Que tal coisa tivesse acontecido era por si só uma vitória notável sobre o papado. Sua entrada em Worms foi como uma procissão triunfal. Lá, embora um herege duas vezes condenado, excomungado e isolado de toda a sociedade humana, ele tem o privilégio de estar diante da assembleia mais augusta do mundo. O papa o condenou ao silêncio perpétuo, e agora ele é convidado, na linguagem mais respeitosa, a falar diante de milhares. E, pela boa providência de Deus, ele foi autorizado a dirigir-se a ouvintes atentos de todas as partes da Cristandade, em extensão considerável e com grande ousadia, mas sem interrupção e quase sem reprovação. "Uma imensa revolução", diz D'Aubigné, "foi assim efetuada pela instrumentalidade de Lutero. Roma já estava descendo de seu trono, e foi a voz de um monge que causou essa humilhação". O simples fato de seu julgamento em Worms anunciou ao mundo que o feitiço do papado estava quebrado e que a vitória da Reforma estava garantida. Um monge pobre, perseguido, sem amigos e solitário se opõe à majestade da tríplice coroa. O braço secular é convocado, mas o imperador se recusa a executar o decreto do papa. A proibição cai por terra. Um poder espiritual superior a ambos prevalece, e o grito de triunfo é ouvido em muitas terras.
É perfeitamente claro que nem o papa, nem o prelado, nem o soberano conheciam a real condição da mente pública. Uma geração havia crescido até a idade adulta que havia sido ensinada pelos homens letrados a pensar por si mesmos e a ter opiniões próprias. Lutero sabia que seus próprios pensamentos sobre o papado e a Palavra de Deus eram os pensamentos de milhares. No entanto, ele ficou sozinho naquela assembleia como testemunha de Deus para a verdade. Ele manteve o direito privado de ler e interpretar a Palavra de Deus, o dever de se submeter à sua autoridade, em face da arbitrária presunção tanto da igreja quanto do imperador. Entre todos os príncipes presentes, Lutero não tinha sequer um protetor abertamente declarado, ou mesmo um único advogado de qualquer posição ou influência na assembleia. Mas o Deus que fortaleceu Elias para resistir aos sacerdotes de Baal no Monte Carmelo, e que ficou ao lado de Paulo quando ele apareceu diante dos nobres e príncipes deste mundo, e diante do próprio César, deu uma sabedoria e poder ao monge de Wittemberg que nada poderia vencer, e que fez todos os homens verem que o verdadeiro poder espiritual e a feliz liberdade só podem ser encontrados em uma boa consciência, pela fé na verdade, mas mais especialmente pela fé no Senhor Jesus Cristo, e pela presença e poder do Espírito Santo.*
{* Universal History, de Bagster, vol. 7, pág. 18. Waddington, vol. 1, pág. 364. D'Aubigné, vol. 2, pág. 347. Para maiores detalhes, ver Milner, vol. 4.}
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