Temos plena consciência de que todos os sistemas humanos devem ser examinados pela Palavra de Deus se quisermos compreender corretamente seu verdadeiro caráter. Não é contrastando o último com o anterior que podemos descobrir o quão longe eles podem ter se distanciado da mente do Senhor. A Palavra do Deus vivo, pela qual todos serão finalmente julgados, deve ser nosso único padrão agora. Pouco importa quais melhorias podem ser encontradas em um sistema em comparação com outro, se ambos são o resultado de invenção humana. Isso é verdade para todas as pessoas e também para todos os sistemas. A Palavra de Deus deve ser a única regra do cristão, e o próprio Cristo a única cabeça e centro, poder e autoridade, no sistema que Ele possui -- a igreja, a assembleia de Deus*. Mas, como em diferentes ocasiões examinamos as escrituras sobre esses pontos, iremos agora, em poucas palavras, falar sobre a diferença entre os sistemas monásticos anteriores e posteriores. **
{*N. do T.: a expressão “assembleia de Deus” aqui não se
refere a uma denominação cristã que adotou este nome (tal denominação nem mesmo
existia à época do autor), mas sim à igreja de Deus, a universal assembleia
(Hebreus 12:23), composta por todos aqueles que pela graça foram salvos e
acrescentados a essa igreja (Atos 2:47) ao crerem em Jesus como Salvador.}
{** Ver "Reflexões sobre os Princípios da Asceticismo", Cap. 12.}
O principal, senão o objetivo exclusivo dos primeiros
eremitas, anacoretas e ascetas de todos os nomes, era sua própria perfeição
religiosa. A instrução ou salvação de outros não fazia parte de seu credo. O
isolamento do mundo perigoso e a reclusão em alguma cela solitária, com todas
as suas privações, eram considerados necessários para esse fim. À medida que o
halo da santidade deles atraía e seduzia outras pessoas, foram construídas
casas e cultivadas grandes extensões de terra para as necessidades desta vida.
Esses pequenos começos muitas vezes se tornaram os assentamentos mais
imponentes de um país. E durante a longa e escura noite da Idade Média, com sua
barbárie e feudalismo, os mosteiros frequentemente se mostravam uma grande
misericórdia para os doentes, os pobres e os viajantes. Todos devem reconhecer
este fato com gratidão. Durante os cinco ou seis séculos que se seguiram à
subversão do império ocidental, o sistema monástico tornou-se um poderoso
instrumento para corrigir os vícios da sociedade e proteger as classes mais
baixas da opressão sem lei do senhor feudal. Hospitalidade, ou o entretenimento
de estrangeiros e peregrinos, era um dos usos importantes dos mosteiros naquele
tempo. As estalagens para a recepção de viajantes parecem não ter existido
antes do século XI. Praticamente os dois únicos edifícios imponentes que
chamavam a atenção do viajante naquela época eram o castelo do poderoso barão e
a abadia dos monges em oração. Um era guerra, e o outro paz. A religião, o
aprendizado e a ciência encontraram um refúgio atrás das paredes do mosteiro, e
a verdadeira piedade podia trabalhar pacificamente ali, escrevendo,
transcrevendo, coletando e preservando informações úteis.
"Os beneditinos", diz Travers Hill, "eram os
depositários do saber e das artes; eles reuniam livros e os reproduziam no
silêncio de suas celas, e preservavam dessa forma não apenas os volumes das
escrituras sagradas, mas muitas das obras de tradição clássica. Eles começaram
a arquitetura gótica; só eles tinham os segredos da química e da ciência
médica; eles inventaram muitas cores; foram os primeiros arquitetos, artistas,
pintores de vidro, entalhadores e trabalhadores de mosaico nos tempos
medievais. Foi um sistema poderoso e fez um bom trabalho no mundo, mas seguiu o
caminho de coisas e instituições humanas, ficou intoxicado com seu poder,
cegado por seu próprio esplendor e corrompido por sua própria riqueza; seus
abades tornaram-se avarentos , seus monges voluptuosos; eles perderam sua
simplicidade original; o governo de seu fundador não existia mais na atividade
de seus lavradores, seus estudiosos e seus artistas, mas só era encontrado nas
palavras mecanicamente lidas na capela. O [HH1] monasticismo
engendrou sua própria corrupção, e dessa corrupção veio a morte."
A magnífica abadia de Glastonbury já chegou a cobriu
sessenta acres. Antes da queda dos mosteiros na Inglaterra, os comissários
reais relatam a esse respeito; que eles nunca tinham visto uma casa tão grande,
boa e principesca, com quatro parques contíguos, um grande pesqueiro de cinco
milhas, bem abastecido com lúcios, percas, douradas e leuciscos; quatro
solares, além da capela, hospital, tribunal, escolas e a grande portaria.
Muitas das casas de Glastonbury foram construídas com materiais desta outrora
soberba abadia.*
{*Gazetteer, de Johnston.}
Os hábitos dos monges modernos contrastavam perfeitamente com os anteriores. Em lugar de morar dentro das paredes de uma abadia soberba, toda a cristandade em um curto período de tempo foi inundada por hostes de dominicanos e franciscanos. Eles vinham de todos os países e falavam, portanto, todas as línguas e dialetos. Eles pregaram a velha fé em seu mais completo rigor inflexível medieval, em quase todas as cidades e vilas. Lealdade inabalável ao papa e a extirpação da heresia eram seus grandes temas. E os pontífices em troca os protegiam e conferiam a eles os mais altos privilégios e vantagens. Antes de encerrar o século, os mosteiros e conventos da ordem minorita atingiram o surpreendente número de oito mil e eram habitados por pelo menos duzentos mil internos.
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