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domingo, 27 de maio de 2018

Bernardo Parte de Cister

A chegada de Bernardo, de seus parentes e de seus seguidores em Cister revelou-se um ponto de virada na história da cidade. A popularidade do pequeno mosteiro aumentou, e seus dormitórios ficaram lotados. Logo tornou-se necessário procurar os meios de fundar um outro. Bernardo foi selecionado por Estêvão, o general das comunidades cistercienses da França, como o chefe da comunidade. Doze monges e seu jovem abade -- representando o Senhor e Seus apóstolos -- reuniram-se na igreja. Estêvão colocou uma cruz nas mãos de Bernardo, que solenemente, à frente de seu pequeno grupo, partiu de Cister. Após viajar em direção ao norte por quase noventa milhas, eles chegaram a um vale em Champanhe chamado de Vale do Absinto, mas que então passaria a ser chamado de Claraval -- o Vale Claro. Era uma solidão estéril, e por um tempo as dificuldades que a pequena comunidade tinha de suportar foram excessivas. Um rude tecido para se abrigarem do vento, da chuva, do calor e do frio, foi fabricado com suas próprias mãos -- eles foram obrigados a viver de folhas de faia, nozes e raízes, misturados com grãos grosseiros, até que o Senhor em misericórdia supriu a necessidade deles a partir da compaixão dos camponeses vizinhos. É claro, os suprimentos de dinheiro e milho eram atribuídos à intervenção miraculosa de São Bernardo, sua piedade, suas orações e suas visões proféticas. Mas o bom Senhor teve piedade e salvou aqueles pobres homens iludidos de uma verdadeira morte por inanição.

Guilherme de Champeaux, bispo de Chalons, ouvindo que a vida de Bernardo estava em perigo pelo extremo rigor de suas mortificações, conseguiu afastá-lo de Claraval por doze meses; e, obrigando-o a se alimentar e descansar direito, salvou-o de um lento mas certo suicídio. Em anos posteriores, Bernardo expressou desaprovação de tal excesso de mortificação como aquele que enfraquecera seu próprio corpo e prejudicara sua própria força.

A Profissão de Fé de Bernardo

Um ano se passou desde que Bernardo entrou em Cister. Sua provação tinha terminado; ele agora faz sua profissão de fé. Essa cerimônia era realizada com grande solenidade, e cercada com tudo o que poderia transmitir admiração e majestade. O noviço era chamado para dentro da congregação e, diante de todos, abria mão de todos os bens mundanos que possuísse. Sua cabeça era raspada, e seu cabelo queimado pelo sacristão em um utensílio usado para tal propósito. Indo para os degraus do presbitério, ele então lia a forma da profissão, fazia o sinal da cruz e, inclinando seu corpo, se aproximava do altar. Ele colocava a profissão no lado direito do altar, que ele beijava, curvava novamente seu corpo, e retirava-se para os degraus. O abade, em pé do outro lado do altar, retirava dele o pergaminho, enquanto o noviço implorava perdão sobre suas mãos e joelhos, repetindo três vezes as palavras: "Recebe-me, ó Senhor". Todo o convento respondia com "Gloria Patri", e o cantor começava o salmo: "Tem misericórdia de mim, ó Deus", que era cantado alternadamente pelos dois coros. O noviço então se humilhava aos pés do abade, e depois fazia o mesmo perante o prior, e sucessivamente perante toda a irmandade -- até mesmo perante os doentes, se houvesse algum. Próximo ao fim do salmo, o abade, portando seu báculo, se aproximava do noviço e o fazia levantar. Um capuz era abençoado e aspergido com água benta, e, retirando do noviço suas vestes seculares, as substituía pela vestimenta monástica. O "Credo" era entoado, o noviço tinha se tornado monge, e tomava seu lugar junto ao coro.*

{* Estes relatos são extraídos principalmente de The Life and Times of St Bernard, por James Catter Morrison, M.A.}

Os Mosteiros Cistercienses

Estêvão Harding, um inglês, nascido em Sherborne em Dorsetshire, foi abade no monastério cisterciense em Cister. Ele seguiu as regras de São Bento, mas com severidades adicionais. Eles tinham somente uma refeição comum no dia, e tinham doze horas de trabalho antes de recebê-la. Eles nunca provavam carne, peixe ou ovos, e leite apenas raramente.

Era comum, quando alguém desejava se tornar um monge em Cister, de acordo com o biógrafo de Bernardo, fazê-lo esperar por quatro dias antes de ser levado à presença do convento reunido. Depois disso, ele se prostrava diante do púlpito e o abade lhe perguntava sobre o que ele queria. Ele então respondia: "A misericórdia de Deus e a vossa". O abade ordenava que ele se levantasse e o expunha à severidade das regras do mosteiro, e então perguntava novamente sobre suas intenções; e, se ele respondesse que guardaria tudo, o abade dizia: "Que Deus, que começou uma boa obra em ti, a termine". Esta cerimônia era repetida por três dias, e após o terceiro ele passava da case de hóspedes para as celas dos noviços, e então imediatamente começava o ano de provação.

