados; os líderes foram presos e condenados à morte. Leão, provocado pela resistência que seu decreto tinha encontrado, emitiu um segundo e mais rigoroso decreto. Ele agora ordenava a destruição de todas as imagens, e o branqueamento de todas as paredes nas quais tais coisas tinham sido pintadas.

O Primeiro Objeto Visível de Veneração Cristã

Por mais de trezentos anos após a primeira publicação do evangelho há boas razões para crer que nem imagens nem qualquer outros objetos visíveis de reverência religiosa eram admitidos no serviço público das igrejas, ou adotados nos exercícios de devoção privada. Provavelmente tal coisa nunca tinha sido pensada pelos cristãos antes dos dias de Constantino; e podemos apenas considerá-la como um dos primeiros frutos da união da igreja com o Estado. Até esse período o grande protesto dos cristãos era contra a idolatria dos pagãos: e por isto eles sofreram até a morte. E não é pouco notável que a imperatriz Helena, a mãe de Constantino, foi a primeira a excitar a mente cristã a esta degradante superstição. Conta-se que ela, em seu zelo por lugares religiosos, tenha descoberto e desenterrado a madeira da "verdadeira cruz". Isto foi o suficiente para o propósito do inimigo. A predileção da natureza humana por objetos de veneração se acendeu; a chama se espalhou rapidamente; e seguiu-se a usual consequência -- a idolatria.

Memoriais similares do Salvador, da Virgem Maria, dos Apóstolos inspirados, e dos "Pais da Igreja", foram também "encontrados". As relíquias mais sagradas que estavam escondidas por séculos eram então descobertas por visões. Tão grande e tão bem-sucedida foi a ilusão do inimigo que toda a igreja caiu na armadilha. Da época de Constantino até a época da invasão árabe, a veneração por imagens, pinturas e relíquias gradualmente aumentou. A reverência pelas relíquias era mais característica dos ocidentais, e a reverência por imagens das igrejas orientais. Mas, a partir da época de Gregório, o Grande, o sentimento do Ocidente se tornou mais favorável às imagens. Em consequência da decadência quase total da literatura, tanto entre o clero quanto entre os leigos, o uso de imagens tornou-se uma imensa fonte de poder para o sacerdócio. Pinturas, estátuas e representações visíveis de objetos sagrados tornaram-se o modo mais fácil de dar instruções, encorajar a devoção e fortalecer os sentimentos religiosos nas mentes do povo. Os mais intelectuais ou iluminados dentre o clero podiam se esforçar em manter a distinção entre o respeito por imagens com um meios e não como objetos de adoração. Mas a devoção indiscriminada do vulgar desconsidera totalmente essas sutilezas. O apologista pode estabelecer distinções muito sutis entre imagens como objetos de reverência e como objetos de adoração, mas não pode haver dúvida que, com mentes ignorantes e supersticiosas, o uso, a reverência, a adoração de imagens, seja em pinturas ou estátuas, invariavelmente se degenera em idolatria.

Antes do final do século VI a idolatria estava firmemente estabelecida na igreja oriental, e durante o século VII fez um progresso gradual e muito geral no Ocidente, onde já tinha anteriormente ganhado algum terreno. Tornou-se comum cair prostrado perante imagens, rezar para elas, beijá-las, adorná-las com gemas e metais preciosos, colocar as mãos sobre elas em juramento, e até mesmo empregá-las como madrinhas e padrinhos de batismo.

