Por volta do ano 1560, o papa Pio IV foi tomado por um acesso de grande zelo contra a disseminação da heresia. Havia relatos de que os valdenses criaram raízes profundas em várias partes da Itália, além dos vales de Piemonte. As comunidades subalpinas e todos os distritos “infectados” foram colocados sob interdições papais. Outra cruzada foi pregada, e grandes preparativos foram feitos para o extermínio completo dos hereges. O vice-rei espanhol de Nápoles, comandando as tropas pessoalmente e auxiliado por um inquisidor e vários monges, entrou nos assentamentos valdenses na Calábria. Emanuel Felisberto, duque de Saboia, marchou com uma força armada em Piemonte; e o rei francês em Delfinado. "Os pobres homens dos vales", com suas esposas e filhos, agora se viam expostos ao poder hostil do rei francês de um lado dos Alpes, e ao do duque de Saboia do outro. Os lavradores industriosos da Calábria, com seus ministros, professores e famílias, foram cercados pelas tropas do vice-rei espanhol.
Assim preparados para a matança dos santos, foi ordenado aos
valdenses que banissem seus ministros e professores, se abstivessem do
exercício de suas próprias formas de adoração e comparecessem aos serviços da
igreja romana. Eles nobremente recusaram. Foram dadas as ordens para confisco,
prisão e morte. A espada impiedosa da perseguição foi abertamente desembainhada
e não voltou à bainha por mais de cem anos. O terrível trabalho de sangue e
carnificina começou. Duas companhias de soldados, chefiadas por agentes do
papa, continuaram matando, queimando e devastando os camponeses indefesos da
Calábria, até que o trabalho de extermínio estivesse quase concluído. Um
remanescente clamou por misericórdia, por suas esposas e filhos, prometendo
deixar o país e nunca mais voltar; mas os inquisidores e monges não sabiam como
mostrar misericórdia. As crueldades mais bárbaras foram infligidas a muitos,
todo o aparato das perseguições pagãs foi revivido, até que os protestantes
foram exterminados no sul da Itália. Um de seus principais ministros, Luís Pascal, que afirmava que o papa era um anticristo, foi levado a Roma, onde foi
queimado vivo, na presença de Pio IV, para que pudesse deleitar seus olhos com
a visão de um herege em chamas. Mas a piedade e os sofrimentos de Pascal
despertaram a piedade e a admiração dos espectadores.
Centenas de valdenses nos vales pereceram no palanque ou na
fogueira; as aldeias fervilharam de rufiões que, em nome dos oficiais da
justiça, saquearam os habitantes indefesos e os arrastaram para a prisão, até
que as masmorras ficassem lotadas com as vítimas. As planícies estavam
desertas; as mulheres, crianças, débeis e idosos foram enviados para refúgios
nas alturas das montanhas, nas rochas e nas florestas. Os homens, aproveitando
a natureza do país, decidiram resistir. Todos os homens e meninos que sabiam
manejar uma arma se juntaram em pequenas brigadas e posicionaram-se para se
defenderem das tropas. O duque não estava muito inclinado a continuar uma
guerra de guerrilha e logo retirou seus soldados; mas isso foi só por um pouco de tempo.
De acordo com antigos tratados, os homens dos vales tinham certos direitos e
privilégios que seus soberanos relutavam em violar, mas muitas vezes cediam à
importunação e às deturpações da hierarquia romana. A partir das seguintes
datas, o leitor verá como foram breves seus períodos de descanso: "Os anos
1565, 1573, 1581, 1583 e o período entre 1591 e 1594 são memoráveis como
datas de conflito religioso e civil. Mas nunca a majestade da verdade e da
inocência se destacaram com mais clareza à vista do que durante as tempestades
de perseguição que assolaram em intervalos pelos próximos cem anos e mais."*
{* Enciclopédia Britânica, vol. 21, pág. 543.}
O testemunho do Dr. Beattie, que visitou os vales
protestantes de Piemonte, Delfinado e do Ban de la Roche, vai no mesmo sentido:
"Mas a ferocidade da perseguição parecia apenas aumentar a medida de sua
fortaleza... Embora marcadas como vítimas de massacre indiscriminado, de
pilhagem sem lei, de tortura, extorsão e fome, a resolução deles de perseverarem
na verdade permaneceu inabalável. Cada punição que a crueldade poderia
inventar, ou que a espada poderia infligir, havia gasto sua fúria em vão; nada
poderia subverter a fé ou subjugar a coragem deles. Em defesa de seus direitos
naturais como homens -- em apoio de seu credo insultado como membros da igreja primitiva
em resistência àqueles decretos exterminadores que tornaram suas casas
desoladas e inundaram seus altares com sangue -- os valdenses exibiram um
espetáculo de fortaleza e resistência que não tem paralelo na história."*
{* Scenery
of the Waldenses, William Beattie M.D. Veja também um extenso relato dos
valdenses em Church History, de Milner, vol. 3.}
Tendo trazido a história das testemunhas até o século XVI,
iremos deixá-las por agora, na esperança de reencontrá-las quando chegarmos novamente
a esse período em nossa história geral.