A seguir veremos a rotina comum no mosteiro durante o ano em que Bernardo esteve ali. Às duas da manhã o grande sino tocava, e os monges imediatamente se levantavam de seus leitos duros e se apressavam pelos claustros escuros em silêncio solene para a igreja. Uma única pequena lâmpada, suspensa no teto, fornecia uma luz cintilante, apenas o suficiente para indicar-lhes o caminho através do edifício. Após a oração ou o serviço divino eles se retiravam, e após um breve repouso se levantavam novamente para as matinas, que demoravam cerca de duas horas; então realizavam outros serviços, em parte regulados de acordo com a estação do ano -- verão ou inverno; mas eles eram empregados em vários exercícios religiosos até às nove, quando saíam para trabalhar nos campos. Às duas eles jantavam, no cair da noite eles se reuniam para a oração das vésperas; às seis ou oito, de acordo com a estação, eles terminavam o dia com as orações da última hora canônica, e então se recolhiam imediatamente ao dormitório.

No entanto, por mais severas que pareçam ter sido essas práticas e austeridades, elas estavam longes de satisfazer o zelo e espírito de auto-mortificação de Bernardo. Ele passava seu tempo em solidão e estudo. O tempo dado ao sono ele considerava como perdido, e costumava comparar o sono à morte, afirmando que dorminhocos podiam ser considerados como mortos entre os homens, assim como os mortos estão dormindo diante de Deus. Ele lia diligentemente as Escrituras e se esforçava em trabalhar em sua própria concepção de religião perfeita e angelical. Ele tinha tão absolutamente isolado seus sentidos da comunhão com o mundo exterior que parecia morto para qualquer impressão externa: seus olhos não podiam distinguir se sua câmara estava celada ou não ou se ela tinha uma janela ou três. Da escassa comida que ele comia, seu paladar inconsciente tinha perdido totalmente a percepção do estado da comida, se estava estragada ou saudável. Ele bebia óleo e não podia distingui-lo da água. E ainda assim, este homem iludido, embora não duvidemos de que já fosse salvo pela graça, estava fazendo isso tudo pela salvação; e ainda assim, como de costume, ele não estava satisfeito. Ele falava de si mesmo como se fosse apenas um noviço: outros poderiam tê-la alcançado, mas ele estaria ainda apenas começando sua santificação.

São Bernardo, Abade de Claraval

O mais celebrado desses homens [do século XII] é o famoso São Bernardo. Ele é considerado o mais brilhante representante da religião católica romana que a igreja teve desde os dias de Jerônimo, Ambrósio, Agostinho, e Gregório. Por meio século, ele aparece diante de nós como o chefe dirigente e governante da Cristandade -- o oráculo de toda a Europa. Os papas são perdidos de vista sob a luz mais clara do abade. "Ele é o centro", diz um de seus biógrafos, "sobre os quais se reúnem os grandes eventos da história cristã, de cuja mente fluem os impulsos que animam e guiam a Cristandade latina, a quem convergem os pensamentos religiosos dos homens. Ele governa, da mesma forma, o mundo monástico, os concílios dos soberanos seculares, e os desenvolvimentos intelectuais da era. Acredita-se, por uma era de admiração, que ele tenha confundido o próprio Abelardo, e que tenha reprimido as mais perigosas doutrinas de Arnoldo de Bréscia". Para aqueles que já leram sobre sua vida, essa imagem não parecerá exagerada. Mas, ao lançarmos luz sobre aqueles tempos, tomaremos nota primeiramente sobre sua criação e educação.

Bernardo nasceu de nobre parentesco na Borgonha. Seu pai, Tescelin, era um cavaleiro de grande bravura e piedade, de acordo com as ideias religiosas predominantes na época. Sua mãe, Alèthe, era também bem nascida, e um modelo de devoção e caridade. Bernardo, o terceiro filho deles, nasceu em Fontaines, perto de Dijon, em 1091. Desde sua infância ele era pensativo e devotado à religião e ao estudo. Sua piedosa mãe morreu enquanto ele ainda era jovem, deixando seis filhos e uma filha. Ele foi, então, deixado livre para escolher sua ocupação de vida. Qual seria? Ele não tinha muita escolha: ou seria um cavaleiro lutador ou um monge em jejum e oração. Ele resolveu se retirar do mundo e devotar-se à vida monástica. Aos vinte e três anos, ele entrou para o mosteiro de Cister.

Quando sua família ouviu pela primeira vez sobre sua decisão, ele sofreu muita oposição. Seu pai, Tescelin, e seus dois irmãos, Guido e Geraldo, estavam seguindo o grande Duque da Borgonha em suas guerras, como militares nobres. Mas tal era a força de caráter de Bernardo que ele influenciou seus irmãos, um após o outro, e também sua irmã, a fazerem o voto; e assim toda a família, em um curto período de tempo, desapareceu dentro das paredes do convento.

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