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domingo, 4 de outubro de 2020

Wycliffe e os Frades

Por volta do ano de 1349, quando Wycliffe completou 24 anos de idade e estava alcançando certa fama na faculdade, a Inglaterra foi visitada por uma terrível peste, chamada de Peste Negra. Supõe-se que ela tenha aparecido pela primeira vez na Tartária e, depois de devastar vários países da Ásia, prosseguiu pelas margens do Nilo até as ilhas da Grécia, levando devastação para quase todas as nações da Europa. Tão imensa foi a perda de vidas humanas que alguns dizem que um quarto da população foi eliminada, e outros, que metade da raça humana, além do gado, foi levada em certas partes. Essa visitação alarmante encheu a mente piedosa de Wycliffe com as mais sombrias apreensões e temerosos pressentimentos quanto ao futuro. Foi como o som da última trombeta em seu coração. Ele concluiu que o dia do julgamento estava próximo. Solenizado com os pensamentos sobre a eternidade, ele passou dias e noites em seu quarto, e sem dúvida em fervorosa oração por orientação divina. Ele se apresentou como defensor da verdade; encontrou sua armadura na Palavra de Deus.

Por seu zelo e fidelidade na pregação do evangelho, principalmente ao povo comum aos domingos, adquiriu e mereceu o título de “doutor evangélico”. Mas o que lhe trouxe tanta fama e popularidade em Oxford foi sua defesa da universidade contra as invasões dos frades mendicantes. Ele corajosa e impiedosamente atacou essas ordens, que ele declarava serem o grande mal da Cristandade. Elas eram, então, quatro em número -- Dominicanos, Minoritas ou Franciscanos, Agostinianos e Carmelitas – e se enxameavam nas melhores partes da Europa. Eles se esforçaram muito em Oxford, como até então em Paris, para ali se elevarem. Eles aproveitaram todas as oportunidades para atrair os alunos para seus conventos, os quais, sem o consentimento de seus pais, se alistavam para as ordens mendicantes. Esse sistema de lavagem cerebral prosseguiu a tal ponto que os pais evitavam enviar seus filhos às universidades. Em certa época, trinta mil jovens estudavam em Oxford, mas, por causa desses frades, o número foi reduzido para seis mil. Bispos, padres e teólogos em quase todos os países e universidades da Europa lutavam contra esses enganadores, mas com pouco efeito, pois os pontífices os defendiam vigorosamente como seus melhores amigos e conferiam-lhes grandes privilégios.

Wycliffe atacou ousadamente, e, cremos, fatalmente, a raiz desse grande mal universal. Próximo ao declínio do poder papal, do qual já tomamos nota, podemos começar a notar o das ordens mendicantes. Ele publicou alguns artigos espirituais intitulados "Contra o mendigo saudável", "Contra o mendigo ocioso" e "A pobreza de Cristo". "Ele denunciou a mendicância em si, e todos os outros como mendigos saudáveis, que não deveriam ser autorizados a infestar a terra. Ele os acusou de cinquenta erros de doutrina e prática. Ele os denunciou por interceptarem as esmolas que deveriam pertencer aos pobres; por seu sistema inescrupuloso de proselitismo; por sua invasão de direitos paroquiais; por seu hábito de iludir as pessoas comuns com fábulas e lendas; por suas pretensões hipócritas de santidade; por sua lisonja para com os grandes e ricos, a quem deveriam na verdade reprovar por seus pecados; por seu apego ao dinheiro por todos os meios, pelo esplendor desnecessário de seus edifícios, enquanto as igrejas paroquiais eram largadas à decadência. "*

{* J.C. Robertson, vol. 4, pág. 201.}

Wycliffe tornara-se então o líder reconhecido de um grande partido na universidade e na Igreja, e dignidades e honras foram-lhe conferidas. Mas se ele tinha ganhado muitos amigos, tinha também muitos inimigos cuja ira era perigoso provocar. Seus problemas e mudanças então começaram. Os frades forneceram ao papa informações sobre tudo o que estava acontecendo. Em 1361, ele foi promovido a mestre do Balliol College e à reitoria de Fillingham. Quatro anos depois foi escolhido guardião do Canterbury Hall. Seu conhecimento das escrituras, a pureza de sua vida, sua coragem inflexível, sua eloquência como pregador, seu domínio da linguagem das pessoas comuns, tornavam-no objeto de admiração geral. Ele afirmava que a salvação era pela fé, por meio da graça, sem mérito humano de forma alguma. Isso foi impactante, não apenas contra os males externos, mas contra os próprios fundamentos de todo o sistema papal. Guiado pela sabedoria divina, ele começou sua grande obra no lugar certo e da maneira certa. Ele pregou o evangelho e explicou a Palavra de Deus ao povo em inglês vernáculo. Desta forma, ele plantou profundamente na mente popular aquelas grandes verdades e princípios que eventualmente levaram à emancipação da Inglaterra do jugo e da tirania de Roma.

