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domingo, 23 de outubro de 2022

Homens Ilustres do Século XVI

Aqui podemos parar por um momento e observar alguns dos grandes atores que agora lotam a cena dessa época movimentada. A era da Reforma é uma das mais notáveis da história, por grandes homens e grandes eventos. 

Martinho Lutero, aquele a quem o Espírito de Deus estava usando especialmente, aparece diante de nós como a figura mais central e mais proeminente. Em sua situação de peculiar perigo, ele poderia pensar que seu fim estivesse próximo; mas Deus estava reunindo ao seu redor alguns daqueles homens ilustres que cedo declararam sua inteira simpatia por sua posição, e que empregaram todas as suas forças em sua defesa. No ano de 1518, Filipe Melâncton foi nomeado professor de grego na universidade de Wittemberg; e a partir desse período ele se tornou amigo íntimo e fiel colaborador do reformador, até o fim de sua vida. Oekolampadius, professor em Basileia, Ulrico Zuínglio, doutor em divindade em Zurique, Martin Bucer, e tantos outros uma graciosa providência levantou justamente nessa época, e desde então eles foram contados entre os mais ilustres instrumentos da Reforma.  

O trono imperial vago com a morte de Maximiliano em janeiro de 1519 mostrou-se favorável à causa da Reforma. A atenção da corte de Roma foi desviada dos assuntos de Lutero para os negócios mais urgentes do novo imperador. E Frederico, durante o interregno como vigário do império, pôde dar a Lutero uma proteção ainda mais segura. A coroa imperial foi oferecida pelos eleitores a Frederico, mas ele recusou a perigosa distinção, não querendo assumir a preocupação e responsabilidade com o peso do império. A eleição recaiu sobre o neto de Maximiliano, Carlos -- neto também de Fernando, o Católico. Os príncipes jovens, bonitos e cavalheirescos — Henrique VIII, rei da Inglaterra, e Francisco I, rei da França -- aspiravam também à dignidade imperial, mas as reivindicações e posses hereditárias de Carlos rapidamente viraram a balança a seu favor. Ele era soberano da Espanha, da Borgonha e dos Países Baixos, de Nápoles e da Sicília, do novo império das Índias, e a descoberta da América por Colombo acrescentou, aos seus muitos reinos, o novo mundo. Desde os dias de Carlos Magno, nenhum monarca balançava um cetro sobre domínios tão vastos. 

O papa, embora a princípio se opusesse à elevação de Carlos, pelos interesses conflitantes com o Vaticano, retirou suas objeções, vendo que ele seria eleito; e Carlos foi coroado em Aix-la-Chapelle, em 22 de outubro de 1520.  

Assim, na tenra idade de dezenove anos, como Carlos V, Imperador do Sacro Império Romano-Germânico, ele assumiu o poder imperial. Ele é descrito como um jovem de grande inteligência, com um forte gosto natural por exercícios militares. Ele era notável por uma gravidade e serenidade muito além de sua idade, e mais amável quando lhe convinha. Ele possuía a sutileza e a penetração do italiano, com a taciturnidade e reserva do espanhol; e, além disso, era um católico firme e devotado. "Ele era piedoso e silencioso", disse Lutero; "Aposto que ele não fala tanto em um ano quanto eu em um dia." 

Este é o homem a quem o caso de Lutero deveria agora ser entregue. Nenhum homem mais apto poderia ter sido encontrado para executar os decretos e fazer o trabalho do Vaticano. As piedosas reflexões de D'Aubigné sobre essa mudança de governo são dignas desse afetuoso biógrafo de Lutero. "Um novo ator estava prestes a entrar em cena. Deus planejou colocar o monge de Wittemberg frente a frente com o monarca mais poderoso que apareceu na Cristandade desde os dias de Carlos Magno. Ele escolheu um príncipe no vigor da juventude e para quem tudo parecia anunciar um longo reinado... e a ele se opunha aquela humilde Reforma, iniciada na cela isolada de um convento de Erfurt pela angústia e pelos suspiros de um pobre monge. A história desse monarca e de seu reino estava destinada, ao que parece, a ensinar ao mundo uma importante lição: mostrar a nulidade de toda a força do homem quando este se atreve a comparar-se de Deus. Se um príncipe amigo de Lutero tivesse sido chamado ao trono imperial, o sucesso da Reforma poderia ter sido atribuído à sua proteção. Se até mesmo um imperador contrário às novas doutrinas, mas ainda um governante fraco, tivesse usado a coroa, o triunfo dessa obra poderia ter sido explicado pela fraqueza do monarca. Mas era o altivo conquistador de Pavia que estava destinado a ter seu orgulho invalidado diante do poder da Palavra de Deus; e o mundo inteiro viu o homem que achou fácil arrastar Francisco I prisioneiro para Madrid, obrigado a baixar a espada diante do filho de um pobre minerador!"*

