A sabedoria deste grande monge como legislador, e a superioridade de sua disciplina sobre tudo o que existia anteriormente, encontram-se principalmente no lugar que ele dá ao trabalho manual. Essa era a característica distintiva da nova ordem -- trabalho físico árduo e saudável. O monasticismo tinha sido até então quase que inteiramente uma vida de mera reclusão e contemplação, apoiada pela caridade do público ou pelos impressionáveis camponeses das vizinhanças do mosteiro. Bento viu os efeitos perversos desse estado de existência ocioso e sonhador, e tomou amplas providências para a ocupação dos monges. Ele rotulou a ociosidade como inimiga da alma e do corpo. Deviam não somente trabalhar na oração, adoração, leitura e educação dos mais jovens, como também trabalhar com as mãos, como com o machado na floresta, a pá nos campos e a espátula nas paredes. As vantagens desse novo sistema eram grandes. As abadias beneditinas tornaram-se assentamentos agrícolas industriosos. A agricultura e as artes da vida civilizada foram introduzidas nas regiões mais bárbaras, e o deserto, sob as mãos dos monges, floresceu com fertilidade.
Embora a ordem de São Bento fosse em todos os sentidos contrária à letra e ao espírito da Palavra de Deus, ela tinha mais razão e bom senso do que os sistemas ociosos e lânguidos do Oriente. "Ele era um daqueles que sustentavam", diz Travers Hill, "que para viver neste mundo um homem deve fazer algo -- que aquela vida que consome, mas não produz, é uma vida mórbida, e na verdade uma vida impossível -- uma vida que tenderá à decadência -- e, portanto, imbuído da importância desse fato, ele fez do trabalho, trabalho contínuo e diário, o grande fundamento de sua regra." Sua penetração na sociedade também é vista em sua consideração pelo clima hostil do Ocidente e pelas constituições europeias. Suas leis eram mais brandas e praticáveis do que as que haviam sido tentadas nos países orientais; a dieta era bem mais generosa, e ele não propunha nenhuma mortificação extrema, mas permitia que seus seguidores vivessem de acordo com os hábitos comuns de seus respectivos países. Nessas considerações sábias e razoáveis está todo o segredo do maravilhoso sucesso da ordem beneditina.
Mas, com nossas noções modernas de qualidade de vida e de estarmos acostumados com relativamente poucos serviços religiosos no decorrer da semana, o leitor pode estar disposto a questionar o que dissemos sobre a brandura das regras monásticas e a natureza generosa da dieta. Falamos nesse sentido em comparação com o Oriente, de onde se originou o monasticismo.
Às duas horas da manhã, os monges eram despertados para as vigílias, ocasião em que doze salmos eram cantados e certas lições das escrituras lidas ou recitadas. Eles se reuniam novamente ao amanhecer para as matinas; este serviço era quase igual ao primeiro, de modo que em suas vigílias e matinas vinte e quatro salmos deviam ser cantados todos os dias, para que o saltério pudesse ser completado a cada semana. O tempo para suas devoções internas e seu trabalho externo era planejado, no verão e no inverno, conforme o superior achasse conveniente. Mas eles eram obrigados a comparecer a pelo menos sete serviços religiosos distintos a cada vinte e quatro horas, além de sete horas por dia de trabalho. Eles tomavam o café da manhã por volta do meio-dia e jantavam à noite. Sua alimentação habitual consistia em vegetais, grãos e frutas; meio quilo de pão por dia para cada monge e uma pequena quantidade de vinho. Na mesa pública nenhuma carne era permitida; somente aos enfermos era dada comida de origem animal, que, às vezes, comiam ovos ou peixe à noite. Mas todos os dias na Quaresma jejuavam até as seis da tarde e tinham menos tempo para dormir.
A roupa dos monges devia ser rústica e simples, mas variável, de acordo com as circunstâncias. Foi-lhes permitido ter o luxo das botas. A vestimenta externa deles era um vestido preto solto, com mangas largas, e um capuz na cabeça com uma parte pontuda atrás. Cada monge tinha dois casacos, dois capuzes, um livro de mesa, uma faca, uma agulha e um lenço. A mobília de suas celas era uma esteira, um cobertor, um tapete e um travesseiro. Cada um tinha um leito separado e dormiam vestidos. Um reitor deveria presidir cada dormitório e uma luz deveria ser mantida acesa em cada um. Nenhuma conversa era permitida após se retirarem aos seus aposentos. Por pequenas faltas eram excluídos das refeições da irmandade, e por maiores eram excluídos da capela; infratores incorrigíveis eram excluídos do mosteiro.
Assim se passava o longo e tedioso dia do monge que condenava a si mesmo a essa vida; desde as vigílias da meia-noite até as vésperas da noite, todas as suas observâncias eram meramente mecânicas. Ao entrar no mosteiro, ele renunciava totalmente a todas as espécies de liberdade pessoal. Seu voto de obediência implícita a seus superiores em tudo era irrevogável. Ninguém podia receber um presente de qualquer espécie, nem mesmo de seus pais, nem manter correspondência com pessoas de fora do mosteiro, a não ser que passasse pela inspeção do abade. Um porteiro sempre se sentava ao portão, que era mantido trancado dia e noite, e nenhum estranho era admitido sem a permissão do abade, e nenhum monge podia sair a menos que tivesse a permissão de seu superior.
O jardim, o moinho, o poço, o forno de pão, ficavam todos dentro dos muros, de modo que não houvesse necessidade de sair do mosteiro. A ocupação de cada monge seria determinada pelo abade. Um monge que antes era rico e de nascimento nobre estaria então sem um tostão e podia ser nomeado cozinheiro ou servente, alfaiate, carpinteiro ou poceiro, de acordo com o desejo do superior absoluto; a qualidade e a quantidade de sua comida eram prescritas e limitadas como se fosse a menor criança. Ele não tinha permissão para falar, salvo em determinados momentos. Todas as conversas eram estritamente proibidas durante as refeições; alguém lia em voz alta o tempo todo.
Assim estava o homem -- o homem social -- isolado da sociedade. A mulher, que Deus deu ao homem, devia ser considerada não apenas uma estranha aos seus pensamentos, mas a inimiga natural de sua perfeição solitária. Pela sutileza de Satanás, o ego era o objetivo supremo de todos os monges -- e de todos os sistemas de monastério. Com que força as palavras do apóstolo vêm à mente quando meditava sobre a liberdade de Cristo e a escravidão de Satanás: "Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo". Observe estas palavras verdadeiramente cristãs, "o que para mim era ganho -- ganho para mim!" Se é apenas ganho para mim, qual é o bem dessas coisas? Eu quero Cristo. Eu vi Cristo em glória. Eu quero ser como ele. Tudo de que aquela carne religiosa podia se gabar, o que era ganho para ele, ele jogou para trás como a mais simples escória. "E, na verdade", continua ele, "tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor". Que cegueira, que perversidade, para quem prefere a ordem de São Bento a Filipenses 3 -- ao amor e à liberdade de Cristo! Mas tamanho era o poder enganador de Satanás que fazia o homem pensar que o caminho certo, senão o único, para o céu, era se tornando um monge.
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