domingo, 13 de setembro de 2020

A Difusão do Cristianismo

Desde a época de Inocêncio III, os escritores católicos romanos se gabam do zelo missionário das ordens mendicantes. Eles são considerados os mais assíduos em visitar prisões, hospitais e lugares de perigo iminente, em cuidar das necessidades espirituais dos pobres, e que também foram os servos mais ativos da igreja na propagação do Cristianismo entre nações remotas e selvagens. Até agora, parece ter sido esse o caso nos séculos XIII e XIV; mas, como toda a história vai provar, que esses mendicantes foram os agentes mais zelosos da Santa Sé em todos os seus ambiciosos esquemas e piores práticas em toda a Cristandade, torna-se então difícil dar-lhes crédito por esse suposto puro zelo cristão. Pelos métodos que buscavam e os resultados de suas missões, é mais do que óbvio que eles tinham em vista principalmente seu próprio avanço ou a extensão da soberania papal. Ainda assim, pode ter havido homens piedosos entre eles, que eram animados por motivos superiores e trabalhavam com devoção desinteressada; e como os vícios dos mendicantes em geral são notórios, devemos ficar contentes de registrar todo o bem que pudermos.

Desde o tempo das guerras religiosas de Carlos Magno até as guerras exterminadoras em Languedoque, os missionários romanos geralmente pregavam o evangelho da paz à frente de um exército liderado por bispos e abriam caminho para sua recepção à espada; mas, no século XIII, bandos de missionários piedosos de dominicanos e franciscanos foram enviados pelos pontífices romanos aos chineses, aos tártaros e aos países adjacentes. Um grande número dessas nações professava a fé cristã. João de Monte Corvino, um franciscano, distinguiu-se pelo sucesso de seus trabalhos, e em 1307, Clemente V erigiu uma sé arquiepiscopal em Cambalu, isto é, Pequim, a atual capital da China. O mesmo pontífice enviou sete outros bispos, também franciscanos, para essas regiões; e esse distante ramo da hierarquia foi cuidadosamente nutrido pelos pontífices seguintes. "Enquanto durou o império tártaro na China, não apenas os latinos, como também os nestorianos, tiveram liberdade de professar sua religião livremente em todo o norte da Ásia e de propagá-la por toda a parte. Mas o mais poderoso imperador dos tártaros, Timurbec, tendo abraçado o islamismo, perseguiu com violência e com a espada todos os que aderiam à religião cristã. A nação dos tártaros, na qual muitos outrora professavam o cristianismo, se submeteram universalmente ao Alcorão. Assim, a religião cristã foi derrubada naquelas partes da Ásia habitada por chineses, tártaros, mongóis e outras nações, cuja história ainda é imperfeitamente conhecida. Pelo menos nenhuma menção foi encontrada de qualquer cristão latino residente nesses países após o ano de 1370. Mas dos nestorianos vivos na China, alguns vestígios podem ser encontrados, embora não muito claros, até o século XVI. "

Entre os príncipes europeus, Jagello, duque da Lituânia, Polônia, foi praticamente o único que ainda aderiu à idolatria de seus ancestrais. E ele, no ano de 1386, abraçou os ritos cristãos, foi batizado e persuadiu seus súditos a fazerem o mesmo. O que restou das antigas religiões da Prússia e da Livônia foi extirpado pelos cavaleiros e cruzados teutônicos com guerras e massacres. Na Espanha, os sarracenos ainda detinham a soberania de Granada, Andaluzia e Múrcia; e contra eles os reis cristãos de Castela, Aragão e Navarra travaram uma guerra perpétua; e, embora com dificuldade, triunfou e tornou-se o único senhor da Espanha no século XV sob o reinado de Fernando e Isabel.*

{* Waddington, vol. 3, pág. 358; Mosheim, vol. 2, pág. 592.}

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