{* D'Aubigné, vol. 2, pág. 109. Ver também Short Studies on Great Subjects, de Froude, vol. 1. Universal History, de Bagster, vol. 8. Reforma, de Waddington, vol. 1. Mosheim, vol. 3.}  

domingo, 16 de outubro de 2022

Lutero em Altemburgo

O legado papal logo viu a popularidade geral da causa de Lutero e adotou um curso diretamente oposto ao do altivo Caetano. Ele se aproximou dele com grandes demonstrações de amizade, dirigindo-se a ele como "Meu querido Martinho". Seu grande objetivo era atrair o reformador por lisonja e engano para se retratar, e assim encerrar a disputa. E até então o astuto núncio tinha conseguido. Ele era um diplomata astuto e um papista bajulador, e Lutero, no momento, foi pego na armadilha. 

"Eu ofereço", disse Lutero, "de minha parte, ficar em silêncio no futuro sobre este assunto, e deixá-lo morrer por si mesmo, desde que meus oponentes fiquem em silêncio de sua parte." Miltitz aceitou a oferta com alegria transbordante, beijou o monge herético, induziu-o a escrever uma carta penitente ao papa e prodigalizou-lhe todas as expressões de afeto e bondade. Assim, o grande conflito entre verdade e falsidade, entre o papado e a nascente Reforma, parecia prestes a terminar; mas a Reforma não seria impedida pela aparente reconciliação de Lutero com Roma. 

Justamente neste momento, quando Lutero era silenciado, quando ele concluíra uma paz indigna com Roma, outra voz é ouvida. O doutor João Eck, autor do Obelisci, e defensor do papado, desafiou Karlstadt, amigo de Lutero, para uma disputa pública sobre os pontos contestados da teologia e a declaração de Lutero sobre as indulgências. Isso despertou as energias e a eloquência de Lutero mais uma vez. Uma discussão pública foi realizada logo em seguida em Leipzig, que durou várias semanas. Eck lutou pelo papado, e Lutero e Karlstadt pela Reforma. Essas celebradas palestras, Deus fez redundar na divulgação da verdade, não apenas na Alemanha, mas em toda a Cristandade. Os apelos de Lutero às Escrituras criaram nas mentes de muitos – especialmente nas mentes dos estudantes das universidades de Leipzig e Wittemberg – um espírito de investigação que nada menos que a sólida verdade de Deus poderia satisfazer. Assim a obra do Senhor progrediu, e a mente da Europa preparou-se para a grande revolução que estava prestes a acontecer. 

domingo, 9 de outubro de 2022

Lutero – Um Sacerdote e Professor

Ele passou três anos agitados no claustro de Erfurt. Mas para ele esses anos não foram perdidos. O cultivo geral de sua mente, a disciplina de sua alma, seu estudo do hebraico e do grego: eram muitos ramos da educação necessária para sua futura carreira no serviço do Senhor. Além disso, foi o lugar de seu nascimento espiritual e o lugar onde ele ouviu pela primeira vez sobre a justificação pela fé – aquela doutrina divina sobre a qual grande parte de seu trabalho subsequente foi construído. 

No ano de 1507 foi ordenado padre, cerimónia em que o seu pai estava presente, embora ainda insatisfeito com o curso de vida do filho. Lutero tinha então recebido poder do bispo para oferecer sacrifícios pelos vivos e pelos mortos, e para converter, murmurando algumas palavras, o pão sem fermento no “verdadeiro corpo e sangue do Senhor”. Lutero submeteu-se e aceitou essas pretensões papistas, embora contra suas convicções, e com medo e tremor, mas sua alma nunca chegou a se recuperar completamente dos efeitos dessa ordenança blasfema. Uma cegueira de juízo quanto à simplicidade escriturística da Ceia do Senhor se estabeleceu em sua mente. Ele foi capacitado, pela graça de Deus, a se livrar e denunciar muitas das superstições de Roma, mas nunca totalmente de seu ápice: a transubstanciação. 