Monotelismo e Iconoclastia

Enquanto os árabes sob Abu Bakr e Omar estavam invadindo os países gregos, e arrancando província após província do império, o imperador contentou-se em enviar exércitos para repeli-los e permaneceu em sua capital para a discussão de questões teológicas. Desde a conclusão de suas guerras bem-sucedidas contra a Pérsia, a religião tinha se tornado quase o objetivo exclusivo de sua solicitude. Duas grandes controvérsias estavam, no momento, agitando todo o mundo cristão. A primeira dessas, a assim chamada controvérsia monotelista, pode ser descrita, em geral, como um reavivamento, sob uma forma um pouco diferente, da velha heresia monofisita, ou de Eutiques. Sob o nome geral dos monofisitas estão compreendidos os quatro principais ramos de separatistas da igreja oriental: os jacobitas sírios, os coptas, os abissinianos e os armênios. O originador dessa numerosa e poderosa comunidade cristã foi Eutiques, abade de um convento de monges em Constantinopla, no século V. Os monofisitas negavam a distinção das duas naturezas em Cristo; os monotelitas, por outro lado, negavam a distinção da vontade, divina e humana, no bendito Senhor. Uma tentativa bem-intencionada, porém frustrada, do imperador Heráclito, foi reconciliar os monofisitas à igreja grega. Mas, como o som da controvérsia é raramente ouvido dentre os sectários orientais após esse período, e como um relato detalhado de suas disputas não seria de nenhum interesse aos nossos leitores, deixamos isto para as páginas da história eclesiástica.*

{* Para maiores detalhes sobre as diferentes seitas, veja Dicionário das Igrejas Cristãs e Seitas, de Marsden, e Crenças do Mundo, de Gardner.}

A iconoclastia, ou o surto de destruição de imagens, merece uma consideração mais detalhada. Ela penetrou no coração da Cristandade como nenhuma outra controvérsia tinha feito até então, e forma uma importante época na história da Sé Romana. Jezabel agora aparece em suas verdadeiras cores, e, deste momento em diante, seu caráter maligno é indelevelmente estampado no papado. Os papas que então preenchiam a cadeira de São Pedro defendiam e justificavam abertamente a adoração a imagens. Este foi, certamente, o início do papado -- a maturidade do sistema de desonra a Deus. Os fundamentos do papado foram descobertos, e assim tornou-se evidente que a perseguição e a idolatria eram os dois pilares sobre os quais seu domínio arrogante repousava.

Reflexões sobre o Islamismo e o Romanismo

Tendo chegado a nossa história, tanto civil quanto eclesiástica, ao final do século VIII, podemos fazer uma breve pausa e refletir sobre o que vimos, onde estamos, e o que esperar. Temos visto o crescimento da Sé Romana no Ocidente, e como ela alcançou o cume de sua ambição. Vimos também o surgimento do grande poder antagonista no Oriente, inferior apenas na extensão de sua influência religiosa e social ao próprio cristianismo de modo geral. O primeiro se espalhou gradualmente no próprio centro da Cristandade iluminada, e o último surgiu de repente em um obscuro distrito de um deserto selvagem. Mas qual -- pode-se perguntar -- é a lição moral a ser tomada do caráter e dos resultados desses dois grandes poderes? Ambos foram permitidos por Deus e, se julgamos corretamente, foram permitidos por Ele como um juízo divino sobre a Cristandade por sua apostasia, e sobre os pagãos por sua idolatria. Por um lado, o grito de guerra foi erguido contra todos os que recusavam a fé ou o tributo ao credo e aos exércitos dos califas; por outro lado, um grito de guerra mais implacável foi erguido contra quem se recusasse a crer na Virgem e nos santos, suas visões e milagres, suas relíquias e imagens, de acordo com as exigência intolerantes da idólatra Roma. As igrejas orientais tinham se enfraquecido e se perdido desde os dias de Orígenes por uma filosofia platônica, na forma de uma teologia metafísica, o que causou contínuas dissensões. No Ocidente as controvérsias tinham sido grandemente evitadas: o poder era o objetivo ali. Roma tinha aspirado, por séculos, o domínio da Cristandade -- e do mundo. Ambos foram tratados judicialmente por Deus no dilúvio de fogo vindo da Arábia; mas o islamismo permanece como o poderoso flagelo de Deus no Oriente, e o romanismo no Ocidente.

