domingo, 7 de agosto de 2016

Que Serviço Atanásio Prestou à Igreja?

Estamos dispostos a acreditar que, sob a bênção de Deus, ele foi o meio de preservar a igreja da heresia ariana, que ameaçava extinguir do cristianismo tanto o nome quanto a fé no Senhor Jesus Cristo. O inimigo visava nada menos que um sistema sem Cristo, o que poderia levar, a longo prazo, ao total abandono do cristianismo. Mas o concílio de Niceia foi usado por Deus para derrubar seus maus intentos. A afirmação da Divindade de Cristo e do Espírito Santo em igualdade com Deus Pai foi grandemente abençoada por Deus então, e tem sido assim desde aqueles dias até hoje. Embora a igreja tivesse sido infiel e tendo derivado para o mundo, "que é onde está o trono de Satanás", o Senhor em misericórdia levantou um grande testemunho de Seu santo nome e da fé de Seus santos. Historiadores, tanto civis quanto eclesiásticos, suportam os mais honráveis testemunhos sobre a capacidade, atividade, constância, abnegação e zelo incansável de Atanásio em defesa da grande doutrina da santíssima Trindade. "Reténs o meu nome, e não negaste a minha fé" (Apocalipse 2:13), são palavras que se referem, sem dúvidas, à fidelidade de Atanásio e de seus amigos, e também dos fiéis em outros tempos.

Os vencedores de que fala a carta a Pérgamo também estavam lá, sem dúvidas. Mas o Senhor não permitiu que eles fossem vistos ou registrados pelo historiador. Eles eram os escondidos de Deus que foram alimentados pelo maná escondido. Eles terão um lugar de grande proximidade com o Senhor na glória. "Ao que vencer darei eu a comer do maná escondido, e dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe." (Apocalipse 2:17)

sábado, 6 de agosto de 2016

A Morte e os Sucessores de Constâncio

No ano 361, Constâncio, o patrono dos arianos, morreu. Assim como seu pai, ele adiou seu batismo até pouco tempo antes de sua morte. Os dias prósperos dos arianos estavam então acabados.

Juliano, comumente chamado de "o Apóstata", sucedeu ao trono, e, provavelmente para mostrar sua total indiferença à questão teológica em disputa, ordenou a restauração dos bispos que Constâncio tinha banido. Após um breve reinado de 22 meses, e de uma vã tentativa de reviver o paganismo, ele morreu repentinamente de uma ferida no peito por uma seta persa.

Joviano, que sucedeu imediatamente Juliano ao trono, professava o cristianismo. Ele foi o primeiro dos imperadores romanos que deu evidências claras de que realmente amava a verdade como ela é em Jesus. Ele parece ter sido um cristão sincero antes de subir ao trono, uma vez que dissera ao apóstata Juliano que preferiria deixar o serviço do que sua religião; no entanto, Juliano o valorizava, e o manteve por perto até sua morte. O exército declarou a si mesmo cristão; o Lábaro, que tinha sido deixado de lado durante o reinado de Juliano, era novamente levado na linha de frente. Joviano, no entanto, tinha aprendido dos tempos passados que religião não podia avançar por força exterior. Deste modo, ele permitiu total tolerância para com seus súditos pagãos; e, no que diz respeito às divisões entre os cristãos, ele declarou que não molestaria ninguém por conta da religião, mas que amaria todos aqueles que estudassem a paz e bem-estar da igreja de Deus. Atanásio, ao ouvir sobre a morte de Juliano, retornou a Alexandria, para a agradável surpresa e alegria de seu povo. Joviano escreveu a Atanásio confirmando-o em seu cargo e convidando-o à sua corte. O bispo atendeu ao convite; o imperador desejava instrução e conselho. Através de uma relação pessoal ele ganhou influência sobre Joviano, o que seus inimigos em vão tentavam perturbar. Mas o reinado deste príncipe cristão durou apenas cerca de oito meses. Ele foi encontrado morto em sua cama em 17 de fevereiro de 364, tendo sido sufocado, como se supunha, com carvão vegetal.

