Na providência de Deus, esse crime odioso, que nunca poderia ser esquecido pelos monarcas e pelo povo da Europa, deve ter tendido muito a desacreditar e enfraquecer o poder papal e a fortalecer as mãos do governante civil contra as usurpações e invasões da igreja de Roma. A mudança se torna mais aparente a partir dessa data. A trágica morte de Conradino de Hohenstaufen e de Frederico da Baden ocorreu em 1268, e a famosa "Pragmática Sanção" tornou-se a "Carta Magna" da igreja galicana em 1269. Este documento foi emitido pelo mais piedoso rei, Luís IX da França, que é comumente chamado de São Luís. O tom por completo desse decreto é antipapal. Limita a interferência do tribunal de Roma nas eleições do clero e nega diretamente o seu direito de tributação eclesiástica, exceto com a sanção do rei e da Igreja da França. Nada poderia ser mais justo e liberal, mas nada poderia se opor mais diretamente às pretensões da Sé de Roma. Sob os cuidados dos advogados civis, que agora estavam estabelecendo nas mentes dos homens uma autoridade rival à da hierarquia e da lei canônica, a Pragmática Sanção tornou-se uma grande carta de independência para a igreja galicana.
Este édito antipapal, vindo do mais religioso dos reis -- um
santo canonizado -- não despertou oposição por parte da Sé Romana. Se tal lei
tivesse sido promulgada por Frederico II, ou por qualquer um de sua raça, o
efeito teria sido muito diferente. Mas é mais do que provável que nem Luís nem
o papa previram o que aconteceria com esse piedoso decreto -- originalmente
destinado ao benefício e à reforma do clero. Mas nas mãos de parlamentos,
advogados e monarcas ambiciosos, tornou-se a barreira contra a qual as usurpações
e pretensões elevadas de Roma estavam destinadas a se despedaçar.
Antes de concluir nosso capítulo já bastante longo, devemos fazer
uma breve consideração sobre o pontificado de Bonifácio VIII, pois é a
evidência culminante do declínio papal, e a dobradiça sobre a qual gira a história
que está por vir.
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