Os Sucessores de Maomé

Após a morte do profeta, a guerra foi declarada contra a humanidade por seus sucessores, os califas. Os principais destes foram Abu Bakr, o sábio; Omar, o fiel; Ali, o bravo; Khaled, a espada de Deus. Estes eram os companheiros e parentes mais velhos do profeta. Em poucos meses após sua morte esses generais foram seguidos por multidões do deserto e invadiram as planícies da Ásia. A história dessas guerras, embora tenham afetado profundamente o progresso do cristianismo, não se encontra no escopo deste livro. Mas, como muitas nações e multidões do povo do Senhor foram vítimas desse temível flagelo, merece uma breve consideração. Muitos creem que os gafanhotos sarracenos eram um cumprimento parcial de Apocalipse 9:1-12.

Os pagãos perseguidos, como Cosroes II, o rei infiel e desafiante da Pérsia, e os cristãos meramente nominais, foram igualmente castigados por Deus por meio dos sucessores de Maomé; mas os orgulhosos bispos e padres foram os objetivos especiais de sua vingança. "Não destruam as árvores de fruto nem os campos férteis em seu caminho", disseram os califas, "sejam justos, e poupem os sentimentos dos vencidos. Respeitem todas as pessoas religiosas que vivem como ermitões ou em conventos, e poupem seus edifícios. Mas se encontrarem com uma classe de incrédulos de um tipo diferente, que andam por aí com coroas raspadas e pertencem à sinagoga de Satanás, certifiquem-se de racharem seus crânios, a menos que abracem a verdadeira fé ou rendam tributo". E assim a poderosa horda seguiu com um entusiasmo que nada podia deter. "A Síria caiu; a Pérsia e o Egito caíram; e muitos outros países se renderam ao poder deles". Muitas grandes cidades, tais como Jerusalém, Bosra, Antioquia, Damasco, Alexandria, Cirene e Cartago caíram nas mãos deles. Eles também invadiram a Índia, atacaram a Europa e a Espanha, e alcançaram até mesmo às margens do Loire; mas ali foram derrotados e expulsos por Carlos Martel no ano 732. Vamos tomar nota mais a fundo apenas do tratamento deles sobre os vencidos no caso de Jerusalém.

No ano 637 Jerusalém caiu nas mãos do califa Omar, que construiu uma mesquita no local do templo. Todo o povo daquela cidade culpada foi reduzido a uma casta desprezível e marcada pelo arrogante conquistador. Em todo lugar eles deviam honrar os muçulmanos, e dar lugar à sua frente. O cristianismo foi submetido à ignomínia da tolerância; a cruz não era mais exibida do lado de fora das igrejas, e os sinos deviam ficar silenciosos; os cristãos eram deixados a lamentar suas mortes em segredo; a vista do muçulmano devoto não devia ser ofendida pelos símbolos do cristianismo de modo nenhum; e sua pessoa devia ser considerada sagrada, de modo que era um crime que um cristão esbarrasse em um muçulmano.

Tal era a condição a que os cristãos habitantes de Jerusalém caíram de vez, e na qual permaneceram, sem que seus algozes fossem perturbados por nenhum tipo sério de agressão até o tempo das cruzadas. Quase os mesmos termos, cremos, foram forçados a todos os cristãos na Síria. Assim Deus, em Sua santa providência, lidou com muitas nações, tanto no Oriente quanto no Ocidente, que eram densamente povoadas por judeus e cristãos, e condenou milhões a uma longa noite de servidão sob o maometismo, que continua até os dias de hoje.