Valentiniano e Valente. Joviano foi sucedido por dois irmãos -- Valentiniano e Valente. O primeiro governou no Ocidente, e o último no Oriente. Quanto aos assuntos da igreja, Valentiniano seguiu o plano de Joviano. Ele se recusou a qualquer interferência em questões doutrinais, mas aderiu firmemente à fé de Niceia. Como soldado e estadista ele possuía várias e grandes habilidades. É dito que ambos irmãos se expuseram ao perigo pela profissão do cristianismo no reinado de Juliano; mas Valente foi mais tarde vencido pelo arianismo por meio de sua esposa, que o persuadiu a receber o batismo do bispo ariano de Constantinopla. Diz-se que o bispo exigiu dele um juramento de perseguir os católicos. Seja como for, é certo que logo após seu batismo ele manifestou grande zelo em favor dos arianos, e perseguiu duramente os eclesiásticos pela adesão deles à fé de Niceia e pelo exercício de suas influências em seu nome.

Sob o decreto de Valente, em 367 d.C., Atanásio foi mais uma vez atacado pelos arianos -- os inimigos da piedade cristã. Tatiano, governador de Alexandria, tentou levá-lo para fora da cidade, mas os sentimentos do povo eram tão fortes em favor do venerável bispo que ele não se atreveu a executar suas ordens por um tempo. Enquanto isso, Atanásio, sabendo o que se aproximava, se retirou silenciosamente, e permaneceu por quatro meses escondido no sepulcro de seu pai. Esta foi a quarta vez que ele teve que fugir de Alexandria. Valente, no entanto, pelo medo que ele aparentemente tinha do povo, chamou-o de volta, e permitiu que ele, sem qualquer impedimento, prosseguisse com seus trabalhos pastorais até 373 d.C., quando foi chamado de seu trabalho na terra para seu descanso no céu. Valente morreu em uma batalha com os godos no ano 378, após um reinado de quatorze anos.

domingo, 24 de julho de 2016

Os Concílios de Arles e Milão

No ano 353 um sínodo foi realizado em Arles, e em 355 um outro em Milão. Mais de 300 bispos estavam presentes no último. As sessões do concílio foram realizadas em um palácio, estando Constâncio e seus guardas presentes. A condenação de Atanásio foi artisticamente representada como a única medida que podia restaurar a paz e união da igreja católica. Mas os amigos do primaz eram verdadeiros para com seu líder e para com a causa da verdade. Eles asseguraram ao imperador, no espírito mais humano e cristão, que nem a esperança de seu favor, nem o medo de seu desprazer, os convenceria a se unir na condenação de um ausente, inocente e honrado servo de Cristo. O debate foi longo e obstinado; o excitado interesse foi intenso, e os olhos de todo o império se fixaram em um único bispo. Mas o imperador ariano era impaciente, e antes que o concílio de Milão fosse dissolvido, o arcebispo da Alexandria tinha sido solenemente condenado e deposto. Uma perseguição geral foi direcionada contra todos os que lhe eram favoráveis, e também para efeitos de forçar a conformidade com a opinião do imperador. E tão afiada a perseguição se tornou que o partido ortodoxo levantou um clamor de que os dias de Nero e de Décio tinham retornado. O próprio Atanásio encontrou um refúgio nos desertos do Egito.

A História de Atanásio

Após um banimento de dois anos e quatro meses, Atanásio foi restaurado a sua diocese pelo jovem Constantino II, onde foi recebido com uma recepção alegre por seu rebanho. Mas a morte desse príncipe expôs Atanásio a uma segunda perseguição. Constâncio, que é descrito como um homem vaidoso, mas fraco, logo se tornou um cúmplice secreto dos eusebianos. No final de 340, ou início de 341, um concílio se reuniu na Antioquia para a dedicação de uma "igreja" esplêndida que tinha sido fundada pelo velho Constantino. Dizem que o número de bispos foi de cerca de 97, dos quais 40 eram eusebianos. Dentre o número de cânones que foram aprovados, foi decidido, e com certa aparência de equidade, que um bispo deposto por um sínodo não podia retomar suas funções episcopais até que ele tivesse sido absolvido pelo julgamento de um outro sínodo de igual autoridade. Esta lei foi evidentemente passada com uma referência especial ao caso de Atanásio, e o concílio pronunciou, ou melhor, confirmou, sua destituição. Gregório, um capadócio, um homem de caráter violento, foi nomeado para a Sé, e Filágrio, o prefeito do Egito, foi instruído a apoiar o novo primaz com os poderes civis e militares da província. Sendo Atanásio o favorito do povo, eles se recusaram a ter um bispo nomeado pelo imperador: cenas de desordem, indignação e profanação se seguiram. "A violência se achou necessária para apoiar a iniquidade", diz Milner, "e um príncipe ariano foi obrigado a trilhar os passos de seus antecessores pagãos para apoiar o que ele chamava de igreja".

