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domingo, 6 de novembro de 2016

As Vantagens de Roma

A corte de Constantinopla, embora possa ter encorajado as esperanças e ambições dos bispos, afetava o governo da igreja com poder despótico, e decidia em controvérsias religiosas do tipo mais grave. Mas no Ocidente não era assim. O pontífice romano desse período demonstrou o espírito independente e agressivo do papado que se elevou a tais alturas em épocas posteriores. Os bispos do Oriente foram assim colocados em desvantagem em consequência de sua dependência da corte e de suas disputas com os imperadores. Além disso, a presença e grandeza do soberano oriental mantinha a dignidade do bispo em um lugar secundário. Em Roma não havia mais ninguém para disputar com a classe ou estilo do pontífice.

A retirada dos imperadores de Roma, como residência real, foi então favorável ao desenvolvimento do poder eclesiástico ali; pois, embora abandonada por seus governantes, era ainda venerada como a verdadeira capital do mundo. Deste modo, Roma possuía muitas vantagens como a sede do bispo supremo. Mas o fator principal que impulsionou e consolidou o poder da Sé romana foi a crescente crença, por toda a Cristandade, de que São Pedro foi seu fundador. Os bispos romanos negavam que sua precedência originava-se na grandeza imperial da cidade, mas sim em sua descendência linear de São Pedro. Este dogma foi geralmente recebido por volta do começo do século V.

Por tais argumentos a igreja de Roma estabeleceu seu direito de governar a universal igreja. Ela sustentava que Pedro era primaz entre os apóstolos, e que seu primado é herdado pelos bispos de Roma. Mas pode ser interessante observar aqui o duplo aspecto do romanismo -- o eclesiástico e o político. Em ambos os aspectos ele reivindicava a supremacia. Eclesiasticamente ele sustentava: (1) que o bispo de Roma é o juiz infalível em todas as questões de doutrina; (2) que ele tem o direito inerente ao governo supremo em convocar concílios gerais e presidir sobre eles; (3) que o direito de fazer nomeações eclesiásticas pertencia a ele; (4) que a separação da comunhão da igreja de Roma envolve a culpa de cisma. Politicamente ela reivindicava, aspirava e ganhava preeminência e poder sobre toda a sociedade européia, assim como sobre todos os governos europeus. Veremos provas abundantes desses fatores em particular no decorrer de sua bem definida história, a qual daremos prosseguimento agora.

Não foi até depois do primeiro concílio de Niceia que a supremacia dos bispos romanos passou a ser, em geral, permitida. Os primeiros bispos de Roma mal são conhecidos na história eclesiástica. A ascensão de Inocêncio I no ano 402 deu força e definição a esse novo princípio da igreja latina. Até este tempo não havia qualquer reconhecimento legal da supremacia de Roma, embora ela fosse considerada a principal igreja do Ocidente, e fosse frequentemente procurada pelos outros grandes bispos por um julgamento espiritual em questões de disputa. Quando a igreja grega caiu no arianismo, a igreja latina aderiu firmemente ao credo niceno {*N. do T.: a doutrina da Santíssima Trindade defendida no concílio de Niceia, em oposição à doutrina do arianismo}, o que a elevou muito na opinião de todo o Ocidente. "Na mente de Inocêncio", diz Milman, "parece ter surgido, pela primeira vez, a vasta concepção da supremacia eclesiástica universal de Roma; ainda sombria e escura, mas completa e abrangente em seu esboço."

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Atanásio, Bispo de Alexandria

No concílio de Niceia, Atanásio participou de modo distinto; seu zelo e habilidades logo o designaram como a cabeça do partido ortodoxo, e como o mais poderoso antagonista dos arianos. Após a morte de Alexandre, no ano 326, ele foi elevado à Sé de Alexandria pela voz universal de seus irmãos. Ele tinha então apenas trinta anos de idade, e sabendo algo sobre os perigos assim como sobre as honras do ofício, ele teria preferido uma posição menos responsável; porém ele acabou cedendo aos mais sinceros desejos de uma congregação afetuosa. Ele se manteve como bispo por quase meio século. Sua longa vida foi devotada ao serviço do Senhor e de Sua verdade. Ele continuou firme na fé e inflexível em seu propósito até sua última hora de vida, do mesmo modo como a posição nobre que ele demonstrou no concílio de Niceia. A divindade de Cristo não era para ele uma mera opinião especulativa, mas a fonte e força de toda sua vida cristã. E em nenhum outro lugar ela pode ser encontrada por qualquer outro, como o apóstolo nos assegura. "E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida." (1 João 5:11,12). Essa vida habita no Filho unigênito do Pai. Ele é "a vida eterna". E esta vida, para o louvor da glória da graça de Deus, é dada a todos que creem no verdadeiro Cristo de Deus. Ao receber a Cristo, recebemos a vida eterna e nos tornamos filhos de Deus -- herdeiros de Deus -- e co-herdeiros com Cristo. Esta vida não é propriedade de qualquer mera criatura, por mais exaltada que possa ser. Os anjos santos possuem uma existência muito bendita e incessante pelo poder de Deus, mas o cristão tem vida eterna através da fé em Cristo, pela graça de Deus. Nada pode ser mais fatal ao bem-estar da alma humana do que a doutrina de Ário. Mas vamos retornar à nossa história.

Enquanto o avanço de Atanásio à Sé de Alexandria dava grande alegria e esperança aos seus amigos, também encheu seus inimigos com o mais amargo ressentimento. Eles agora viam como o grande líder dos católicos* o bispo daquela igreja da qual Ário tinha sido expulso, e que foi apoiado pelas afeições de seu povo e por uma centena de bispos que juraram fidelidade ao grande bispo de Alexandria. Eles sabiam de seu poder e zelo incansável em defesa dos decretos do Concílio Niceno, e podem ter julgado de forma correta que, se sua sua influência tinha sido tão grande quando em âmbito restrito, o que poderia-se esperar quando ele foi colocado em posição tão eminente? Dessa forma, eles deixaram de lado seus planos e uniram forças para derrotá-lo.

{* O termo "Igreja Católica", como dado por Constantino, aqui significa simplesmente "a igreja estabelecida".}

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