{* Veja Cristianismo Latino, de Milman, vol. 2, p. 4-52; e Dezoito Séculos Cristãos, de James White, p. 143}

Meca, a Capital do Islã

Maomé tornou-se então o senhor de Meca. A unidade de Deus era proclamada, assim como sua própria missão profética, do mais alto pináculo da mesquita. Os ídolos foram quebrados em pedaços. O velho sistema da idolatria afundou perante o medo de seus braços e da simplicidade exterior de seu novo credo. O próximo passo importante na política do profeta foi assegurar a unidade religiosa absoluta de toda a Arábia. Por este meio, os velhos feudos hereditários das tribos e raças desapareceram, e todos se transformaram em um exército religioso unido contra os infiéis. A guera estava então declarada contra todas as formas de incredulidade, o que era especialmente uma declaração de guerra contra a Cristandade, e uma determinação expressa de propagar o maometismo pelo poder de sua espada.

Maomé torna-se então um soberano independente. A Arábia, liberta dos ídolos, abraça a religião do Islã. Mas, embora o profeta fosse então um príncipe secular e um guerreiro bem-sucedido, ele não negligenciou seus deveres de sacerdote. Ele constantemente conduzia as devoções de seus seguidores, fazia as orações públicas, e pregava nos festivais semanais às sextas-feiras. Ele blasfemamente assumiu ser profeta, sacerdote e rei. A mistura, a ilusão, é a inspiração do inferno; é como a obra-prima de Satanás enviada do reino das trevas. O fanatismo de seus seguidores foi impulsionado pelos incentivos à pilhagem e a gratificação de toda a paixão maligna. A apropriação de todas as mulheres cativas foi reconhecida como uma das leis da guerra, e a recompensa oferecida pela coragem. As máximas inculcadas em todos os fiéis eram tais como: "Uma gota de sangue derramada na causa de Deus, ou uma noite passada em armas, é de mais valia do que dois meses empregados ao jejum e oração. A qualquer que cai em combate, seus pecados são perdoados; no dia do juízo suas feridas serão resplandescentes como o escarlate e odoríferas como o almíscar: e a perda de seus membros serão recompensadas pelas asas de anjos e querubins". O grito de guerra do intrépido Khaled era: "Lutem, lutem e não temam! O paraíso, o paraíso, está sob a sombra de suas espadas! O inferno com seu fogo está atrás daquele que foge da batalha, o paraíso está aberto àquele que cai em batalha". Assim animados, os exércitos muçulmanos se acendiam com entusiasmo; e, sedentos pelos despojos de vitória aqui e pelo paraíso sensual que viria, eles corriam sem medo para a batalha.

A fundação do império árabe estava então estabelecida. Maomé convocou, não apenas os mesquinhos potentados dos reinos vizinhos, mas também os dois grandes poderes do mundo mais civilizado, o rei da Pérsia e o Imperador do Oriente, a se submeterem à sua supremacia religiosa. Conta-se que Heráclito receber a comunicação com respeito, mas Cosroes II, o persa, desdenhosamente rasgou a carta em pedaços: o profeta, ao ouvir sobre o ato, exclamou: "É assim que Deus vai rasgar o reino, e rejeitar as súplicas de Cosroes". E assim aconteceu; o reino da Pérsia foi reduzido, em um curto período de tempo, pelos exércitos maometanos a apenas algumas comunidades dispersas. Mas embora o círculo do Islã estivesse se alargando, o seu centro estava morrendo. Tenho seguido seu filho mais velho até a sepultura com lágrimas e suspiros, o profeta fez sua peregrinação de despedida a Meca, e morreu no ano 632, aos 64 anos de idade. Ao que parece ele não tinha sido tocado nem um pouco pelo remorso em seu leito de morte, mas o sangue que ele derramou e as multidões que ele enganou o seguirão até o julgamento final.

A missão maligna do falso profeta foi cumprida. Ele tinha organizado a mais terrível confederação que o mundo já viu. No curto espaço de dez anos ele plantou no Oriente uma religião que se enraizou tão firmemente que, entre todas as revoluções e mudanças de doze séculos, ela ainda exerce uma poderosa influência controladora sobre as mentes e consciências de mais de 100 milhões de seres humanos.*

{* N. do T.: este livro foi escrito no século XIX, portanto os números hoje em dia provavelmente são ainda maiores.}

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