Staupitz, o fiel amigo e patrono de Lutero, colocou-o, aos vinte e cinco anos de idade, em uma posição adequada para a exibição de sua mente poderosa e ativa, e para o posterior desenvolvimento de seu caráter. Ele foi convidado pelo príncipe-eleitor Frederico*, por sugestão do vigário-geral, a ocupar uma cadeira de filosofia na universidade que tinha fundado. Assim, mudou-se para Wittemberg no ano de 1508. Mas, embora chamado para ser professor, não deixou de ser monge; ele se hospedou em uma cela no convento agostiniano. Os assuntos sobre os quais ele foi designado a lecionar foram a física e a dialética de Aristóteles. Este era um emprego desagradável para alguém que estava faminto e sedento pela Palavra de Deus. Nem a ciência física nem a filosofia moral se adequavam ao espírito de sua mente. Mas, novamente, podemos dizer, era parte de sua educação necessária. Aquele que passou pelo claustro deve agora ocupar por um tempo a cadeira de filosofia escolástica, para que possa se tornar mais apto a expor os males e combater os erros de ambos os sistemas, e assim emancipar as mentes dos homens de sua influência. 

{* Eleitores ou príncipes-eleitores (em alemão é Kurfürst, plural Kurfürsten) foram os membros do colégio eleitoral do Sacro Império Romano-Germânico, tendo desde o século XIII, a função de eleger o Rei dos Romanos, ou, a partir de meados do século XVI em diante, diretamente o Imperador do Sacro Império Romano-Germânico. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Pr%C3%ADncipe-eleitor } 

Nesse meio tempo, embora atraísse os jovens de Wittemberg pela força e estilo de suas palestras, dedicava-se zelosamente ao estudo do grego e do hebraico. Seu desejo era beber na fonte, e Aquele que viu o grande desejo de seu coração e o trabalho de sua vida lhe abriu o caminho. Poucos meses depois de sua chegada à universidade, obteve o grau de Bacharel em Divindade, que o habilitava a dar palestras sobre teologia ou sobre a Bíblia. Ele agora se sentia em sua esfera adequada e determinado a comunicar apenas o que aprendeu da Palavra de Deus. Seus primeiros discursos foram sobre os Salmos, e então ele passou para a Epístola de Paulo aos Romanos. 

Suas preciosas meditações sobre essas porções em sua cela silenciosa, tanto em Erfurt quanto em Wittemberg, deram um caráter totalmente novo às suas palestras. Ele falava, não apenas como um estudante eloquente, mas como um cristão que sentia o poder das grandes verdades que ensinava. Quando ele alcançou, em suas exposições, a última sentença de Romanos 1:17, “o justo viverá pela fé”, uma luz, podemos dizer, além do brilho do sol, encheu toda a sua alma. O Espírito de Deus revestiu as palavras de luz e poder ao entendimento e ao coração de Lutero. A grande doutrina da justificação pela fé ele recebeu em seu coração como vinda da voz de Deus. Ele agora via que a vida eterna deveria ser obtida não pela penitência, mas pela fé. Toda a história da Reforma alemã está ligada a estas poucas palavras. À luz delas, ele explicou as escrituras do Antigo e do Novo Testamento; por sua verdade, expôs as falsidades do papado, emocionou o coração da Europa, pôs fim ao reino da impostura e realizou a grande Reforma. Sozinho ele ficou em pé diante de toda autoridade – diante de todo o mundo – na verdade da Palavra de Deus: “o justo viverá pela fé”. A palavra de Deus é verdadeira, o papado é uma mentira; um deve cair, o outro deve triunfar. A verdade é saúde para a alma, a mentira é um veneno mortal. Esses princípios de justiça eterna estavam agora firmemente fixados no coração de Lutero pelo Espírito de Deus; e, por mais simples que pareçam, ele foi capacitado, pela fé na Palavra de Deus, a triunfar sobre papas, bispos, clérigos, reis e imperadores, levantando a bandeira da salvação pela fé no Senhor Jesus Cristo, sem obras de lei. 

A grande obra estava agora iniciada, mas o obreiro ainda tinha algumas lições a aprender.  

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