Atanásio, oprimido pelos clérigos asiáticos, retirou-se de Alexandria e passou três anos em Roma. O pontífice romano, Júlio, com um sínodo de 50 bispos italianos, o proclamou inocente, e confirmou-lhe a comunhão da igreja. Não menos que cinco credos tinham sido elaborados pelos bispos orientais nas assembleias convocadas em Antioquia entre 341 e 345, com o fim de ocultar suas verdadeiras opiniões; mas nenhum deles admitia estar livre de um elemento ariano, embora as posições mais ofensivas do arianismo fossem professamente condenadas. Os dois imperadores, Constâncio e Constante, se tornaram então ansiosos para curar a brecha que existia entre as igrejas orientais e ocidentais, e de acordo eles convocaram um concílio a ser reunido em Sárdica, na Ilíria, em 347 d.C., para decidir os pontos disputados. Noventa e quatro bispos do Ocidente e vinte e dois do Oriente, estando reunidos e devidamente considerados os assuntos de ambos os lados, decidiram em favor de Atanásio: o partido ortodoxo restaurou o primaz perseguido de Alexandria e condenou a todos o que se opunham a ele como inimigos da verdade. No meio tempo, o intruso Gregório morreu, e Atanásio, em seu retorno a Alexandria, após um exílio de oito anos, foi recebido com júbilo universal. "A entrada do arcebispo em sua capital", disse alguém, "foi um cortejo triunfal: a ausência e a perseguição tinham tornado ele querido para os alexandrinos, e sua fama foi difundida da Etiópia até a Grã-Bretanha ao longo de toda a extensão do mundo cristão."

Após a morte de Constante, o amigo e protetor de Atanásio, em 350, o covarde Constâncio sentiu que era a hora de vingar suas feridas privadas contra Atanásio, que não tinha mais Constante para defendê-lo. Mas como ele iria cumprir seu objetivo era a dificuldade. Se ele decretasse a morte do mais eminente cidadão, a ordem cruel seria executada sem qualquer hesitação; mas a condenação e morte de um bispo popular devia ser causada com cautela, demora e alguma aparência de justiça. Os arianos começaram a trabalhar em um plano; eles renovaram suas maquinações, e mais concílios foram convocados.

Os Filhos de Constantino (de 337 a 361 d.C.)

Constantino, o Grande, foi sucedido por seus três filhos, Constantino II, Constâncio e Constante. Eles foram educados na fé do evangelho, e tinham sido nomeado Césares por seu pai, e em sua morte eles dividiram o império entre eles. Constantino II ficou com a Gália, Espanha e Grã-Bretanha; Constâncio ficou com as províncias asiáticas e com a capital, Constantinopla; e Constante ficou com a Itália e a África. O início do novo reinado foi caracterizado -- como era habitual naqueles tempos -- pela morte dos parentes que podiam um dia se provarem rivais ao trono. Mas juntamente com os velhos e usuais ciúmes e hostilidades políticas, um novo elemento agora aparece -- a controvérsia religiosa.

O filho mais velho, Constantino, era favorável aos católicos, e sinalizou o começo de seu reinado chamando Atanásio de volta, e colocando-o novamente como bispo de Alexandria. Mas em 340 Constantino II foi morto em uma invasão da Itália, e Constante tomou posse dos domínios de seu irmão, se tornando, assim, o soberano de dois terços do império. Ele era favorável às decisões do concílio de Niceia, e aderiu com firmeza à causa de Atanásio. Constâncio, sua imperatriz e a corte eram parciais ao arianismo. E assim a guerra religiosa começou entre os dois irmãos -- entre o Oriente e o Ocidente --- e foi levada adiante sem justiça ou humanidade, o que não tinha nada a ver com o espírito pacífico do cristianismo. Constâncio, como seu pai, interferiu tanto nos assuntos da igreja, que pretendia ser um teólogo, e durante todo o seu reinado o império foi incessantemente agitado pela controvérsia religiosa. Os concílios se tornaram tão frequentes que estabelecimentos públicos eram constantemente empregados para abrigar os bispos em contínua viagem; de ambos os lados, concílios foram reunidos para se oporem a outros concílios. Mas como o principal evento do período, assim como a linha prateada da graça de Deus, está conectada a Atanásio, retornaremos a sua história.

Reflexões Sobre os Grandes Eventos do Reinado de Constantino

Antes de prosseguirmos com nossa história geral, será interessante fazer uma pausa por um momento e considerar o significado das grandes mudanças que ocorreram, tanto na posição da igreja quanto no mundo, durante o reinado de Constantino, o Grande. Não seria demais dizer que a igreja passou pelas mais importantes crises de sua história, e que a queda da idolatria pode ser considerada como o evento mais importante em toda a história do mundo. Desde um período pouco após o dilúvio, a idolatria tinha prevalecido entre as nações da terra, e Satanás, por seus artifícios, tinha sido o objeto de adoração. Mas todo o sistema da idolatria foi condenado por todo o mundo romano, se não finalmente derrubado, por Constantino; de qualquer modo, ela tinha recebido sua ferida mortal.

A igreja, sem dúvida, perdeu muito por sua união com o Estado. Ela não mais existia como uma comunidade separada, e não era mais governada exclusivamente pela vontade de Cristo. Ela tinha abandonado sua independência, perdido seu caráter celestial, e se tornado inseparavelmente identificada com as paixões e interesses do poder governante. Tudo isso foi extremamente triste, e o fruto de sua própria incredulidade. Mas, por outro lado, o mundo ganhou muito com essa mudança. Isto não pode ser ignorado em nossas lamentações sobre o fracasso da igreja. O estandarte da cruz agora se erguia por todo o império; Cristo era publicamente proclamado como o único Salvador da humanidade; e as santas escrituras eram reconhecidas como a Palavra de Deus, o único guia seguro e certo para a bem-aventurança eterna. Antes mesmo de estar ligada ao poder civil, a igreja professa estava, sem dúvida, espiritualmente fraca, e assim deve ter pensado mais em seu bem-estar do que em sua missão de bênção para os outros; no entanto, Deus pôde agir por meio dessas novas oportunidades, e acelerar o desaparecimento das terríveis abominações da idolatria da face do mundo romano.

A legislação geral de Constantino ostenta evidências do trabalho silencioso dos princípios cristãos, e os efeitos dessas leis humanas seriam sentidas muito além do círculo imediato da comunidade cristã. Ele promulgou leis para a melhor observância do domingo; contra a venda de crianças como escravas, o que era comum entre os pagãos; e também contra o furto de crianças com o objetivo de vendê-las, assim como muitas outras leis, tanto de caráter social quanto moral, que nos são informadas pelas histórias já citadas. Mas o maior e mais influente evento de seu reinado foi o extermínio dos ídolos, e a elevação de Cristo. Dizem que os etíopes e ibéricos foram convertidos ao cristianismo durante esse reinado.

A Morte de Ário

Nem Constantino nem Ário sobreviveram muito tempo após o exílio de Atanásio. Ário assinou um credo ortodoxo, e Constantino aceitou sua confissão. Ele o enviou a Alexandre, bispo de Constantinopla, dizendo-lhe que Ário deveria ser recebido à comunhão no dia seguinte, que era domingo. Alexandre, que tinha quase completado cem anos de idade, ficou muito angustiado pelas ordens do imperador. Ele entrou na "igreja"*, e orou fervorosamente para que o Senhor prevenisse tal profanação. Na noite do mesmo dia, Ário falava alegremente, em tom triunfante, sobre a cerimônia marcada para o dia seguinte. Mas o Senhor tinha ordenado de outra forma; Ele tinha ouvido a oração de Seu velho servo, e naquela noite o grande herege morreu. Seu fim é relacionado a circunstâncias que lembram a morte do traidor Judas. Que efeito o evento teve sobre Constantino, nós não sabemos; mas ele morreu pouco tempo depois, aos 64 anos de idade.**

{* N. do T.: "igreja" aqui se refere aos salões, ou templos, usados pelos cristãos para suas reuniões.}
{** Veja a História da Igreja, de Robertson, vol. 1, p. 199; e as Vidas dos Pais, de Cave, vol. 2, p. 145}

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